Terceiro Domingo do Tempo Comum, ano B - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (1,14-20)

Naquele tempo, 1,14depois de João ter sido entregue, Jesus veio para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus 15e dizendo: «Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho». 16Passando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, o irmão de Simão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. 17Disse-lhes Jesus: «Vinde após mim e farei com que vos torneis pescadores de homens». 18E, deixando logo as redes, seguiram-no. 19Avançando um pouco, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco a consertar as redes; 20e logo os chamou. E, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após Ele.

    Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • Com esta passagem, abre-se a primeira parte do Evangelho de S. Marcos, na qual se vai revelando a identidade de Jesus, culminando na confissão de fé de Pedro n’Ele como o Messias (1,14-8,30). Marcos sintetiza a vida e a missão de Jesus de forma esquemática, com rápidas pinceladas, concentrando tudo num só ano e dispondo-o segundo um itinerário mais pedagógico do que cronológico e geográfico. Hoje relata o início da obra de Jesus em duas cenas: a pregação inicial de Jesus (1,14s) e o chamamento dos primeiros discípulos (1,16-20).
  • v. 14 (vv. 14-15: Mt 4,12.17; Lc 4,14s). Jesus inicia a sua missão “depois de João ter sido entregue”, ou seja, depois de “João” Batista ter sido preso (6,17p). A missão de João era provisória, destinada a preparar a vinda do Messias; agora ele cede o lugar a Jesus, que irá instaurar o Reino definitivo. Apesar de contrariado, o anúncio da Palavra não é silenciado; Deus suscita sempre novos arautos que proclamem a Boa nova.
  • Jesus deixa a Judeia e vem para a Galileia (Jo 4,3.43ss). A “Galileia” (he. “distrito”) é a “região” norte de Israel, de população mista, em permanente contacto com os gentios (Is 8,23; 1Ma 5,21). Tida pelos judeus como uma terra onde nada havia de bom, é aí que o Evangelho começa a ser anunciado a todos, a começar pelos afastados e pecadores.
  • Jesus “prega” (gr. queryssein), verbo que significa: a) “apregoar” um decreto ou b) uma notícia importante; c) publicitar uma oferta ou recompensa. O arauto (queryx) apregoava a todos em voz alta a notícia (querygma), porque muitos não sabiam ler. Que notícia? O ”evangelho”, palavra grega que significa uma “notícia” (anguelion) que suscita gritos de alegria (eu), como a cura duma doença, o fim duma carestia ou guerra, uma vitória, o nascimento dum filho. Nos LXX, o AT grego só vem no plural (he. bessorá, sing., 2Sm 4,10; 18,20.22.25.27; 2Rs 7,9), no NT apenas no singular (Rm 15,19; 1Cor 9,12; 2Cor 2,12; 9,13; 10,14; Gl 1,7; Fl 1,27; 1Ts 1,5; 3,2), indicando que todas as boas-novas se resumem na grande boa-nova dada por Deus à humanidade: Jesus Cristo. É Ele que na sua pessoa, palavra e obra, é o “Evangelho de Deus” (1,1; Rm 1,1; 15,16; 2Cor 11,7; 1Ts 2,2.8s; 1Pd 4,17).
  • v. 15. O querigma de Jesus tem quatro pontos. 1) “Cumpriu-se o tempo” (passivo divino): não o tempo cronológico (gr. kronós), mas o momento determinado por Deus (aram. zemar, gr. kairós) para cumprir as suas promessas (Dn 7,12s.22; 12,4.7; Tb 14,5; Mq 5,2; Is 49,8; 60,22; Jr 3,17; Ha 2,3; 2Cor 6,2; Qo 3,1). Ou seja: chegou a “plenitude dos tempos” (Gl 4,4; Ef 1,4) em que o Messias prometido instaurará o Reino de Deus.
  • 2) “Está próximo (lit. “aproximou-se”) o Reino de Deus”. “Reino” em grego (basileia) designa também a casa do rei. Este Reino é o reinado de Deus (Dn 7,22.27; Tb 13,2; Sl 22,29; 103,19; 145,11s; Sb 10,10), o exercício do seu poder entre os homens, nos quais estabelece a sua morada (Ez 37,27 LXX). Não havendo rei, descendente de David, desde o exílio (587 a.C.), é o próprio Deus que agora vem reinar sobre o seu povo através do Messias, congregando-o de todas as nações e reconduzindo-o à sua verdadeira pátria, o Reino de Deus, para o reger, nele habitando.
  • 3) À oferta de Deus, responde o homem com o arrependimento e a fé (At 2,38). “Arrepender-se” (gr. metanoéo) não é apenas “voltar (he. shuv) para Deus”, como no AT, mas é um processo contínuo de mudança interior de mentalidade, atitude, modos de ver, falar e agir segundo a palavra de Deus (Jn 3,10), pondo-o a Ele acima de tudo, em primeiro lugar.
  • 4) “Crer” não é apenas aceitar um conjunto de verdades, mas: a) escutar a palavra de Jesus, Evangelho vivo do Pai (1,1); b) acolhê-lo c) e construir sobre Ele a própria vida (gr. en tô Euanguelío), aderindo a Ele, tendo-o como centro e seguindo-o como Senhor e meta da própria existência.
  • v. 16 (vv. 16-20: Mt 4,18-22). Por isso, Marcos narra a seguir o chamamento dos primeiros discípulos, numa cena que evoca o chamamento de Eliseu por Elias (1Rs 19,19ss). Este ocorre junto ao “mar da Galileia” (lago de Genesaré ou de Tiberíades), um lago de 21 km de comprimento por 11 de largura, encravado entre montanhas, 200 m abaixo do nível do mar. “Passando” (1Sm 16,9s) à beira-mar, Jesus “vê” (1 Sm 16,7), com o olhar de Deus, dois irmãos, Simão e André, que “lançavam as redes ao mar”, pescando junto à margem com a tarrafa (cf. Mt 4,18).
