Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (17,11-19)
Naquele tempo, 17,11aconteceu que, na ida para Jerusalém, Jesus atravessava pela divisória da Samaria com a Galileia. 12Ao entrar numa aldeia, vieram ao seu encontro dez leprosos, que ficaram de pé, à distância. 13E eles levantaram a voz, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós». 14Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E aconteceu que, enquanto iam, eles ficaram purificados. 15Um deles, porém, ao ver-se curado, regressou, glorificando a Deus em alta voz, 16e caiu de rosto por terra, a seus pés, dando-lhe graças. Era um samaritano. 17Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não se encontrou quem regressasse para dar glória a Deus a não ser este estrangeiro?». 19E disse-lhe: «Levanta-te e vai; a tua fé te salvou».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
O episódio da cura dos dez leprosos, exclusivo de Lucas, introduz a terceira etapa do caminho de Jesus para Jerusalém (17,12-19,27), ao longo da qual Jesus ensina aos seus discípulos como viver no Reino. Nele, Lucas insiste no tema da caminhada (“ir”, 3x: vv. 11.14.19). Jesus é o grande caminhante, o peregrino incansável do Reino de Deus que, na sua misericórdia, vem ao encontro do homem (v. 12) para o salvar (cf. 19,10; 23,43).
v. 11. Aconteceu que, na ida para Jerusalém, Jesus atravessava pela divisória da Samaria com a Galileia
Indo para Jerusalém (9,51), Jesus desce ao vau do Jordão pela divisória da Galileia com a Samaria, para atravessar para o outro lado do rio (Mc 10,1; Mt 19,1), como faziam os judeus quando iam para Jerusalém, a fim de evitar passar pela Samaria, região que lhes era hostil (cf. 9,52; Mt 10,5; Jo 4,9; Fl.Jos., Ant. 20, 6, 1; Bell. 2, 12, 1-5). Invertendo a lógica do sentido da progressão, Lucas menciona a Samaria antes da Galileia, para assim mostrar que Jesus veio, em primeiro lugar, ao encontro dos últimos.
- v. 12. Ao entrar numa aldeia, vieram ao seu encontro dez leprosos, que ficaram de pé, à distância.
v. 12: Mt 8,2. Jesus entra então numa aldeia. “Entrar” significa ingressar, para partilhar e participar. Jesus faz-se próximo de todos, a ninguém rejeitando ou excluindo, nem sequer os impuros e os que, à partida, lhe poderiam ser hostis, como os samaritanos.
Ao entrar na aldeia, vêm ao seu encontro dez leprosos. O número “dez” significa a totalidade. É o número mínimo de homens que é necessário reunir para que a oração comunitária na sinagoga possa ter lugar (minyan: bMeg 23b). Considerado um morto-vivo (cf. Nm 12,12; bNed 64b), o leproso era o protótipo do marginalizado. Se todas as doenças eram consideradas um castigo pelo pecado, a lepra era o símbolo do mesmo (cf. Sl 51,9; 2Rs 15,5; 2Cr 26,21). Além da repugnância que o seu aspeto provocava e do medo de contágio, o leproso era um impuro: devia afastar-se do convívio social e não podia entrar em Jerusalém (cf. Lv 13,43ss; Nm 5,2). Por isso, estes dez leprosos ficam à distância, de pé, fora da aldeia, tendo de gritar para Jesus os ouvir.
- v. 13. E eles levantaram a voz, dizendo: «Jesus, Mestre, tem misericórdia de nós».
Apesar de leprosos, eles não procuram salvar-se cada um por si mesmo: caminham juntos e pedem a Jesus numa só voz. Por isso, são escutados (cf. Mt 18,19-20). Invocam o nome de Jesus (cf. At 2,21; Rm 10,13) e intitulam-no “Mestre” (gr. epistátês, só em Lucas, última de 7x: 5,5; 8,24.45; 9,33.49), no sentido amplo daquele que supervisiona sobre pessoas e coisas. É só aqui, nesta passagem que, em Lucas, alguém que não é discípulo chama Jesus “Mestre”.
Os leprosos também não pedem para serem purificados da lepra (cf. 5,12; Mt 8,2), nem apelam ao poder de Jesus (que pressupõem: 5,12), mas limitam-se a expor a Jesus a sua miséria (cf. Mt 17,15) e a pedir que tenha compaixão deles, dirigindo-lhe o mesmo pedido que o homem pecador faz a Deus: “Tem misericórdia de nós” (eleíson: 18,38s; Sl 25,16; 51,3; 123,3).
- v. 14. Ao vê-los, Jesus disse-lhes: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E aconteceu que, enquanto iam, eles ficaram purificados.
v. 14: 5,14; Mt 8,4. Jesus volta-se, vê-os e não faz nada de especial: não se aproxima deles, nem os toca (cf. 5,13; Mc 1,41; Mt 8,3): remete-lhes apenas uma palavra, a de Deus, repetindo o que a Lei prescrevia quando alguém era curado da lepra: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes” (Lv 13,49). Isso trazia consigo a obrigação de cumprir diversos ritos de purificação, a oferta de sacrifícios, um banho de purificação ao sétimo dia e uma nova apresentação ao sacerdote ao oitavo dia, a fim de por ele poder ser declarado puro (Lv 14,2-32), ou seja, curado.
A cura destes leprosos não se dá imediatamente: eles são “purificados” enquanto caminham, obedecendo, com fé em Jesus, à Palavra de Deus. Algo de semelhante ao que acontecera ao general sírio Naamã que, obedecendo à palavra de Deus que lhe fora comunicada pelo profeta Eliseu através dum mensageiro, tinha sido curado da lepra (2Rs 5,13s).
- v. 15. Um deles, porém, ao ver-se curado, regressou, glorificando a Deus em alta voz
Vendo-se “curado”, apenas um deles volta atrás para agradecer (2Rs 5,15ss). Era um samaritano (cf. 9,52; 10,33), para os judeus, um homem excluído do Povo de Deus. É o único deles que se apercebe que o dom de Deus, a salvação prometida a todos os povos, já chegou em Jesus (cf. 4,27; 7,22). Sendo samaritano, não está preso aos ritos do Templo (cf. Jo 4,20) e volta atrás, “glorificando” pelo caminho “a Deus em alta voz”, a resposta do crente que experimentou o poder e a misericórdia de Deus, que Lucas sempre se compraz em sublinhar (1,46-55.68-79; 2,20; 5,25.26; 7,16; 13,13; 18,43; 23,47; At 4,21; 21,20).
- v. 16. E caiu de rosto por terra, a seus pés, dando-lhe graças. Era um samaritano.
O samaritano vai ter com Jesus e “dá-lhe graças” (gr. eucharisto), confessando, não por palavras, mas por gestos, que Ele é Deus, pois só Deus podia curar da lepra (cf. 2Rs 5,7; LvR 16, 116b), prostrando-se de rosto por terra aos pés de Jesus (8,41; Mc 5,22; Jo 11,32; cf. Gn 17,3.17; Js 5,14; 2Rs 4,37; Ez 1,28; 9,8; 11,13; 44,3s; Dn 6,11; 8,17; 10,9; At 9,4; 22,7; 1Cor 14,25; Ap 7,11; 19,10; 22,8s).
- v. 17. Jesus, tomando a palavra, disse: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove?
Parece incompreensível: a primeira coisa que Jesus pergunta é onde estão os outros nove, quando foi Ele que os mandou ir mostrar-se aos sacerdotes. Porquê? Porque Ele mostra assim (embora veladamente) que Ele é o novo e definitivo sacerdote, o novo e definitivo Templo de Deus (cf. Lv 14,11).
- v. 18. Não se encontrou quem regressasse para dar glória a Deus a não ser este estrangeiro?»
Um dos sinais da era messiânica seria a cura dos leprosos (7,22; Mt 11,5). Segundo os rabinos, no “mundo futuro” (10,30), no reino do Messias, não haveria mais leprosos, nem a purificação dos mesmos (Pes 50a; Str-B 4,746). Jesus espera da parte do beneficiado que o dom da salvação por ele recebido se transforme num “dar glória a Deus” (pelo arrependimento: 1Sm 6,5; Jr 13,16; Br 2,18; Ap 11,13; 16,9; pelo louvor/ação de graças: Js 7,19; Sl 66,2; 68,35; Is 42,12; Ap 4,9; 19,7; pela confissão do nome de Deus: 1Cr 16,28s; Sl 29,1; At 12,23; Rm 4,20; Ap 14,7; pela declaração da verdade: Jo 9,24), numa ação graças pública, testemunhando a todos a Sua misericórdia. - v. 19. E disse-lhe: «Levanta-te e vai; a tua fé te salvou».
A seguir, Jesus ordena-lhe duas coisas:
1ª) que se “levante” (gr. anístêmi). O verbo é o mesmo da ressurreição, porque, sendo um leproso um morto-vivo, a sua cura era considerada tão difícil como uma ressurreição de entre os mortos (Sanh 47a);
2ª) que “vá”, ou seja, que caminhe em obediência à palavra de Jesus (1,39; 1Sm 3,8; 1Rs 17,9s; 19,8.21; Jn 1,2; 3,2s; At 8,26s; 9,11; 22,10).
Por último, declara-lhe que foi salvo em virtude da sua fé (7,50; 8,48; 18,42; Mt 9,22; Mc 5,34; 10,52). A fé, a confissão e a ação de graças (gr. eucharistia) do curado substituem doravante os sacrifícios da antiga Lei, conferindo, porém, o que estes eram incapazes de comunicar: a salvação. Salvação que aqui claramente aparece como sendo mais do que a cura de uma enfermidade (pois aos outros nove leprosos que foram curados isto não foi dito por Jesus): é uma vida nova que brota do encontro, na fé, com Jesus (cf. Ef 2,8), Ele que é a salvação (2,30).
Porque é que só este leproso foi declarado “salvo” por Jesus e os outros nove, que cumpriram à letra o que Ele disse, não? Porque este episódio tem um valor simbólico em Lucas, que escreve para cristãos, gentios como ele, provindos do mundo grego, que não conheceram Jesus diretamente, mas apenas pela fé na Sua Palavra, transmitida pela Igreja. Por isso, tal como o centurião que, sem ter visto Jesus, foi escutado graças à fé na sua Palavra (7,7), também este “estrangeiro” (v. 18; Is 56,3.6; cf. 4,27), sem ser tocado por Jesus, foi “curado” (v. 15) pela fé nele.
A cura deste leproso, paradigmática para todos aqueles que vierem a crer em Jesus através da palavra dos seus discípulos, insere-se, por isso, em Lucas num processo: 1) reconhecimento da própria impureza; 2) ouvir falar de Jesus; 3) ter fé nele; 4) ir ao seu encontro; 5) em comunhão fraterna, 6) pela oração; 7) confiado na misericórdia de Deus, 8) para caminhar à luz da Sua Palavra, 9) louvando-o e testemunhando-o, 10) passando pela purificação salvadora (do batismo), 11) à confissão 12) de Jesus (Rm 10,9; Fl 2,11), 13) encontrando-se com Ele na “ação de graças” (a Eucaristia), que substitui os sacrifícios da antiga Lei, feitos no “oitavo dia” da purificação da lepra (Lv 14,23; Jo 20,26); 14) para, ressuscitado com Ele, 15) dele receber a salvação, 16) caminhando numa vida nova, segundo o Evangelho.
Este leproso representa, pois, toda a humanidade pecadora que não viu Jesus, nem pertencia ao Povo de Deus, mas que o acolheu pela fé na Palavra anunciada, recebendo a salvação, ao invés de Israel, o Povo eleito, a quem a Boa nova se destinava em primeiro lugar (At 13,46), mas que não deu glória a Deus, porque não reconheceu Jesus como o Messias, enviado por Deus, que lhe trazia a salvação prometida (7,29s; 19,42).
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Como lido/lidamos com os “leprosos” e os “samaritanos” da minha/nossa comunidade: com desprezo, medo e indiferença, impondo leis, ou com abertura, misericórdia e disponibilidade, como Jesus?
- Reconheço a presença de Deus na minha vida? Dou-lhe graças pela sua misericórdia? Testemunho-a, por palavras e obras? Ou esqueço-me de o fazer?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 98,1-4 (R. cf. 2b)
Refrão: Diante dos povos manifestou Deus a salvação.
Cantai ao Senhor um cântico novo
pelas maravilhas que Ele operou.
A sua mão e o seu santo braço
Lhe deram a vitória. R.
O Senhor deu a conhecer a salvação,
revelou aos olhos das nações a sua justiça.
Recordou-Se da sua bondade e fidelidade
em favor da casa de Israel. R.
Os confins da terra puderam ver
a salvação do nosso Deus.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
exultai de alegria e cantai. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça preceda e acompanhe sempre as nossas ações e nos torne cada vez mais atentos à prática das boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na nossa vida)
Fr. Pedro Bravo, oc