Solenidade da Ascensão do Senhor - Ano C - 01. Junho. 2025

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (24,46-53)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 24,46«Assim está escrito que o Cristo havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia 47e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sois testemunhas destas coisas. 49E eis que Eu envio sobre vós a promessa de meu Pai. Vós, porém, ficai na cidade até serdes revestidos, do alto, com poder». 50Depois, conduziu-os para fora, em direção a Betânia, e, erguendo as suas mãos, abençoou-os. 51E, enquanto Ele os abençoava, retirou-se deles e era elevado ao Céu. 52E eles, depois de o terem adorado, voltaram com grande alegria para Jerusalém. 53E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.

      Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • O texto de hoje é a conclusão do Evangelho segundo S. Lucas. Estamos em Jerusalém, no Cenáculo (v. 33), no dia a seguir à Páscoa judaica, o primeiro dia da semana, o dia em que Jesus ressuscitou. Ele já se tinha manifestado aos discípulos de Emaús (vv. 13-35) e aparecido a Pedro e aos Onze (vv. 36-43). Lucas, ao invés dos Atos dos Apóstolos, onde situa a Ascensão de Jesus quarenta dias após a sua ressurreição (At 1,3), situa aqui a ressurreição de Jesus, as suas aparições e a sua Ascensão ao céu no mesmo dia, o domingo da ressurreição.
  • O texto tem duas partes: a) Jesus dá as últimas instruções aos seus discípulos (vv. 44-49); b) sendo depois elevado ao céu (vv. 50-53).

 

  • v. 46. Jesus disse aos seus discípulos: «Assim está escrito que o Cristo havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia»
  • Nestas suas palavras de despedida, Jesus, depois de ter aberto “o entendimento” aos seus discípulos “para compreenderem as Escrituras” apresenta-lhes o querigma (gr. “pregão”, “proclamação”; “pregação”; he. qeriy’ah: Jn 3,2; Rm 16,25; 1Cor 1,21; 2,4; 15,14; 2Tm 4,17; Tt 1,3) como a sua chave de leitura: “assim está escrito”. “O Cristo” (gr.) é o Messias (he. “ungido”: 2,11.26; Jo 1,41; 4,25) prometido, Ele mesmo, Jesus, que agora, após a sua paixão, morte e ressurreição, já declara abertamente ser (23,3) e não proíbe aos demónios (cf. 4,41) e aos discípulos dizê-lo às pessoas (cf. 9,20s; 22,67-70), mas antes manda apregoá-lo. É dele que está escrito que “havia de” levar a cabo a sua missão, não à maneira dos homens, mas segundo o desígnio eterno de Deus, expresso nas Escrituras, que nele se cumprem (vv. 25. 27.44; 4,21; 18,31 21,22; 22,37), enquanto “Servo de Iavé” (cf. Is 52,13-53,12; At 8, 32ss), que tinha “de sofrer” (v. 26; 9,31; 17,25) “e de ressuscitar ao terceiro dia” (9,22; 18,33; Os 6,21; Cor 15,3s; cf. Gn 3,11ss). Assim, se, por um lado, a paixão, morte e ressurreição de Jesus só se compreendem à luz das Escrituras, por outro, é só à luz de Jesus e do seu destino que as Escrituras se compreendem na sua unidade e totalidade.
  • v. 47: «e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém».
  • Mc 16,15; Mt 28,19s; At 2,26,23; 1Tm 3,16. Só Lucas refere que do desígnio salvífico eterno de Deus, que se realizou em Cristo, faz parte a missão universal da Igreja, a qual, “em seu nome” – o nome de Jesus, ou seja, na pessoa, com o poder e autoridade de Jesus (cf. Ex 3,15; 5,23; 1Sm 17,45) –, deve “pregar” (gr. querussô: 4,18s; 8,1; 9,2) o Evangelho a todos (Rm 16,25s; Ef 3,8s; 1Pd 1,12; Ap 14,6), cumprindo-se assim as Escrituras (cf. Sl 22,28; Is 42,1-6; 49,6.26; 52,10; 53,10ss 54,3; 60,11-16; Zc 14,9; Dn 7,14.27). A resposta ao querigma é a fé que leva ao “arrependimento” (gr. metanóia: 3,3; 5,32; Mc 1,15; At 5,31; 11,18; 17,30; 20, 21; 26,20) e ao batismo “em nome de Jesus” (At 2,38; 3,19; Rm 10,8s), mediante o qual se é salvo, recebendo-se o Espírito Santo, que dá uma vida nova ao crente graças à “remissão dos pecados”, o perdão de todos os pecados cometidos e das suas consequências (1,77; 3,3; Mt 26,28; At 2,38; 5,31; 10,43; 13,38; 26,18; Rm 11,27; Ef 1,7; Cl 1,14; Hb 8,12; 10,18; cf. Jr 31,33s; 50,20; Is 27,9; Ez 36,25-29; Dn 9,24).
  • “A começar por Jerusalém”, porque é daí que deve partir o anúncio, sair a Palavra do Senhor, segundo as Escrituras (Is 2,3s; Mq 4,2s.7s; Zc 8,22s; Sl 110,2; 13,7; 50,2; 53,7; 135,21; Am 1,2; Jl 4,16; Rm 11,26s).
  • v. 48: Vós sois testemunhas destas coisas.
  • At 1,8; Jo 15,27. Enunciado o querigma, Jesus convoca todos os seus discípulos para a missão (“os apóstolos e os que estavam com eles”: vv. 9.33; At 1,13.15s; 2,1). Eles são “testemunhas destas coisas” (At 1,18.22; 2,32; 10,39.41; Jo 15,27), ou seja, “da Palavra” (At 1,1; 2,41; 4,4; 11,1; 15,7; 20,24), o Evangelho vivo que Jesus é na sua Pessoa, palavra, obra e missão.
  • v. 49: «E eis que Eu envio sobre vós a promessa de meu Pai. Vós, porém, ficai na cidade até serdes revestidos, do alto, com poder».
  • Para o poderem fazer, Jesus enviará “a promessa”, ou seja, o Espírito Santo, o dom por excelência prometido para os tempos messiânicos (Nm 11,29; Is 32,15; 44,3; 59,19ss; Ez 11,19; 36,26s; 37,9s.14; 39,29; Jl 3,1s; Ag 2,5; Zc 12,10), por Deus, “seu Pai” (2,49; Jo 14,16; 15,26; 16,7; 20,17.22; At 2,33; Ef 1,13), dom este destinado a todos (At 2,16.39; 10,45; 11,15ss; 13,32; Jo 20,22).
  • Até lá os discípulos devem “ficar na cidade”, em Jerusalém (At 1,4), aguardando a vinda do Espírito. “Ficar” (gr. kathizô, “residir”: 1,79; At 2,2; 18,11), significa literalmente “estar sentado”, reunido com outros, em oração, na escuta da Palavra de Deus e no louvor (4,20; At 13,14; 16,13). Este é o primeiro anúncio do Pentecostes em Lucas (At 2,1-4).
  • O Espírito Santo “vesti-los-á” (gr. endúô: 15,22; Sl 93,1; Is 61,10; Zc 4,6; Rm 13,12; Ef 4,24; 6,11.14; Cl 3,10; 1Ts 5,8), “do alto”, de junto do Pai, após a sua Ascensão (cf. 1,78; 2Sm 22,17; Sl 18,17; 102,20; 144,7; Sr 17,32; cf. Sl 68,19; Is 7,11; 35,2; Sr 17,32; Ef 4,8), batizando-os no Espírito Santo (3,16; At 1,5; 11,16), cumprindo as Escrituras. “Com poder” (gr. dynamis, energia, força motriz, potência em ação: 1,35!; 4,14; 10,38), ou seja, com o poder de Deus (Rm 1,4.16; 15,19; 1Cor 1,18.25; 2,4s; 1Ts 1,5; Hb 2,4), tal como Jesus, para que possam continuar a missão de Jesus, fazendo as mesmas obras que Ele fez (cf. 4,1.14.36; 5,17; 6,19; 8,46; 9,1; 10,21).
  • v. 50: Depois, conduziu-os para fora, em direção a Betânia, e, erguendo as suas mãos, abençoou-os.
  • “Depois”, Jesus “conduziu-os” (gr. exágô, o verbo do Êxodo: Ex 3,8-12; 6,6s; 13,3; Is 42,7; Jr 31,32; Ez 34,14; At 7,40; 13,17) “para fora” (Gn 15,5) do Cenáculo e de Jerusalém, uma alusão ao êxodo de Jesus que se consumara “em Jerusalém” (9,31), “em direção a (gr. prós)” Betânia (he. “casa do pobre”), uma povoação a 3 km de Jerusalém, detendo-se a 1 km da cidade (At 1,12: “uma caminhada de sábado”, 2.000 côvados: Eusébio de Cesareia, Onom 58,13), na parte alta do monte das Oliveiras (19,29). Foi daí que Jesus, no dia de Ramos; “desceu” (19,36) para Jerusalém (Jo 12,1), a fim de levar a cabo a obra da salvação, cumprindo as Escrituras; é também daí que Jesus parte para o Céu, a Jerusalém do alto (Gl 4,25s; Hb 12,22; Ap 3,12; 21,2.10), para, de junto do Pai, dirigir a obra da salvação sobre a terra (Mc 16,19s), cumprindo as Escrituras.
  • Por último, assim como Deus, concluída a obra da criação, abençoou o homem (Gn 1,28; 2,3; 5,2), também Jesus, concluída a obra da nova criação, “abençoa” os seus discípulos, princípio da nova humanidade. Mostra assim que é o Messias (Sl 72,17), através do qual se cumpre, na Igreja, a promessa de Deus a Abraão (1,55.73) de na sua descendência serem abençoadas todas as nações da terra (Gn 12,2s; 22,18; Is 51,2; 61,9; At 3,25s; Gl 3,14; Hb 6,14). Jesus abençoa “erguendo as mãos” (Sir 50,20s), tal como Jacob abençoou os seus doze filhos (Gn 49,28): os discípulos de Jesus são o novo Israel (22,12; Gl 6,16; Fl 3,3). Esta bênção, sinal e penhor de todas as bênçãos com que o Pai nele nos cumulou (Ef 1,3), é um dom que assinala uma nova etapa da história da salvação (Gn 9,1), ligando Jesus e os seus numa união indissolúvel que abarca toda a sua vida (cf. Sl 3,9; Zc 8,13) e capacitando-os para a missão (cf. Is 44,3; Rm 15,29).
  • v. 51: E, enquanto Ele os abençoava, retirou-se deles e era elevado ao Céu.
  • At 1,9s; Mc 16,19; Jo 20,17. Lucas narra a Ascensão de Jesus como um “ser elevado (por Deus) ao céu” (At 2,33; Ef 1,20-23; 4,10; 1Tm 3,16; Hb 4,14; 7,26; 8,1; 9,23s; Jo 3,13; 6,62), à semelhança de Elias (cf. 9,51). Mas enquanto Elias se “afasta” de Eliseu (2Rs 2,11: diastéllo), Jesus não se afasta, nem se aparta dos seus discípulos (pelo contrário, fica bem mais próximo deles do que antes, enquanto caminhava fisicamente com eles sobre esta terra), mas “retira-se” dos seus discípulos, um termo que evoca o Êxodo e Eliseu (gr. diístêmi: Ex 15,8; 2Rs 2,14), indicando que Jesus os precede, abrindo para eles, em si mesmo, o caminho para o Pai (Jo 14,6; Ef 2,18). A Ascensão marca o fim da presença visível de Jesus entre os seus e a exaltação definitiva da sua humanidade na glória do Pai, donde só há de vir no último dia, “na sua glória”, para julgar os vivos e os mortos (At 1,11; Mt 25,31).
  • v. 52. E eles, depois de o terem adorado, voltaram com grande alegria para Jerusalém.
  • v. 49; At 1,12s; Jo 14,28; 16,22. Os discípulos, prostrando-se, “adoram” Jesus como Deus e Senhor de tudo (4,8; Ex 4,31; Sl 22,28; 72,11; 95,6; Is 49,7; Mt 28,9) e voltam para Jerusalém, cheios de “grande alegria”, a alegria escatológica e messiânica, um dos grandes temas de Lucas (v. 41; 1,14; 10,17; 15,7.10; cf. 1,47; 10,21). A expressão “grande alegria” só ocorre em 2,10, formando com uma inclusão com esta passagem, indicando que a Boa-nova dada pelo anjo em Belém irá efetivamente cumprir-se graças à obra salvífica de Jesus que será feita chegar a todas os homens e gentes através dos seus discípulos, que a todos proclamarão o Evangelho.
  • v. 53: E estavam continuamente no templo, bendizendo a Deus.
  • Obedecendo a Jesus (v. 49), os discípulos ficam na cidade, em oração (cf. At 1,14), “bendizendo” (1,42.64; 2,28; 9,16; 13,35; 19,38) continuamente a Deus (At 10,2; Hb 13,15) no templo (cf. 2,37; At 2,46; 5,42). Foi em Jerusalém, no templo, em clima de oração que Lucas começou o Evangelho (1,8s; 2,27.49), é em Jerusalém que se consuma a missão de Jesus (9,31.51.53; 13,33s; 19,11) e é também em Jerusalém, no templo, que se encerra o Evangelho segundo S. Lucas formando uma outra grande inclusão, ainda mais ampla que a anterior, uma vez que se estenderá ao livro dos Atos dos Apóstolos, pois será daí, de Jerusalém, que irá partir a missão da Igreja, obedecendo ao mandato de Jesus, que o nosso evangelista nessa sua nova obra passará a narrar (At 1,4.8).

Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • Que significa a Ascensão de Jesus para mim? Sinto Jesus próximo de mim, juntamente com o Pai, ou acho-o ausente e distante?
  • Sinto/sentimos a responsabilidade do anúncio de Jesus Cristo e da missão de o tornar presente neste mundo com palavras e gestos de amor? Tenho/temos medo de o anunciar ou faço-o/fazemo-lo com alegria e esperança?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                                    Sl 47,2-3.6-9 (R. 6)

Refrão: Ergue-Se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta.

Povos todos, batei palmas,
aclamai a Deus com brados de alegria,
porque o Senhor, o Altíssimo, é terrível,
o Rei soberano de toda a terra.     R.

Deus subiu entre aclamações,
o Senhor subiu ao som da trombeta.
Cantai hinos a Deus, cantai,
cantai hinos ao nosso Rei, cantai.     R.

Deus é Rei do universo:
cantai os hinos mais belos.
Deus reina sobre os povos,
Deus está sentado no seu trono sagrado.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Deus todo-poderoso, fazei-nos exultar em santa alegria e em filial ação de graças, porque a ascensão de Cristo, vosso Filho, é a nossa esperança: tendo-nos precedido na glória, como nossa Cabeça, para aí nos chama, como membros do seu Corpo. Ele que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos do séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc