Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (18,33b-37)
Naquele tempo 18,33disse Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos Judeus?». 34Jesus respondeu‑lhe: «É por ti mesmo que o dizes ou foram outros que to disseram de mim?». 35Respondeu Pilatos: «Porventura sou eu judeu? A tua nação e os chefes dos sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste?». 36 Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas teriam lutado para que Eu não fosse entregue aos judeus. Agora, porém, o meu reino não é daqui». 37Disse-Lhe então Pilatos: «Logo tu és rei?». Respondeu Jesus: «Tu o dizes: sou rei. Eu para isto nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O diálogo de hoje, exclusivo de João, apresenta-nos o início da inquirição de Jesus por Pilatos, o governador romano da Judeia e da Samaria (26-36 d.C.). Os historiadores da época (Flávio Josefo e Filão de Alexandria), descrevem-no como um governante áspero, duro, violento e obstinado, culpado de ordenar a execução de opositores seus sem processo legal. As queixas de excessiva crueldade apresentadas contra ele pelos samaritanos em 35 d.C. levaram Vitélio, o Legado romano da Síria, a enviá-lo a Roma para se explicar perante o Imperador, o qual logo o depôs. No Quarto Evangelho, porém, no processo de Jesus. aparece como um homem fraco, indeciso e volúvel, manobrado pelos “judeus”, designação que, em João, inclui também os saduceus, grupo que na época em que João escreve já tinha sido extinto, por ocasião da destruição do Templo, em 70 d.C.
- v. 33: Mt 27,11; Mc 15,2; Lc 23,3. É a sexta-feira da paixão e estamos em Jerusalém, no pretório, a residência oficial do Procurador romano. A inquirição de Jesus começa por uma pergunta irónica e direta que denota o desdém que Pilatos sentia pelo povo que governava: “Tu és o Rei dos judeus?” (cf. 12,13; 19,15). A pergunta surpreende porque é a primeira vez que este título aparece em João, sem nunca ter sido proferido pelas autoridades judaicas, que o rejeitam (19,21), embora seja esse o motivo oficial da condenação de Jesus, como atesta o titulum da cruz (19,19p.21). Este título resume, porém, em termos romanos, o teor da acusação aduzida pelas autoridades religiosas contra Jesus, dizendo que Ele pretende ser o Messias prometido a Israel (Mc 15,2p), quando, de facto, é um impostor, um agitador político que quer revoltar o povo contra Roma, para o libertar do seu jugo. Que diz Jesus em sua defesa?
- v. 34. Jesus, à boa maneira dos rabinos, responde com outra pergunta, passando agora da esfera legal para a pessoal. De facto, para João, Jesus, no seu processo, não é o arguido, mas o arguidor do mundo (12,31). Pergunta, pois, Pilatos se a sua questão nasce do desejo de o conhecer (1,39.46; 4,42; 17,8) ou se é uma mera repetição do que ouviu?
- v. 35. Pilatos escusa-se, replicando que nada tem a ver com Jesus, porque nem sequer é judeu (cf. 4,9), devendo apenas cumprir a sua função. Pergunta-lhe que fez Ele de tão grave (v. 30), para que, não só as autoridades religiosas do seu povo, como a sua própria nação, o tenham rejeitado, entregando-o à autoridade romana. De facto, os judeus nunca entregavam ninguém do seu povo para ser julgado por um estrangeiro, não só porque isso era visto como uma traição, mas também porque implicava o reconhecimento da autoridade de um gentio (cf. At 23,12-22). Jesus é o único a quem isso aconteceu, mostrando até que ponto as autoridades do seu povo se empenharam em que fosse condenado como um maldito (vv. 31s; cf. Dt 21,23; Sl 22,17).
- v. 36. Na sua defesa, Jesus põe as coisas na sua devida perspetiva. Ele não é uma ameaça política, pois não é um rei terreno: o seu reino não é deste mundo (cf. 8,23). A prova é que, ao invés dos reis terrenos, não tem guardas, nem recorreu à força das armas para se defender. Neste mundo, não são os reis que dão a vida pelos seus súbditos, mas os súbditos que dão a sua vida por eles. Jesus, porém, é um prisioneiro indefeso, que não se insurge contra ninguém, nem pretende impor-se à força, mas só quer fazer a vontade do Pai.
- O seu reino (reinado) não é cá de baixo, deste mundo (cf. 3,12), mas do alto, de Deus (3,3.5) Foi o Pai que lho deu, na sua qualidade de “Filho do homem” (1,51; 5,27; Dn 7,13s). A sua realeza radica nos corações, atraindo-os (12,32) e transformando-os, sem se impor, os oprimir ou ameaçar de morte (19,10). Pretende apenas fazer o que nenhum rei da terra pode fazer: libertar o homem condenado, a fim de o tornar participante da sua própria vida e realeza, junto do Pai (cf. Ef 2,6; Cl 3,1ss; Ap 3,20s). Esse reino começa a ser instaurado e é oferecido “agora” (12,31; 13,31; 16,5 17,5.7.13), a partir da “hora” da sua paixão, morte e ressurreição.
- v. 37: Mt 27,11; Mc 15,2; Lc 23,3; 1Tm 6,13. Pilatos pensa ter apanhado Jesus numa contradição e deduz com ironia: “Logo tu és rei?”.
- Jesus responde, dando testemunho da verdade, declarando-lhe abertamente que sim, embora definindo a natureza do seu reinado. “Rei” em hebraico diz-se melek, nome que vem do verbo malak, “subir ao trono” para “julgar” e “reinar”. A raiz de malak significa “consultar”, “aconselhar-se”, “escutar” para bem “discernir”. Por isso, Salomão pediu a Deus: “Dá ao teu servo um coração que saiba escutar para poder julgar o teu povo e discernir entre o bem e o mal” (1Rs 3,9). Jesus atesta que é Rei, não apenas “o Rei de Israel” (1,19) – título que no AT originalmente só se aplicava a Deus (12,13; cf. Jz 8,22; Sl 72,18; Is 44,6; Sf 3,15) –, mas Rei, sem mais especificações. Ou seja: é o Enviado de Deus “ao mundo” (11,27; 1,9; 6,14; 9,39; 12,46; 16,28; 1Tm 1,15), para salvar o homem. Ele é, pois, o Messias (6,14; 11,27; cf. Jr 10,7; Ez 37,22; Zc 14,16; Ml 1,14).
- Tendo o pecado entrado no mundo pela inveja (Sb 2,24), graças a uma mentira de Satanás (Gn 3,1.4s), “o pai da mentira” (8,44), a missão de Jesus, que “tira o pecado do mundo” (1,29; 1Jo 3,5), consiste em dar testemunho da verdade” (5,33; 8,40.45; 16,7; cf. Sl 45,5; Jr 23,28), do que viu (5,19) e ouviu junto do Pai (15,15; 17,8) e assim libertar o homem (8,32), implantando o conhecimento de Deus sobre a terra (17,3; Is 11,9; Os 4,1).
- O que é a verdade? A “verdade” (Jo, 20x) é um dos atributos de Deus, por Ele revelados a Moisés no monte Sinai (Ex 34,6). Está ligada ao amor (hesed), à graça, à bondade e à misericórdia de Deus (1,14.17; 14,6; cf. Sl 25,10; 36,6; 40,12; 83,12G; 85,11), tendo como consequência a salvação (Sl 40,11). É um atributo do Pai (17,3), de Jesus (1,14.17; 4,23s), da sua Palavra (8,32.40.45s; 16,7; 17,17.19) e do Espírito Santo (14,17; 15,26; 16,13). Em última análise, é o próprio Deus (cf. 3,21; 7,28). É Jesus que o dá a conhecer, dando testemunho dele, na sua Pessoa, palavras e obras.
- Em hebraico, “verdade” diz-se ‘emet, palavra que deriva de ‘em, “mãe”, significando “o que é fiel, firme, sólido, fiável, fiel, contínuo”. Escreve-se com três letras: a primeira (alef), uma mediana (mem) e a última (tau) do alfabeto hebraico (bShab 104a). A verdade é quando o que se diz e o que se faz se confirmam, quando o princípio e o fim se conciliam, numa conjugação de esforços que tudo engloba e em que tudo concorre e se completa, mantendo a sua continuidade, consistência e coesão ao longo de todo o processo, desde o início até ao fim. Jesus, Palavra do Pai (1,1) é a Verdade (14,6), a Testemunha fiel e verdadeira, o Amen de Deus às suas promessas (Ap 1,5s; 3,14; 2Cor 1,20; Is 65,16; Rm 15,8s), que realiza e consuma dando a própria vida (19,30). Porque é a Verdade, Jesus cala-se na paixão, deixando as obras falar.
- “Quem é da verdade” aceita Jesus como Rei da sua vida e escuta a sua voz (8,47; 10,3-5.16.27), que lhe chega também através dos seus discípulos (v. 21; 17,20), das pessoas e dos acontecimentos, acredita nele, obedece à sua Palavra e entra no redil do seu Povo (10,3; 10,27), a fim de seguir o seu exemplo de amor, serviço, entrega e doação da própria vida. É este o reino que Jesus traz, ao qual preside, ao qual chama o homem e no qual o convida a participar.
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Procuro escutar a Palavra de Deus? Como? Ela ajuda-me a crescer, no meu dia-a-dia, na escuta e obediência à voz de Jesus?
- Que sinais posso dar esta semana àqueles que me rodeiam para testemunhar a presença do Reino de Deus no meio dos homens?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 93,1-2.5 (R. 1a)
Refrão: O Senhor é rei num trono de luz.
O Senhor é rei,
revestiu-se de majestade,
revestiu-se e cingiu-se de poder. R.
Firmou o universo, que não vacilará.
É firme o vosso trono desde sempre,
Vós existis desde toda a eternidade. R.
Os vossos testemunhos são dignos de toda a fé,
a santidade habita na vossa casa
por todo o sempre. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva
Deus todo-poderoso e eterno, que no vosso amado Filho, Rei do universo, quisestes instaurar todas as coisas, concedei propício que todas as criaturas, libertas da escravidão, sirvam a vossa majestade e Vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc