Quinto Domingo do Tempo Comum, ano B - 2024

 

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (1,29-39)

Naquele tempo, 1,29saindo Jesus da sinagoga, foi logo a casa de Simão e André, com Tiago e João. 30A sogra de Simão estava deitada, com febre, e logo lhe falam dela. 31Aproximando-se, ergueu-a, tomando‑a pela mão; a febre deixou-a e ela servia-os. 32Ao cair da tarde, depois do sol-posto, trouxeram-lhe todos os que tinham males e os endemoninhados 33e toda a cidade estava reunida junto à porta. 34E curou muitos que tinham males de diversos tipos de doenças e expulsou muitos demónios. Mas não permitia que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era. 35De manhã, muito cedo, estando ainda escuro, levantou-se, saiu e retirou-se para um lugar deserto e ali orava. 36Simão e os que estavam com ele foram no seu encalço 37e, encontrando-o, dizem-lhe: «Todos Te procuram». 38E Ele diz-lhes: «Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de também aí pregar, pois para isto saí». 39E foi por toda a Galileia, pregando nas sinagogas deles e expulsando os demónios.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • A passagem de hoje vem no seguimento da perícope anterior, lida no domingo passado. Decorre ainda em Cafarnaum e embora a chamem uma jornada típica de Jesus, de facto nela Marcos contrapõe dois dias: o sábado judaico e o domingo cristão. Apresenta-os em três quadros distintos, mas complementares, como uma sequência típica da ação evangelizadora de Jesus, apresentada como modelo para a Igreja.
  • v. 29. O primeiro quadro (vv. 29-31: Mt 8,14s; Lc 4,38s) decorre no sábado judaico, após a liturgia sinagogal em que Jesus participara (v. 21). Simão e André (v. 16) não tinham ido, Jesus estranhou e vai a “casa” deles para saber o que se passara, pois o motivo devia ser grave. Leva consigo os outros dois discípulos, Tiago e João (v. 19), pois é no seio da comunidade fraterna que Jesus se torna presente e manifesta (cf. Mt 18,20).
  • v. 30. Os primeiros mostram-lhe a razão da sua ausência: a sogra de Simão está “deitada” (2,4) na cama com tal febre (At 28,8) que temem o pior (v. 31; cf. Jo 4,47.49). Mas Jesus intervém, dando três passos.
  • v. 31. 1) “Aproximando-se”. O verbo está no particípio aoristo (repetitivo), indicando que Jesus se aproxima sempre de quem sofre e lhe é apresentado na oração. 2) “Tomando-a pela mão” (5,41; 9,27; cf. Gn 19,16), ou seja, tocando a sua existência, amparando-a e assumindo, como Senhor, a direção da sua vida (Sl 73,24s; Is 42,6). 3) “Ergueu-a” (gr. egueirô): o verbo é o termo técnico da ressurreição (6,14.16; 9,27; 12,26; 14,28; 16,6), indicando que ela estava às portas da morte (5,41). Jesus cura-a e ela inicia uma vida nova. Como?
  • “Servia-os” (pl.): ela serve não apenas Jesus, mas também os apóstolos (gr. diakonéô: v. 13; 15,41; Lc 8,3; At 6,2; Hb 6,10). Ao sábado não se cozinhava, servindo-se as três refeições do dia (a da véspera, a do meio-dia e a da noite), preparadas antes e mantidas quentes. Esta é “a refeição” sabática por excelência, a refeição festiva do meio-dia, que se segue ao culto (cf. Ne 8,10). O verbo “servir” está no imperfeito, indicando uma ação continuada: a vida nova que a sogra de Simão recebeu de Jesus, dá novo rumo à sua existência, que agora é posta ao serviço do Senhor e dos irmãos, em especial, dos seus enviados.
  • v. 32. O segundo quadro (vv. 32-34: Mt 8,16; Lc 4,40s) decorre no primeiro dia da semana (o “Dia do Senhor”, o domingo cristão: 16,2; Ap 1,10; cf. At 20,7; 1Cor 16,2). Este começa uma hora após o pôr-do-sol, quando se veem brilhar no céu os três primeiros astros (Vénus e duas estrelas). Nessa ocasião todos se devem trajar bem e mostrar um ar festivo, agradecendo o sábado, celebrando a criação e aguardando a nova criação. É neste contexto que Jesus age, mostrando que é Ele que dá o verdadeiro repouso e anunciando com os “sinais” (16,17) que realiza (as curas e as libertações), a nova criação.
  • A fama de Jesus espalhara-se (v. 28) e as pessoas vão ao seu encontro, trazendo-lhe “todos os que tinham males e os endemoninhados”. Como o judaísmo proibia ao sábado andar mais de 2.000 côvados (880 m: Er 4,5; cf. Js 3,4; Nm 35,5; At 1,12) e curar doentes (a não ser os que estavam em perigo de vida: Mt 12,10p; Lc 13,14; Er 4,3; Yom 8,6), esperam que o sábado passe e comece o primeiro dia da semana para irem ter com Jesus.
  • Trazem-lhe “todos os que tinham males”, ou seja, todo o tipo de doenças corporais, “e os endemoninhados”, pessoas com doenças psiquiátricas ou do foro psíquico ou espiritual. Como estes doentes não raro não têm controle sobre si mesmos, os antigos atribuíam-nas a forças sobrenaturais, invisíveis, os “demónios”, que se apossavam deles, controlando-os. Os demónios não são o diabo (gr. “o que divide”; he. Satanás, “o adversário”), que existe, mas seres míticos, que agiam, como se cria, tal como as doenças, sob o comando de Satanás (At 10,38). Só Deus tinha poder sobre eles. Os doentes e os possessos eram as pessoas mais marginalizadas em Israel: tidas por impuras, julgava-se que Deus as rejeitara, sendo, por isso, postas de lado e sendo não raro obrigadas a viver à mercê da caridade pública.
  • v. 33. Manifesta-se então a força do domingo cristão. Toda a cidade se reúne “à porta” (da casa de Pedro: v. 29; 2,1s). Em Marcos, a “casa” (gr. oikós) é cifra da Igreja. O ficarem as pessoas “à porta” simboliza a evangelização cristã (2,2; cf. Jo 10,9; At 14,27; 28,30; 1Co 16,9; Cl 4,3).
  • v. 34. Marcos introduz um novo sumário da ação de Jesus. O Reino de Deus anunciado por Ele (v. 15), destina-se a todas as pessoas e abarca o homem todo, todos os aspetos e dimensões da sua vida (física, psíquica, pessoal, familiar e comunitária). Por isso, o Evangelho não se reduz a uma doutrina, nem se limita ao culto, mas manifesta-se em obras de salvação (cf. 3,15; 6,7; 16,20; Mt 11,4s; 1Ts 1,5; Hb 2,4). O judaísmo esperava que no tempo do Messias todas as doenças fossem curadas (Is 35,5s; Jub 23,28-30; Hen 25,5-7; 96,3: Str-B 1,593-596) e o homem fosse libertado do poder de Satanás (cf. v. 24; Hen 55,4; Test Levi 18; Test Sebul 9; At 26,18). É o que Jesus faz: cura “muitos” doentes (3,10) e expulsa “muitos demónios” (6,13). “Muitos”, mas não “todos” (Mt 8,16; 12,15), porque a fé deles ainda era pequena (cf. 2,5; 6,5; 11,22s). “Não deixava que os demónios falassem, porque sabiam quem Ele era”: é um inciso do “segredo messiânico” (v. 24s.44; 3,12p). Jesus não quer que saibam que Ele é o Messias, para não ser confundido com a figura política do messias temporal e guerreiro que todos aguardavam.
  • v. 35. 3) Num terceiro quadro (vv. 35-39: Lc 4,42s; Mt 4,23), Marcos mostra-nos Jesus retirado num “lugar deserto” (solitário) em oração (6,46). Esta começa cedo, logo de manhã, antes da aurora (cf. Sl 63,1). A oração é a base do ministério de Jesus (cf. At 6,4), que ritma e embebe a sua existência. É dela que brotam a sua palavra e ação e é a ela que conduzem. Na oração, Jesus entrega-se (gr. proseukomai: “orar”, lit. “oferecer”) ao Pai, a quem chama Abbá (14,36); une-se a Ele, adora-o, louva-o, dá-lhe graças; escuta a Sua Palavra; discerne e abraça a Sua vontade; suplica e intercede pelos homens; deixa que nele se renove o dom da graça; haure luz, força e motivação para a sua caminhada.
  • v. 36. Ao levantar-se, não o vendo em casa, Simão assume pela primeira vez a chefia e vai com os companheiros à procura de Jesus.
  • v. 37. É em oração que encontram Jesus. “Todos Te procuram” (Jo 6,24; Ex 33,7). Em Marcos, “procurar” (10x: 3,22; 8,11s; 11,18; 12,12; 14,1.11.55; 16,6) significa: “apoderar-se de” (cf. Jo 6,15). Mas Jesus não o permite.
  • v. 38. “Vamos a outros lugares, para também aí pregar”. A oração é um meio, não um fim, e leva à ação. “Vamos” está no plural porque: a) a missão de Jesus é também a dos seus discípulos; b) quem evangeliza nunca vai só, porque o Senhor está e coopera com ele (16,20). “Para isto saí” (gr. exêlthon: Sir 24,3; Jo 8,42; 13,3; 17,8). “Sair” é usado em sentido absoluto, sem indicar a origem. Jesus alude veladamente à sua “vinda” do Pai, enquanto Filho “enviado” (v. 11) pelo Pai a “pregar” (gr. kerysso) o Evangelho de Deus (v. 14). A evangelização é o que determina a vida e missão de Jesus, que não se deixa prender, nem sequer pelo êxito.
  • v. 39: Mt 4,23; 9,35; Lc 4,44. Marcos conclui com novo sumário da ação de Jesus, em inclusão com o v. 14. Jesus vai ao encontro de todos, pregando-lhes por palavras o Evangelho e levando-lhes com gestos de fraternidade e obras de poder e salvação. É por estas duas dimensões que, como faces da mesma moeda, passa a evangelização.
  • Neste episódio, Jesus mostra o estilo de vida, o roteiro e a missão que vai confiar aos seus discípulos – e neles, à Igreja –, a qual deverão prosseguir até ao fim dos tempos, vendo nela a sua tarefa mais urgente e necessária, a sua obra fundamental: a evangelização (cf. 3,14; 6,12; 13,10; 16,15; 1Cor 9,16).

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)    

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Faço da minha vida um serviço a Deus e aos irmãos?
  • Que lugar ocupam na minha existência a oração, a leitura da Palavra de Deus, a celebração da fé e a vida comunitária?
  • A evangelização é a prioridade da vida e ação de Jesus. Como participo eu nesta obra, que o Pai, por Ele, me confia?

 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

 4) CONTEMPLAÇÃO… (Tudo apreciar em Deus, à luz da sua Palavra) 

Salmo responsorial                                         Sl 147,1-6 (R. cf. 3a)

Refrão:        Louvai o Senhor, que salva os corações atribulados.

Louvai o Senhor, porque é bom cantar,

é agradável e justo celebrar o seu louvor.

O Senhor edificou Jerusalém,

congregou os dispersos de Israel.     R.

Sarou os corações dilacerados
e ligou as suas feridas.
Fixou o número das estrelas
e deu a cada uma o seu nome.     R.

Grande é o nosso Deus e todo-poderoso,
é sem limites a sua sabedoria.
O Senhor conforta os humildes
e abate os ímpios até ao chão.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva:

Guardai, Senhor, com paternal bondade a vossa família; e, porque só em Vós põe a sua confiança, defendei-a sempre com a vossa proteção. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

 Ave-Maria...

 Bênção final. Despedida.

 5) AÇÃO... (encarnar a Palavra na própria vida e testemunhá-la, unidos a e em Cristo)

Fr. Pedro Bravo, oc