Quinto Domingo da Quaresma - Ano B - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João (12,20-33) 

12,20Havia alguns gregos entre os que tinham subido a Jerusalém para adorar durante a Festa. 21Estes foram ter com Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e pediram-lhe, dizendo: «Senhor, queremos ver Jesus». 22Filipe vem e diz a André; André e Filipe vêm e dizem a Jesus. 23Jesus responde-lhes, dizendo: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. 24Amen, amen vos digo: se o grão de trigo, ao cair na terra, não morrer, permanece ele só; mas se morrer, dá muito fruto. 25Quem ama a sua vida, perde-a, e quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26Se alguém me serve, siga-me; e onde Eu estou, aí estará também o meu servidor. Se alguém me serve, o Pai o honrará. 27Agora a minha alma está perturbada. E que direi: ‘Pai, salva-me desta hora?’ Mas foi por causa disto que vim para esta hora. 28Pai, glorifica o teu nome». Veio então uma voz do céu: «Glorifiquei e de novo glorificarei». 29A multidão que ali estava e tinha ouvido, dizia ter sido um trovão; outros afirmavam: «Foi um anjo que Lhe falou». 30Jesus respondeu e disse: «Não foi por minha causa que esta voz veio, mas por vossa causa. 31Agora é o julgamento deste mundo; agora o príncipe deste mundo vai ser deitado fora. 32E Eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim». 33Dizia isto indicando com que género de morte estava prestes a morrer.    

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 20. O presente episódio, em que Jesus anuncia que chegou a sua “hora”, é o último do “Livro dos sinais” do Quarto Evangelho (2,1-12,50). Estamos a cinco dias da “festa” da Páscoa (vv. 1.12), logo a seguir à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando Jesus tinha sido aclamado como Messias, “o Rei de Israel” (1,49), pela multidão que encenou espontaneamente um ritual de entronização com elementos da Festa das Tendas (vv. 14s; Zc 9,9s). Nesta, os judeus habitam em cabanas durante uma semana, evocando os 40 anos que Israel passou no deserto até entrar na Terra prometida e suplicam a Deus que afaste Satanás para longe (v. 31) e envie o Messias, para salvar o seu povo. Seria numa ocasião como esta, no “Dia do Senhor”, que os gentios viriam a Jerusalém “para adorar o Rei, o Senhor” (Zc 14,16).
  • Os gentios são aqui representados por estes “gregos” (7,35), nos quais se dá início à vinda das nações à fé, referida no versículo anterior: “Eis que o mundo vai após Ele” (v. 19). São “tementes a Deus” (At 10,22; 13,16; 16,14; 18,7), gentios convertidos à fé no Deus único de Israel, que não se sujeitaram à circuncisão, não estando obrigados à observância da Lei (Gl 5,3), mas também não podendo ultrapassar o Átrio dos gentios e entrar Templo (At 21,28), nem “comer a Páscoa” (Ex 12,43s). Fazem parte do numeroso grupo de estrangeiros que, pela Páscoa, vinha a Jerusalém para “adorar”, prestar culto a Deus (cf. 2,14ss; Fl.Jos. 6,9,3). O verbo “adorar”, unido ao tema da “hora” (v. 23), liga este episódio ao diálogo de Jesus com a samaritana (4,20-24).
  • v. 21. Não podendo entrar no Templo para “ver” a Deus (Sl 63,3; Ex 3,4; 33,2), querem “ver Jesus” (Lc 8,20; 23,8). Em João, “ver” significa “conhecer” Jesus, entrar em relação com Ele (1,39.46), saber quem Ele é (1,50s; 5,13ss), crer nele como o Filho unigénito de Deus (1,34; 6,40) no qual se revela o Pai (12,45; 14,7ss). Só pode “ver” Jesus quem nasceu da água e do Espírito (3,2-7; 2Cor 5,16s), o que só será possível quando Jesus tiver sido glorificado, ou seja, crucificado, tornado fonte de salvação para todos (19,35ss), e, ressuscitado, confessado Deus e Senhor (20,28). Por isso, eles não vão ter com Jesus, mas com Filipe (1,43).
  • v. 22. Filipe, por sua vez, “vem ter com André” (1,40) e ambos “vêm ter” com Jesus. São dois (Mt 18,20), porque é só através da Igreja que os gentios, atraídos pelo Pai (6,44s.65), podem chegar a Jesus (17,20), pois é só nela que Jesus pode ser encontrado (Ap 1,12s.20).
  • Vão ter com Filipe e André porque são os únicos apóstolos que só têm um nome grego. São ambos de Betsaida (“casa de pesca”; lt. Iulias; arab. El-Araj, he. Beit HaBek: 1,44). Na época não pertencia à Galileia, mas à Gaulinite, junto à desembocadura do Jordão no lago de Genesaré. Aí residiam muitos gentios. João alude aqui à missão dos discípulos serem “pescadores de homens” (21,11; Mc 1,17p). O facto de Filipe falar primeiro com André e só depois irem ambos ter com Jesus, reflete a dificuldade que a Igreja tive de se abrir à evangelização dos gentios, uma decisão tomada em conjunto só depois do Senhor a ter confirmado (At 11,17s).
  • v. 23. Jesus vê neste pedido o sinal da vinda do “Dia do Senhor” e anuncia que “chegou a hora do Filho do homem ser glorificado” (13,31). “Hora” (2,4; 4,21; 7,30; 8,20; 13,1; 16,32; 17,1) tem artigo porque é definitiva (“de uma vez para sempre”: Rm 6,10; Hb 9,26ss; 1Pd 3,18). A “glorificação” de Jesus (vv. 28.34) não será um triunfo à maneira humana, mas começa na sua paixão e morte na cruz, através da qual “o Filho do homem” (v. 34; 1,51; 3,13s; 5,27; 8,28; 9,35) será glorificado, entrando a sua humanidade ressuscitada na posse da glória eterna que Ele, enquanto Filho de Deus, tem com o Pai (17,5). Jesus é a Páscoa verdadeira, o Templo definitivo de Deus, a casa do Pai (2,16. 21; 14,2; Ap 21,23) onde todos, judeus e gentios, podem entrar para prestar ao Pai o culto “em Espírito e verdade” (4,23s) que Ele quer.
  • v. 24. “Glorificar”, em João, significa “manifestar” a glória de Deus (Ex 33,18.22; 34,6s), “dando a vida” (17,1ss; 21,19). A glorificação de Jesus inicia com a sua morte, pois só pode ressuscitar quem tiver morrido, como o ilustra a parábola do grão de trigo que “ao cair na terra, se morrer, dá muito fruto”. Jesus anuncia assim, por um lado, a fecundidade salvífica da sua morte, fonte de vida nova e salvação para todos (7,39; Sl 22,28-32; Is 53,10ss; Hb 2,9s; Ap 7,9-15), e, por outro, a transformação do seu corpo ressuscitado (1Cor 15,36-49).
  • v. 25: Mc 8,35p; 16,25. O caminho de Jesus é o dos discípulos. Por isso, João reúne aqui os apelos de Jesus, que encontramos noutro lugar nos Sinópticos, ao seguimento e imitação do seu caminho até à cruz, na renúncia à própria vida (gr. psyquê: “alma”), morrendo ao seu eu (Mt 10,39; Mc 8,35; Lc 9,24). “Odiar” é um semitismo: significa “preterir”, “desprezar” (Gn 29,31.33). 
  • v. 26: Mt 8,34p. Quem segue Jesus, “serve-o” (gr. diakonein), dando a sua vida (10,27; 13,36s; 21,19.22) para “atrair” outros a Ele (v. 32). Porque “servidor” (gr. diákonos), ele permanece junto de Jesus, vivendo unido a Ele, onde Jesus está (7,34; 14,3; 17,24): no seio do Pai (1,18) e junto dos que sofrem (Mt 25,40). A este o Pai honrará, juntamente com Jesus (4Ma 17,20; Rm 8,17; 2Tm 2,11s).
  • v. 27. O episódio conclui com o “Getsémani joanino” (Mt 26,38sp). Apesar da sua determinação, na perspetiva da sua paixão e morte na cruz, Jesus sente na debilidade própria da natureza humana, plenamente assumida, a perturbação (11,33; 13,21; Hb 4,15; Sl 6,4s; 31,20) e o desejo de as evitar (Sl 22,22; 69,1). 
  • v. 28. Mas prefere a vontade do Pai (17,1; 18,11; Lc 11,2!; Mt 26,53s; Lc 22,42; Hb 5,7s). Vem então uma “voz do céu”, a voz de Deus (5,37; Mc 1,14p; a bat kol, “filha da voz”: Dt 4,12), a qual, segundo os rabinos, só ressoava em momentos extraordinários, quando era necessário declarar algo que só Deus podia sancionar. O Pai atesta publicamente que a obra de Jesus (as palavras e obras que Ele fez através dele: 5,36; 10,38; 14,10s.20), o glorificou e vai glorificar (5,20; 8,54; 17,4), dando, ressuscitado, a vida eterna (17,2) pelo Espírito (16,14; 20,22).
  • v. 29. Os ouvintes não “conhecem a voz” do Pai, que dá testemunho de Jesus (5,37; 10,3). Apegados ao AT, só percebem as coisas à sua luz, pensando ter sido um “trovão” (Jb 26,14; Sl 76,19) ou um “Anjo” que falou (Gn 21,17; Ex 3,2; 1Rs 13,18). v. 30. Jesus diz, porém, que o Pai assim falou não por causa de Si, mas por causa deles (11,42).
  • v. 31. Com um duplo “agora”, Jesus atesta que chegou a sua “hora”, hora de salvação e vida, mas também de julgamento (3,19ss; Lc 2,34) do pecado e de Satanás, “o príncipe deste mundo” (14,30; 16,11; 1Co 2,6; 2Cor 4,4; Ef 2,2; Lc 10,18), que introduziu e instiga o pecado no mundo (8,44; Sb 2,24; At 26,18; Cl 2,15; Hb 2,14; 1Jo 3,8; Ap 12,9ss).
  • v. 32. Quando Jesus for “elevado da terra” (v. 34; 3,14; 8,28) na cruz (18,32; 21,19; Fl 2,9ss), Satanás perderá o seu poder e Jesus será constituído único Mediador, juiz, Salvador e Senhor de tudo (13,3; Zc 14,16; 1Tm 2,5; Ap 1,8). A partir daí, “todos” (os homens e toda a criação: v. 19; Ap 13,16), “atraídos” pelo Pai a Cristo (6,44; Ct 1,4; Jr 31,3; Dn 7,10), serão recapitulados nele e com Ele reconciliados com o Pai, nele se apoiando até à plenitude dos tempos (2Cor 5,19; Cl 1,20; Ef 1,20).
  • v. 33: 21,19. Deus realizará o seu desígnio salvífico através da morte de Jesus na cruz, cujo momento está iminente. 

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)    

a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Ajudei a levar alguém a Jesus?
  • Estou disposto a seguir o caminho de Jesus?
  • Como é a minha oração quando sinto angústia ou medo? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração) 

Salmo responsorial                                   Sl 51,3-4.12-15 (R. 12a)

Refrão:        Dai-me, Senhor, um coração puro.

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pelo vosso amor,
pela vossa grande misericórdia, apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.      R.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso Espírito Santo.      R.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com um espírito generoso.
Ensinarei aos pecadores os vossos caminhos
e os transviados hão de voltar para Vós.      R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça de viver com alegria o mesmo espírito de caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte pela salvação dos homens. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc