Segundo Domingo da Quaresma - Ano B - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (9,2-10) 

9,2Seis dias depois, Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e leva-os em particular para um alto monte, a sós. E foi transfigurado diante deles. 3As suas vestes tornaram-se resplandecentes, tão brancas, que nenhum lavadeiro sobre a terra as poderia assim branquear. 4E apareceu-lhes Elias com Moisés, que estavam a conversar com Jesus. 5Pedro, tomando a palavra, diz a Jesus: «Rabbi, é bom nós estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». 6Não sabia o que dizia, pois estavam cheios de medo. 7E eis que uma nuvem os cobriu de sombra. E da nuvem veio uma voz: «Este é o meu Filho amado: escutai-o». 8De repente, olhando em redor, já não viram ninguém, a não ser Jesus só, com eles. 9Ao descerem do monte, ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até o Filho do homem ter ressuscitado dos mortos. 10Eles retiveram a palavra entre si, discutindo o que seria ressuscitar dos mortos.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • v. 2 (vv. 2-10: Mt 17,1-9; Lc 9,28-36; 2Pd 1,16-18). A presente cena insere-se na segunda parte do Evangelho de S. Marcos. “Seis dias” (Lc 9,28: “oito”) depois da profissão de fé de Pedro em Jesus como o Messias e do subsequente anúncio da Paixão e do apelo de Jesus ao seu seguimento no caminho da renúncia e da cruz (8,29-38). Ao ouvi-lo, os discípulos ficam perplexos e Jesus anuncia-lhes que alguns deles «não provarão a morte sem que vejam o Reino de Deus vir com poder» (v. 1). É o que vai acontecer. O sexto dia (cf. Ex 24,16) é o da criação do homem (Gn 1,26s.31). Marcos apresenta Jesus como o Filho amado (v. 7), o novo Adão, o Homem novo (cf. 1,13), princípio da nova criação (cf. Cl 3,10).
  • Literariamente, a transfiguração é uma “teofania” (gr. “manifestação de Deus” aos homens). A cena está, por isso, tecida de elementos que evocam as grandes manifestações de Deus no AT, como: o monte alto, as vestes brancas, as aparições, a nuvem, a voz do céu, o medo dos discípulos e a imposição de silêncio.
  • A referência ao “monte” (“o monte santo”, ou seja, o Tabor: 2Pd 1,18) situa-nos num contexto de revelação. No AT é a um “alto monte” (Gn 22,2 LXX) que Abraão sobe para sacrificar Isaac, o seu filho amado; é no “monte” que Deus Se revela a Moisés (Ex 3,1) e fala “face a face” (Dt 5,5) com o Seu Povo «do meio… da nuvem e da escuridão, com grande voz» (Dt 5,22), para lhe dar as “Dez palavras” (Ex 34,28); é a um “alto monte” que sobe o evangelizador para dar a Jerusalém a boa-nova da “vinda” de Deus (Is 40,9); é no “monte alto de Israel” que Deus vai congregar e restaurar o seu povo regressado do exílio (Ez 20,40s); é aí que Ele mostra a Ezequiel o seu novo Templo (Ez 40,2) e é ao “monte” da casa do Senhor que afluirão todas as nações para receber a Palavra do Senhor (Is 2,2).
  • Jesus leva consigo “em particular” apenas três dos seus discípulos, os mais íntimos, para orar (Lc 9,28) a “sós” com eles (cf. Ex 24,13): são Pedro, Tiago e João, as testemunhas privilegiadas da ressurreição da filha de Jairo (5,37) e da oração de Jesus no Getsémani (14,33). “E foi transfigurado diante deles”: por Deus (passivo divino).
  • v. 3. Embora evoque o resplendor do rosto de Moisés depois de ter estado com Deus no Sinai (Ex 34,29), a transfiguração de Jesus é algo de maior, de divino. Trata-se literalmente de uma “metamorfose” (2Cor 3,18), uma transformação do aspeto exterior a partir do interior que manifesta a glória divina de Jesus. Nada se refere do aspeto de Jesus, impossível de descrever; diz-se apenas que a luz que dele irradia transforma o aspeto das suas vestes numa brancura sobrenatural, sem sombras. O “branco” (síntese da luz) é a cor que designa o mundo divino (cf. Dn 7,9) e a ressurreição (cf. 16,5p). Jesus é a revelação plena de Deus.
  • v. 4. Moisés e Elias aparecem-lhes, significando a Lei e os Profetas, as duas leituras da liturgia sinagogal. Eles “falam com Jesus” porque é a Jesus que se refere o AT, sendo só à Sua luz que pode ser compreendido na sua unidade profunda. Elias deveria aparecer no dia do Senhor para apontar o Messias (Ml 3,22.24) e Moisés anunciara o profeta a quem todos deviam escutar (Dt 18,15).
  • v. 5. Os discípulos não entendem esta teofania, a ponto de Pedro só chamar a Jesus “rabbi” (11,21; 14,45) e não “Senhor” (11,3; 16,19s). “É bom” e belo (gr. kalós) estar ali a contemplar “a beleza da Palavra de Deus e o poder do mundo futuro” (Hb 6,5), a beleza divina de Jesus (Zc 9,17), junto com os irmãos (Sl 133,1). A referência às “tendas” é uma alusão à Festa das Tendas em que se celebra a peregrinação de 40 anos de Israel no deserto, caminhando Deus no meio deles. Segundo os rabinos, os tempos do Messias seriam uma festa das Tendas contínua, em que Deus conviveria com o seu povo juntamente com os “pais” (os patriarcas e profetas do AT). v. 6. A perplexidade de Pedro (“não sabia o que dizia”: 14,40) e o “medo” dos discípulos são a reação do homem perante uma manifestação divina (Hb 12,21; Dn 7,15; Ex 19,16; 20,19).
  • v. 7. A “nuvem” é o sinal da presença de Deus no meio do seu povo (a shekiná, “habitação”: Ex 40,34; Dt 5,22; 1Rs 8,10ss) e símbolo do Espírito Santo (Lc 1,35). Uma nuvem acompanha a vinda do “Filho do homem” para instaurar o Reino eterno de Deus entre os homens (v. 9; Dn 7,13s). Não podendo o homem ver a Deus e ficar vivo (Ex 33,20), Deus, ao manifestar-se, interpõe uma nuvem (Sl 18,12; 97,2), para que o homem não o veja e morra: daí o medo. Jesus é o novo Templo de Deus, a presença de Deus e o instaurador do Seu Reino entre os homens.
  • “Fez-se ouvir uma voz” (1,11p; 2Pd 1,17s). É a voz de Deus (a bat kol, “filha da voz”: Dt 4,12), que, segundo os rabinos, só ressoava em momentos extraordinários e decisivos. Deus revela-se como Pai, apresentando Jesus e manifestando-o aos homens, não só como o Messias por Ele investido como Rei (cf. Sl 2,7; 89,28s; 2Sm 7,14p), mas, como só Ele pode fazer (cf. Mt 11,27), como “o seu Filho” (com artigo: 1,1.11; 3,11; 6,3; 15,39).
  • Enquanto Filho, Jesus é “o Amado” (gr. agapétos), palavra que também significa “unigénito”, “filho único”. Sem artigo, indica o Povo de Deus (Jr 38,19), mas com artigo designa Jesus como: a) o Messias-Rei prometido (Sl 2,7; 45,1 LXX); b) o novo Isaac, figurado no carneiro do sacrifício de Abraão (cf. Gn 22,2.12.16), o Filho único de Deus, pelo qual se cumprirá a promessa feita a Abraão de Deus nele abençoar todas as nações, mas que, ao invés de Isaac, não será poupado (Rm 8,32); c) “O amado”, “o Unigénito” que deveria ser trespassado e morto (Zc 12,10), para que Deus derramasse o seu Espírito.
  • “Escutai-o”. A Ele há que escutar (Dt 18,15), como ao enviado de Deus, a sua plena e definitiva revelação. Nele o Pai diz tudo o que tem a dizer. Por isso, mal ressoa a voz do Pai, desaparecem Elias e Moisés (cf. Hb 1,1s) e fica Jesus só “com eles”, os discípulos.
  • v. 9. Tal como Daniel devia guardar segredo sobre a revelação do Filho do homem até ao “tempo do fim” (Dn 12,4.9), também Jesus “ordena” aos discípulos que guardem segredo (5,43; 7,43; Mt 8,4) “até o Filho do homem ter ressuscitado dos mortos”. Só então será consumada a revelação de Jesus. A transfiguração é uma antevisão da ressurreição de Jesus, que inaugura o “tempo do fim”, um antegozo do mundo futuro, que se manifestará quando Jesus vier “em glória” no último dia (v. 1).
  • v. 10. Os discípulos “retêm a palavra” de Jesus mas, tal como não entenderam a sua palavra sobre a cruz (9,32; 1Co 1,18), menos ainda entendem a da ressurreição, palavra que, aliás, não existe em hebraico nem em grego (qum, anístemi, “levantar”: Gn 4,8) e que só entenderão quando se encontrarem com o Ressuscitado e o confessarem como Senhor (16,14.19s).
  • A transfiguração de Jesus destina-se a iluminar, alargar e fortalecer a fé dos discípulos, de modo a ajudá-los a superar o escândalo da cruz. O Pai revela-lhes Jesus como o Messias, o seu Filho unigénito, deixando-os vislumbrar a glória de Jesus e ter um antegozo do mundo futuro que se inaugurará através da sua morte e ressurreição. Jesus é o novo Templo de Deus, o Homem novo por quem Deus cumprirá a promessa feita a Abraão de na sua descendência abençoar todos os povos. Todos O devem escutar, para por Ele serem transfigurados (2Cor 3,18) e assim poderem participar da sua vida divina e participar da glória da sua ressurreição, quando Ele vier no último dia.
  • Na caminhada quaresmal, apresentada no Evangelho do domingo passado, a transfiguração aponta a meta da Quaresma, ou seja, a nossa configuração com Cristo morto e ressuscitado. 

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Onde busco a minha realização e que caminho prefiro: o de Jesus, no dom de si mesmo, ou o do ter, do poder e do gozar mundanos?
  • Vejo o amor de Deus no meio dos sofrimentos e das contrariedades?
  • Que faço eu quando me assalta o desânimo? Revolto-me, isolo-me, procuro fugas, substitutos ou consolações noutras coisas ou pessoas ou recorro como Jesus, ao Pai através da oração, da escuta da Palavra, da celebração da fé e da ajuda dos irmãos?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                          Sl 116,10.15-19 (R. Sl 115,9)

Refrão:        Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor. 

Confiei no Senhor, mesmo quando disse:
«Sou um homem de todo infeliz».
É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.     R.

Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.
Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.     R.

Cumprirei as minhas promessas ao Senhor
na presença de todo o povo,
nos átrios da casa do Senhor,
dentro dos teus muros, Jerusalém.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Senhor, nosso Deus, que nos mandais ouvir o vosso amado Filho, fortalecei-nos com o alimento interior da vossa Palavra, de modo que, purificado o nosso olhar espiritual, possamos alegrar-nos um dia na visão da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc