Dedicação da Basílica de S. João de Latrão – 9 de novembro de 2025

Azorrague

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. João (2,13-22) 

2,13Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. 14Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. 15Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo e também as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; 16e disse aos vendedores de pombas: «Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio». 17Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «O zelo pela tua casa devorar-me-á». 18Os judeus tomaram então a palavra e perguntaram-lhe: «Que sinal nos mostras para fazer isto?». 19Jesus respondeu e disse-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». 20Disseram, pois, os judeus: «Quarenta e seis anos foram precisos para se edificar este templo e Tu em três dias o levantarás?». 21Ele, porém, falava do templo do seu Corpo. 22Por isso, quando foi levantado dos mortos, os discípulos recordaram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

O episódio da expulsão dos vendilhões do templo que, nos Sinópticos, ocorre no domingo de Ramos, cinco dias antes da paixão de Jesus, no Quarto Evangelho está inserido logo na secção introdutória (1,19-3,36), onde João apresenta Jesus e as linhas programáticas da sua missão.

  • v. 13. Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém.

    Estamos em Jerusalém, perto da celebração da páscoa judaica (v. 23; 4,45; 6,4; 11,55; 12,1; 13,1; cf. v. 20), a principal das três festas de peregrinação à Cidade santa (cf. Ex 23,14s.17). Nesta festa, Jerusalém, que normalmente tinha cerca de 55.000 habitantes, chegava a albergar 125.000 peregrinos, podendo ser sacrificados no templo uns 18.000 cordeiros pascais.

  • v. 14. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas.

    vv. 14-16: Mt 21,12s; Mc 11,15ss; Lc 19,45s. Era nesta ocasião que o comércio relacionado com o templo atingia o seu ápice. Três semanas antes da festa, começava a emissão de licenças para a instalação dos postos comerciais à volta do templo, onde se vendiam os animais e outras coisas necessárias para os sacrifícios (cf. Dt 14,24ss) e se punham as mesas dos cambistas, que trocavam as moedas romanas por judaicas (he. shékel, “pesado”, siclo: Ex 30,13), porque as primeiras não podiam circular no templo (cf. Mc 12,15p), por terem cunhada a efígie do imperador com a inscrição divi (“divino”) aplicada a um imperador.

    Todo este comércio era controlado por Anás, que Herodes Arquelau impusera como Sumo Sacerdote em 6 d.C. Anás conseguiu habilmente que todo o dinheiro arrecadado no templo revertesse para a sua família e os seus funcionários. Entretanto, a avidez de lucro levara-o a ocupar igualmente o “Átrio dos gentios”, a zona do templo destinada também aos gentios, transformando-o num “covil de ladrões” (Jr 7,11; Mc 11,17p).

  • v. 15. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo e também as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas.

    Os profetas tinham criticado o culto do templo sempre que este deixava de ser expressão dum verdadeiro amor a Deus ou servia para camuflar injustiças, violências e a opressão dos pobres. Mas nunca tinham feito nenhum gesto no sentido de perturbar o culto do templo. Entretanto, Jesus vai mais longe que os profetas, e expulsa “todos” do templo, juntamente com as suas ovelhas e bois.

    Neste caso, João – tal como os Sinóticos –, afirma que Jesus vai mais longe que os profetas e, ao ver no templo os vendilhões e os cambistas, expulsou “todos” do templo, juntamente com as ovelhas e os bois.

    Não se trata, porém, de uma ação violenta de Jesus, como pretendem alguns, dizendo que este teria sido "o pecado de Jesus". De facto, nem João, nem nenhum dos outros evangelistas, refere qualquer ação violenta de Jesus nesta ocasião. Senão, vejamos.

    Em primeiro lugar, os Sinóticos. Mt 21,12 diz que “Jesus entrou Jesus no templo de Deus, e expulsou todos os que vendiam e compravam no templo, e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas”. Nenhuma ação violenta. O mesmo em Mc 11,15: “Tendo entrado no templo Jesus, começou a expulsar os que vendiam e compravam no templo; e derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas”. Também nenhuma ação violenta. E de igual modo em Lc 19,45: “E, entrando no templo, começou a expulsar todos os que nele vendiam e compravam”. O mesmo dos anteriores: nenhuma ação violenta.

    Em segundo lugar, entre os evangelistas, só João refere que Jesus “fez um chicote de cordas” (gr. fragellión: cf. Mc 15,15), levando a cabo os seus gestos , com ele na mão. Mas não diz que Jesus tenha batido com ele em alguém, o que certamente mencionaria, de acordo com a mentalidade bíblica, se tal tivesse acontecido (cf. Dt 25,2; At 16,22; 22,24; 2Cor 11,25).

    Com esta nota específica sua, João sublinha que a expulsão dos vendilhões do templo é uma ação profética simbólica de Jesus. O “chicote” é empunhado por Jesus como símbolo do juízo verdadeiro e da justa sentença do Messias (cf. Is 11,4), que Jesus pronuncia, mas que o povo não escuta (tal como acontecera no tempo de Jeremias: Jr 5,3), tornando inevitável (tal como em 597 a.C.), a destruição do templo, em 70 d.C., fazendo de Jerusalém o protótipo da cidade iníqua que recusa escutar os apelos de Deus e converter-se (Na 3,2).

    Com tal gesto, Jesus “re-presenta”, por um lado, Deus como “pai” (v. 16) que “corrige” – literalmente, “açoita”, pois era assim que se educavam os filhos (cf. Sr 30,1; Pv 3,12 = Hb 12,6; Jdt 8,27) – o filho que ama, neste caso, Israel, o seu “filho primogénito” (cf. Ex 4,22; Jr 31,9; Os 11,1; 2Cor 6,18).

    Por outro lado, sabia-se que o Messias, quando viesse, purificaria o templo e renovaria o culto, fazendo-o brotar do coração e abrindo-o a todos os povos (cf. Is 56,7; Ml 3,1-4). De forma particular, Zacarias 14,21 liga diretamente o “dia do Senhor” – “o Dia” da intervenção de Deus na história através do Messias –, à eliminação dos comerciantes que estivessem no templo do Senhor. Jesus indica assim veladamente que é o Messias (cf. v. 18).

  • v. 16. E disse aos vendedores de pombas: «Tirai isto daqui; não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio».

    Jesus é menos rigoroso com os vendedores das pombas (que vendiam as pombas e rolas que serviam para os sacrifícios das mulheres e dos pobres (Lv 12,6ss; cf. Lc 2,22ss; Lv 14,22; 15,14-29) e diz-lhes para tirarem tudo aquilo dali. Só João anota este particular. As ovelhas, os bois e as pombas representam toda a espécie de animais que se oferecia nos sacrifícios. Ora, sem animais não podia haver sacrifícios. Jesus não propõe, pois, aqui apenas a reforma do culto (como faria o Messias), mas anuncia também a abolição do culto antigo (cf. 4,21-24), baseado na oferta de sacrifícios a Deus, incapazes de renovar o homem (cf. Sl 40,7; 51,16; Os 6,6; Hb 9,9; 10,5-10). Jesus reivindica assim, ser mais do que um profeta ou o Messias: Ele é o Filho de Deus que age em nome do Pai, defendendo os interesses deste sobre a terra, como Ele próprio diz: “Não façais da casa de meu Pai casa de comércio”.

  • v. 17. Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «O zelo pela tua casa devorar-me-á».

    Os discípulos vêm neste episódio um gesto profético, no qual se realiza o Sl 69,10 (um dos salmos da paixão). João refere assim de forma subtil este à Páscoa de Jesus (a sua paixão, morte e ressurreição), na qual Ele, o Cordeiro de Deus (1,25.36), será imolado (1Cor 5,7) pela vida do mundo (6,51), como única vítima agradável a Deus, que substitui todas as vítimas e sacrifícios do AT e da gentilidade.

  • v. 18. Os judeus tomaram então a palavra e perguntaram-lhe: «Que sinal nos mostras para fazer isto?».

    Ao expulsar os vendilhões do templo, Jesus entra em choque com a aristocracia sacerdotal de Jerusalém, os sumos-sacerdotes, do partido dos saduceus, precipitando a decisão da sua morte. Os saduceus são aqui genericamente designados “judeus”, porque, quando o Quarto Evangelho é escrito, já o seu partido tinha desaparecido, com a destruição do templo de Jerusalém, em 70 d.C. Os saduceus ficam irritados com o que Jesus fez, vendo nisso um gesto profético, com pretensões de cariz messiânico. Ora, eles não reconheciam nem os profetas, nem o Messias. Pedem, pois, um “sinal” a Jesus (cf. 4,48; 6,30; 1Cor 1,22) que prove que Ele podia agir assim, ou seja, que Ele é o Profeta (1,21.25; 6,14; 7,40) anunciado por Moisés na Lei (Dt 18,18-22), os únicos livros da Sagrada Escritura que eles aceitavam.

  • v. 19. Jesus respondeu e disse-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei».

    v. 19:
    Mc 14,58p; 15,29p; cf. Jo 2,20. Jesus responde, recorrendo à figura literária do “mal-entendido”, típica do Evangelho de João (3,4; 4,15; 6,34; 7,35; 8,33; 11,11s; 12,34; 13,9.36s; 14,22):

              i)   afirmação: “destruí este templo e em três dias Eu o levantarei” (aqui);
              ii)  mal-entendido (v. 20);
              iii) sentido espiritual (vv. 21-22).

    “Três dias”: é uma alusão à ressurreição de Jesus ao “terceiro dia” (vv. 1.20; cf. Os 6,2; Mc 8,31p; 1 Cor 15,4). “Levantar” (gr. egueírô: lit. “despertar”, 3x aqui: vv. 20.22) é um dos verbos técnicos da ressurreição. Usa-se normalmente na voz passiva, como no v. 22. Aqui está na voz ativa, indicando que Jesus tem o poder de se ressuscitar a si mesmo (cf. 5,26; 10,17s), uma afirmação mais tardia do que a original, do v. 22.

  • v. 20. Disseram, pois, os judeus: «Quarenta e seis anos foram precisos para se edificar este templo e Tu em três dias o levantarás?».

    A presente afirmação dos saduceus, registada por João, ajuda-nos a situar cronologicamente o primeiro ano do ministério de Jesus. João diz que "foram precisos quarenta e seis anos para se edificar este templo". "Edificar" não significa aqui "construí-lo de raiz" (pois o templo tinha sido reconstruído e dedicado pelos macabeus em 15 de dezembro de 164 a.C.:2Ma 10,5), mas fazer trabalhos de reconstrução em ordem à renovação do templo. Ora, sabemos que foi Herodes I, o Grande, quem ordenou a reconstrução do templo e ampliação das suas estruturas, tendo os trabalhos sido iniciados no ano 19 a.C. (ficando prontos em 9 d.C., embora só tenham sido concluídos em 63 d.C., sete anos antes da tomada de Jerusalém em 70 d.C. pelos romanos, chefiados por Tito). Sendo assim, achamo-nos 46 anos depois do início dos trabalhos de renovação do templo, ou seja, no ano 28, o que situa o presente episódio uns dias antes da páscoa judaica, celebrada no dia 27 de abril desse ano.

  • v. 21. Ele, porém, falava do templo do seu Corpo.

    O verdadeiro templo já não é o de Jerusalém, nem outro templo humano (cf. 4,21), mas “o Corpo” de Cristo (Jo, 6x: 19,31.38.40; 20,12), ou seja, a Igreja (cf. 1,14; 7,37ss; 19,34; 1Cor 6,19), “destruído” na sua paixão e “levantado” na sua ressurreição, sendo no seio do qual se praticará o verdadeiro culto que o Pai quer: adorar a Deus “em Espírito e verdade” (4,23).


  • v. 22. Por isso, quando foi levantado dos mortos, os discípulos recordaram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus.

    A ressurreição de Jesus é agora referida aqui, como é habitual no AT, pelo verbo “levantar” (gr. egueírô) no aoristo do indicativo, no passivo teológico (lit. “foi despertado/levantado”, subentende-se: por Deus). Acrescenta-se “dos mortos” porque, quer em hebraico, quer em grego, não existiam (nem existem), termos equivalentes ao verbo “ressuscitar” e ao substantivo “ressurreição”, criados pelo latim cristão. Os termos usados na Sagrada Escritura são analógicos: “viver”, “despertar” e “levantar” (he. hayah, “viver”: Is 26,19; Ez 37,3.5s.9.14; qum, “erguer”: 2Rs 13,21; Os 6,2; Is 26,19; qutz, “despertar”: Is 26,19; Dn 12,2; ‘amad, “levantar”: Ez 37,10; Dn 12,13), traduzidos em grego por egueírô, “despertar”, e anístêmi, “levantar”, verbos usados também em sentido corrente. Por isso, para indicar que não se trata nesta caso duma imagem, mas de uma autêntica ressurreição, os autores acrescentam o inciso: “dos mortos”.

    O episódio termina com uma referência à fé dos discípulos que, após a ressurreição do Senhor, se “recordaram” do que Jesus tinha dito (14,26!) “e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus” (v. 11; 20,8s; cf. 4,39.41; 8,30; 12,42). “Acreditaram na Escritura” como? Então os apóstolos não acreditavam na Escritura? Claro que sim! Mas ao ver o que Jesus fez e o que aconteceu, acreditam na Escritura no sentido de acreditarem que as promessas se estão a cumprir e que ela se está a realizar em Jesus e através de Jesus, para todo aquele que nele acredita. João dá assim a entender: a) que a Escritura se cumpre em Jesus e, após a ressurreição, por meio de Jesus, para todo aquele que nele crê, judeu ou gentio (cf. Rm 15,8-9); b) que a palavra de Jesus é verdadeira Palavra de Deus; c) e, finalmente, que só se pode compreender a Palavra de Jesus e as Escrituras à luz da paixão, morte e ressurreição do Senhor (12,16; 20,9; Lc 24,45), ou seja, não só à luz da Páscoa de Jesus, mas também só depois que eles tiverem renascido do alto (cf. 3,3.5s.12), recebendo o Espírito Santo (20,22; cf. 6,63) que lhes ensinará tudo e lhes recordará tudo o que Jesus disse (14,26), nas suas palavras e obras, Pessoa e missão.

    Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

    a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
    d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • Como posso/podemos encontrar Deus e chegar a Ele? Como poss/podemos conhecer a Sua vontade e discernir os seus caminhos?
  • Dou testemunho do amor de Deus na minha vida? Como? Que faço: edifico ou destruo a comunidade, Corpo de Cristo, com a minha palavra, atitudes e gestos?
  • Que fazer para que os homens de hoje (não só os adultos, homens ou mulheres, mas também os jovens, adolescentes e crianças) possam encontrar Jesus e reconhecê-lo na sua Igreja?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração) 

Salmo responsorial                                             Sl 46,2-3.5-6.8-9 (R. 5)

Refrão: Os braços dum rio alegram a cidade de Deus,
             a mais santa das moradas do Altíssimo.
      R.

Deus é o nosso refúgio e a nossa força,
auxílio sempre pronto na adversidade.
Por isso nada receamos ainda que a terra vacile
e os montes se precipitem no fundo do mar.     R.

Os braços dum rio alegram a cidade de Deus,
a mais santa das moradas do Altíssimo.
Deus está no meio dela e a torna inabalável,
Deus a protege desde o romper da aurora.     R.

O Senhor dos Exércitos está connosco,
o Deus de Jacob é a nossa fortaleza.
Vinde e contemplai as obras do Senhor,
as maravilhas que realizou na terra.     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva:

Senhor, nosso Deus, que edificais o templo da vossa glória com pedras vivas e escolhidas, multiplicai sobre a Igreja o Espírito de graça, para que o povo fiel cresça cada vez mais para a edificação da Jerusalém celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na nossa vida)

Fr. Pedro Bravo, oc