  • v. 17. Jesus lança-lhes um convite, seguido duma promessa. Primeiro, convida-os, chama-os, a “vir após Ele”, ou seja, a ser seus discípulos (pois o discípulo caminhava atrás do rabbi, a uns 9 m de distância).
  • O chamamento de Jesus tem nove notas singulares: 1) em Israel, é o discípulo que escolhe o rabbi; aqui é Jesus que chama; 2) os rabinos só aceitavam como discípulos pessoas que gozavam de boa fama; Jesus escolhe e chama quem quer, também pecadores; 3) os discípulos judeus aprendem a doutrina do rabino; os de Jesus, aderem a Ele, imitando-o e empenhando a própria vida; 4) o chamamento de Jesus dirige-se a pessoas “normais”, com família, não necessariamente ligadas a círculos religiosos; 5) só homens podiam ser aceites como discípulos; Jesus chama também mulheres e crianças; 6) Jesus chama no meio do próprio trabalho pessoas habituadas ao esforço e à labuta diária. No Reino não há lugar para o comodismo e a preguiça.
  • As outras três notas mostram que o chamamento é divino. 7) Jesus chama pessoas simples, sem instrução, nem preparação: Deus não elege os capazes, mas capacita os elegidos. 8) O chamamento é categórico: Jesus não dá explicações, nem oferece garantias, não se voltando sequer para ver se responderam. 9) O chamamento é exigente, requer uma resposta imediata, total e incondicional, sem tempo para fazer cálculos, pôr em ordem a própria vida ou despedir-se dos seus (cf. 1 Rs 19,20): há que deixar tudo para seguir Jesus.
  • Ao convite segue-se uma promessa: “e farei com que vos torneis pescadores de homens”. Quem adere a Jesus, entra numa nova vida em que é chamado a cooperar na Sua obra. Daí em diante é o próprio Jesus que molda a existência dele, de modo que a sua obra se encarne na própria vida, aqui descrita com os termos de atividade laboral: ser pescadores (cf. Jr 16,16; Ez 47,10). De facto, tal como na pesca, também no anúncio do Evangelho não se trabalha sozinho. A pesca faz-se de noite, partindo para o desconhecido, arriscando a própria vida, sem saber se vai voltar ou se os seus esforços terão êxito. “De homens”: para o peixe ser pescado significa morrer, mas para o homem estar imerso no mar (símbolo das forças do mal, inimigas de Deus: 5,13), é sinónimo de cegueira, escravidão e morte, sob o poder do pecado e de Satanás, enquanto “ser pescado” é ser salvo. Jesus fará dos seus discípulos seus colaboradores (16,20), mas será Ele que salvará o homem do pecado, da morte e do jugo de Satanás (cf. Hb 2,14).
  • v. 18 (vv. 18-20:Lc 5,10s). Simão Pedro e André deixam “logo” as redes e “seguem” Jesus. O advérbio “logo” (gr. euthús: v. 20) é típico em Marcos, sendo constantemente repetido (41x). Marcos indica assim que há que responder na hora, porque não há mais tempo a perder (cf. 1Cor 7,29). O verbo “seguir” (gr. akolouthéin) indica uma atitude atenta de escuta e de obediência de um discípulo que vai atrás do Mestre, assume o seu estilo de vida e o imita, seguindo os seus passos (cf. 1Pd 2,21).
  • v. 19. Mais adiante, Jesus “vê” outro par de irmãos, mais abastados (o pai tem empregados), que estão “a consertar as redes”, ou seja, a prepará-las para nova labuta. v. 20. Jesus chama-os também e eles “logo” (v. 18) deixam tudo para O seguir.
  • Jesus chama primeiro dois pares de irmãos, que são sócios (Lc 5,10) e trabalham juntos (Pedro e André, Tiago e João), ou seja, quatro discípulos, destinados a serem as quatro colunas da sua casa (cf. 1Rs 7,2), que é a Igreja, chamada a ser uma comunidade de irmãos, comprometida com o anúncio do Evangelho e difusão do Reino, em favor da salvação dos homens.

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)    

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • A que me chama Jesus? Estou disposto a aceitar os seus desafios?
  • Para que o Reino de Deus seja uma realidade, que é preciso “converter-se” na nossa vida – em termos pessoais e institucionais –para que nela se manifeste, de facto, esse Reino tão esperado?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Tudo apreciar em Deus, à luz da sua Palavra) 

Salmo responsorial                                        Sl 128, 1-5 (R. cf. 1a)

Refrão:        Ensinai-me, Senhor, os vossos caminhos. 

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,
ensinai-me as vossas veredas.
Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,
porque Vós sois Deus, meu Salvador.     R.

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias
e das vossas graças, que são eternas.
Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,
por causa da vossa bondade, Senhor.     R.

O Senhor é bom e reto,
ensina o caminho aos pecadores.
Orienta os humildes na justiça
e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.    R.

 Pai-nosso…

 Oração conclusiva

Deus todo-poderoso e eterno, dirigi a nossa vida segundo a vossa vontade, para que mereçamos produzir abundantes frutos de boas obras, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho. Ele que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (encarnar a Palavra na própria vida e testemunhá-la, unidos a e em Cristo)

Fr. Pedro Bravo, oc