
Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (23,35-43)
Naquele tempo, 23,35os chefes troçavam de Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de Deus, o Eleito». 36Também os soldados escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre, 37dizendo: «Se Tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo». 38E por cima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus». 39Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti mesmo e a nós». 40Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma condenação? 41Quanto a nós fez-se justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum mal». 42E dizia: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino». 43Ele disse‑lhe: «Amen te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
O texto de hoje tem por tema a realeza messiânica de Jesus (v. 2). Estamos no Calvário (v. 33; aram. Gólgota: Mc 15,22p), diante de Jesus crucificado, na hora em que Ele está a dar a vida pela salvação dos homens.
- v. 35. Os chefes troçavam de Jesus, dizendo: «A outros salvou: salve-se a si mesmo, se este é o Cristo de Deus, o Eleito».
(vv. 35-38: Mt 27,39-43.37; Mc 15,29-32.26). Ao invés de Mateus e de Marcos, em Lucas o povo não insulta Jesus na Sua paixão: limita-se a “contemplá-lo” (Sl 22,8), silencioso e perplexo, enquanto os seus chefes “troçam” dele (16,14; Sl 22,8), desafiando-o a “salvar-se a si mesmo” (Sl 22,9), com palavras decalcadas do Sl 22 (o principal salmo da paixão), estando desta forma, sem disso se aperceberem, a cumprir as Escrituras (cf. At 3,17s; 13,27). Ignoravam que, para salvar a humanidade do pecado e da morte, Jesus tinha de neles entrar para, ressuscitando, os vencer e viver para sempre com Deus (cf. Rm 6,10).
“Os chefes” dos judeus ridicularizam a messianidade de Jesus, proclamando, porém, ironicamente, dois dos seus títulos:
a) “o Cristo de Deus” (gr.), ou seja, “o Messias” (he.), o Ungido de Deus (Lc, 3x: 2,26; 9,20; “Cristo”, Lc, 12x: 2,11; 4,41; 20,41; 22,67; 23,2; 23,35.39; 24,26.46), prometido no AT por Deus a David (2Sm 7,11-16).
b) e “o Eleito” (com artigo), título mencionado apenas por Lucas.
Não sendo em si mesmo um título messiânico no AT, onde se refere a muitas realidades, este título designa Jesus, de forma especial, como:
i) o “Servo de Iavé”, “escolhido” por Deus para levar a salvação a todos os povos (Is 42,1);
ii) o justo perseguido (Sb 3,9; 4,15);
iii) o Messias, descendente de David (só em: Sl 89,4.20; Tb [S] 13,13);
iv) e, por outros termos, no mesmo sentido messiânico da alínea anterior, aquele que foi exaltado sobre todas as criaturas e constituído por Deus juiz universal, tal como o refere, por diversas vezes, o livro de Henoc (1Hen 39,6; 45,3; 49,2; 51,2.4; 52,6.9; 53,6; 55,4; 61,4.5.8.10; 62,1; 91,19), bem conhecido na época, nos círculos helenísticos para os quais Lucas escreve o seu Evangelho.
O título "o Eleito" cobre em Lucas estas quatro aceções, evocando nele aqui a revelação da verdadeira identidade de Jesus pelo Pai feita na Transfiguração, onde, neste Evangelho, aparece ligado ao título "o Filho" (9,35), designando o Crucificado, por isso, inequivocamente como o Messias, sendo nesse sentido que as autoridades judaicas o usam nesta passagem, fazendo pouco de Jesus.
Entretanto, precisamente por esta designação, "o Eleito", não ser em si mesma um título messiânico, dado que ela no AT também se refere no plural, de forma particular, aos membros do povo de Deus (1Cr 16,13; Tb 8,15; Sl 89[88],4 LXX; 105,43; 106,5), ela serve para aludir a Jesus, não só como o Messias, mas também como o protótipo dos seus discípulos, seguidores do (seu) "Caminho" (At 9,2; 19,9.23; 22,4; 24,14.22), ou seja, os cristãos (At 11,26), que, eleitos de Deus como Ele, também serão odiados, perseguidos, rejeitados e mortos por judeus e por gentios, à imagem do Mestre, animando-os, por isso, à perseverança e à fidelidade, de modo a, com Jesus e como Ele, poderem participar da sua vitória (cf. v. 43).
- v. 36. Também os soldados escarneciam dele. Aproximando‑se, ofereciam-lhe vinagre…
Os soldados associam-se à paródia dos chefes judaicos e “escarnecem” de Jesus (v. 11; 18,32; 22,63; cf. 2Cr 36,16). “Oferecem-lhe vinagre” (Jo 19,29; cf. Nm 6,3) a beber, cumprindo assim também a Escritura, neste caso, o Sl 69,22 (“na minha sede, deram-me vinagre a beber”: cf. Jo 19,30).
- v. 37. ... dizendo: «Se Tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo».
Embora Lucas não especifique, estes soldados são romanos, pois insultam Jesus evocando o motivo da sua condenação por parte das autoridades romanas, ou seja, de Pôncio Pilatos (23,8): ser “o Rei dos judeus” (Lc 23, 3x: vv. 3.38).
O Deus vivo não é como os deuses pagãos: não precisa, como estes, de lutar contra outros deuses para vencer, de forma a se salvar a si mesmo e a triunfar sobre eles, mas dá-se a Si mesmo em comunhão de amor para salvar e glorificar o homem.
- v. 38. E por cima dele havia um letreiro: «Este é o Rei dos judeus».
Tal é, de facto, o motivo da condenação de Jesus pelo poder romano, afixado no titulum crucis: “Este é o Rei dos judeus”. Um letreiro cínico, que visava também ofender os judeus (cf. Jo 19,21s). Jesus, porém, nada tem de um rei temporal: não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não veste roupas sumptuosas, mas está nu; não aparece rodeado de soldados, dispostos a defendê-lo, mas foi abandonado pelos seus; não é aclamado povo, mas entregue pelos seus chefes; não julga, nem exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhares de homens, mas está indefeso, pregado numa cruz, condenado a uma morte infamante (cf. Dt 21,23); não jura vingança, nem inflige castigo, mas tem apenas uma súplica na boca: “Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem” (v. 34).
- v. 39. Um dos malfeitores suspensos na cruz insultava-o, dizendo: «Não és Tu o Cristo? Salva-te a Ti mesmo e a nós».
O quadro é completado por uma cena exclusiva de Lucas, bem significativa para entender o sentido da realeza de Jesus. Com Jesus estão “suspensos” (Dt 21,22) – ou seja, crucificados (v. 33; At 5,30; 10,39; Gl 3,13), não com cravos, mas com cordas (cf. Jo 19,31s) –, dois “malfeitores” (vv. 32s.39; Mt 27,44; Mc 15,32b; 2Tm 2,9), no meio dos quais ele se encontra. Cumprem-se assim o Sl 22,17 (“Cercou-me um bando de malfeitores”) e Is 53,12 (“Foi contado entre os transgressores”).
Um dos malfeitores insulta também Jesus (Mt 27,44; Mc 15,32): é o terceiro insulto a Jesus na cruz por ser “o Cristo”. Tal como três foram as tentações de Jesus pelo diabo, no deserto, por ser Filho de Deus (4,1-13). Em cada um destes três insultos aparece o verbo “salvar” (gr. sôzô, 4x neste texto), pondo de manifesto que o que Deus está a operar através da paixão e morte de Jesus na cruz é a própria salvação da humanidade (cf. 1,69.77; 2,11.30; 3,6; 19,9s).
Este insulto a Jesus como “o Cristo”, repetido duas vezes pelos judeus (vv.35.39) e outras duas pelos romanos, mas agora sob o título de “Rei dos judeus” (vv. 37-38), compendia o falso testemunho levantado contra Jesus no início do seu processo (v. 2, ver abaixo), que levou à sua condenação por parte também da autoridade romana. Ele põe a nu a contradição entre, por um lado, a conceção humana do poder por parte dos grandes (cf. 22,25) e do Messias por parte dos judeus, que esperavam um rei triunfalista, que faria grandes prodígios e destruiria todos os seus inimigos, sem nunca morrer; e, por outro, a visão de Deus sobre o Messias, que dá a sua vida pela redenção dos homens (cf. Is 53,1-12).
Os insultos dirigidos contra Jesus acabam assim por ser, contra a vontade dos Seus opositores, uma confissão de fé, pronunciada e repetida por duas vezes – como se exigia para um testemunho ser declarado verdadeiro (cf. Dt 17,6; 19,15; Mt 18,16; Jo 8,17; 2Cor 13,1) – pela sua própria boca: ser "Cristo Rei" (v. 2), precisamente o título que damos a Jesus na solenidade que celebramos neste domingo! - v. 40. Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o, dizendo: «Não temes ainda a Deus, tu que sofres a mesma condenação?
A visão divina de Jesus como o verdadeiro Messias é aceite, porém, pelo outro malfeitor, que repreende o seu companheiro, por ver no insulto deste a Jesus uma blasfémia. - v. 41. Quanto a nós fez-se justiça, pois recebemos o que as nossas ações mereciam; mas este não fez nenhum mal».
Ao invés do companheiro de crucificação e dos circunstantes, ele confessa, então, publicamente a sua culpa (cf. 18,13), reconhece a justeza da sua condenação (cf. Dn 3,27-39; Js 7,19s.25s) e proclama a inocência de Jesus (cf. v. 47; 12,8; At 13,28!; 3,14; 7,52; 22,14). - v. 42. E dizia: «Jesus, lembra-te de mim quando entrares no Teu reino».
A seguir dirige-se a Jesus, começando por invocar publicamente o Seu nome, “Jesus” (cf. Jl 2,32; At 2,21; Rm 10,13: "E todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo").
Depois pede-lhe: “lembra-te de mim”, ou seja, usa de misericórdia para comigo, perdoa-me e salva-me (cf. Tb 3,3; Sl 25,7; Gn 40,14; Sl 106,4).
Por último, põe em Jesus toda a sua fé e esperança, acrescentando: “quando entrares no Teu reino”. O malfeitor usa o verbo erchomai que significa “entrar/vir/aparecer”. É uma expressão que retoma as palavras de Jesus na Última Ceia, em 22,18 ("até que venha o Reino de Deus", designando a sua paixão, morte e ressurreição como a verdadeira Páscoa, a da nova e eterna Aliança, que a páscoa judaica prefigurava.
Trata-se de um pedido surpreendente que um condenado, um “maldito de Deus” (cf. Dt 21,22s), dirige a outro condenado, maldito como ele (Gl 3,13), em quem, não obstante estar a morrer, reconhece a presença de Deus que vem ao encontro do último dos homens e se faz próximo do mais perdido deles, para dar ao homem, justamente condenado (cf. Rm 5,18), a única, derradeira e verdadeira esperança: a da salvação (cf. 19,10).
Na realidade, é uma verdadeira "confissão de fé" em Jesus (gr. exomológuesis: cf. 10,21; Fl 2,11; Dn 9,4-20), na qual ele confessa Jesus, não como um rei terreno (pois sabe que Ele está a morrer), mas como o Rei-Messias do mundo vindouro, prometido por Deus (cf. Is 9,5s; Dn 7,14.22), reconhecido como tal, não à luz da visão terrena e humana, judaica (segundo a qual, como vimos, o Messias não poderia morrer: cf. Mc 8,32s; Mt 16,22s), mas pela primeira vez, de forma inaudita, à luz do autêntico desígnio salvífico de Deus (cf. Mc 8,29; Mt 16,16s). Confissão de fé tão importante, que ainda hoje é cantada pelo povo na liturgia grega, no momento da comunhão.
- v. 43. Ele disse‑lhe: «Amen te digo: hoje estarás comigo no Paraíso».
Perante tal fé, Jesus responde: “Amen te digo”. A palavra hebraica amen, já utilizada em ambiente litúrgico (cf. Dt 27,15-26; 1Cr 16,36; Rm 1,25, etc.), significa “é verdadeiro”, “é digno de fé”, “é digno de confiança”. Jesus utiliza-a para vincar a importância do que a seguir vai afirmar, indicando que o que diz é digno de fé e de confiança, podendo cada um contar sobre isso e sobre isso apoiar a sua vida, porque certamente acontecerá (cf. Ap 3,14).
“Hoje” aparece aqui em Lucas como a última das onze vezes que ocorre no seu Evangelho. Não tem apenas o sentido cronológico do “dia presente” (12,28, 22,34.61), mas sobretudo o sentido teológico do “dia da salvação e da graça” (2Cor 6,2), em que, quem acredita em Jesus – como este malfeitor –, recebe a salvação (2,11; 4,21; 5,26; 13,32.33; 19,5.9).
Jesus chama à vida eterna “paraíso”. “Paraíso” (Ne 2,8; Qo 2,5; Ct 4,13) é uma palavra persa que significa “parque”. Era o nome dado ao Éden, “o jardim de Deus” (Is 51,3; Ez 28,13; 31,8), que no meio tinha a árvore da vida (Gn 2,8s; Ap 2,7), onde o homem, criado por Deus, fora colocado, gozando da comunhão com Ele, e donde foi expulso depois de ter pecado (Gn 3,23s). O paraíso era considerado pelo judaísmo palestiniano contemporâneo de Jesus a morada onde as almas dos justos repousavam até à ressurreição final (cf. 16,23s; Apoc Mos 37; 2Hen 8,1-9). No NT, “paraíso” é sinónimo de “céu”, a morada de Deus (2Cor 12,4), onde Cristo, pela sua morte e ressurreição, nos introduziu (Ef 2,5ss).
É em Cristo que se inaugura o “hoje”, definitivo e eterno, da salvação (At 13,33), em que o homem, redimido dos seus pecados pelo Sangue de Jesus e por Ele conduzido, regressa à comunhão com Deus, tal como fora prometido (cf. Ez 37,27).
Tal é o sentido da realeza de Jesus: dar a vida, para, unindo os homens a Si, os associar à Sua realeza, tornando-os participantes, com Ele e n'Ele, da sua vida divina, no Reino de Deus, no eterno "hoje" da salvação, que nunca mais terá fim.
Ler o texto uma segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Como é que damos testemunho da realeza de Cristo: através de estruturas de poder ou num serviço de amor e proximidade às pessoas?
- Que é mais importante para mim: o seguimento de Jesus, a atenção ao próximo ou as minhas pretensões de aplausos e reconhecimento?
- Sou compreensivo com os outros, mesmo com os que erram? Como é que me relaciono com os que são rejeitados por parte dos outros?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 122,1-2.4-5 (R. cf. 1)
Refrão: Iremos com alegria para a casa do Senhor.
Alegrei-me quando me disseram:
«Vamos para a casa do Senhor».
Detiveram-se os nossos passos
às tuas portas, Jerusalém. R.
Jerusalém, cidade bem edificada,
que forma tão belo conjunto!
Para lá sobem as tribos,
as tribos do Senhor. R.
Para celebrar o nome do Senhor,
segundo o costume de Israel;
ali estão os tribunais da justiça,
os tribunais da casa de David. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Deus todo-poderoso e eterno, que no vosso amado Filho, Rei do universo, quisestes instaurar todas as coisas, concedei propício que todas as criaturas, libertas da escravidão, sirvam a vossa majestade e Vos glorifiquem eternamente. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.