12º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B)
21 de Junho de 2015
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos (Mc 4, 35-41)
35Naquele dia, ao entardecer, disse Jesus: «Passemos para a outra margem.» 36Afastando-se da multidão, levaram-no consigo, no barco onde estava; e havia outras embarcações com Ele. 37Desencadeou-se, então, um grande turbilhão de vento, e as ondas arrojavam-se contra o barco, de forma que este já estava quase cheio de água. 38Jesus, à popa, dormia sobre uma almofada. 39Acordaram-no e disseram-lhe: «Mestre, não te importas que pereçamos?» Ele, despertando, falou imperiosamente ao vento e disse ao mar: «Cala-te, acalma-te!» O vento serenou e fez-se grande calma. 40Depois disse-lhes: «Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?» 41E sentiram um grande temor e diziam uns aos outros: «Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?»
Mensagem
Este texto está situado na primeira parte do Evangelho, onde Marcos procura demonstrar que as autoridades religiosas da época, os próprios parentes de Jesus e os discípulos d’Ele não o compreenderam, apesar de verem as suas obras e milagres (1, 19-8, 21). Toda esta primeira parte do Evangelho prepara o chão para a pergunta fundamental do Evangelho: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Por isso a história que hoje é relatada leva os discípulos a colocarem a si próprios a pergunta: “Quem é este homem?”
A história do acontecimento no mar de Galileia retrata simbolicamente a situação da comunidade de São Marcos, pelo ano 70, quando o Evangelho foi escrito. A comunidade vacila na sua fé, assolada por dúvidas e até perseguições. Diante do cansaço da caminhada, muitos refugiaram-se na busca de uma religião de milagres, sem o esforço de seguir Jesus até à Cruz. Por isso, Marcos insiste que os milagres não são suficientes para conhecer Jesus, pois as autoridades, os familiares e os discípulos presenciaram-nos e não chegaram a entender nem a pessoa nem a proposta de Jesus.
O barco no lago, assolado pelos ventos e ondas, representa a comunidade dos discípulos, prestes a afundar-se por causa das dificuldades da caminhada. Jesus dorme no barco e parece não se preocupar com o perigo. Assim, para a comunidade de São Marcos, parecia que Jesus não estava ligado aos seus sofrimentos e, como consequência, vacilava na sua fé. Mas, Jesus acalmou o mar e ainda questiona a pouca fé dos Doze: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. Assim, Marcos quis mostrar aos leitores do seu tempo que Jesus estava com eles nas dificuldades e que a sua falta de fé era a causa da grande parte das dificuldades que estavam a enfrentar.
Hoje, em muitos lugares, a Igreja parece-se com a igreja de Marcos, ou ainda como o barco no mar. Diante das desistências, do secularismo, da diminuição da sua influência, para muitos a Igreja está a afundar-se. Em lugar de assumir o doloroso seguimento de Cristo até à Cruz, muitos refugiam-se numa religiosidade de milagres, fugindo, deste modo, da penosa tarefa de construir o Reino de Deus entre nós. Até diante da pessoa e da mensagem do Papa Francisco, muitos simpatizam com ele como pessoa, mas permanecem surdos aos seus apelos em favor de um seguimento autêntico do Salvador. Marcos vem corrigir esta ideologia triunfalista das suas comunidades e convida-nos a aprofundar a nossa fé, a clarificarmos para nós mesmos e para o mundo “quem é este homem?”, e a segui-Lo no dia-a-dia. Pois, Jesus não está alheio relativamente às nossas dificuldades! Pelo contrário, Ele está no meio de nós. Só que não nos livra da tarefa de nos imergirmos na luta pelo Reino, mesmo que as ondas e os ventos são contrários. Ter fé n’Ele não é somente acreditar que Ele existe e é o Filho de Deus, mas também tomar a nossa cruz e segui-Lo, na certeza que Ele não nos abandonará! Ressoa para nós hoje a pergunta de há dois mil anos atrás: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Palavra para o caminho
A barca onde Jesus vai com os seus discípulos vê-se acossada por uma daquelas tempestades imprevistas e furiosas que se levantam no lago da Galileia no entardecer de alguns dias de Verão. Marcos descreve o episódio para despertar a fé das comunidades cristãs, que vivem momentos difíceis. O relato não é uma história tranquilizante para consolar os cristãos de hoje com a promessa de uma protecção divina que permita à Igreja passear tranquila através da história. É o chamamento decisivo de Jesus, para que façamos com Ele a travessia em tempos difíceis: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”
Porque são tantos os nossos medos de afrontar estes tempos cruciais e tão pouca a nossa consciência em Jesus? Não é o medo de nos afundar aquilo que nos está a bloquear? Não é a busca cega de segurança, aquilo que nos impede de fazer uma leitura lúcida, responsável e confiada destes tempos? Porque é que nós resistimos a ver que Deus está a conduzir a Igreja para um futuro mais fiel a Jesus e ao seu Evangelho? Porque é que buscamos segurança no conhecido e estabelecido no passado e não escutamos o chamamento de Jesus a passar para a “outra margem”, para semear humildemente a sua Boa Notícia num mundo indiferente a Deus, mas tão necessitado de esperança?