IV Domingo da Páscoa - Ano A

4º DOMINGO DA PÁSCOA – ANO A

7 de Maio de 2017

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 10, 1-18) 

1Naquele tempo, disse Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. 2Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre-a e as ovelhas escutam a sua voz. E ele chama as suas ovelhas uma a uma pelos seus nomes e fá-las sair. 4Depois de tirar todas as que são suas, vai à frente delas, e as ovelhas seguem-no, porque reconhecem a sua voz. 5Mas, a um estranho, jamais o seguiriam; pelo contrário, fugiriam dele, porque não reconhecem a voz dos estranhos.» 6Jesus propôs-lhes esta comparação, mas eles não compreenderam o que lhes dizia.

7Então, Jesus retomou a palavra: «Em verdade, em verdade vos digo: Eu sou a porta das ovelhas. 8Todos os que vieram antes de mim eram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não lhes prestaram atenção. 9Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim estará salvo; há-de entrar e sair e achará pastagem. 10O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.

11Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12O mercenário, e o que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo e abandona as ovelhas e foge e o lobo arrebata-as e espanta-as, 13porque é mercenário e não lhe importam as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, 15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e ofereço a minha vida pelas ovelhas.

16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil. Também estas Eu preciso de as trazer e hão-de ouvir a minha voz; e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isto que meu Pai me tem amor: por Eu oferecer a minha vida, para a retomar depois. 18Ninguém ma tira, mas sou Eu que a ofereço livremente. Tenho poder de a oferecer e poder de a retomar. Tal é o encargo que recebi de meu Pai.» 

Chave de leitura 

O Evangelho deste Domingo coloca diante de nós a figura tão familiar do bom pastor. Falando das ovelhas do redil de Deus, Jesus utiliza diversas imagens para descrever a conduta dos que se ocupam do rebanho. O texto da liturgia estende-se desde o versículo 1 a 10. No comentário acrescentamos os versículos 11 a 18, porque contêm a imagem do bom pastor que ajuda a entender melhor o sentido dos versículos 1 a 10.

As palavras de Jesus sobre o pastor (Jo 10, 1-18) é como um ladrilho colocado numa parede quase pronta. Imediatamente antes, em João 9, 40-41, Jesus falava da cegueira dos fariseus. Imediatamente depois, em João 10, 19-21, encontramos a conclusão da discussão sobre a cegueira. Deste modo, as palavras sobre o bom pastor ensinam-nos como fazer para retirar dos olhos a cegueira. Com este ladrilho a parede fica mais forte e mais bela. 

João 10, 1-5: A semelhança entre o salteador e o pastor 

Jesus começa o seu discurso com a semelhança da porta: “Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas”. Para entender esta semelhança devemos recordar o que se segue. Naquele tempo, os pastores ocupavam-se do rebanho durante todo o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou recinto comunitário, bem protegido contra os salteadores e os lobos. Todos os pastores de uma mesma região conduziam os seus rebanhos para aí. Um guarda ocupava-se do redil durante toda a noite. Pela manhã vinha o pastor, batia as palmas das mãos na porta e o guarda abria-a. O pastor aproximava-se e chamava as suas ovelhas pelo seu nome. As ovelhas reconheciam a voz do pastor, levantavam-se e saiam atrás dele para pastar. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas ficavam onde estavam, porque não conheciam a voz. Os perigos de assalto eram diários. Os ladrões entravam por uma abertura, tirando as pedras do muro que rodeava o redil, para roubar as ovelhas. Não entravam pela porta, porque ali encontrava-se o guarda vigiando. 

João 10, 6-10: A semelhança com a porta das ovelhas 

Os que escutavam, os fariseus (Jo 9, 40-41), não entendiam o que significava “entrar pela porta”. Então Jesus explica-lhes: “Eu sou a porta! Todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores”. A quem se refere Jesus com esta frase tão dura? Provavelmente, pela sua maneira de falar dos salteadores, referia-se aos chefes religiosos que arrastavam as pessoas atrás deles, mas não respondiam às suas esperanças. Não estavam interessados no bem do povo mas antes no dinheiro e nos seus interesses. Enganavam as pessoas e abandonavam-nas à sua sorte. O critério fundamental para discernir entre o pastor e o salteador é a defesa da vida das ovelhas. Jesus diz: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”! Entrar pela porta significa imitar a conduta de Jesus na defesa da vida das ovelhas. Jesus pede às pessoas para que não sigam a quem se apresenta como se fosse pastor mas não está interessado na vida das pessoas. 

João 10, 11-15: A semelhança com o bom pastor 

Jesus muda a semelhança. Antes era a porta , agora é o pastor. Todos sabiam o que era um pastor e como vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer: é o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do Antigo Testamento. Ao dizer que é o bom pastor, Jesus apresenta-se como aquele que vem cumprir as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que insiste: 1) – Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. 2) – No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor.

O falso pastor, que quer vencer a sua cegueira, deve confrontar a sua própria opinião com a opinião das pessoas. Isto era o que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e chamavam-nas gente maldita e ignorante (Jo 7, 49; 9, 34). Pelo contrário, Jesus diz que as pessoas têm uma percepção infalível para saber quem é o bom pastor porque reconhecem a voz do pastor (Jo 10, 4). “Elas conhecem-me” (Jo 10, 14). Os fariseus pensavam que possuíam a certeza de discernir as coisas de Deus. Mas na realidade eram cegos.

O discurso sobre o bom pastor encerra duas importantes regras para retirar a cegueira farisaica dos nossos olhos: 1) – Os pastores devem estar muito atentos aos comportamentos das ovelhas porque elas reconhecem a voz do pastor. 2) – As ovelhas devem prestar muita atenção à conduta dos que se dizem pastores para verificar se verdadeiramente lhes interessa a vida das ovelhas, ou se não, ou se são capazes de dar a vida pelas ovelhas. E os pastores de hoje? 

João 10, 16-18: A meta a que Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor 

Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. E elas não ouvem a voz de Jesus mas quando a ouvirem reconhecerão que Ele é o pastor e segui-lo-ão. Aqui aparece o comportamento ecuménico das comunidades do “Discípulo Amado”. 

A imagem do pastor na Bíblia 

Na Palestina a sobrevivência do povo dependia em grande parte da posse de cabras e de ovelhas. A imagem do pastor que guia o seu rebanho para as pastagens era muito conhecida, como hoje conhecemos o condutor de autocarros ou o maquinista de comboios. Era normal o uso da imagem do pastor para indicar a função de quem governava ou conduzia o povo. Os profetas criticam os reis porque eram pastores que não se preocupavam com a sua grei e não a conduzia a pastar (Jer 2, 8; 10, 21; 23, 1-12). Esta crítica aos maus pastores aumentou de tal medida que, por culpa dos reis, o povo viu-se arrastado para a escravidão (Ez 34, 1-10; Zac 11, 4-17).

Perante a frustração sofrida por causa da ausência de guia por parte dos maus pastores, crescia o desejo ou a esperança de ter, um dia, um pastor que fosse verdadeiramente bom e sincero, que imitasse Deus no modo de conduzir o povo. Nasce assim o salmo: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta” (Sal 23, 1-6; Jer 48, 15)! Os profetas esperam que no futuro o próprio Deus seja o pastor que guie o rebanho (Is 40, 11; Ez 34, 11-16). E espera que a partir disto o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Escutai hoje a sua voz!” (Sal 95, 7). Esperam que Deus venha na qualidade de Juiz que julgue as ovelhas do rebanho (Ez 34, 17). Nasce o desejo e a esperança de que um dia Deus suscite bons pastores e que o Messias seja um pastor para o povo de Deus (Jer 3, 15; 23, 4).

Jesus muda esta esperança em realidade e apresenta-se como o bom pastor, diante dos salteadores que roubavam o povo. Ele apresenta-se como um Juiz que, no fim, julgará como um pastor que separa as ovelhas das cabras (Mt 25, 31-46). Em Jesus cumpre-se a profecia de Zacarias, segundo a qual o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que Ele faz: “Ferirão o pastor e o rebanho dispersar-se-á” (Zac 13, 7). E finalmente Jesus é tudo: é a porta, o pastor e o cordeiro! 

Palavra para o caminho 

Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). São muitos os cristãos que não chegam, sequer, a suspeitar que a fé é, precisamente, um princípio de vida, e vida sadia. Falta-lhes descobrir, por experiência pessoal, que Deus não é alguém ao qual convém ter em conta por acaso, mas que Deus é, precisamente e antes de mais nada, “alguém que faz viver”.