Sexto Domingo do Tempo Comum, ano B - 2024

 

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (1,40-45)

Naquele tempo, 1,40vem ter com Jesus um leproso que, suplicando-lhe e pondo-se de joelhos, lhe diz: «Se quiseres, podes purificar-me». 41Movido de compaixão, Jesus estendeu a mão, tocou-lhe e diz-lhe: «Quero: fica purificado». 42E logo o deixou a lepra e ele ficou purificado. 43Advertindo-o severamente, Jesus logo o despediu 44e diz-lhe: «Olha, não digas nada a ninguém, mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés prescreveu, como testemunho para eles». 45Mas ele, tendo saído, começou a apregoar muitas coisas e a divulgar a palavra, de modo que Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade; mas ficava fora, em lugares desertos; e vinham ter com Ele de toda a parte. 

Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 40(vv. 40-45: Mt 8,2-4; Lc 5,12-16). O presente relato da cura de um leproso evoca a cura da lepra do general sírio Naamã (2Rs 5,1-14).
  • No AT, “lepra” designava não só a lepra, mas também qualquer doença de pele com aspeto repulsivo (Lv 13). Os leprosos eram marginalizados pela religião e pela sociedade, sendo considerados pecadores (cf. Sl 51,9), objeto dum justo castigo de Deus por causa dalguma falta particularmente grave, como a idolatria (2Rs 15,5) ou, segundo os rabinos, à luz de Pv 6,16-19 (Ar 16a; LvR 16,116a: -B 4,748s): a difamação (Nm 12,1.10), o derramamento de sangue (2Sm 3,29), a mentira (2Rs 5,27), a impureza (Gn 12,17), o orgulho (2Cr 26,16-21), o roubo e a má vontade (cf. Lv 14,36.35). Os leprosos não podiam entrar em Jerusalém, nem no Templo ou na sinagoga. Tinham de viver fora das povoações, andar desgrenhados e andrajosos e avisar os outros aos gritos do seu estado para que não se aproximassem deles (cf. Lv 13,45s). Separados de Deus e dos homens, eram considerados mortos-vivos (cf. Nm 12,12; Ned 64b), sendo, por isso, a sua cura comparada a uma ressurreição (Sanh 47a). Segundo os rabinos, no “mundo futuro” (10,30), o reino do Messias, não haveria mais leprosos, nem a purificação dos mesmos (Pes 50a).
  • Este leproso, porém, é singular: desconhece a Lei, não sabe o nome de Jesus, nem o trata por “Senhor” (cf. Mt 8,2; Lc 5,12), mas, rompendo todas as convenções humanas, passa por cima da Lei e aproxima-se de Jesus. Não cumpre a Lei, mas faz o que é necessário para chegar a Jesus: ter fé.
  • Os seus gestos dizem tudo: é o único doente nos Evangelhos que se põe de joelhos diante de Jesus (em sinal de veneração: 3,11; 5,33; 7,25), para, humilde e insistentemente, lhe pedir com fé certeira: “Se quiseres, podes purificar-me”. Ora, só Deus podia curar da lepra (2Rs 5,7). O seu pedido é, pois, uma confissão de fé, um ato de confiança na abertura, bondade e poder divinos daquele homem, de cuja vontade sabe depender a sua cura. Não usa muitas palavras: limita-se a expor, a tornar patente a Jesus a sua miséria, abandonando-se inteiramente à sua misericórdia. Representa assim os gentios que ignoravam a Lei, nada sabiam de Jesus, mas nele depositaram toda a sua fé e confiança.
  • O pedido dele mostra que deseja mais do que a cura física: quer ser “purificado” da doença que o impedia de aceder à comunhão com Deus e com os homens. O pedido “purifica-me” só aparece no AT no Sl 51,4.9 (o Miserere), dirigido a Deus, sendo evocado em Is 53,10 LXX, onde se descreve a missão do “Servo de Iavé”. Jesus é o justo inocente a quem aprouve a Deus “purificar,” fazendo recair sobre Ele os nossos pecados, para que, oferecendo a sua vida em expiação por eles, deles sejamos perdoados, alcançando assim a salvação.
  • v. 41. Perante a sua fé, a reação de Jesus é surpreendente. Em vez de se retrair e censurar o homem por ter transgredido a Lei, responde num só movimento, com uma quadrupla ação: a) compadece-se, b) estende a mão, c) toca-lhe e d) fala-lhe, declarando-o purificado.
  • a) O verbo “compadecer-se” (gr. splanqnízomai, “encher-se de compaixão”: Mt 9,36) só aparece no NT, aplicado apenas a Deus e a Jesus.
  • b) Jesus “estendeu a mão” (cf. v. 31; 6,2; 9,27): o amor traduz-se em obras, num gesto humano, fraterno, repleto de afeto e de solidariedade. Gesto este que tem um profundo sentido bíblico, significando “alcançar”, “dar a vida” (Gn 3,22), evocando o diálogo de Deus com Moisés do meio da sarça ardente (Ex 4,4, com uma alusão à lepra no v. 6), onde designa a ação de libertadora de Deus (cf. At 4,30) em favor do seu povo, tirando-o da escravidão do Egito, fazendo-o passar o Mar Vermelho, sustentando-o e conduzindo-o até à Terra prometida (Ex 6,8; 14,16.21.26s).
  • c) Jesus vai mais longe ainda e “toca” (cf. 3,10p; 5,27sp; 6,56p; 7,33; 8,22; 10,13p) o leproso, apesar de saber que quem o fizesse ficava impuro (cf. Nm 5,2s). Jesus é o médico divino que, ao invés dos médicos humanos, não se limita a aproximar a mão da parte enferma para comprovar a doença (como recomenda Hipócrates [†377 a.C.], Sobre a medicina antiga, 18), mas “toca” o leproso, curando o homem todo, não só da lepra, como também da sua causa, o pecado, e das suas consequências, a solidão.
  • d) Por fim, Jesus, purifica-o apenas com a força da sua Palavra, que realiza o que anunciou: “Quero, fica purificado”.
  • v. 42. A nota “ficou purificado” (Nm 12,15) evoca 2Rs 5,14, onde a cura da lepra é descrita como uma regeneração, um novo nascimento. O episódio alude assim, de forma velada, ao batismo.
  • v. 43. Antes de o despedir, Jesus “adverte-o severamente” (14,5; Mt 9,30; Jo 11,33.38), como que para lhe despertar a consciência para a importância do que acabara de fazer e do que agora lhe vai dizer.
  • v. 44. Primeiro, Jesus proíbe-o de dizer que foi Ele quem o curou (cf. 5,43). Não se trata apenas do “segredo messiânico” (até à Paixão, Jesus não quer que se divulgue a sua identidade messiânica: vv. 24s.34; 3,12p), mas também dum imperativo pessoal: quem deveras ama e faz o bem, só por amor a Deus e ao próximo, não quer que se saiba, não vá parecer que o fez para projetar a sua própria imagem (cf. Mt 6,1; Jo 7,18).
  • Este leproso não conhecia as Escrituras, pelo que Jesus lhe cita a passagem da Lei onde se diz que quem tinha sido purificado da lepra devia ir mostrar-se a um sacerdote (Mt 8,4) e oferecer os sacrifícios prescritos, para ser reintegrado na comunidade (Lv 13,39; 14,2-5). Isso serviria “como testemunho para eles” (cf. Js 24,27; Jubil 1,7s; 4,19; 10,17; Ap Bar 84,7), ou seja, para as autoridades religiosas, para que elas, ao constatar a cura, 1) soubessem que o mundo inaugurado pelo Messias já estava em ação (cf. Is 35,4ss; Mt 11,5) e 2) que Ele respeitava a Lei. Jesus aponta-lhe assim o caminho que deve seguir quem por Ele foi purificado (regenerado): ingressar na Igreja, para aí conhecer a Palavra de Deus e caminhar à sua luz na vida nova que recebeu.
  • v. 45. Dá-se então uma inversão de papéis. A ordem de Jesus não surte efeito: o homem ignora a Lei, não se atém aos seus ritos e começa logo “a apregoar muitas coisas” onde quer que vá. É a terceira pessoa (1,4.7: João; 1,14. 38s: Jesus) a quem Marcos aplica o verbo “pregar” (queryssein: Mc, 14x). Em vez de gritar “impuro, impuro” (Lv 13,45), ele torna-se arauto da “palavra” (com artigo), ou seja, do Evangelho (2,2; 4,14.33; 8,32; 16,20), testemunhando a boa nova da “ressurreição” que Jesus nele operou. Ninguém é capaz de silenciar o Evangelho, nem sequer Jesus.
  • “De modo que Jesus já não podia entrar abertamente em nenhuma cidade”, sendo obrigado a permanecer “fora, em locais desertos” como se agora tivesse sido Ele a contrair a lepra (Lv 14,3). O advérbio “fora” evoca dois temas do AT: 1) o Servo de Iavé. Para nos salvar, Jesus fez-se “maldição por nós” (Gl 3,13), tomando sobre si as nossas enfermidades e carregando com os nossos pecados, expiando-os “fora” (de Jerusalém: Is 42,2; 53,8; Ex 29,14; Hb 13,12s). Esta cura é um “sinal” (16,17.20) que mostra que o objetivo da missão de Jesus é regenerar o homem, dando-lhe uma vida nova e restituindo-o à comunhão com Deus e com os irmãos, através da sua paixão e morte de cruz. 2) A “Tenda da reunião”, montada no deserto “fora” do acampamento (Ex 33,7s). Jesus é o novo lugar de encontro e de comunhão com Deus e com os irmãos. Ele assume a condição dos marginalizados e excluídos, para assim poder ir ao encontro de todos (cf. Hb 4,15). E todos podem “vir de toda a parte ter com Ele (cf. Is 49,18), para nele encontrar Deus, fazer parte do seu Povo, receber a sua Palavra, experimentar o seu amor, caminhar à sua luz e testemunhá-lo a todos. 

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Como lidamos com os estigmatizados, os excluídos da sociedade e da Igreja? Acolhemo-los e integramo-los ou consolidamos e ajudamos a perpetuar os mecanismos de discriminação e exclusão?
  • Dou testemunho de Jesus e do Evangelho onde quer que vá? Como? 

4) CONTEMPLAÇÃO… (Tudo apreciar em Deus, à luz da sua Palavra) 

Salmo responsorial                                 Sl  32,1-2.5.7.11 (R. v. 7)

Refrão:        Sois para mim refúgio; Vós me envolveis na alegria da salvação.

Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa
e absolvido o pecado.
Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade
e em cujo espírito não há engano.     R.


Confessei-vos o meu pecado
e não escondi a minha culpa.
Disse: Vou confessar ao Senhor a minha falta
e logo me perdoastes a culpa do pecado.     R.


Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos,
fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
Alegrai-vos, justos, e regozijai-vos no Senhor,
exultai, vós todos os que sois retos de coração.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, nosso Deus, que prometestes estar presente nos corações retos e sinceros, ajudai-nos com a vossa graça a viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (encarnar a Palavra na própria vida e testemunhá-la, unidos a e em Cristo)

Fr. Pedro Bravo, oc