Papa Francisco, Angelus, 18 de Setembro

Papa Francisco, Angelus, 18 de Setembro

A astúcia mundana e a astúcia cristã

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje Jesus convida-nos a refletir sobre dois estilos de vida contrapostos: o mundano e o do Evangelho. O espírito do mundo não é o espírito de Jesus. E fá-lo por meio da parábola do administrador infiel e corrupto, que é louvado por Jesus apesar da sua desonestidade. É preciso esclarecer imediatamente que este administrador não é apresentado como um modelo a ser seguido, mas como exemplo de astúcia. Este homem é acusado de má administração dos negócios do seu patrão e, antes de ser afastado, procura com astúcia conquistar a benevolência dos devedores, perdoando  uma parte das suas dívidas para assegurar o seu próprio futuro. Comentando este comportamento, Jesus observa: “Os filhos deste mundo são mais astutos no trato com os demais do que os filhos da luz”.

A esta astúcia mundana somos chamados a responder com a astúcia cristã, que é um dom do Espírito Santo. Trata-se de se afastar do espírito e dos valores do mundo, que são tão apreciados pelo demónio, para viver de acordo com o Evangelho.

E a mundanidade como se manifesta? A mundanidade manifesta-se com comportamentos de corrupção, de engano, de prepotência, e constitui o caminho mais equivocado, o caminho do pecado, porque um conduz ao outro, não é verdade? É como uma cadeia, se bem que é verdade que geralmente esse é o caminho mais cómodo de percorrer. O espírito do Evangelho, pelo contrário, requer um estilo de vida sério - sério mas alegre, cheio de alegria e comprometido, marcado pela honestidade, pela rectidão, pelo respeito pelos outros e pela sua dignidade, com o sentido do dever. Esta é a astúcia cristã!

O percurso da vida comporta necessariamente uma escolha entre dois caminhos: entre honestidade e desonestidade, entre fidelidade e infidelidade, entre egoísmo e altruísmo, entre o bem e o mal. Não se pode oscilar entre um e outro, porque se movem sobre lógicas diferentes e contrastantes. O profeta Elias dizia ao povo de Israel que caminhava nestas duas vias: “Vós coxeais com os dois pés”. É uma bela imagem. É importante decidir qual a direção a tomar e, depois, escolhida a justa, caminhar com coragem e determinação, confiando na graça do Senhor e na ajuda do seu Espírito. Forte e categórica é a conclusão da passagem do Evangelho: “Nenhum servidor pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se interessará pelo primeiro e desprezará o segundo”.

Com este ensinamento, Jesus exorta-nos hoje a fazer uma escolha clara entre Ele e o espírito do mundo, entre a lógica da corrupção, da prepotência e da cobiça, e a da rectidão, da mansidão e da partilha.

Alguns comportam-se com a corrupção como com as drogas: pensam que podem usá-las e deixá-las quando quiserem. Começa-se com pouco até se perder a liberdade. Também a corrupção vicia e gera pobreza, exploração e sofrimento. E quantas vítimas há hoje no mundo! Quantas vítimas desta tão espalhada corrupção!

Pelo contrário, quando procuramos seguir a lógica evangélica da integridade, da transparência nas intenções e nos comportamentos, da fraternidade, convertemo-nos em artesãos de justiça e abrimos horizontes de esperança para a humanidade. Na gratuidade e na doação de nós mesmos aos nossos irmãos, servimos o patrão justo: Deus.

Que a Virgem Maria nos ajude a escolher em cada ocasião e a todo custo o caminho justo, encontrando também a coragem de caminhar contra a corrente, para poder seguir Jesus e o seu Evangelho.