Este pequeno texto é a síntese de uma escolha de entre as várias meditações que o Papa Bento XVI e o Papa Francisco fizeram, relativas ao Domingo XVII, Ano B, como “partilha do pão da Palavra” que eles puseram à nossa disposição na “Oração do Angelus”. O objectivo que se pretende é, unicamente, alargar a partilha dos vários sabores da Palavra de Deus, através desta página.
O Evangelho da Liturgia deste domingo narra o célebre episódio da multiplicação dos pães e dos peixes, com o qual Jesus dá de comer a cerca de cinco mil pessoas que o vieram ouvir (cf. Jo 6, 1-15). É interessante ver como este prodígio acontece: Jesus não cria os pães e os peixes a partir do nada, não, mas opera a partir do que os discípulos lhe trazem. Um deles diz: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes: mas que é isso para tanta gente?» (v. 9). É pouco, é nada, mas a Jesus é suficiente. (…)
Todos os grandes protagonistas da Bíblia – Abraão, Maria e o menino de hoje – mostram esta lógica da pequenez e do dom. A lógica do dom é muito diferente da nossa. Procuramos acumular e aumentar o que temos, mas Jesus pede-nos para dar, para diminuir. Gostamos de acrescentar, gostamos das adições; Jesus gosta das subtrações, de tirar algo para o dar a outros. Queremos multiplicar para nós; Jesus aprecia quando dividimos com os outros, quando partilhamos. É curioso que nos relatos da multiplicação dos pães nos Evangelhos, o verbo “multiplicar” nunca aparece. Pelo contrário, os verbos utilizados são de sinal oposto: “partir”, “dar”, “distribuir” (cf. v. 11; Mt 14, 19; Mc 6, 41; Lc 9, 16). Mas o verbo “multiplicar” não é usado. O verdadeiro milagre, diz Jesus, não é a multiplicação que produz ostentação e poder, mas a divisão, a partilha, que aumenta o amor e permite que Deus realize maravilhas. Procuremos partilhar mais, tentemos este caminho que Jesus nos ensina. (Papa Francisco, Angelus, 25 de Julho, 2021).
Com esta página evangélica, a liturgia induz-nos a não desviar o olhar daquele Jesus que no domingo passado, no Evangelho de Marcos, ao ver «uma multidão, compadeceu-se dela» (6, 34). Também o jovem dos cinco pães compreendeu esta compaixão, e disse: “Pobrezinhos! Tenho isto...”. A compaixão levou-o a oferecer o que possuía. (…) Só se ouvirmos as exigências mais simples das pessoas e nos pusermos ao lado das suas situações existenciais reais poderemos ser ouvidos quando falarmos de valores superiores. (Papa Francisco, Angelus, 29 de Julho, 2018).
Perante o sofrimento, a solidão, a pobreza e as dificuldades de tantas pessoas, o que podemos fazer? Lamentar-nos nada resolve, mas podemos oferecer aquele pouco que temos, como o jovem do Evangelho. Certamente temos algumas horas à disposição, algum talento, competência... Quem não tem os seus «cinco pães e dois peixes»? Todos os temos! Se estivermos dispostos a pô-los nas mãos do Senhor, serão suficientes para que no mundo haja um pouco mais de amor, paz, justiça e sobretudo alegria. Como é necessária a alegria no mundo! Deus é capaz de multiplicar os nossos pequenos gestos de solidariedade e tornar-nos participantes do seu dom. (Papa Francisco, Angelus, 26 de Julho, 2015).
Caros irmãos e irmãs, peçamos ao Senhor que nos faça redescobrir a importância de nos alimentarmos não só de pão, mas de verdade, de amor, de Cristo, do corpo de Cristo, participando fielmente e com grande consciência na Eucaristia, para estarmos cada vez mais intimamente unidos a Ele. Com efeito, «não é o alimento eucarístico que se transforma em nós, mas somos nós que acabamos misteriosamente mudados por ele. Cristo alimenta-nos, unindo-nos a Si; “atrai-nos para dentro de Si”» (Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, 70). Ao mesmo tempo, desejamos rezar a fim de que jamais falte a ninguém o pão necessário para uma vida digna, e sejam abatidas as desigualdades não com as armas da violência, mas com a partilha e o amor. (Bento XVI, Angelus, 29 de Julho, 2012).
Pe. Manuel Castro, O. Carm.