Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (14,25-33)
14,25Acompanhavam Jesus numerosas multidões e Ele, voltando-se, disse-lhes: 26«Se alguém vem a mim e não me amar mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. 27Aquele que não carrega a sua cruz e não vem após mim não pode ser meu discípulo. 28Quem de entre vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular o custo, para ver se tem com que a terminar? 29Não aconteça que, tendo ele posto o fundamento e não sendo capaz de a terminar, todos os que o virem comecem a escarnecer dele, 30dizendo: “Este homem começou a edificar e não foi capaz de terminar”. 31Ou qual é o rei que, ao partir para a guerra contra outro rei, não se senta primeiro a deliberar se é capaz de, com dez mil homens, se opor ao outro que vem contra ele com vinte mil? 32Caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, envia-lhe uma delegação a pedir-lhe as condições de paz. 33Assim, todo aquele de entre vós que não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
O texto de hoje está inserido na segunda secção (13,22-17,10) do grande inciso lucano, o caminho de Jesus para Jerusalém (9,51-19,27). Nela Jesus ensina o que deve caracterizar os seus discípulos enquanto seus seguidores e continuadores da sua missão.
- v. 25. Acompanhavam Jesus numerosas multidões e Ele, voltando-se, disse-lhes:
Jesus vai a caminho de Jerusalém. Acompanham-no não só os Doze e algumas mulheres (8,2s), mas também “numerosas multidões” (7,11; Mc 10,1) que o seguem (7,9; Jo 1,38). Jesus caminha à frente deles (19,28; Mc 10,32) e “volta-se” (23,28) para elas para lhes falar. O que vai dizer dirige-se a todos, não apenas ao grupo dos apóstolos ou a uma classe especial de discípulos (que seriam os “perfeitos”: cf. Mt 19,21).
- v. 26. «Se alguém vem a mim e não me amar mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos, irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo.
(vv. 26s: Mt 10,37s). “Se alguém vem a mim” (6,47; cf. 18,16), ou seja, se alguém vem ter comigo para me seguir como discípulo. A quem o faz Jesus apresenta três condições para poder ser seu discípulo (vv. 25-35), todas elas subordinadas ao tema da renúncia.
Primeira condição: “e não me amar mais”, literalmente “e não odiar”. É um hebraísmo, que designa o “amar menos”, o passar algo para segundo lugar, como odiar (16,13; Gn 29,31.33; Pv 13,24; Ml 1,2s; Mt 6,24; Rm 9,13). Jesus não exige ódio (cf. 18,20), mas desapego completo e imediato (cf. 9,57-62). Esta condição toca todas as relações afetivas (Mc 10,29; cf. Dt 33,9), inclusive o apego a si mesmo, “à própria vida” (gr. psiché: Jo 12,25). Só Lucas inclui nesta lista “a esposa” (18,29sp), a própria mulher (cf. 1Cor 9,5), exprimindo a sua tendência ascética, de cariz paulino (cf. 1Cor 7,1.7.24-35).
A primeira condição para ser discípulo de Jesus é, pois, preferi-lo à sua própria família e ao seu eu. Estes não devem impedir os seus discípulos de aderir ao Reino e de se consagrar à sua missão. Se for necessário escolher, a prioridade deve ser sempre o Reino. Porque exige Jesus isto? Porque quer refazer a vida em comunidade e estendê-la a todos. Por isso pede que se rompa o círculo estreito da própria família, grupo ou eu, fechando-se sobre si mesmo e pede que todos se abram e unam entre si na grande família de Deus, que é a Igreja. Os laços familiares não o devem impedir.
- v. 27. Aquele que não carrega a sua cruz e não vem após mim não pode ser meu discípulo.
v. 27: 9,23p; Gl 6,14. A segunda condição é carregar “a própria cruz”. A cruz simboliza a dor, as limitações, as privações, as perseguições, as adversidades e a rejeição por parte dos outros ou das circunstâncias da vida que fazem sofrer a pessoa. O discípulo de Jesus não pode viver a fazer opções egoístas, pondo em primeiro lugar os seus interesses pessoais, a sua vontade, os seus esquemas, o seu conforto, as suas vantagens, aquilo que é melhor para ele; mas tem de pôr a sua vida ao serviço do Reino e fazer dela um dom de amor aos irmãos, se necessário for, até à morte. Foi esse o caminho de Jesus; e o discípulo é convidado a “segui-lo”, a imitar o seu mestre (cf. 6,40).
- v. 28. Quem de entre vós, querendo edificar uma torre, não se senta primeiro a calcular o custo, para ver se tem com que a terminar?
Jesus conta a seguir duas parábolas, exclusivas de Lucas, que têm em si o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem, antes de tomarem a decisão de o seguir. A primeira é a da construção de uma torre (cf. Gn 11,3ss; Mc 12,1). Antes de “edificar” (6,48s; 20,17; At 9,31; 20,32) é necessário “sentar-se” (v. 31; 24,49) e “calcular” (gr. psephízo: Ap 13,18) bem como se há de fazer, o que é necessário, quais serão os gastos e se tem o suficiente para a terminar.
- v. 29. Não aconteça que, tendo ele posto o fundamento e não sendo capaz de a terminar, todos os que o virem comecem a escarnecer dele.
Caso contrário, lançará o “fundamento” (6,48; cf. 1Cor 3,10s; Ef 2,20; 2Tm 2,19) e não será “capaz de a terminar”. E “todos os que o virem, começarão a fazer pouco dele…
- v. 30. Dizendo: “Este homem começou a edificar e não foi capaz de terminar”.
Os outros dirão que ele começou a edificar e não foi capaz de terminar. Esta parábola de Jesus não precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a decisão de ser seu discípulo.
- v. 31. Ou qual é o rei que, ao partir para a guerra contra outro rei, não se senta primeiro a deliberar se é capaz de, com dez mil homens, se opor ao outro que vem contra ele com vinte mil?
A segunda parábola é a de um rei que parte “para a guerra contra outro rei”. Jesus fala num tempo em que era habitual os reis, passado o inverno, fazerem guerra uns contra os outros (cf. 2Sm 8,10; 11,1), um pouco como uma competição entre dois clubes ou a concorrência entre duas empresas, para ver qual deles era o mais forte ou qual delas ganhava mais. Não se “senta” (v. 28) o rei primeiro, antes de partir para a “guerra” (cf. Dn 9,26; Is 42,13), com os seus conselheiros e generais para deliberar (gr. bouleúo: At 27,39; 2Cor 1,17; cf. Pv 24,6) se com o seu exército de dez mil homens é capaz de enfrentar e vencer o outro exército que vem contra ele e é duas vezes maior que o seu?
- v. 32. Caso contrário, enquanto o outro ainda está longe, envia-lhe uma delegação a pedir-lhe as condições de paz.
Caso não o faça, se partir inconsideradamente para a guerra contra ele e vir que não se lhe pode opor, acabará por lhe enviar uma delegação para negociar as condições de paz (cf. 19,42; Sl 122,6), “enquanto o outro ainda está longe”. O objetivo desta parábola também é claro, sendo o mesmo da anterior (cf. v. 30).
- v. 33. Assim, todo aquele de entre vós que não renunciar a todos os seus bens não pode ser meu discípulo».
A terceira condição exige a renúncia a “todos os seus [próprios] bens”. Os primeiros cristãos, da Igreja de Jerusalém, “punham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, e dividiam-nos entre todos, segundo as necessidades de cada um” (At 2,44s), de modo que “ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era em comum” (At 4,32). Jesus sabe que os bens podem facilmente transformar-se em deuses, tornando-se uma prioridade, escravizando as pessoas e levando-as a viver em função deles. Assim sendo, que espaço fica para o Reino? Por outro lado, dar prioridade aos bens significa viver de forma egoísta, esquecendo as necessidades dos outros; ora, viver na dinâmica do Reino implica viver no amor e deixar que a sua vida seja dirigida por uma lógica de amor e de partilha. Será, então, possível viver no Reino sem renunciar aos bens?
Com este rol de exigências, é claro que a opção pelo Reino não é um caminho de facilidades e, por isso, talvez não seja um caminho que todos aceitem seguir. É por isso que Jesus recomenda pesar bem as implicações e tirar as consequências da opção pelo Reino. Ele convida os candidatos a ser seus discípulos a tomar consciência da sua força, da sua vontade, da sua determinação em corresponder aos desafios do Evangelho e em assumir, com radicalidade, as exigências do Reino.
A conclusão destes apelos em relação ao discipulado é clara: ser cristão, seguir Jesus, é algo de sério. Hoje, para muita gente, ser cristão não é uma opção pessoal, nem uma decisão de vida, mas um simples fenómeno cultural. Não lhe passa pela cabeça fazer uma opção. Muita gente é cristã porque nasceu num meio cristão, foi batizado em criança e acaba por morrer assim, sem que isso tenha tido impacto na sua vida, nem ela tenha tido a ideia ou sentido a necessidade de optar e de assumir o que já era desde pequena. Jesus convida-nos a tomar a decisão de optar por Ele e a sermos coerentes com ela.
Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?
- Ser cristão é algo de sério. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
- “Amar mais que aos pais”: comunidade ou família! Como combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?
- Seguir Jesus é, para mim, uma opção radical, que abracei com convicção, pondo-o em primeiro lugar, ou é algo que vou fazendo, sem grande esforço ou compromisso, por inércia, por comodismo ou por tradição? Como o deverei fazer no futuro?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 90,3-6.12-14.17 (R. 1)
Refrão: Ó Senhor, vós tendes sido o nosso refúgio
através das gerações.
Vós reduzis o homem ao pó da terra
e dizeis: «Voltai, filhos de Adão».
Mil anos a vossos olhos são como o dia de ontem que passou
e como uma vigília da noite. R.
Vós os arrebatais como um sonho,
como a erva que de manhã reverdece;
de manhã floresce e viceja,
à tarde ela murcha e seca. R.
Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando...
Tende piedade dos vossos servos. R.
Saciai-nos desde a manhã com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Desça sobre nós a graça do Senhor nosso Deus.
Confirmai, Senhor, a obra das nossas mãos. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adotivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc