Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (13,31-33a.34-35)
13,31Quando Judas saiu, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus foi glorificado nele. 32Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo e logo o fará. 33Filhinhos, é ainda por um pouco que estou convosco. 34Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, que também vós vos ameis uns aos outros. 35Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- Estamos na Última Ceia. Jesus, “sabendo que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai” (v. 1; 2,4; 12,23.27; 16,32; 17,1), a “hora” da sua Páscoa (“passagem”: cf. Ex 12,27) –, despede-se dos seus discípulos, a quem lava os pés (v. 5), anuncia a sua traição por um deles (v. 21) e lega as suas últimas palavras. O texto de hoje divide-se em duas partes: Jesus anuncia que chegou “a hora” da sua “glorificação” (vv. 31s) e consigna aos seus discípulos o mandamento novo do amor (vv. 33ss).
- v. 31. “Agora”: Jesus aponta a saída de Judas, que acaba de deixar o cenáculo, a coberto da noite, para o trair, entregando-o às mãos dos seus inimigos, como o início da sua glorificação (cf. 12,23). Satanás julgava ter vencido Jesus e desacreditado a sua obra (14,30; Lc 4,13), convencendo um dos seus discípulos a traí-lo (13,27). Mas a traição de Judas assinala para Jesus “a hora” de “ser entregue” (18,36; Mc 9,31; 10,33; 14,41) à sua paixão e morte de cruz, graças às quais vencerá Satanás, o pecado e a morte, para ser “glorificado” pelo Pai (7,39; 12,16.23.28; 17,5).
- “Foi glorificado”: o verbo, no aoristo do indicativo passivo (divino), indica que a “glorificação” é feita por Deus e começou naquele momento. “Glorificar” é manifestar, deixar ver a glória (2,11). “Glória” (gr. dóxa, “brilho”, ”esplendor”; he. kabôd, “peso”, “abundância”, “riqueza”, “majestade”) é a manifestação de Deus aos homens, revelando-se, por sua própria iniciativa, a eles, como Deus, dando a conhecer o seu mais íntimo e oculto ser (cf. Ex 33,18s; Rm 9,15): “o Senhor, Deus de misericórdia e de graça, lento para a ira, cheio de amor e de verdade; que guarda o seu amor por mil gerações e perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado” (Ex 34,6s).
- “O Filho do homem”, ou seja, Jesus (1,51; 3,13s; 5,27; 6,27.53; 6,62; 8,28; 9,35; 12,23.34; 13,31; cf. Dn 7,13s). É pela sua paixão e morte de cruz que Jesus entrará na glória da ressurreição.
- “E Deus foi glorificado nele”: a glorificação de Jesus permitir-lhe-á dar a conhecer a que extremo chega o amor, gratuidade, misericórdia e fidelidade de Deus que, embora saiba tudo desde sempre (cf. 2,25; 6,24; 13,11), aceita e ama cada pessoa como ela é, mantendo inalterável o seu amor e fidelidade a ela (cf. 2Tm 2,13), mesmo sabendo que ela o pode rejeitar (cf. Jr 14,7; Os 6,4; 11,7ss; 14,4).
- v. 32. A glorificação será quádrupla: a) de Deus: “Se Deus foi glorificado nele”. Deus será glorificado por Jesus, que o revelará como Pai (17,26; cf. 20,17), o único Deus verdadeiro (17,3), cujo amor Ele “ex-prime”, “tra-duz” e revela definitivamente (1,18; 1Jo 4,8.16), de tal modo que quem o vê, vê o Pai (14,9); b) de Jesus: “Deus o glorificará em si mesmo”: a humanidade de Jesus será transformada e glorificada pelo Pai (8,54) na sua ressurreição, inaugurando a nova criação, entrando na esfera e posse plena da vida divina, participando do poder e soberania universal do Pai (3,35; 13,3; Mt 28,18); c) mostrando que Jesus é o Filho unigénito de Deus (1,18; 3,16.18; 1Jo 4,9) – ou seja, Deus (20,28) –, que o ama e faz a sua vontade (14,31); d) e, em Jesus, dos que nele creem, judeus ou não, introduzindo-os, na sua humanidade glorificada, em Deus (20,17), infundindo o Espírito Santo (20,22; 15,26; 16,13-14), dando-lhes a vida eterna (17,2) e ressuscitando-os no último dia (5,21s.26s; 6,39s.44.54; At 10,42). “E logo o fará” (gr. euthys: “imediatamente”): isto começará a acontecer muito em breve, dentro de poucas horas, aliás, já está a acontecer.
- v. 33a. Na segunda parte (vv. 33a.34s), Jesus dá o “mandamento novo” aos seus discípulos. Será praticando-o que eles poderão glorificar ao Pai e a Jesus (15,8).
- “Filhinhos”: a partir daqui, Jesus fala aos seus discípulos, consignando-lhes estas palavras a modo de testamento final (13,31-17,26; cf. Gn 49,1). Jesus designa assim os seus discípulos (caso único no Evangelho, mas típico da comunidade joanina: 1Jo 2,1.12.28; 3,7.18; 4,4; 5,21), porque em breve serão gerados, pela fé nele, para uma vida nova pelo Espírito Santo (3,3.5ss; 1Jo 2,12; cf. Gl 4,19), tornando-se filhos de Deus (1,12s; 3,3ss.7), recebendo um coração novo, capaz de pôr em prática o que Jesus lhes diz.
- De facto, falta “pouco” tempo (gr. mikrón: 12,35; 14,19; 16,16s) para que este seu testamento entre em vigor (cf. Hb 9,16s), pois Jesus vai morrer, deixando de estar fisicamente com eles.
- v. 34. Qual é a sua última vontade? É “o seu mandamento novo” (15,12ss.17; 1Jo 2,7-10; 3,11.23; 4,21; 2Jo 5). Como os rabinos, Jesus transmite aos seus discípulos a sua própria interpretação da observância da Lei, considerada vinculativa por estes (BM 59b Bar), ensinando-lhes, com a sua palavra e exemplo, o modo de a praticar (vv. 12-15; ExR 43 [99b]).
- “Dou-vos”: Jesus não age como simples intermediário de Deus, à maneira de Moisés, mas em nome de Deus, com autoridade própria, como Messias (Pesiq 39a) e Filho de Deus. “Mandamento” (gr. entolê) não é uma imposição exterior, mas é “o que é posto dentro” como mandato e tarefa a cumprir, como exigência íntima, que brota do coração de Jesus, em união com o Pai, animando, impelindo e pautando toda a vida, própria e daqueles que nele vivem. É esta lei interior (cf. Jr 31,33; Gl 6,2; Rm 8,2) que Jesus lhes dá, para que vivam segundo ela.
- Em contraste com os 613 mandamentos da lei oral judaica, Jesus resume a sua vontade num único mandamento: “Amai-vos uns aos outros”. Este mandamento é a chave de toda a sua obra e a síntese da Lei (cf. v. 1; Rm 13,10; Gl 5,14; Sl 136). O mandamento do amor ao próximo já existia, mas Jesus uniu-o inseparavelmente ao primeiro mandamento, o do amor a Deus (cf. Dt 6,4s; Lv 19,18.34; Mt 22,39; Mc 12,31; Lc 10,27; Gl 5,14; Tg 2,8). O verbo “amar” (gr. agapaô) vem do termo bíblico grego agápê (“caro”; lat. cáritas, “de alto preço”), o amor altruísta, gratuito e verdadeiro, que se dá a si mesmo ao outro, pondo-o em primeiro lugar, procurando apenas o seu bem e felicidade e estando disposto a pagar em primeira pessoa o preço disso, nisso encontrando o seu próprio bem e felicidade.
- O mandamento é “novo” porque: a) tem por origem, referência e meta o amor de Jesus: “assim como Eu vos amei”. Ninguém amou tanto como Jesus; Ele foi o homem que mais amou: tomou a iniciativa, deu o primeiro passo (1Jo 4,19s), a todos servindo e acolhendo com o seu amor, graça e perdão, sem distinção de sexo, idade, origem, condição social ou situação religiosa; b) instaura a nova Aliança. No AT, Lei (mandamento), aliança e povo são termos correlatos (cf. Ex 24,3. 7s.12; Dt 4,13; 2Rs 23,3). Ao dar na Última Ceia o mandamento novo, Jesus inaugura a nova Aliança, que dará origem ao novo Povo de Deus (Jr 31,31ss; cf. 32,40; Ez 11,19s; 36,26ss; LvR 13 [114b]); c) brota da vida nova que Jesus inaugurou com a sua paixão, morte e ressurreição e que comunica aos que nele creem pelo Espírito Santo (3,5ss; 7,39; 20,22s); d) é criativo, pois cada pessoa, tempo e circunstância são sempre novos; e) renova quem o pratica, regenerando-o à semelhança de Deus (cf. 1Jo 4,7).
- “Como” não é o advérbio comparativo (gr. ôs: “tanto como”), pois ninguém pode igualar o amor de Jesus, mas a conjunção subordinativa “assim como” (gr. kathós: “uma vez que”, “do mesmo modo”, “até ao mesmo ponto”: 14,27; 15,12). O amor de Jesus, que chegou ao extremo de dar a sua vida por nós (13,1; 15,13; Rm 5,6-8; Gl 2,30), é a fonte, causa, forma, exemplo, horizonte e meta do amor dos seus discípulos uns aos outros.
- v. 35. O amor dos discípulos é dom, reflexo e fruto do amor de Jesus. Ele não é, porém, para ficar escondido (cf. 17,23), mas para ser praticado, traduzido em obras, e ser “conhecido por todos”, isto é, estendido a todos, sem qualquer distinção de sexo, etnia, nação, idade ou condição social. Tal amor é a característica própria e o sinal distintivo dos discípulos de Jesus (1Jo 3,11; cf. Rm 12,10; Fl 2,1. 5; 1Ts 3,12; 4,9s; 2Ts 1,3; 1Pd 1,22; 4,8; 2Pd 1,7). “Conhecer” na Bíblia é “fazer a experiência íntima e pessoal”. Não serão os discípulos, mas os outros a declará-lo (cf. Mt 25,35-40): “Vede como eles se amam e estão dispostos a morrer um pelo outro” (Tertuliano, 197 d.C., Apologético 39,7).
Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Falar hoje de amor pode prestar-se a equívocos. O que distingue o amor de Jesus do amor que o mundo tanto propaga?
- O que está no centro da minha vida cristã: o amor aos outros, a quem chamo irmãos; ou normas e exigências que lhes procuro impor?
- Testemunhamos ao mundo o amor de Jesus? As pessoas descobrem-no nos nossos gestos? A quem damos preferência na sua prática?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 144,8-13ab (R. 1)
Refrão: Louvarei para sempre o vosso nome,
Senhor, meu Deus e meu Rei.
e a sua misericórdia se estende a todas as criaturas. R.
e anunciem os vossos feitos gloriosos. R.
o vosso domínio estende-se por todas as gerações. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Deus todo-poderoso e eterno, realizai sempre em nós o mistério pascal, para que, tendo sido renovados pelo santo Batismo, com o auxílio da vossa proteção, dêmos fruto abundante e alcancemos as alegrias eternas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc