História

NOME

“Cada Ordem toma o seu nome de um lugar ou de um Santo”, escreve João Baconthorp, Carmelita Inglês do séc. XIV. No caso dos Carmelitas, recebe o nome devido ao Monte Carmelo, Monte da Palestina, junto ao Mediterrâneo e à Baía de Haifa, pois foi aí que viveram os primeiros monges, junto da fonte de Elias.

II - ORIGEM

Quanto à data do início da Ordem Carmelita, não há muita certeza e é um ponto de discussão que se tornou clássico na história da Igreja, pois é difícil de precisar. É como que um labirinto histórico onde os historiadores se dividem. Por um lado, aparecem lendas piedosas sem qualquer valor histórico; por outro lado, há uma grande quantidade de documentos, fruto da pesquisa dos historiadores do séc. XX, que provocaram um renascimento da história da Ordem. Há, no entanto, dois fenómenos marcantes no séc. XI e XII que interessam para a história da Ordem:

  • ressurgimento da vida eremítica;
  • as peregrinações profundas à Terra Santa, conhecidas como cruzadas.

Apesar de tudo, pensamos que podemos ficar com alguns dados certos para a origem da Ordem Carmelita: entre 1153 e 1159, Bertoldo, por inspiração do profeta Elias, dirige-se para o Monte Carmelo. Aí, com a ajuda do seu primo, o Patriarca D. Aimerico de Antioquia, construiu uma pequena capela perto da gruta de Elias e cerca das ruínas que existiam por lá. Aos poucos, cresce o número de eremitas que se espalham por todo o Monte, vivendo separados uns dos outros em pequenas cavernas, procurando assim imitar Elias.Provavelmente em 1209, Alberto, Patriarca de Jerusalém, dá-lhes uma forma de viver concreta, escrita (Regra), e reúne-os perto da fonte de Elias, sob a conformidade dum certo B. (segundo se pensa seria Brocardo), que é assim, de facto, o primeiro superior da Ordem.

III - FUNDADOR

A grande glória dos Carmelitas é a grande anonimidade. Não têm fachada, por assim dizer; apenas procure imitar Elias no "Vivere Deo", sem recolhimento e sem silêncio. Nunca nenhuma das eremitas da época da formação teve a pretensão de ser o fundador. Mais tarde, quando todas as Ordens se gabavam do seu Fundador, quiseram as Carmelitas pôr Elias como o seu. Daí que tenha surgido uma corrente de lendas da Sucessão Eliana, que colocaram "os Filhos dos Profetas" como os primeiros habitantes do Carmelo. Mas é claro que esta sucessão ininterrupta não aconteceu. Elias é apenas o modelo e Pai Espiritual.

IV - HISTÓRIA

1. - Geral

Com a Regra dada por Alberto de Jerusalém, as Carmelitas receberam a sua existência canónica. Podemos considerar, por isso, esta Regra como a acomodação da vida que as Carmelitas já levaram em Monte Carmelo. Podemos chegar a esta conclusão baseando-nos nas palavras da Introdução da Regra: "...visto que nos pedis uma Norma de Vida que corresponde à sua aspiração..."No entanto, não foi fácil. Quando, em 1215, o Concílio de Latrão proibiu o estabelecimento de novas Ordens Religiosas, vários Prelados da Terra Santa conseguiram contestar o direito de existência às Carmelitas, eles não tiveram aprovação ainda pontifícia. Daí que as Carmelitas tenham de recorrer a Roma. Depois de várias insistências, chega, finalmente, a aprovação dada pelo Papa Honório IV, em 30 de Janeiro de 1216, com a Bula Ut vivendi norman: "Mandamos, a vós e aos vossos sucessores, que observais em remissão dos vossos pecados, na medida do possível, a Regra que vos foi dada pelo Patriarca de Jerusalém, de santa memória, pois que humildemente afirmais tê-la recebida antes do Concílio Geral". A primeira emigração para a Europa fez-se entre 1226 e 1229. As primeiras fundações na Europa mostram-nos claramente a intenção dos eremitas refugiados continuarem a vida solitária e contemplativa. São prova disso os conventos de Aygalades, perto de Marselha, Aylesford e Cambridge, que eram verdadeiros eremitérios construídos segundo a Regra de Santo Alberto. Esta primeira vinda para a Europa foi quase uma aventura, mas tornou-se obrigatória, em 1237, devido às perseguições dos Islamitas. Todos os eremitas europeus recebem ordem de regresso aos seus países de origem. Este êxodo foi providencial, pois, em 1291, os Religiosos que apoiaram no Monte Carmelo foram todos massacrados. A Ordem Carmelita salvou-se porque já tinha raízes criadas na Europa.

Não foi nada fácil a adaptação à Europa, pois, aí, a vida tinha outras exigências que não tinha a vida eremítica. Em 1229, o Papa Gregório IX obrigava-os a uma pobreza mais estrita, equiparando-os às Ordens Mendicantes: tinham que procurar o seu sustento numa vida mais ativa. Todavia, eram proibidos por muitos Bispos de viverem nas cidades, em sítios ermos, conforme mandava a Regra. Foi nestas situações difíceis que se celebrou o primeiro Capítulo Geral, em Aylesford, em 1245, sendo eleito Prior Geral Simão Stock, a quem Nossa senhora entregou o Escapulário do Carmo. Este, vendo as dificuldades, pediu ao Papa a adaptação da Regra às novas situações. Esta adaptação foi-lhe concedida pelo Papa Inocêncio IV, em 1 de Outubro de 1247, mediante uma Bula Quae honorem conditoris. Mediante a adaptação da Regra à nova situação, iniciou-se uma nova vida e uma nova era na Ordem Carmelita. A exemplo das outras Ordens Mendicantes, Simão Stock fundou conventos nas cidades universitárias: Cambridge, 1249; Oxford, 1253; Paris, 1259; Bolonha, 1260. Como já dissemos, esta adaptação à nova vida na Europa não foi nada fácil. Por um lado, as pessoas não os acolhem bem, pensando que são mais uns tantos que vêm viver à custa das suas esmolas; por outro lado, são os próprios eremitas que têm dificuldade em se adaptar à nova situação. O Geral de então, Nicolau, o Francês, sucessor de Simão Stock, tentou mesmo destruir a obra de seu antecessor. Mas, ao sentir oposição, demitiu-se e resolveu retirar-se para a solidão, onde escreveu a célebre Sagitta Ignea, em 1272. Aí descreve as suas desilusões e convida todos a regressarem novamente à vida contemplativa na solidão dos eremitérios. Como em outras Ordens, também na Carmelita houve Reformas. Há duas coisas mais importantes: no séc. XV, após o Cisma do Ocidente; não seg. XVI, após o Concílio de Trento. Desta segunda Reforma surgiram os hoje chamados "Carmelitas Descalços".

2. -Portugal

As Carmelitas chegaram a Portugal como Capelães dos Militares de São João de Jerusalém, vindos da Terra Santa, onde defenderam os Lugares Santos. Foi-lhes doado o convento construído pelos referidos Militares em 1251, em Moura. Este convento contava, em 1421, com quarenta e dois religiosos. É a partir daqui que as Carmelitas vão irradiar para todo o Portugal e ainda para o Brasil.

Em 1387, D. Nuno Álvares Pereira manda construir o Convento do Carmo, em Lisboa. Para este Convento vieram Religiosos do Convento de Moura, solicitados e indicados pelo próprio D. Nuno. Em 1423, realiza-se o primeiro Capítulo Provincial em terras de Portugal, sendo eleito Provincial o Dr. Frei Afonso Leitão, ou de Alfama. Elaboraram-se os primeiros Estatutos, que foram aprovados por D. João I, em 1424. Em 1450, iniciou-se a construção do Convento de Colares, que só Frei Baltazar Limpo terminou, em 1528. Este Convento foi transformado em Convento Eremítico da Província, em 1617. Em 1495, funda-se um Convento na Vidigueira; em 1526, em Beja; em 1531, em Évora; em Coimbra, em 1571. Vão-se sucedendo as fundações no Continente.

Só em 1651 é que as Carmelitas vão para as Ilhas, erguendo o seu primeiro Convento na Ilha do Faial. Em 1663, ergue-se o primeiro Convento no Funchal. Os Carmelitas não têm tradição de missões no antigo Ultramar Português; nunca aí abriram nenhuma casa. Apenas atravessamos as éguas para irem até às terras de Santa Cruz.

Depois de tanto florescimento na Ordem, surgem vários abanões e percalços. Vão-se aprofundar com o terramoto de 1755. Com este, vários Conventos foram abalados, alguns destruídos e mesmo morreram algumas frades carbonizadas. Com tudo isto, o fervor religioso também começa a ser atacado. Tudo culmina com a expulsão e extinção das Ordens Religiosas, ordenada por Joaquim António de Aguiar, em 1834. O Terramoto deu o primeiro toque; a extinção das Ordens Religiosas fez o resto. Também as Carmelitas partiram para o Brasil e por lá permaneceram quase um século sem voltarem a Portugal.

V - RESTAURAÇÃO

A Restauração da Ordem Carmelita começa a partir de 1930, 96 anos depois da sua extinção.

Foram morosos os contactos entre a Cúria Generalícia da Ordem e o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel G. Cerejeira.

Queriam que vissem as Carmelitas do Brasil para iniciarem a Restauração; mas não foi possível. Pensou-se, depois, nas Carmelitas da Irlanda ou Holanda; mas também este projeto se gorou. Finalmente, a obra da Restauração é confiada à Província Bética, de Espanha. O grande promotor da Restauração foi o Assistente Geral, Pe. Manuel Baranera, que se desloca pessoalmente para Lisboa para assumir em pessoa a Restauração. Vencidos os últimos entraves, o Pe. Eliseu Rubio Maia é nomeado primeiro Superior da nova Fundação. Foi assim iniciada a Restauração da Ordem Carmelita em Portugal. Mas, no início, foi muito difícil. Houve dificuldades de toda a ordem, sendo as principais de ordem económica e de pessoal. Depois de várias andanças, o Pe. Maia, homem sonoro e de ópera férrea, consegue abrir a primeira casa em Lisboa, na Travessa de Santa Quitéria. Foi difícil manter essa casa aberta, mas todas as dificuldades foram ultrapassadas. Em 1949, abre-se o primeiro Seminário, em Miranda do Douro, funcionando na Residência Paroquial, que não tinha as mínimas condições para essa específica. Em 1951, por ordem expressa do Pe. Geral da época, Kiliano Lynch, é encerrado. Em finais de 1951, é transferido para Braga, passando pela Rua Bernardo Sequeira. Em 1954, a Província Fluminense do Brasil toma conta da Restauração da Ordem Carmelita, assumindo esse encargo como prova de gratidão pelo trabalho antes realizado pelos Portugueses com a Fundação da Ordem Carmelita no Brasil. É nomeado Comissário Provincial Frei Cirilo Alleman. Em 1954, abre-se um novo Seminário Menor na Falperra, funcionando num antigo convento de Beneditinos e Franciscanos. Na anterior casa de Braga, onde existia o Seminário Menor, abre-se, neste mesmo ano, o Noviciado, com quatro noviços.

Em 1957, abre-se uma casa em Fátima, destinada ao Alojamento de Peregrinos, mas que funcionou durante vários anos como Seminário Maior.

Em 1959, abre-se a casa do Noviciado na Quinta da Mata, perto de Felgueiras, iniciando aí o Noviciado catorze noviços.

Em 1963, as Carmelitas regressaram a Moura, onde ficaram como Capelães do hospital, que fora outrara o Convento primitivo da mesma Ordem em Portugal.

Em 1967, as Carmelitas tomam conta da paróquia do Salvador de Beja.

Em 8 de Dezembro de 1967 é inaugurado o Seminário Menor do lugar do Sameiro, arredores de Braga, construído com as ofertas dos benfeitores, principalmente da Alemanha e da Holanda.

Em 1972, é confiada às Carmelitas o Vicariato de Santo António dos Cavaleiros e a Paróquia de S. Julião de Frielas, Loures. Os Carmelitas passam a habitar aí, num apartamento por eles adquiridos.

Assim os anos vão passando e as Carmelitas vão-se instalando em pontos do país, dedicando-se a tarefas diversas: ensino, pregação, paroquialidade e assistência a vários Movimentos Apostólicos.

Chega finalmente a hora de dar mais um passo em frente. No dia 8 de Dezembro de 1992, depois de várias tentativas e acidentes de percurso, as Carmelitas passam a ser Comissariado Geral, por decreto publicado no dia da Imaculada Conceição. O primeiro Comissário Geral do novo Comissariado é o Reverendo Pe. António Monteiro.

Actualmente é esta a situação em que vivemos, trabalhando em várias frentes, não podendo, no entanto, responder a todos os apelos para que vamos sendo solicitados, pois os membros do Comissariado não são muitos e a média de idade ultrapassa os cinquenta anos.

Frei António de Jesus Lourenço, O. Carm