Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (9,28b-36)
Os discípulos de Emaús 24,35 contaram o que acontecera no caminho e como Jesus se lhes dera a conhecer na fração do pão. 36Enquanto eles falavam disso, Jesus pôs-se, em pé, no meio deles e diz‑lhes: «A paz esteja convosco». 37Atemorizados e cheios de medo, pensavam estar a ver um espírito. 38E Ele disse-lhes: «Porque estais perturbados e por que razão sobem tais pensamentos no vosso coração? 39Vede as minhas mãos e os meus pés: Sou Eu mesmo. Tocai-me e vede, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que Eu tenho». 40Dito isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. 41E como ainda não acreditassem, por causa da alegria e admiração, disse-lhes: «Tendes aqui alguma coisa para comer?». 42Eles deram-lhe uma posta de peixe assado. 43E, tomando-a, comeu-o diante deles. 44Depois disse-lhes: «Estas são as minhas palavras que vos falei, enquanto estava convosco: ‘É necessário que se cumpra tudo o que está escrito a meu respeito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos’». 45Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras. 46E disse-lhes: «Assim está escrito que o Cristo havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia 47e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento para a remissão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém. 48Vós sois testemunhas destas coisas».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O texto de hoje compõe-se de três partes: a) a conclusão do episódio dos discípulos de Emaús (v. 35); b) a aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos (vv. 36-43); c) a missão da Igreja (vv. 44-48, à qual se segue a promessa do Espírito: v. 49; e a Ascensão do Senhor: vv. 50-53). Lucas concentra todos estes episódios, aqui, no Evangelho, num só dia, o da ressurreição do Senhor (vv. 1.13), mas, nos Atos dos Apóstolos já remete a Ascensão do Senhor para o quadragésimo dia (1,3).
- v. 35. A conclusão do episódio dos discípulos de Emaús leva-nos a Jerusalém, no termo do primeiro dia da semana (v. 29). Os apóstolos já conhecem uma aparição de Jesus a Pedro (v. 34; 1Cor 15,5) e estão no Cenáculo com outros discípulos (vv. 33.10; At 1,14s) a escutar a narração dos primeiros. É um momento crucial, que põe como única porta de acesso a Jesus ressuscitado a fé no testemunho da Igreja.
- v. 36 (vv. 36-43: Jo 20,19-21.26; cf. Mc 16,14; At 1,3; 1Cor 15,5). A fé em Cristo ressuscitado é um caminho (v. 32; At 9,17; 16,17; 18,26; 19,9.23; 24,14) que não se faz sozinho, mas só com os irmãos, em Igreja. Pela fé, adere-se ao querigma, transmitido pela Igreja, e aceita-se Jesus como Senhor (Cl 2,6) pondo-o no centro da própria vida. Por isso, “Jesus pôs-se, em pé” (gr. éstê, no aoristo, repetitivo: 6,8; Jo 21,4), ressuscitado e vitorioso, “no meio deles” (6,8; cf. Jo 20,19.26), ou seja, Jesus Cristo ressuscitado está sempre presente no meio dos seus discípulos, reunidos em seu nome, como centro de união, fonte de comunhão, fator de convergência e ponto de irradiação deles.
- Jesus dirige-se a eles com a saudação tradicional: “A paz esteja convosco” (Tb 12,17; Jr 4,10; Dn 3,31). Desta vez, porém, de mera saudação ela passa a ser o dom efetivo da verdadeira paz, a paz messiânica, que compendia todos os dons de Deus (Sl 85,9.11; 122,6; Mq 5,5; Is 9,6; 26,12; 32,17; 52,7; 66,12), paz que Jesus é só Ele ressuscitado pode dar (At 10,36; Cl 1,20; Ef 2,14.17).
- v. 37. Todos ficam “atemorizados” (gr. ptoéô: Ex 19,16; Jb 23,15; Hab 3,16; Jr 46,27) e “cheios de medo” (gr. émfobos: v. 5; At 10,4), julgando (gr. dokeô) estar a ver o espírito de um morto (Mc 6,49sp; 1Sm 28,13).
- v. 38. Os dois termos anteriores aparecem como sinónimos de “ficar perturbados” (gr. tarássô), o temor sagrado que o homem experimenta perante a irrupção do sobrenatural (cf. 1,12; Mt 14,26; Gn 41,8; Dn 7,15).
- v. 39: 1Jo 1,1; At 17,27. A Cristo ressuscitado só se chega pela fé na Palavra, a qual vem sempre acompanhada dalgum gesto ou sinal que atestam a sua presença Em Jesus ressuscitado irrompe uma nova criação, sem paralelo na história (2Cor 5,16s). Não estando a sua humanidade glorificada submetida às categorias do espaço e do tempo, se, por um lado não é possível representá-la de forma unívoca, por outro permite que através dela se possa divisar a divindade. Por isso, Jesus diz: “Eu Sou mesmo” (gr. egô eimí autós: Is 52,6), apresentando-se como o “Eu Sou”, “o Senhor” que se revelou a Moisés (Ex 3,14; Is 41,4; 43,10s; 45,18).
- v. 40: Jo 20,20.27. A seguir Jesus exibe as mãos e os pés, para que os discípulos vejam os sinais da sua crucificação (só Jo 19,34 refere a chaga do lado) e comprovem a identidade (v. 7; cf. 1Sm 9,19) entre o Jesus histórico (o Crucificado) e o Cristo da fé (o Ressuscitado).
- A expressão “carne e ossos” é própria de Lucas, que escreve para gregos que consideravam absurda a ideia da ressurreição (cf. At 17,32; 1Cor 15,12.15s.29.32). “Carne e ossos” indica a humanidade completa (cf. Gn 2,23; Jb 2,5; Sl 38,3) que Jesus assumiu, irmanando-se connosco, e que ressuscitou dos mortos, na unidade indissolúvel da sua Pessoa, na sua realidade plena, ontológica e existencial (v. 34: ontôs). É o próprio Jesus que dá aos seus discípulos a fé na ressurreição (At 3,16).
- v. 41a. Os discípulos ficam “cheios de alegria” (Mt 28,8; Jo 20,20) e “admirados” (Lc 8,25; 2,18.33; 4,22; 9,43; 11,14; 24,12; At 2,7; cf. Is 52,15; Dn 4,19; 8,27), pela novidade incomparável de Jesus ressuscitado, ficando tão fora de si (cf. Mc 16,8!) que não conseguem acreditar (v. 11; Mc 16,11.16; Mt 28,17), por não estarem na posse das suas faculdades.
- v. 41b: Jo 21,5.10. Para os fazer descer à terra, entrar em si e comprovar a sua ressurreição, Jesus pede-lhes de comer. v. 42. Eles dão-lhe uma posta de peixe assado, v. 43, que Jesus come à frente deles.
- O encontro com o Ressuscitado só se torna pleno numa refeição. Nesta, tal como na Última Ceia, o acento recai não tanto no ato de Jesus comer (uma pura condescendência sua e não uma imagem grotesca: cf. Gn 18,8), mas no facto de comer e beber com eles depois de ter ressuscitado (At 1,3; 10,41), em sinal de amizade, partilha e comunhão com eles. É uma alusão à Eucaristia (v. 30) que na Igreja apostólica se celebrava no decurso duma refeição fraterna (Jd 1,12; At 2,46; 1Cor 11,21s). Jesus inculca nos seus discípulos a participação na Eucaristia, memorial da sua Páscoa, sacramento de comunhão com Ele e com os irmãos, antegozo do banquete do Reino dos céus (22,16).
- v. 44: v. 27. De Cristo ressuscitado nasce a missão da Igreja (2Cor 4,6). A presente cena decorre numa ocasião não especificada em que Jesus ajuda os discípulos a abrir-se à dimensão plena da sua Pessoa, obra, destino e missão, a partir das Escrituras, cujo sentido ninguém é capaz de “des-cobrir” sozinho (vv. 25ss; 2Pd 1,20). As Escrituras (he. Tanak) são aqui mencionadas a partir do seu uso na Sinagoga: a Lei (Torá, 1ª leitura); os Profetas (Nebiim, “profetas”, 2ª leitura) e os Salmos (a parte central dos Ketubim, os “escritos”, orações). É a Jesus que as Escrituras se referem, é a Ele que anunciam (Jo 5,39. 46), é nele que se cumprem (22,37) e alcançam a sua plenitude e perfeição (Mt 5,17s).
- v. 45. Jesus abre-lhes o entendimento (cf. 9,45) para que possam “com‑ ‑preender” as Escrituras (Jo 20,9; 12,16), descobrir a sua unidade profunda, o seu sentido espiritual e pleno (cf. Jo 6,63; 2Cor 3,13-16).
- v. 46. Por fim, dá-lhes a chave para entender as Escrituras, o querigma (1Cor 15,3s), que Jesus enuncia, centrando-o no mistério da sua paixão, morte e ressurreição, ao qual elas se referem e no qual se atua o desígnio salvífico de Deus (gr. dei: vv. 7.26; 9,22; At 17,2s; Os 6,2).
- v. 47: cf. Mc 16,15; Mt 28,19s. Só Lucas assinala a necessidade da missão da Igreja que, partindo de Jerusalém, deve pregar o Evangelho a todas as “nações”, os gentios (2,32; At 13,47; 26,23; Is 2,3; 42,1-6; 49,6). A resposta a este anúncio é a fé, que leva ao “arrependimento” (gr. metánoia: 3,3; 5,32; At 5,31; 11,18; 17,30; 20,21; 26,20), a conversão a Jesus e ao Evangelho, e conduz ao batismo (At 2,38; 3,19), mediante o qual o crente se torna participante do mistério pascal de Cristo e recebe o Espírito Santo, o dom da nova aliança, que lhe dá uma vida nova mediante a “remissão dos pecados”, o perdão de todos os pecados e das suas consequências (Jr 31,31-34; 50,20; Is,27,9; Ez 36,25-29; Dn 9,24; Rm 11,27; Hb 8,10).
- v. 48: At 1,4; cf. Is 43,10.12. Para que este anúncio seja credível é necessário que penetre nas pessoas. Por isso, os discípulos, individual e comunitariamente, devem ser “testemunhas”, por palavras e obras, diante de todos os homens, de Jesus ressuscitado e da vida nova que Ele lhes dá e eles vão receber pelo Espírito Santo que lhes vai enviar (v. 49; At 1,8).
- A presença de Cristo ressuscitado traduz-se assim, em Lucas, em quatro momentos: 1) os discípulos estão reunidos em nome de Jesus: a comunidade (vv. 10.13; cf. Mt 18,20); 2) o querigma (“anúncio”), a Boa Nova de Jesus, é proclamado e confirmado pelo testemunho dos discípulos (vv. 5ss.14-24; Rm 10,8; 1Cor 15,3-11), 3) que o interpretam a partir das Escrituras, lidas à luz do mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus: a Palavra (vv. 8.24-27.32), 4) desembocando a fé nesta num encontro pessoal com Jesus no decurso de uma refeição, na qual, tal como na Última Ceia, se dá a “fração do pão” (vv. 30.35; 22,19; At 1,4; 2,42.46; 20,7.11; 1Cor 10,16s), a eucaristia, 5) a qual leva à missão (vv. 33-35.48; At 1,8). Cada um destes momentos é uma etapa através da qual os discípulos passam por um profundo processo de conversão interior (metanoia), da dúvida ao “salto da fé” em Jesus Cristo ressuscitado, da passividade, ao envio em missão, para a todos evangelizar.
Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Experimento a alegria da fé no Senhor vivo? Sinto o desejo de a partilhar com os outros? Vivo o dom da paz do Senhor na vida?
- Tenho dificuldade em compreender o Antigo Testamento? E o Novo? Descubro neles a presença de Jesus Cristo?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 4,2.4.7.9 (R. 7a)
Refrão: Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz do vosso rosto.
e ouvi a minha súplica. R.
Fazei brilhar sobre nós, Senhor, a luz da vossa face. R.
me fazeis repousar em segurança. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Senhor, nosso Deus, Exulte sempre o vosso povo com a renovada juventude da alma, de modo que, alegrando-se agora por se ver restituído à glória da adoção divina, aguarde o dia da ressurreição na esperança da felicidade eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc