XIV Domingo do Tempo Comum - Ano A

14º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A


9 de Julho de 2017

 

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Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 11, 25-30)

 

Naquele tempo, Jesus exclamou: “Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas verdades aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos. Tudo me foi dado por meu Pai. Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do teu agrado. Ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar. Vinde a Mim, todos os que andais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e a minha carga é leve”.

 

Mensagem

 

Há quem considere estas breves linhas do capítulo onze do Evangelho de São Mateus (11,25-30), proclamadas neste 14º Domingo do Tempo Comum, como o mais belo e importante dizer de Jesus nos Evangelhos Sinópticos (A. M. Hunter). Na verdade, estas linhas guardam o segredo mais inteiro de Jesus, o seu tesouro mais profundo. Nos lábios de Jesus, chama-se «PAI» (Mateus 11,25).


«Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos. Sim, aos pequeninos, daqueles que não têm nenhuma ciência, nenhum poder, nenhum valor autónomo, que nada podem fazer sozinhos, mas que sabem confiar, e sabem que podem confiar, e sabem em quem confiar. É sobre os pequeninos que recai toda a atenção de Jesus, que, de resto, voluntariamente se confunde com eles, pois diz: «Todas as vezes que fizestes isto (ou o deixastes de fazer) a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a Mim que o fizestes (ou o deixastes de fazer)» (Mateus 25,40 e 45).


Abre-se aqui um dos mais belos fios de ouro da espiritualidade cristã, habitualmente denominado por «infância espiritual», o «pequeno caminho», «o permanecer pequeno», «o estar nos braços de Jesus», que Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897) exalta na sua «História de uma alma», que tem a sua nascente mais funda naquela maravilha que é o Salmo 131,2, em que o orante se diz assim: «Estou sossegado e tranquilo, como criança saciada ao colo da mãe; a minha alma é como uma criança saciada!».


Os pequeninos, que nada valem de per si, dependem dos seus pais ou de alguém que cuide deles com carinho. Se Jesus os traz desta maneira para a primeira página, temos então de perguntar: o que é que são então cristãos adultos, maduros na sua fé? Serão aqueles que sabem tudo, que estão seguros de si, que chegaram ao fim de um curso ou percurso, que têm tudo na mão, que já não são dependentes porque já não precisam de ninguém que cuide deles? Seguramente não. Cristãos adultos na sua fé são aqueles que sabem que precisam de Deus a todo o momento, e que sabem debruçar-se sobre os pequeninos com amor. Cristãos adultos na fé não somos nós que pensamos que temos as chaves de tudo e de todos, mas somos nós como filhos de Deus, a quem carinhosamente tratamos por PAI, em quem depositamos toda a nossa confiança, somos nós como filhos e irmãos, carinhosamente atentos uns aos outros, até ao ponto sem retorno de já não sabermos viver senão repartindo o pão e o coração.


«Eu Te bendigo, ó PAI, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste aos pequeninos» (Mateus 11,25; cf. Lucas 10,21). Esta é uma das muitas vezes em que, nos Evangelhos, Jesus aparece a rezar ao PAI, mas é uma das poucas vezes em que nos é dada a graça de ouvirmos o conteúdo da oração de Jesus [além desta vez, só no Getsémani: «PAI, se é possível, afasta de mim este cálice, mas não se faça a minha vontade, mas sim a tua» (Mateus 26,39 e 42), e na Cruz: «Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?» (Mateus 27,46); «PAI, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem» (Lucas 23,34); «PAI, nas tuas mãos entrego o meu espírito» (Lucas 23,46)]. Note-se que a belíssima oração do «PAI Nosso» (Mateus 6,9-13; cf. Lucas 11,2-4) é-nos ensinada por Jesus, mas não o ouvimos a rezá-la. Um cristão adulto na sua fé, isto é, na sua confiança, tem de se pôr, como Jesus, totalmente nas mãos seguras e carinhosas do PAI, única direcção da sua e da nossa vida.


É assim que o Evangelho entra por nós adentro, cortante como uma espada de dois gumes ou como um bisturi. Vem-me à memória uma velha história que circula na África Oriental, e que fala de uma mulher pobre que andava sempre com uma Bíblia grande debaixo do braço. Dizem que nunca se separava dela. As pessoas que a viam passar todos os dias, faziam chacota dela com dizeres do género: «Porquê sempre a Bíblia, se há tantos livros para ler?». Mas a mulher lá seguia o seu caminho, imperturbável e indiferente às provocações. Um dia, porém, a mulher da Bíblia viu-se cercada por um bando de escarnecedores. Então, levantando bem alto a sua Bíblia, a mulher, abrindo um grande sorriso, disse: «Eu bem sei que há muitos outros livros que posso ler! Mas este é o único livro que me lê a mim!».


Nenhum arrogante raciocínio, nenhum orgulho, conduz a Deus. Nenhuma arrogância conduz a Deus. Jesus, Mestre novo, não aponta para coisas nem ensina coisas. Ele diz: «Vinde a Mim» e «aprendei de Mim» (Mateus 11,28 e 29). Com Jesus. Como Jesus. Ele não ensina coisas. Dá-se a si mesmo. Aprendeu do Pai, que tudo lhe deu (Mateus 11,27). Dar e receber. Jugo suave e carga leve (Mateus 11,30). Como os missionários do Evangelho, que devem partir sempre sem ouro, nem prata, nem cobre, nem saco, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastão, dando de graça o que de graça receberam (Mateus 10,8-9). Nenhum acessório nos faz falta. Nenhuma estratégia dá certo. Basta-nos Cristo no coração, e a vida, sim, a nossa vida, para dar.

 

António Couto (Texto adaptado, alterado e revisto de responsabilidade nossa)

 

Três apelos de Jesus

 

O evangelho de Mateus recolheu três apelos de Jesus que os seus seguidores devem escutar com atenção, pois podem transformar o clima de desânimo, cansaço e tédio que, às vezes, se respira em alguns sectores das nossas comunidades.


Vinde a mim todos os que estais cansados ​​e sobrecarregados. Eu vos aliviarei”. Este é o primeiro apelo. É dirigido a todos aqueles que vivem a sua religião como uma carga pesada. Não são poucos os cristãos que vivem sobrecarregados pela sua consciência. Não são grandes pecadores. Simplesmente, foram educados para ter sempre presente o seu pecado e não conhecem a alegria do perdão contínuo de Deus. Se se encontrarem com Jesus, sentir-se-ão aliviados.


Há, também, cristãos cansados de viver a sua religião como uma tradição desgastada. Se se encontrarem com Jesus, aprenderão a viver confortavelmente com Deus. Descobrirão uma alegria interior que hoje não conhecem. Seguirão Jesus, não por obrigação, mas por atracção.


Tomai o meu jugo, porque é suportável e meu fardo é leve”. Este é o segundo apelo. Jesus não sobrecarrega ninguém. Ao contrário, liberta o que de melhor existe em nós, pois nos propõe viver tornando a vida mais humana, digna e saudável. Não é fácil encontrar um modo mais apaixonante de viver.


Jesus liberta dos medos e pressões, não os introduz; faz crescer a nossa liberdade, não as nossas servidões, desperta em nós a confiança, jamais a tristeza; atrai-nos para o amor, não para as leis e preceitos. Convida-nos a viver fazendo o bem.


Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso”. Este é o terceiro apelo. Temos de aprender de Jesus a viver como ele. Jesus não complica a nossa vida. Torna-a mais clara e simples, mais humilde e mais saudável. Oferece descanso. Ele não propõe, jamais, aos seus seguidores algo que não tenha vivido. Convida-nos a segui-lo pelo mesmo caminho que ele percorreu. Por isso, pode entender as nossas dificuldades e os nossos esforços, pode perdoar os nossos enganos e erros, incentivando-nos sempre a levantar-nos.


Devemos concentrar os nossos esforços em promover um contacto mais vital com Jesus em tantos homens e mulheres necessitados de ânimo, descanso e paz. Entristece-me ver que é, precisamente, o seu modo de entender e viver a religião aquilo que leva a não poucos, quase inevitavelmente, a não conhecer a experiência de confiar em Jesus.


Penso em muitas pessoas que, dentro e fora da Igreja, vivem "perdidas", sem saber em que porta bater. Sei que Jesus poderia ser uma grande notícia para elas.

 

José Antonio Pagola

 

Oração a Nossa Senhora

 

Santa Maria, Mãe de Deus, conservai em mim um coração de criança, puro e límpido como água da fonte. Dai-me um coração simples, que não se incline a saborear as próprias tristezas. Um coração magnânimo no doar-se, dócil à compaixão, um coração fiel e generoso que não esqueça nenhum bem, nem guarde rancor de nenhum mal. Criai em mim um coração doce e humilde, que ame sem exigir ser correspondido, contente em esconder-se noutros corações, sacrificando-se diante do Vosso Divino Filho. Um coração grande e indomável, que nenhuma ingratidão possa fechar e nenhuma indiferença possa cansar. Um coração atormentado pela glória de Cristo, ferido pelo Seu amor, com uma ferida que não possa ser cicatrizada senão no Céu. Amen (Pe. Léonce de Grandmaison, SJ).