Segundo Domingo da Páscoa - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, concedei-nos que, no mesmo Espírito, apreciemos retamente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João (20,19-31) 

20,19Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se de pé, no meio, e diz-lhes: «A paz esteja convosco». 20Tendo dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor. 21Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós». 22Dito isto, soprou e diz-lhes: «Recebei o Espírito Santo: 23àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, serão retidos». 24Ora Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 25Diziam-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele disse-lhes: «Se não vir nas suas mãos o lugar dos cravos, se não meter o meu dedo no lugar dos cravos e não meter a minha mão no seu lado, não acreditarei». 26Oito dias depois, estavam os seus discípulos de novo dentro e Tomé com eles. Vem Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se de pé, no meio, e disse: «A paz esteja convosco». 27Depois diz a Tomé: «Traz aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; traz a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». 28Tomé respondeu e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» 29Diz-lhe Jesus: «Porque Me viste, acreditaste? Bem-aventurados os que não viram e acreditaram». 30Muitos outros sinais fez Jesus diante dos seus discípulos que não estão escritos neste livro. 31Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida no seu nome.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • O presente texto tem duas partes: duas aparições de Jesus aos apóstolos (vv. 19-29) e a primeira conclusão do Quarto Evangelho (vv. 30s).
  • v. 19 (vv. 19-23: Mc 14,14-18; Lc 24,36-43). Na primeira parte, narram-se duas aparições de Cristo ressuscitado aos apóstolos. Elas formam um díptico: ambas têm Jesus ressuscitado no centro e seguem o mesmo esquema. A primeira aparição (vv. 19-23), estando ausente Tomé, apresenta o núcleo central do querigma pascal, do qual os apóstolos vão ser constituídos arautos e testemunhas; a segunda (vv. 24-29), com Tomé presente, foca a resposta do homem ao querigma apostólico: a fé.
  • O texto abre com o relato da primeira aparição de Jesus ressuscitado aos Doze, em Jerusalém. Estamos «no primeiro dia da semana», o dia que evoca a criação (Gn 1,3ss). Inseguros e desamparados, os apóstolos tinham-se trancado com “medo dos judeus” (9,22), no cenáculo, situado a menos de 50 m do palácio de Caifás (18,13). Ressuscitado, Jesus “veio” (Ap 5,6-7) ter com eles para com eles ficar para sempre (14,18s). Apresenta-se “de pé” (v. 26; 21,4; Lc 24,36; cf. Lc 6,8; Nm 17,13), ressuscitado e vitorioso, como o princípio da nova criação. pondo-se “no meio” (sem determinativo: v. 26), como o Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), como o fator de união, o centro de comunhão, a referência, o ponto de convergência e a fonte de irradiação dos discípulos.
  • Jesus saúda-os como é habitual entre os semitas: “Paz convosco” (vv. 21.26; Gn 43,23; Tb 12,17; Jr 4,10; Dn 3,31; 1Pd 5,14; cf. Sl 122,8). Mas agora de mero augúrio, a saudação passa a significar o dom efetivo da verdadeira paz que Jesus tinha anunciado (14,27), a paz definitiva, messiânica, plenitude dos bens prometidos por Deus (Sl 85,9.11; 122,6; Mq 5,5; Is 9,7; 26,12; 32,17; 52,7; 66,12), a paz que Jesus alcançou e que só Ele dá e pode dar, no dom do Espírito Santo (Is 53,5; 2Ts 3,16; Rm 5,1; Cl 1,20; Gl 5,22; Ef 2,14s).
  • v. 20. Só depois de falar é que Jesus se dá a conhecer. De facto, o encontro com o Ressuscitado só se dá na fé, a qual nasce da escuta da Palavra (Rm 10,17; Gl 3,2.5). Por isso, é só depois de terem escutado Jesus e acreditado nele, que os discípulos o veem (v. 16; 1,50). Trata-se de uma teofania (“manifestação divina”: 21,1), na qual Jesus Se revela, não só como ressuscitado, mas também como “o Senhor” (gr. ho Kyriós, he. Adonai: vv. 18.28; 1Co 12, 3; Fl 2,11), o título divino reservado no AT a Deus.
  • Nela, Jesus não se mostra totalmente (porque é impossível abarcar o Ressuscitado), mas exibe apenas os “sinais” de que é Ele, o crucificado, que está ali vivo entre eles: as mãos perfuradas pelos cravos (sinal da sua obra: v. 25; Lc 24,40), e o lado traspassado pela lança (manifestação do seu amor: 19,34). Ao apresentar as chagas como sinal distintivo da sua nova condição de ressuscitado (Ap 5,6), Jesus sublinha a realidade da sua ressurreição corporal e a eficácia perene da sua morte na cruz.
  • Os discípulos alegram-se ao “verem o Senhor” (v. 18). É a alegria escatológica, imperecedoura, anunciada pelos profetas (Is 66,10.14; Jr 31,13; Sf 3,14; Zc 10,7), prometida por Jesus (16,20.22) e agora por Ele conferida, alegria que brota da comunhão com Ele e, nele, com o Pai e os irmãos (14,28; 15,11; 17,13; Gl 5,22; 1Jo 1,4).
  • v. 21: 17,18. João concentra num só dia (o Dia que Jesus ressuscitado é), a comunicação dos dons messiânicos da nova criação. Por isso, é só após o encontro com Ele ressuscitado, que Jesus envia (gr. apostellô) os Doze – e, neles, a Igreja – como continuadores da sua missão.
  • v. 22. Fá-lo dando o Espírito Santo. Como sempre, o dom do Espírito é acompanhado por um símbolo que exprime a sua ação, neste caso como sopro. Jesus “sopra” (gr. enfusaô). Este verbo evoca: a) Gn 2,7, a criação do homem por Deus como “ser vivente”; b) Ez 37,9, o dom de uma vida nova, dada por Deus ao seu povo. “O Espírito Santo” (Sl 51,13; Is 63,10.11; Sb 1,6; 9,17; 7,22) é o princípio de vida que Deus infunde no homem (Jb 7,7; Sl 144,4; Sb 15,11), neste caso, de vida nova, através do qual se lhe comunica (At 1,2), age no mundo e manifesta o seu poder, levando a cabo a sua obra criadora (Gn 1,2), vivificante (Jb 33,4) e regeneradora (cf. 3,5-8). Para o receber, há que esvaziar-se de si mesmo, aceitar Jesus como Senhor e, n’Ele, aspirá-lo pela fé, na oração.
  • Não se trata, porém, ainda do dom pleno do Espírito, pois o verbo “infundir” não tem complemento. Jesus comunica o Espírito à Igreja que vai nascer (19,30), aqui representada nestes dez discípulos. De facto, dos “Doze” (v. 24), faltam Tomé, que está ausente, e Judas Iscariotes (Mt 27,5; At 1,15ss). O número “dez” simboliza no AT a totalidade. Para os judeus é o número mínimo de adultos necessário para que a sinagoga se possa reunir para o culto (o minyan: bMeg 23b; jMeg 4,4). Jesus glorificado (7,30) comunica o Espírito Santo como fonte de vida nova ao Povo de Deus que vai nascer (Sl 22,31), aqui representado nestes dez que simbolizam a Igreja, a comunidade de Jesus ressuscitado, gerada na cruz, que sucederá à Sinagoga. A plenitude do Espírito será concedida no Pentecostes, quando Ele se infundir pessoalmente em cada crente (1,33), fazendo assim nascer, vir à luz, a Igreja.
  • v. 23: Mt 18,18. Pelo Espírito Santo, Jesus comunica à Igreja, na pessoa destes Dez, a missão e o poder que o Pai lhe deu. Tal como na pregação de João Batista (1,29-34), a missão e o poder de Jesus são resumidos no dom messiânico por excelência, o Espírito Santo (Lc 24,47; Jr 31,33s; 33,8s; Ez 36,22-29; At 2,38; 5,31; 10,43; 13,38s; 26,18), que confere o dom da nova Aliança, sintetizada na “remissão dos pecados” (Mt 26,28), conferida pelo Espírito Santo, pois é Ele que restaura a comunhão do homem com Deus e com os irmãos que o pecado rompeu. O poder divino (gr. exousía) de perdoar os pecados é conferido por Cristo à sua Igreja, na pessoa dos apóstolos (Mt 9,6ss; 18,18), para que esta possa continuar a sua missão, com o seu mesmo poder.
  • v. 24. Na segunda aparição de Jesus ressuscitado aos “Doze” (vv. 24-29), Tomé (11,16; 14,5; 21,2) já está presente.
  • v. 25: Mt 28,17. Tomé não aparece no Quarto Evangelho como tantas vezes se pretende, como “modelo de incredulidade”, mas antes como representante daqueles que não “viram o Senhor”, ou seja, dos que ainda não se encontraram com Ele (9,36ss), mostrando qual deve ser a resposta do homem ao testemunho apostólico “vimos o Senhor!” (v. 18; 1Jo 1,1), resposta esta que é a fé, e como a ela se chega. Sozinho, Tomé não tinha sido capaz de chegar à fé; mas, agora, no seio da comunidade crente, escutando a Palavra de Jesus, acaba por se abrir à fé n’Ele, encontrando-se como Ele, vivo e ressuscitado (cf. 21,12).
  • v. 26: v. 19. Esta segunda aparição ocorre também “no primeiro dia da semana”, ou seja, no “Dia do Senhor” (o Domingo: Ap 1,10), uma semana após a primeira aparição, ou seja, no “oitavo dia”. “Oito” simboliza a eternidade. É neste dia, que é também o primeiro da semana, que a comunidade cristã se reúne, semana após semana, para celebrar a Eucaristia (At 20,7; 1 Cor 16,2).
  • v. 27: Ao constatar o conhecimento divino de Jesus, que o ouviu porque está vivo e continua presente entre os seus (mas agora glorificado: v. 25), v. 28, Tomé escuta a palavra de Jesus e, sem tocar nele (Lc 24,39!), aceita com fé (v. 29) o testemunho dos apóstolos, acreditando no seu coração e confessando com a sua boca (cf. Rm 10,8-10) Jesus como “o seu Senhor e o seu Deus” (Sl 35,24!). São os dois principais títulos divinos da confissão de fé da Igreja em Cristo: “Senhor” mais típico do mundo hebraico; (Filho de) “Deus”, mais comum no Império romano.
  • v. 29. O último convite de Jesus aos seus discípulos (1,39) é a primeira bem-aventurança evangélica, a da fé: «Bem-aventurados os que não viram e acreditaram» (Lc 1,45; cf. 1Pd 1,8).
  • v. 30: 21,25. Primeira conclusão do Evangelho. O evangelista concluiu a sua obra dizendo que, embora Jesus tenha feito muitos outros “sinais” (além dos sete apresentados neste Evangelho e dos da sua Paixão, morte e ressurreição), cingiu-se apenas aos sinais destinados a suscitar, v. 31, a fé em Jesus como o Cristo (“o Messias”: 1,41), “o Filho de Deus” (11,27; Mt 16,16), e assim poderem receber “a vida eterna”, a vida divina que Jesus dá aos que nele creem (3,15; 5,24; 17,2-3; 1Jo 5,13).

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
 

  • Qual é o centro da minha vida e da nossa comunidade: Cristo? A família? O trabalho? Ou outra coisa?
  • Que testemunho dou eu e damos nós comunitariamente, de Jesus Cristo ressuscitado? Quem O procura, consegue encontrá-lo em nós?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                    Sl 118,2-4.13-15.22-24 (cf. R. 1)

Refrão:        Aclamai o Senhor porque Ele é bom, o Seu amor é para sempre. 

Diga a casa de Israel:
é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa de Aarão:
é eterna a sua misericórdia.
Digam os que temem o Senhor:
é eterna a sua misericórdia.   R.

Empurraram-me para cair,
mas o Senhor me amparou.
O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória,
foi Ele o meu Salvador.
Gritos de júbilo e de vitória nas tendas dos justos:
a mão do Senhor fez prodígios.     R.

A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos.
Este é o dia que o Senhor fez:
exultemos e cantemos de alegria.  R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Deus de eterna misericórdia, que reanimais a fé do vosso povo na celebração anual das festas pascais, aumentai em nós os dons da Vossa graça, para compreendermos melhor as riquezas inesgotáveis do batismo com que fomos purificados, do Espírito em que fomos renovados e do Sangue com que fomos redimidos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Avé Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (encarnar a Palavra na própria vida, testemunhando-a, unidos a e em Cristo) 

Fr. Pedro Bravo, oc