XIII Domingo do Tempo Comum - Ano A

13º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A

2 de Julho de 2017

 alt

 Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 10, 37-42)

 Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: “ 37Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem amar o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim. 38Quem não tomar a sua cruz para me seguir, não é digno de mim. 39Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la.»

40«Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. 41Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo, por ele ser justo, receberá recompensa de justo. 42E quem der de beber a um destes pequeninos, ainda que seja somente um copo de água fresca, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa.» 

Contexto 

O texto de hoje é a conclusão do “discurso da missão”, o segundo dos cinco discursos de Jesus em Mateus, onde o evangelista recolhe diversos ensinamentos de Jesus sobre a missão e o discipulado.

Na época em que Mateus escreve (± 80 d.C.), a Igreja continuava a expandir-se por todo o Império romano, mas este já tinha começado a reagir com crescente hostilidade, aumentando as perse­guições aos cristãos, sendo frequentes as denúncias de cristãos por parte de conhe­cidos ou de parentes próximos, quer judeus, quer pagãos. Perante isto, muitos cristãos ficavam perplexos e desorien­tados, pergun­tando-se se valeria a pena “remar contra a maré”, mantendo a fé e dando testemunho de Jesus com risco da própria vida.

Mateus reúne então estes ensinamentos de Jesus, a fim de reanimar a fé e revitalizar a opção missionária da Igreja. A missão dos discí­pulos é anunciar o Evangelho, percorrendo o mesmo caminho de Jesus. Apresenta, nesse sentido, um conjunto de valores e atitudes que se destinam a orientar os cristãos no seu relacionamento com as pessoas com quem entram em contacto ou a quem se dirigem. 

Breve comentário 

O presente texto divide-se em duas partes. Na primeira (vv. 37-39), Jesus apresenta um conjunto de exigências radicais para quem O quiser seguir; na segunda (vv. 40-42), sugere que toda a comuni­dade deve testemunhar Jesus, mostrando a recompensa prometida aos que acolhem os seus enviados.

vv. 37-38 (cf. Lc 14,26s). O seguimento de Jesus não é um caminho fácil e consensual, enaltecido pelo mundo, recompensado com afe­tos, incentivado por aplausos, onde a pessoa, em vez de buscar a Deus, se buscaria a si mesma. É antes um caminho radical, que não raro obriga a opções exigentes e ruturas dolorosas, a fim de renas­cer para a verdadeira caridade. Quando se trata de escolher entre Jesus e outros valores, qual é a opção do cristão? Jesus não admite “meias-tintas”: a pri­meira lealdade, não é com os próprios afetos e amiza­des, mas com Ele, por amor e para amar mais (cf. 19,29).

Na época de Jesus a família era a estrutura social fundamental: considerava-se um só corpo, que amparava e dava sentido à vida dos seus membros, garantindo a sua segurança, trabalho, inserção social e mesmo, no caso dos hebreus, as próprias bênçãos divinas. O pri­meiro dever sagrado no judaísmo para com o próximo era, por isso, o amor aos pais (15,4; 19,19; cf. Ex 20,10; Dt 5,16), razão pela qual os rabis judaicos prescreviam aos seus discípulos (hebr. talmidim) o dever de lhes obedecer como a um pai. Jesus, ao invés, exige dos seus discípulos ser Ele o primeiro, a fonte primordial e a refe­rência fundamental da sua vida. Esta é uma exigência que só Deus pode fazer (cf. Gn 22,2). Se a alternativa for, pois, não a de cumprir o próprio dever, mas a de escolher entre Ele e a família, a escolha do discípulo deve recair sempre sobre Jesus. O discípulo tem então necessariamente que cortar as relações com a própria família para seguir Jesus? Não, nem sempre. No entanto, não pode deixar que a família ou outros afetos o impeçam de responder com fidelidade aos apelos do Reino, pondo-O em primeiro lugar.

vv. 38-39 (cf. 16,24-25). Se a alternativa for a de escolher entre Jesus e as segu­ranças pessoais ou a própria vida, a escolha deve ser sempre a de tomar a “sua cruz” (as contrariedades, dificuldades, incompreen­sões, críticas, limites, enfermidades), isto é, o que não estava planeado ou não se pôde escolher e faz sofrer. Porém, Jesus não diz que há que levar a cruz só, mas com Ele, escutando a sua voz. Quem adere a Jesus para assegurar a própria realização pessoal, vida afetiva, familiar, profissional, ou procurar fazê-lo, preservando a todo o custo o que alcançou ou aquilo com que sonhava, acabará por perder a verdadeira vida, mas quem estiver disposto a tudo perder por causa de Cristo, há-de encontrar a verdadeira vida (Mc 8,35; Lc 17,33; Jo 12,25; cf. Est 4,14.16).

Na segunda parte do texto (vv. 40-42), Jesus mostra a recompensa prometida aos que acolhem os mensageiros do Evangelho. Mateus refere quatro grupos de pessoas que integram a comunidade e têm a responsabilidade do testemunho: os apóstolos (v. 40), os pro­fetas, os justos (v. 41) e os pequeninos (v. 42).

v. 40. Os apóstolos são as primeiras testemunhas de Jesus, que levam o Evangelho a toda a parte: quem os recebe, recebe Jesus (cf. 18,5 p; Lc 10,16; Gl 4,14; 3 Jo 8). E quem acolhe o seu anún­cio, aderindo pela fé a Jesus, recebe o próprio Deus (cf. Jo 12,44; 13,20), em cuja vida divina Jesus, pelo seu Espírito, o introduz.

v. 41. Os profetas são os portadores da Palavra de Deus (itinerantes ou não: cf. Didaké 13) que, impelidos pelo Espírito, interpelam as pessoas e as comu­ni­dades e as ajudam a viver de acordo com o Evan­gelho, segundo a vontade de Deus. Os justos são os cristãos que procuram viver, no seu dia-a-dia, a própria fé: quem os acolhe, receberá a sua própria recompensa (cf. 1Rs 17,9-24; 2 Rs 4,1-37).

v. 42. Os pequeninos (gr. micrói, Mt, 6x: 11,11; 13,32; 18,6.10.14) são os fracos na fé e aqueles que não gozam de direitos: os discí­pulos que ainda não fazem parte de forma plena da comunidade, por se prepararem para o batismo (os catecúmenos); os estrangeiros; os necessitados e socialmente desprotegidos (escra­vos, órfãos, viúvas, prisioneiros, doentes); as crianças e os simples que não têm grande formação cristã: quem os acolher e tratar com amor por causa de Cristo não perderá a sua recompensa (cf. 25,40; Mc 9,41).

A tarefa de anunciar o Evangelho diz, pois, respeito a todos os cristãos, chamados a ser “discípulos missionários”, que dele dão testemunho a todos, não só por palavras, mas também por obras, dando a sua vida por amor aos irmãos ao serviço do Reino. Por isso devem ser acolhidos com alegria, fé, generosidade e amor, não só pelos de fora, mas também pelos da própria Igreja e comunidade. 

Fr. Pedro Bravo, O. Carm. 

Palavra para o caminho 

Jesus defendeu com firmeza a instituição familiar e a estabilidade do matrimónio. E criticou duramente os filhos que se desentendem com os seus pais. Mas a família não é para Jesus algo absoluto e intocável. Não é um ídolo. Há algo que está acima e é anterior: o reino de Deus e a Sua justiça.