Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (3,14-21)
Naquele tempo, 3,14disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também é necessário que o Filho do homem seja elevado, 15para que todo aquele que crê nele tenha vida eterna. 16Porque de tal modo amou Deus o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo aquele que acredita nele não pereça, mas tenha vida eterna. 17Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele. 18Quem acredita nele não é julgado, mas quem não acredita já foi julgado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. 19E o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20Pois todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam denunciados. 21Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que as suas obras foram feitas em Deus».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O presente texto pertence à secção introdutória do quarto Evangelho (1,19-3,36). Faz parte do diálogo de Jesus com Nicodemos (gr. “força do povo”), um “chefe dos judeus” que O vai visitar “de noite” para não se comprometer, evitando arriscar a posição de destaque de que gozava entre os fariseus (v. 1; cf. 7,50; 19,39).
- O diálogo entre eles articula-se em três pontos: 1) Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus (vv. 1-3); 2) Jesus diz a Nicodemos que é preciso renascer do alto, através da água e do Espírito (vv. 4-8); 3) Jesus descreve o projeto de salvação de Deus, que será levado a cabo mediante a sua cruz (vv. 9-21). O nosso texto insere-se aqui.
- v. 14. Jesus começa por explicar a Nicodemos que da mesma forma que “Moisés elevou a serpente” (Nm 21,8s; Sb 16,5-12) de bronze no deserto, fixando-a num poste, para que aqueles que fossem mordidos por uma serpente por causa da sua incredulidade e pecado, ao olhar para ela, fossem salvos, assim também “o Filho do homem deve ser elevado”.
- “É necessário” (gr. dei) indica que tudo decorrerá segundo o desígnio salvífico do Pai, em obediência à Sua vontade, expressos no AT, que Jesus realizará (19,30). “Filho do homem” designa o homem, enquanto criatura terrena (he. “Adão”: Gn 3,9; Dn 7,18; Ez 2,1). É o nome que Jesus se dá a si mesmo (1,15; 3,13; 5,27; 6,27.53.62; 8,28; 9,35; 12,23; 13,31), apresentando-se veladamente como o Messias prometido (Dn 7,13s) que assume a debilidade, sofrimento, destino e morte do homem para o salvar. “Seja elevado” alude a Jesus como o “Servo de Iavé” (Is 52,13). É uma referência à obra redentora da cruz (8,28; 12,32.34). Todos os homens, judeus e gentios foram mordidos pela “antiga serpente que é Satanás” (Ap 20,2; Gn 3,15) através do pecado (Sr 21,2). E assim «a morte entrou no mundo» (Sb 2,24). Obedecendo por amor ao Pai, Jesus terá de passar pela morte de cruz para os vencer e assim, pela ressurreição, a sua humanidade ser glorificada junto do Pai. A cruz é o início da glorificação de Jesus e primícias da nossa glorificação com Ele junto do Pai (cf. 20,17; Dn 12,1).
- v. 15. A “vida eterna” é a vida do próprio Deus (Dt 32,40; Dn 12,2; Sb 15,3) que o homem rejeitou pelo pecado (Gn 2,17; 3,3s.22; Rm 5,12; 6,23; Tg 1,15). Só Deus a pode dar, restabelecendo a comunhão do homem com Ele. É dada pela fé em Jesus (v. 36; 17,3; 1Jo 5,13), pois é nele que ela está (1,4; 1Jo 5,20). Todos são convidados a olhar para Jesus e a acreditar nele (19,34-37), para que não pereçam, mas tenham vida eterna (6,40; 20,31). “Acreditar em Jesus” (1,12; 8,51; 17,8. 20) é confiar-se a Ele para com Ele caminhar segundo a sua Palavra.
- v. 16. A tal ponto chegou o amor (gr. agapê) de Deus pelo “mundo” (gr. kósmos), ou seja, pelo homem (Sb 6,24; 10,1) e a criação (Gn 2,1 LXX; Sb 7,17; 9,9), que tomou a iniciativa de lhe enviar o seu Filho único (cf. Tb 8,17) e de O entregar à morte para salvar o homem da morte e lhe dar a Sua própria vida, a vida que o homem não tem, a vida eterna. Este é o ponto central do querigma cristão (Rm 5,8; 8,32; 1Jo 4,9s.14-17), ao qual há que corresponder pela fé, para se poder receber a salvação.
- “Filho unigénito” (com artigo: v. 18; 1Jo 4,9) é o título de Jesus próprio de João, que indica que Jesus é o Filho único de Deus por natureza (1,14.18). Por isso, Jesus é Deus e enquanto Filho, o único herdeiro do Pai (3,35; 13,1; Jz 11,34; Tb 3,15). O título alude ao sacrifício de Abraão (Hb 11,17). Assim como Abraão esteve disposto a sacrificar a Deus o seu único filho, Isaac (Gn 22,16) – que, de facto, é o segundo, depois de Ismael (Gn 21,10s; 25,9) –, mas que Deus não deixou imolar, Deus vai fazer o mesmo, indo, porém, mais longe, até ao fim (13,1), dando o seu Filho único ao homem, que por amor se entregará à morte como propiciação pelos pecados do homem (1Jo 4,10), para o salvar, para que quem a Ele vem e nele crê não pereça, mas tenha vida eterna (5,24), vida que está no Filho (14,10) e só Ele pode dar, porque é Deus (1,4; 5,26.40; 6,27; 10,28; 11,25; 14,6; 17,2s).
- v. 17. “Jesus” é a tradução grega do nome hebraico “Josué” que significa: “Deus salva”. Jesus é o “enviado” do Pai (13,34; 5,38; 6,29.57; 7,29; 8,42; Gl 4,4) “ao mundo” (10,36), a humanidade incrédula e pecadora (16,8-11), à qual vem, não para a julgar, mas para que ela seja salva (12,47; 8,15) “por meio dele” (6,57; 10,9; 14,6), tornando-se participante da sua Páscoa, da sua “passagem” para o Pai (13,1).
- v. 18. Quem acolhe o querigma e acredita que Jesus é “o Filho”, ou seja, Deus, e é batizado, é salvo (v. 16; 5,24; 6,40.47; 17,20; 20,31; Mc 13,32). Quem não acredita, permanece na incredulidade, autossuficiência, egocentrismo, mentira e inimizade do pecado e “já está julgado” (3,36; Mc 16,16) pela Palavra (12,48), porque continua abrangido pela sentença de morte que, desde o princípio, recai sobre o pecado (Gn 2,17; 3,3.14-19; Dt 24,16; 2Rs 14,6; 2Cr 25,4; Ez 18,4.20; Sb 2,24).
- “Nome” (1,12; 2,23; 17,6.11s.26; 20,31) indica a pessoa e neste caso é uma perífrase judaica do Nome divino. Designa o que Deus tem de mais próprio e único (Sb 14,21). É o “Eu sou” de Jesus (4,26; 6,20; 8,18.24.28. 58; 13,19; 18,5s.8) que evoca a revelação do nome divino a Moisés (Ex 3,15). O Nome indica a presença de Deus e a sua ação salvífica entre os homens (Ex 34,5ss) de modo a poder ser invocado pelo homem e o vir salvar.
- v. 19. Perante a oferta de salvação de Deus em Jesus cada um tem de optar: quem a aceitar, aderindo a Ele pela fé, tem a vida eterna; quem a rejeitar, rejeita a luz que Jesus enquanto Deus é (1,4s.10s; 8,12; 9,5; 12,46; 1Jo 1,6s) e continua no pecado, autoexcluindo-se da salvação.
- v. 20. Quem não crê, “odeia a luz” (7,7; Sb 2,14) e prefere as trevas (Cl 1,21), para continuar a pecar, sem ver o seu pecado (cf. 9,41), nem o deixar ver (Jb 24,13.15s), para não ser denunciado (cf. 16,8).
- v. 21. Quem acredita em Jesus e aceita a sua Palavra, vem para a luz, a fim de ver o seu próprio pecado e o reconhecer (Ef 5,13s), se arrepender dele, o rejeitar e obter o perdão (8,11), recebendo, pela fé, a vida eterna, por meio do Espírito Santo (5,24; 16,8-15). Renascendo como filho de Deus, torna-se filho da luz (12,36; Ef 5,8; Mt 5,14ss), “caminha na luz” e “pratica a verdade” (Tb 4,6; 1Jo 1,6), identificando-se com o Filho de Deus, guardando a sua Palavra (8,32; Sl 119,105) e praticando as Suas obras (14,12) de amor (13,34; 1Jo 2,8ss).
- A salvação e a condenação não são, pois, o prémio ou o castigo que Deus dá ao homem no termo da história. O juízo final já está em ação na história, dependendo o seu desfecho da atitude que cada um toma na própria existência perante a oferta de salvação que Deus lhe faz em Jesus Cristo, seu Filho. A responsabilidade pela vida ou pela morte eterna não recai sobre Deus, mas sobre cada um, dependendo da opção que fez na própria vida em relação a Deus (Dt 30,15.19; Jr 21,8).
Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Que atitude tenho perante a Palavra de Deus? Sinto necessidade de nascer de novo ou acho que já fiz tudo o que era necessário?
- A minha relação com Deus leva-me a uma contínua conversão? Que faço para me aproximar da luz? Que obras sou chamado a praticar?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 137,1-6 (R. 6a)
Refrão: Se eu me não lembrar de ti, Jerusalém,
fique presa a minha língua.
Sobre os rios de Babilónia nos sentámos a chorar,
com saudades de Sião.
Nos salgueiros das suas margens,
dependurámos nossas harpas. R.
Aqueles que nos levaram cativos
queriam ouvir os nossos cânticos
e os nossos opressores uma canção de alegria:
«Cantai-nos um cântico de Sião». R.
Como poderíamos nós cantar um cântico do Senhor
em terra estrangeira?
Se eu me esquecer de ti, Jerusalém,
esquecida fique a minha mão direita. R.
Apegue-se-me a língua ao paladar,
se não me lembrar de ti,
se não fizer de Jerusalém
a maior das minhas alegrias. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva
Senhor nosso Deus que, pelo vosso Verbo, realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas solenidades pascais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc