Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (2,1-12)
2,1Ao terceiro dia houve uma boda em Caná da Galileia e a Mãe de Jesus estava lá. 2Jesus foi convidado para a boda e os seus discípulos também. 3Tendo faltado o vinho, a Mãe de Jesus diz-lhe: «Não têm vinho». 4Jesus responde-lhe: «Que há entre mim e ti, mulher? A minha hora ainda não chegou». 5Sua Mãe diz aos servidores: «O que Ele vos disser, fazei-o». 6Havia ali seis talhas de pedra, destinadas à purificação dos judeus, cada uma com capacidade para duas a três medidas. 7Diz-lhes Jesus: «Enchei as talhas de água». E encheram-nas até cima. 8Depois diz-lhes: «Tirai agora e levai ao chefe de mesa». E eles levaram. 9Quando o chefe de mesa provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde é, mas sabiam-no os servidores, que tinham tirado a água –, chama o noivo 10e diz-lhe: «Todo a gente serve primeiro o vinho bom e, quando todos já estão toldados, o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora». 11Este foi, em Caná da Galileia, o princípio dos sinais que Jesus fez; manifestou a sua glória e os seus discípulos acreditaram nele. 12Depois disto, desceu para Cafarnaum, Ele, a sua Mãe, os seus irmãos e os seus discípulos, mas não permaneceram ali muitos dias.
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- v. 1. O episódio da boda de Caná, exclusivo de João, faz parte da secção introdutória do Quarto Evangelho (1,19–3,36). Ele tem um caráter programático e abre a secção que vai até 4,46-54, a atividade de Jesus antes de se fixar em Cafarnaum. Neste episódio cada detalhe tem um valor simbólico, um significado mais profundo, teológico.
- A boda ocorre “ao terceiro dia” após a partida de Jesus para a Galileia (1,43). Este detalhe, ligado ao v. 5, evocam José (v. 1: Gn 40,13; v. 5: Gn 41,55), que foi enviado por Deus diante dos seus irmãos “para preservar as suas vidas” (Gn 45,5). Jesus também irá adiante dos seus discípulos para lhes preparar um lugar na casa do Pai (14,2s), o qual já saboreiam na Eucaristia.
- O “terceiro dia” está ligado à “hora” de Jesus, a sua “Páscoa” (vv. 4.13): é o dia da manifestação de Deus e da “sua glória” (v. 11; Ex 19,11. 15s; 24,11), o dia da ressurreição de Jesus (Lc 24,7; Ati 10,40; 1Cor 15,4), o “Dia do Senhor” (Ap 1,10) em que se celebra a Eucaristia (cf. At 20,7; 1Cor 16,2), aqui prefigurada. É também o oitavo dia (20,26) que coroa a semana inaugural da apresentação de Jesus aos homens (1º dia: 1,19; 2º: 1,29; 3º: 1,35; 4º: 1,40; 5º: 1,43) com a manifestação da sua glória, anunciando a nova criação.
- Caná (“lugar de canas”, atual Kfar Kanna, 7 Km NE de Nazaré) era uma aldeia no caminho de 46 km que leva de Nazaré a Cafarnaum (v. 12), pelo Wadi El-Hat e Wadi Hamam. Só João a menciona na Bíblia (v. 11; 4,46; 21,2).
- A cena decorre numa “boda”. No AT o casamento é símbolo da aliança de Deus com o seu povo (Os 2,20s; Is 54,5; 62,4ss; Jr 3,14; 31,32). No judaísmo os dias do Messias eram comparados a uma boda sem fim (3,29; Is 61,10s; Mc 2,19; Mt 22,2ss; 25,10; ExR 15,79b: Str-B 1,517), em que jorraria vinho por toda a parte (Am 9,13s; cf. Gn 49,11; Jr 31,12; Jl 2,24; S. Ireneu de Lião, Haer. 5,33,3).
- A boda durava sete dias (Jz 14,17; três, as das viúvas). Havendo muitos convidados e, acorrendo cada dia novos convidados, necessitava-se da ajuda de todos. Maria, “a Mãe de Jesus, estava lá”, ajudando como encarregada de copa (o que requer presença, atenção, velar pela qualidade do serviço, acolhimento, cuidado, discrição, rapidez no atendimento, criar bom ambiente). Em João, Maria está presente no “princípio” e no termo da vida de Jesus, junto à cruz (19,25ss), a “hora” em que se revela a Sua glória. Ela representa o Israel fiel, que espera e acolhe o Messias (cf. v. 3).
- v. 2. Jesus também vai à boda, mas como “convidado” (lit. “chamado”: cf. Ap 19,9), acompanhado dos seus discípulos.
- v. 3. A certa altura falta o vinho. O “vinho”, sinal de alegria e de festa, é imagem da restauração (Os 2,23s; Is 55,1s; 62,8s; Jl 4,18; Jr 31,5.12s; Zc 9,17) e do banquete da era messiânica (Is 25,6). Símbolo do amor dos esposos (Ct 4,10; 8,2), o vinho era indispensável numa boda, sendo a sua falta considerada um castigo divino por causa de algum pecado grave (Jr 48,33; Os 9,2; Am 5,11; Mq 6,15; Sf 1,13). Falta tanto mais séria, porque se trata de uma família com posses, como indica a presença de um chefe de mesa (v. 8) e de seis talhas para as abluções rituais (v. 6). A falta de vinho indica que o povo da antiga aliança irá dar lugar ao da nova aliança (cf. Is 24,5-16).
- Maria é a primeira a aperceber-se da falta de vinho e di-lo a Jesus. Como mãe, ela conhece o seu Filho e como mulher de fé, sabe que Ele é o Messias (4,42), a quem o Pai “deu tudo nas suas mãos” (13,3), e que já se acha presente no meio dos homens (1,26). Por isso, pede-lhe que intervenha. Maria é imagem da Igreja, que no meio deste mundo intercede junto de Cristo, seu Esposo, em favor da salvação dos homens.
- v. 4. Jesus, porém, reage de forma brusca: “Que há entre mim e ti?”. É um semitismo que se usa quando alguém se sente importunado pelo outro sem razão (cf. Jz 11,12; 1Rs 17,18). Em grego, a expressão também pode significar: “Que é isso para mim e para ti?”, mostrando que Jesus associa a si a sua Mãe no exercício da sua missão. Comprova-o o tratamento lhe dá: “mulher” (19,26). Não é aspereza, nem falta de respeito, mas era então a forma habitual de um homem se dirigir a uma mulher (4,21; 8,10; 20,13.15). No AT, “mulher” é sinónimo de “esposa” (Mt 1,20; 5,31; 1Cor r 7,2.16; Cl 3,18), aludindo à sua função de ser “mãe” (Gn 3,16.20; Jr 16,2; Gl 4,4). Aqui (e em 19,26) evoca o nome dado pelo homem à companheira que Deus lhe deu “no princípio” como auxiliar, antes de ela ter pecado (Gn 2,23). Jesus, o novo Adão, associa a si Maria, a nova Eva (he. “vida”: Gn 3,20), a “mulher” “sem mancha” de pecado (cf. Ct 4,7), para que ela coopere com Ele na missão de fazer chegar aos homens a vida divina que Ele dá.
- Jesus reage assim porque quer manter oculta a sua identidade (10,24; Mc 1,44; 7,36; 8,30; 9,9) e, por isso, escusa-se, dizendo que não chegou a sua “hora” (7,30; 8,20), ou seja, o tempo marcado pelo Pai para a sua Páscoa (gr. hôra; he. mô‘ed: Nm 9,2G), a hora em que manifestará a sua glória, salvando a humanidade (12,23.27; 13,1; 17,1; 19,27). Não poderiam os donos da casa ou os noivos comprar vinho? Sim, mas o Pai enviou Jesus precisamente para manifestar a gratuidade e plenitude do seu amor e misericórdia (1,14.16; Is 55,1). Maria mostra-lhe que chegou o momento de o começar a fazer. Mas para Jesus fazer um sinal requer-se a fé (1,50; 11,26.40; Mc 5,36). Jesus, que conhece a sua Mãe, sabe que ela é uma mulher de fé (Lc 1,55) e, por isso, põe-na à prova (6,5s; Nm 11,23; Jdt 8,25ss).
- v. 5. Maria aceita o desafio e não hesita, sem vacilar na fé. Ela sabe que para um judeu participar num casamento é considerado um ato meritório, sendo o primeiro dever dos convivas fazer a alegria dos noivos (3,29s; Jr 33,11; Tb 8,20; bBer 6b), dever este tão importante que no judaísmo tem mesmo a primazia sobre outras obrigações religiosas relevantes, inclusive a recitação do Shemá e sobre o luto (cf. Mt 9,15p; bSuk 25b,3-10; bKet 17ª,9-11 Bar: Str.-B 1,506). Maria sabe que Jesus, que em tudo faz a vontade do Pai (6,38), não se escusará a cumprir o seu dever de conviva nupcial de dar alegria aos noivos. Por isso, dá o salto da fé no Filho (3,16.36; 6,40) e, acreditando sem ver (v. 11; 20,29), diz aos servidores, apontando a todos o caminho da vida: “O que Ele vos disser, fazei-o”. Esta expressão de Maria evoca: a) Gn 41,55, apresentando Jesus como o novo José; b) Ex 19,8; 24,3.7, onde é usada como fórmula de aceitação da Aliança. Jesus é o Messias que, ao chegar a sua “hora”, selará a nova Aliança.
- v. 6. “Havia seis talhas”. “Seis” é o número do homem (Gn 1,26s), ser imperfeito, incompleto, a quem falta o um do Deus único para alcançar a plenitude (o “sete”). As talhas são “de pedra” (para não contrair impureza: bShab 96a). Evocam as tábuas da Lei (Ex 24,12; 31,18; 34,4) e os corações de pedra da antiga aliança (Ez 36,26; 2Cor 3,3). A “purificação” simboliza os ritos e demais exigências da Lei.
- “Cada uma com capacidade para duas a três medidas”, em grego “metretas” (he. bat: 39,4 l), podendo levar entre 80 a 120 litros, num total de uns 600 litros. As talhas têm falta de água, porque a Lei é incapaz de purificar o homem (Hb 9,9; 10,1) e de lhe dar o coração novo (3,3ss), capaz de viver na nova aliança (cf. Jr 31,33; Ez 36,26).
- v. 7. Os servidores (gr. diákonos: servos que estão ao pé do senhor à mesa para o servir, transmitir a sua palavra, fazer o que ele lhes mandar: Est 1,10; 2,2; 6,3ss) simbolizam os discípulos que estão com Jesus, creem nele e com Ele colaboram (12,26; 1Cor 3,5s), obedecendo à sua Palavra. Jesus diz-lhes para encher as talhas de água e eles obedecem-lhe, o mais que podem, enchendo as talhas até à borda (cf. 10,10).
- v. 8. Depois Jesus diz-lhes para tirar delas – não diz “água” (cf. v. 9), porque ela já a transformou em vinho – e levarem ao “chefe de mesa” (cf. Gn 40,13). “O chefe de mesa” (gr. arquitriclinos) simboliza os chefes judaicos que não reconhecem o Messias (Os 2,8) e “não sabem de onde é” (7,27s; 6,29s; 19,9), nem que a antiga aliança vai dar lugar à nova.
- v. 9. O chefe de mesa prova o vinho, chama o noivo, v. 10, e certifica que ele é bom (cf. Is 25,6; Lc 5,39). O noivo guardou “o vinho bom” até “agora” (13,19; 14,7), a era de Jesus, tal como Deus, que só criou o ser humano no sexto dia, depois de ter criado tudo o resto, que viu que era bom (Gn 1,10.12.18.21.25), mas, depois de ter criado o homem, “viu que era tudo muito bom” (Gn 1,31). O vinho da nova aliança é melhor que o da antiga, porque já faz saborear aqui na terra a vida eterna, sabendo tanto melhor, quanto mais se amadurece na fé e no amor.
- v. 11. ”Este princípio (gr. arquê: 1,1; Gn 1,1) dos sinais fê-lo Jesus… na Galileia” (Is 8,23), como fonte e meta dos sete “sinais” (4,54; 5,8; 6,14. 19; 9,16; 11,47) ou milagres (Rm 15,19; 1 Co 1,22; 2Cor 12,12; Hb 2,4) que Jesus “fez” (v. 11; cf. he. bara, “criar”: Gn 1,1; 2,4), dando início à nova criação.
- “Manifestou a sua glória” (Ex 16,7.10). “A glória” (he. kabôd, “abundância, peso, brilho, esplendor, majestade”), enquanto prerrogativa divina, é a manifestação benevolente do próprio Deus ao homem (Ex 33,18s; 34,6s). Jesus é Deus e manifesta a Sua glória aos homens (1,14; 11,4.40), comunicando-lhes o que de mais próprio tem: a vida divina, a vida eterna. Isso só acontecerá, porém, quando chegar a sua “hora”. Até lá, cada ação que faz, cada palavra que diz é um sinal, uma parcela, uma antecipação da obra que levará a cabo pela sua morte e ressurreição, através da qual vai preparando um lugar na casa do Pai (14,3), para os seus discípulos, para que aí possam contemplar a sua glória (17,24).
- O facto de Jesus ter começado a “obra” (4,34; 17,4) que “consumou” na hora da cruz (19,30) num casamento é programático no Quarto Evangelho. “No princípio” Deus “fez” o homem à sua imagem e semelhança como casal (Gn 1,27) e abençoou-os, deles procedendo toda a humanidade. A referência ao “princípio” unida ao tema do casamento, indica que a obra de Jesus, que aqui se prefigura e será consumada na cruz – instaurar a nova aliança, por ele simbolizada (v. 1) –, se destina a toda a humanidade. Jesus vem recriar o homem, dando-se a si mesmo, a fim de o restituir à semelhança com Deus, que perdera pelo pecado, tornando-o participante do “vinho” do seu amor (Ct 1,2; 4,10) e da sua união com o Pai (cf. Ct 1,4). Isto realizar-se-á no seio da Igreja-esposa (v. 12; At 1,12ss), da qual Ele é o Esposo (3,29) e é figura Maria, que o deu à luz e o ensinou a caminhar e que aqui faz com que Ele venha à luz, comece a realizar a sua obra e a manifestar “a sua glória”, prefigurando o “sinal” da nova aliança, a Eucaristia (Ex 24,16s; Mc 14,24).
- “E os seus discípulos acreditaram nele” (Ex 4,31; 19,9). A fé de Maria faz brotar a fé dos discípulos, para assim por meio dela terem em Jesus a vida eterna (1,12; 3,15s; 6,29.40; 12,46; 17,1-3.21; 20,31).
- v. 12: De Caná, Jesus desce a Cafarnaum (cf. 6,17.24.59), uma nota que liga o sinal das bodas de Caná ao discurso de Jesus sobre a Eucaristia (6,53-56). “Ele, a sua mãe, os seus irmãos e os seus discípulos” (cf. At 1,12-14). Os “irmãos” de Jesus são os seus parentes (7,3; Mt 13,55). Esta nota liga o surgimento da Igreja à “hora” de Jesus, pela fé e obediência à sua Palavra. “Mas não permaneceram ali muitos dias” (a seguir irá a Jerusalém: v. 13; Judeia: 3,22; Sicar: 4,5; Caná: 4,46), indicando que Jesus ainda não se tinha mudado para Cafarnaum, o que só fará depois de João Batista ter sido preso (cf. 3,24; Mt 4,13; 9,1).
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- A fé em Cristo abre-me ao próximo e torna-me atento a ele?
- Sinto-me chamado como Maria a cooperar na obra da salvação? Como?
- A minha/nossa vida cristã é sinal da vida nova que Jesus me/nos dá?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 96,1-3.7-10 (R. 3)
Refrão: Anunciai no meio de todos os povos as maravilhas do Senhor.
Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome. R.
Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas. R.
Dai ao Senhor, ó família dos povos,
dai ao Senhor glória e poder,
dai ao Senhor a glória do seu nome. R.
Adorai o Senhor com ornamentos sagrados,
trema diante dele a terra inteira;
dizei entre as nações: «O Senhor é Rei»,
governa os povos com equidade. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Deus todo-poderoso e eterno, que governais o céu e a terra, escutai misericordiosamente as súplicas do vosso povo e concedei a paz aos nossos dias. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc