12º Domingo do Tempo Comum, Ano C

Vós quem dizeis que eu sou 1

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas  (9,18-24)

9,18E aconteceu que, estando Jesus a orar sozinho, estavam com Ele os discípulos. E perguntou-lhes, dizendo: «Quem dizem as multidões que Eu sou?» 19Respondendo, eles disseram: «João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou». 20Disse-lhes então: «Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?». Pedro, respondendo, disse: «O Cristo de Deus». 21Ele, porém, repreendendo-os, ordenou-lhes que não o dissessem a ninguém. 22E acrescentou: «É necessário o Filho do homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e ao terceiro dia ser ressuscitado». 23E, depois, dizia a todos: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me. 24Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á».

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • O texto de hoje tem três partes: a confissão messiânica de Pedro (vv. 18-20); o primeiro anúncio da paixão e ressurreição de Jesus (vv. 21-22); e as condições para seguir Jesus (vv. 23-24).
  • 18: E aconteceu que, estando Jesus a orar sozinho, estavam com Ele os discípulos. E perguntou-lhes, dizendo: «Quem dizem as multidões que Eu sou?»
  • ( 18-22: Mt 16,13-16.21; Mc 8,27-31). Ao aproximar-se o final da etapa da Galileia, em que Jesus apresentou o seu programa, levando a Boa Nova aos pobres (4,16-21), e antes de começar a etapa decisiva da sua caminhada para Jerusalém (9,51-19,27), Jesus faz o ponto da situação, perguntando aos seus discípulos quem pensam que Ele é e apresentando, depois, as condições para o seguir. A pergunta de Jesus vem na sequência de diversos boatos sobre Ele (vv. 7-8). Surge na oração, uma nota peculiar de Lucas, que apresenta sempre Jesus a orar antes de algum momento importante ou decisivo (2,49; 3,21; 4,1-13; 5,16; 6,12; 9,28s; 10,21; 11,1; 22,32.40-46; 23,34). A oração é o âmbito em que Jesus se recolhe intimamente para falar “a sós” com o Pai e onde Ele se revela, de forma pessoal, aos seus. Como mostram as duas perguntas que aqui lhes faz, a oração de Jesus, em vez de o isolar, põe-no numa atitude profunda de escuta do Pai, das pessoas e dos acontecimentos. Da oração emerge sempre uma mensagem importante a comunicar. A questão de Jesus aqui é a da sua verdadeira identidade.
  • A época de Jesus foi um tempo de profunda crise para o povo de Deus, tendo aumentado muito a expectativa messiânica. Apareceram diversas figuras que se autoproclamaram “enviados de Deus”, criando à sua volta um clima de ebulição e arrastando atrás de si grupos de discípulos exaltados, que acabaram invariavelmente por ser chacinados pelas tropas romanas. Será Jesus mais um demagogo que oferece ao povo uma nova expectativa imediata de libertação?
  • 19: Respondendo, eles disseram: «João Baptista; outros, que és Elias; e outros, que és um dos antigos profetas que ressuscitou».
  • vv. 7-9. A resposta mostra que as pessoas não viam em Jesus o Messias, alguém que trazia algo de novo, mas associavam-no apenas a figuras do passado. A maioria pensava, num misto de ignorância e de superstição, que fosse João Batista que tinha ressuscitado; outros diziam que era Elias, que havia de vir de junto de Deus para preparar a vinda do Messias (Ml 3,23s; Sr 48,10); outros, enfim, que seria “um dos antigos profetas” (7,16; 24,19: cf. 4,24; 1,70.76) que tinha ressuscitado (pois Jesus tinha ressuscitado dois mortos: 7,14s; 8,54s; cf. 2Rs 4,35; 8,5; 13,21). Ninguém pensava que Ele fosse o Messias, pois nada nele – o seu estilo, proveniência (pensavam que fosse de Nazaré), pessoa e gestos – tinham a ver com a figura política do Messias Rei, guerreiro e vitorioso, que então circulava (cf. 7,18s.34).
  • 20: Disse-lhes então: «Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?». Pedro, respondendo, disse: «O Cristo de Deus».
  • Jo 6,67. Jesus pergunta em seguida aos seus discípulos, que O conhecem e com Ele diariamente convivem, quem é Ele para eles. Pedro (o nome que Jesus deu a Simão, irmão de André: 6,14) não hesita e, em nome dos discípulos, replica: “o Cristo (he. Messias, “ungido”) de Deus” (cf. Jo 11,27). Em Lucas, Jesus já tinha sido proclamado Cristo pelos anjos (2,11; cf. 1,32s), por Simeão (2,26) e pelos demónios (4,41), mas Pedro é o primeiro dos discípulos a dar-lhe este título. A expressão “o Cristo”, com artigo definido, é própria de Lucas (2,11.26; 23,35) e significa: “aquele que é o Ungido prometido por Deus”, o Messias-Salvador, Sumo Sacerdote, Profeta e Rei (cf. Lv 21,12; Dt 18,18; Is 45,1), descendente de David (2,11), em quem se cumprem as Escrituras (24,26.46).
  • 21: Ele, porém, repreendendo-os, ordenou-lhes que não o dissessem a ninguém.
  • Jesus aceita a confissão de fé de Pedro, mas “repreende” (gr. epitimaô) os discípulos, “ordenando-lhes” que não o digam a ninguém. De facto, muitos esperavam um Messias, rei, guerreiro, vitorioso, não sofredor (cf. Jo 6,14s). Divulgar que Jesus era o Messias, só iria criar mais confusão, induzindo todos em erro (cf. At 1,6).
  • 22: E acrescentou: «É necessário o Filho do homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e ao terceiro dia ser ressuscitado».
  • Jesus dá-lhes então a conhecer qual é o verdadeiro sentido da profissão de fé nele e a sua real identidade como Messias. No seu horizonte não está um trono terreno, mas a cruz, sendo através dela que, como Servo sofredor de Iavé (cf. Is 53,1-12; Zc 12,10), levará a cabo o desígnio salvífico de Deus. Por isso “é necessário” (gr. dei: 2,49; 13,33; 22,37; 24,7.26.44; cf. 9,31.44; 24,21), segundo a vontade e o desígnio eterno de Deus, expressos nas Escrituras, que salve o homem, libertando-o do pecado mediante o dom da sua própria vida, para depois ressuscitar.
  • É o primeiro dos três anúncios da paixão (9,44sp; 17,25; 18,32s; cf. Mc 9,31p; 10,32-34p). Jesus apresenta-se como “o Filho do homem”, título que evoca Dn 7,13s e que Ele prefere para indicar que é o Messias que assume em si não só o sofrimento e destino do seu povo (Dn 7,18.27), mas também os de toda a humanidade (Ez 2,1). Ao contrário do que se pensava, o Messias, apesar de eterno, mas não imortal, devendo passar pela rejeição, o sofrimento e a morte. Ele será rejeitado por todas as autoridades (cf. Is 49,7), representadas no Sinédrio (cf. 20,1; At 4,5s): os anciãos (o poder político), os chefes dos sacerdotes (o poder religioso) e os escribas (a elite intelectual). Eles dar-lhe-ão a morte, mas “ao terceiro dia será ressuscitado” (1Cor 15,4). O “terceiro dia”, uma referência a Os 6,2, foi o dia em que Deus criou a vida e fez brotar “o madeiro que dá fruto com semente” (Gn 1, 11ss; 2,9; Dt 21,22; Sb 14,7; 1Pd 2,24; Ap 22,2.14); é o dia da manifestação e da salvação de Deus (cf. Gn 22,4; Ex 19,11.15s; Nm 10,33; Js 1,3). Tal é a vontade, o desígnio divino que Jesus abraça e realizará (22,42).
  • 23: E, depois, dizia a todos: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me.
  • ( 23-24: Mt 16,24s; Mc 8,34s). Omitindo a crítica de Pedro e a firme reação de Jesus (cf. Mc 8,32-33; Mt 16,22-23), Lucas muda de plano, passa da conversa de Jesus a sós com os discípulos e apresenta-o a dirigir-se à multidão, chamando-a ao seu seguimento, mostrando que a profissão de fé em si, implica seguir os seus passos.
  • Ao invés dos rabinos, que só recebiam discípulos do sexo masculino, de boa reputação, Jesus dirige-se a “todos” (pecadores: 5,32; mulheres: 8,2; e crianças: 18,16), convidando-os a serem seus discípulos: “se alguém quer vir após mim” (14,26). É uma decisão livre, que leva à salvação, mas para cujas consequências adverte (v. 24), impondo três condições:
  • 1º) “negue-se a si mesmo”: há que renunciar ao próprio eu e à própria vontade, planos e seguranças pessoais (afetivas, profissionais, religiosas e materiais), ao orgulho, à busca de si mesmo e de reconhecimento, à pretensão de ter sempre razão, de ser a medida, a norma e o centro de tudo, ao egocentrismo e estatuto social, e pôr Jesus em primeiro lugar.
  • 2º) “tome a sua cruz” (14,27; Mt 10,38), não apenas em determinadas ocasiões, mas, só Lucas o nota, “cada dia”, até ao fim (1Cor 15,31; Rm 8,36). A cruz está no centro do seguimento. Ela não é só o que pesa, faz sofrer e contraria, a fraqueza, impotência ou defeitos pessoais, mas também o ser marginalizado e excluído por causa de Jesus (v. 26; 21,12).
  • 3º) E siga-me” (gr. akoloutheô, “escutar”, “obedecer”, “acompanhar”, “servir”: 5,11.27s; 1Rs 19,20), ou seja, viva com Jesus, escute a Sua Palavra e obedeça à sua voz e imite o seu exemplo, testemunhando a vida nova que dele recebeu, sabendo que Jesus está com ele, lhe fala e vai à sua frente, conduzindo-o. Estas 3 condições opõem-se diretamente às 3 tentações de Jesus (4,3-12).
  • 24: Pois aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas aquele que perder a sua vida por causa de mim, salvá-la-á».
  • 17,33; Mt 10,39; 16,25; Jo 12,25s. Jesus não engana ninguém. Os seus discípulos hão de experimentar, como o Mestre, a oposição e a rejeição do mundo (Jo 15, 18s; 1Jo 3,1.13) por não se conformarem com seus ídolos, critérios, ambições, virtudes de fachada, ódio e hipocrisia. Mas quem recusar salvar-se a si mesmo e aceitar perder “a própria vida” (gr. psychê: gostos, vontade, ideias, planos, reputação e realização pessoal) como Ele (23,35) e por causa dele, alcançará a vida plena e verdadeira.

Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • Quem é Jesus para as pessoas de hoje? E quem é Jesus para mim?
  • Como procuro conhecer Jesus cada vez mais? A minha oração é também feita de escuta e disponibilidade, como a de Jesus?
  • Que ideias ou medos interferem no meu modo de ver Jesus? O que me impede de reconhecer e assumir o seu projeto hoje?

 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                 Sl 63,2-6.8-9 (R. 2b)

Refrão: A minha alma tem sede de Vós, meu Deus.

Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro.
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro,
como terra árida, sequiosa, sem água.     R.

Quero contemplar-Vos no santuário,
para ver o vosso poder e a vossa glória.
A vossa graça vale mais que a vida:
por isso os meus lábios hão de cantar-Vos louvores.     R.

Assim Vos bendirei toda a minha vida
e em vosso louvor levantarei as mãos.
Serei saciado com saborosos manjares
e com vozes de júbilo Vos louvarei.     R.

Porque Vos tornastes o meu refúgio,
exulto à sombra das vossas asas.
Unido a Vós estou, Senhor,
a vossa mão me serve de amparo.     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva

Senhor, fazei-nos viver a cada instante no temor e no amor do vosso santo nome, porque nunca a vossa providência abandona aqueles que formais solidamente no vosso amor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc