Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. João (10,11-18)
Naquele tempo, Jesus disse: 10,11«Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e nem são suas as ovelhas, vê o lobo vir, abandona as ovelhas e foge; e o lobo arrebata-as e dispersa-as. 13Porque é mercenário e não se preocupa com as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, 15assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai. E dou a minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil; é necessário que Eu conduza também essas; e escutarão a minha voz e haverá um só rebanho, um só pastor. 17Por isso o Pai me ama: porque Eu dou a minha vida a fim de novo a retomar. 18Ninguém ma tira, mas sou Eu que, por mim mesmo, a dou. Tenho autoridade para a dar e tenho autoridade para de novo a retomar. Este é o mandamento que recebi de meu Pai».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O texto de hoje é a terceira e última parte da parábola do Bom Pastor (10,1-21). Nela, Jesus ilustra a sua obra e missão, apresentando-se como o Messias.
- A parábola é posta no meio da discussão de Jesus com os fariseus, onde Jesus acusa “os fariseus” de cegueira (9,15s.22. 24.28s.34s.40ss), discussão que é retomada logo a a seguir (vv. 19-30). Nesta parte, Jesus explica como levará a cabo a sua missão, anunciada no v. 10: ‘Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.
- v. 11: Hb 13,20. Para tal, Jesus começa por apresentar a figura do bom pastor. Parte dum tema do AT, para depois anunciar a novidade cristã. No AT, o “pastor” designa não só uma profissão, mas é sobretudo a imagem do chefe ideal (político ou religioso) do povo de Deus, pois é o pastor que reúne o rebanho, o guarda, o acompanha, o conduz por caminhos retos e o leva a pastar e a beber. O pastor conhece as ovelhas pelo nome, partilha a sua vida com elas, interessa-se por elas e cuida delas, tratando das mais fracas, pequenas ou doentes, levando as mais fracas ao colo, velando para que todo o rebanho caminhe unido, sem deixar nenhuma para trás. Este ideal, porém, que nunca se realizou plenamente nos reis de Israel (incluído David), que na sua maioria se desviaram do caminho de Deus, para prestarem culto aos ídolos, arrastando atrás de si o povo, destruída para sempre a monarquia, com o exílio, acaba por se aplicar só a Deus (Sl 23,1; Is 40,10; Jr 31,10; Sr 18,13). Deus promete que será Ele mesmo a apascentar o seu povo, através de um pastor, descendente de David, o Messias (Ez 37,24; Mq 5,4), que congregará num só rebanho (Ez 34,11-16.23s.31) todos os membros do seu povo (v. 16), divididos em dois reinos (desde Jeroboão, em 931 a.C.: 1Rs 11,26-40) e dispersos entre as nações (a partir do exílio: o de Israel, em 721 a.C.; e o de Judá, em 597 a.C.), reconduzindo-os à sua terra e fazendo deles um só povo.
- Ao tema do AT, Jesus junta a boa-nova cristã: “Eu Sou” é o nome divino revelado por Deus a Moisés (Ex 3,14; Is 41,4.10; 43,10.25; 45,8.18s.22; 46,4.9; 48,12.17; 51,12; 52,6; 61,8; Jl 2,27; Ml 1,6). Acompanhado dum epíteto, designa em João a missão de Jesus enquanto Verbo encarnado (Jo, 7x: v. 7; 6,35; 8,12; 11,25; 14,6; 15,1). Jesus é não só o Messias, mas, muito mais do que se poderia esperar, também o Verbo de Deus encarnado, ou seja, Deus. Por isso, é “o Bom Pastor” (com artigo), por antonomásia, porque, de facto, “só Deus é bom” (Mc 10,18p). “Bom” (gr. kalós) é sinónimo de “belo”, “exemplar”. Jesus faz tudo bem, na história da salvação e também na nossa vida, dispondo tudo da melhor forma, num todo harmonioso (cf. Gn 1,4.12.31; Sb 8,1; Mc 7,37; Rm 8,28).
- À primeira boa-nova, Jesus acrescenta uma segunda: porque é “o Bom Pastor”, Ele faz o que os pastores humanos não podem fazer: “dá a sua vida” (15,13; 5x aqui). O verbo “dar” (gr. tithêmi) significa também “expor” (1Sm 19,5), “manifestar”, “pôr à disposição”, “depositar”. “A vida” (gr. psychê, “alma”) é a pessoa no seu íntimo, com os seus sentimentos e afetos.
- E conclui com uma terceira boa-nova: o Bom pastor “dá a sua vida”, não apenas pelas suas ovelhas, mas “pelas ovelhas” (v. 15), ou seja, pelo “mundo” (gr. kósmos: 3,16s; cf. 4,42; Gn 2,1), por toda a humanidade, mais ainda, por toda a criação (cf. 1Jo 2,2; Cl 1,16-20; Ef 1,11; Hb 1,2s).
- v. 12. À figura do Bom Pastor, Jesus contrapõe a do “mercenário”. No AT, o mercenário é apresentado como um estrangeiro, que não pode celebrar a Páscoa (Ex 12,45), nem participar nos sacrifícios (Lv 22,10), que trabalha em vista dum salário (Jb 7,2; 1Cor 9,17; Lc 6,35) e foge perante a ameaça (Jr 46,21). O mercenário não se compromete com as ovelhas, porque não são dele, limitando-se a cumprir o estipulado.
- Isto torna-se evidente quando ele “vê o lobo vir”, o que pode acontecer a qualquer momento (ver está no presente). “O lobo”, tal como o “ladrão” (vv. 1.8.10), representa tudo o que põe em perigo o rebanho e a vida das ovelhas: os falsos profetas (Mt 7,15), os interesses egoístas, o ódio, a violência, a opressão, a perseguição, as injustiças, as mentiras e divisões; as ideologias enganadoras, as seduções do mundo, da carne e de Satanás (cf. At 20,29s; Mt 10,16; Lc 10,3), numa palavra: o pecado. Ao ver o lobo vir, o mercenário deixa as ovelhas e foge (cf. Zc 11,17; Mc 14,50p). E assim o lobo “arrebata-as e dispersa-as” (cf. Jr 23,1; Ez 22,6.27; Zc 13,7; Jo 16,32), não poupando o rebanho (cf. At 20,29).
- v. 13. O mercenário foge, porque procura acima de tudo o que é seu e “não se preocupa com as ovelhas” (cf. Fl 2,20).
- v. 14. Jesus explica a parábola, revelando então a sua identidade: “Eu Sou o Bom Pastor”, ou seja, o Messias-Deus (v. 11). “Conheço as minhas (ovelhas)” (v. 27). “Conhecer” no AT tem o sentido forte de amar alguém, viver com ele, unir-se a ele, pessoal e intimamente, partilhando com ele a própria vida e destino. Jesus conhece as suas ovelhas pelo nome (v. 3), cuida delas com dedicação e amor, buscando não o seu próprio lucro, mas o bem delas (21,15ss; 1Pd 5,2).
- “E as minhas (ovelhas) conhecem-me” (cf. 1Cor 13,12; Ef 1,17; 1Jo 2,3; 4,7s.16; 5,2.20), correspondendo ao seu amor e identificando-se com Ele. O “conhecimento de Deus” por parte do povo de Deus e de todos os homens era a promessa reservada aos tempos messiânicos da nova aliança (Is 11,9; Jr 31,34; Os 2,22; 6,6; Ha 2,14)
- v. 15. “Assim como” (mas não “tanto como”) Jesus conhece o Pai e o Pai o conhece (Mt 11,27p), vivendo um no outro (v. 38; 14,10s; 17,21) e sendo um (v. 30), também elas “o conhecerão”, recebendo, pela fé, o dom da nova aliança (Jr 31,31-34), o Espírito Santo (16,14; 1Jo 3,24; 1Cor 2,11), e com Ele, a vida eterna (17,3.8).
- A seguir, Jesus define a sua obra: “Dou a minha vida (gr. psychê) pelas ovelhas” (v. 11). É o maior ato de amor (15,13; 1Jo 3,16). Jesus dá primeiro a sua vida em favor (gr. hyper) das ovelhas, morrendo por elas, para as salvar, dando-lhes a vida, resgatando-as com o seu próprio Sangue (cf. At 20,28; Cl 1,20; Ef 1,7; 2,13; 1Pd 1,19; Ap 5,9), pois “o sangue é a vida” (6,53; Gn 9,4s; Dt 12,23); e, depois de ressuscitado, dá a sua vida, “dando-lhes a vida eterna” (v. 28; 17,2), alimentando-as com a sua Palavra e a Eucaristia (6,51), fazendo-as deste modo participar da sua vida em união com o Pai e com os irmãos (17,26), a vida eterna.
- v. 16. Jesus apresenta o objetivo da sua obra: haver um só rebanho e um só pastor. Jesus será o único pastor de todas as ovelhas: não só das do “redil” do povo eleito (Sl 95,7; 100,3), mas também das dos gentios (cf. Is 14,1s; 60,10-14; 61,5!), que conduzirá (gr. ago: cf. Is 43,5s; 49,10.22; 63,12ss; 66,20; Jr 31,8; Br 5,6; Hb 2,10) à casa do Pai, ao redil da vida eterna (10,28; 14,6; 17,2s), que o próprio Jesus é (3,16; 1Jo 5,11.20).
- Tal é o valor da vida divino-humana que Jesus “dá”, que a sua obra se estenderá, através dos seus discípulos, a todos os homens (cf. Is 42,6; 45,22; 49,6; 53,11s; Sl 2,8; 22,28; 72,8; 86,9; 98,3; 102,23; 117,1), que escutarem a sua palavra (v. 16) e nela acreditarem (17,20; 20,29), sendo assim congregados na unidade do novo Povo de Deus (11,52), a Igreja, nela formando todos juntos, judeus e gentios, sem distinção, um só rebanho (Ez 34,23; cf. Ef 4,4; Ap 5,9s; 7,9), sob Jesus, o único Pastor (Ez 34,23; 37,24; Qo 12,11; Is 40,11; 63,11; Jr 31,10; Ef 2,14-18), sendo n’Ele todos um, com o Pai e os irmãos (17,21ss.26). O que caracteriza as “suas ovelhas”, quer provenham elas do povo eleito quer dos gentios, é que elas “escutam a sua voz” (o verbo está no presente: vv. 3.27), ou seja, “obedecem à sua voz”, “à voz da sua palavra”, cumprindo os seus mandamentos (cf. Gn 22,18; Ex 19,5; 23,22; Dt 13,19; 1Sm 15,1; Sl 95,7; Is 50,10; Jr 7,23).
- v. 17. É para que isto se possa realizar, que Jesus, como o Bom Pastor, dará a sua vida pelas ovelhas (v. 15). “Por isso o Pai me ama”: o dom da vida de Jesus é a sua resposta obediente e filial ao amor do Pai, do qual é a máxima “ex-pressão” (3,35). “porque Eu dou a minha vida para de novo a retomar”: a sua morte não é um acidente, nem uma fatalidade, mas a “entrega”, o dom livre de si mesmo, por amor ao Pai e aos homens (14,31; 15,13), até ao fim (gr. télos: 13,1), a fim (gr. iná) “de novo a retomar”, ressuscitando (cf. Hb 2,9; 2Ma 14,46).
- v. 18. Jesus insiste que a sua morte é dom de si mesmo, auto doação. Ninguém tira a vida a Jesus (7,30.44; 8,20; 10,39); é Ele que, de forma livre e soberana, a dá, pois “como o Pai tem a vida em si mesmo, também deu ao Filho ter a vida em si mesmo (5,26), tendo Ele assim “autoridade (gr. exousía) para dar a sua vida e a retomar”. “Este é o mandamento que recebi de meu Pai”, mandamento que “é a vida eterna” (12,50). Tal é a vontade do Pai: que Jesus, movido pelo Seu amor (3,16; 15,9), dê livremente a sua vida por nós, por amor (cf. 14,31; Rm 5,19; Fl 2,8ss; Hb 5,8), à maneira do Servo de Iavé (Is 53,10ss) para depois a retomar. Jesus “dá” a sua vida por nós na cruz, “para a retomar” na ressurreição. E, ressuscitado, “dá” também a vida de que, glorificado na sua humanidade, goza junto do Pai, aos seus discípulos, através do Espírito Santo (7,39; 20,22), “para a retomar”, no muito fruto que eles dão (12,24; 15,8.16), vivendo, a exemplo dele, segundo o mandamento novo do amor (13,15ss.34s; 15,12.17), de modo a serem perfeitos na unidade (17,20-23; Fl 2,2-5; Ef 4,3-6). Esta é a vontade de Deus, o desígnio de Deus a seu respeito e a respeito dos seus, que por meio dele e nele será levado a cabo em favor de toda a humanidade e criação (cf. Ef 1,9-10).
Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- O meu pastor é Cristo ou há outras vozes que me seduzem? Já experimentei que Jesus cuida de mim e me conduz da melhor forma?
- Dou a minha vida pelos outros, à semelhança de Jesus, procurando levá-los a Ele? Como?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 118,1.8-9.21-23.26.28-29 (R. 22)
Refrão: A pedra que rejeitaram os construtores, tornou-se pedra angular.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
do que fiar-se nos poderosos. R.
Eu Vos darei graças porque me ouvistes
e fostes o meu Salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
é admirável aos nossos olhos. R.
Bendito o que vem em nome do Senhor,
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom,
porque é eterna a sua misericórdia. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva
Deus todo-poderoso e eterno, conduzi-nos à posse das alegrias celestes, para que o pequenino rebanho dos vossos fiéis chegue um dia à glória do reino, onde já Se encontra o seu poderoso Pastor, Jesus Cristo, vosso Filho. Ele que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc