Festa da Exaltação da Santa Cruz – 14 de Setembro de 2025

Serpente de bronze Monte Nebo 1

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. João (3,13-17)

Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 3,13«Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. 14Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também é necessário que o Filho do Homem seja elevado, 15para que todo aquele que crê nele tenha vida eterna. 16Pois de tal modo amou Deus o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo aquele que acredita nele não pereça, mas tenha vida eterna. 17Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele».

Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

O texto de hoje pertence à secção introdutória do Quarto Evangelho (1,19-3,36), onde o evangelista apresenta Jesus e a sua missão. Faz parte do diálogo de Jesus com Nicodemos (gr. “vitória do povo”), um “chefe dos judeus” (v. 1; 19,39) – talvez membro do Sinédrio (cf. 7,50s) – que vai ter com Jesus “de noite”, porque não se quer comprometer publicamente com Ele (v. 2), arriscando o seu prestígio e posição social.

Este diálogo decorre em três etapas: 1) Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus (vv. 1-3); 2) Jesus declara-lhe que para ver o Reino de Deus é preciso “nascer do alto”, “da água e do Espírito” (vv. 4-8); 3) Jesus apresenta o desígnio salvífico de Deus, que será levado a cabo através da sua cruz (vv. 9-21). É aqui que se insere o presente texto.

  • 13. Ninguém subiu ao céu, senão Aquele que desceu do céu: o Filho do Homem.

    Tendo declarado que vai falar das coisas do céu (v. 12), Jesus, aludindo a Pv 30,4 (Ef 4,9-10; cf. Dt 30,12; Br 3,29.32a.36; Rm 10,6-7; 1Cor 15,47), começa por reclamar para si um conhecimento único e excecional de Deus. Ele parte retrospetivamente do anúncio da sua ascensão, dizendo que é o único que “subiu” aos céus (gr. anabaíno: 6,62; 20,17; 4Esd 4,8) – diversamente de Henoc (Gn 5,24; cf. Hen 70,2; 71,1, que foi elevado ao céu, até ao Filho do homem, numa referência a Dn 7,13s) e de Elias (que foi arrebatado aos céus, mas não, segundo os rabinos, até à própria morada de Deus: 2Rs 2,11; Suk 5a; cf. Sl 115,16) –, porque é o único que viu a Deus (1,18) e dele vem (v. 31s; 8,42), descendo do céu (6,38.41s.50s.58; Sb 18,15), e fazendo-se homem (1,14), para dar a conhecer os mistérios de Deus. Ele é a única fonte de conhecimento do mundo divino, de cuja visão, tendo-o a Ele como protagonista, Ele torna participante o que crê nele, o Filho do homem, como prometeu a Natanael: “Amen, amen vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (1,51).

    “Filho do homem” designa o homem, enquanto criatura terrena, mortal (he. ben ‘adam’: Sl 8,5; Ez 2,1). É o título que Jesus se dá a si mesmo (1,15; 3,13; 5,27; 6,27.53.62; 8,28; 9,35; 12,23; 13,31), apresentando-se veladamente como o Messias prometido, anunciado por Daniel (Dn 7,13s; Sl 80,16; Tg.Ket Ps. 80,16), que há de instaurar o Reino de Deus, assumindo em si a debilidade, o sofrimento, o destino e a morte do homem, bem como a história do seu povo (cf. Dn 7,18.22.27), para, recapitulando-os, os salvar.
  • 14. Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também é necessário que o Filho do Homem seja elevado.

    Apresentadas as suas credenciais de único verdadeiro e definitivo enviado de Deus, Jesus passa a revela o desígnio salvífico de Deus. Este já aparece esboçado no AT. Assim, Jesus começa por explicar a Nicodemos que da mesma forma que “Moisés elevou a serpente” de bronze no deserto (Nm 21,8s; Sb 16,5-12), fixando-a num poste, para que aqueles que, tendo pecado, fossem mordidos por uma serpente, ao olhar para ela fossem salvos, assim também “é necessário que o Filho do homem seja elevado”. É a primeira das três afirmações sobre o Filho do homem no Quarto Evangelho que menciona a exaltação de Jesus (8,28; 12,32.34).

    O verbo “é necessário” (gr. dei) indica que tudo decorrerá segundo a vontade Deus, o seu desígnio salvífico, expressos no AT.

    “Seja elevado” (8,28; 12,32.34) designa Jesus com o “Servo de Iavé” (Is 52,13), o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. 1,29; Is 53,6s). É uma referência à morte redentora de Cristo na cruz.

    Todos os homens, judeus e gentios, foram mordidos, através do pecado (cf. Sr 21,2), pela “antiga serpente, que é Satanás” (Ap 20,2; cf. Gn 3,15). Assim “a morte entrou no mundo” (Sb 2,24). E todos serão redimidos pela paixão, morte e ressurreição de Cristo, através da qual Ele será “elevado”, ou seja, exaltado, glorificado. A cruz é o início da glorificação de Jesus (cf. 12,23-28). Por isso, esta passagem do Evangelho foi escolhida para esta festa.
  • 15. Para que todo aquele que crê nele tenha vida eterna.

    A “vida eterna” (Dn 12,2; 2Mac 7,9; cf. Gn 3,22) não é a imortalidade da alma, já conhecida dos gregos (cf. Sr 17,30; Sb 3,4), mas a vida de Deus (cf. Dt 32,40; Dn 12,2; Sb 15,3). Tendo-a o homem rejeitado pelo pecado (cf. Gn 2,17; 3,3s.22; Rm 5,12; 6,23; Tg 1,15), só Deus a pode dar, restabelecendo a comunhão do homem com Ele.

    A vida eterna é dada pela fé em Jesus (v. 16.36; 17,3; 1Jo 5,13), pois é “nele” que ela está (1,4; 5,26; 1Jo 5,12) e é ela que Ele é (1Jo 5,20). Todos (judeus ou gentios) são convidados a olhar para Jesus e a crer nele (19,34-37), para que não pereçam, mas tenham vida eterna (6,40; 20,31).

    “Crer em Jesus” (1,12; 8,31.51; 17,8.20) é aderir a Jesus e à sua Palavra, entregar-se a Ele, apoiando-se nele e na sua Palavra (cf. Is 7,9) para os seguir.

    “Vida eterna” vem sem artigo, porque com artigo, designa o próprio Deus, sendo, por isso, Ele o único que a possui (17,3; 1Jo 1,2; 2,25). O crente apenas participa, por meio de Jesus, desta vida.

    A seguir, Jesus explica em três passos como é que a cruz se insere no plano de Deus (o terceiro passo, v. 18, é omitido no texto que hoje nos é oferecido).
  • 16. Pois de tal modo amou Deus o mundo que deu o seu Filho Unigénito, para que todo aquele que acredita nele não pereça, mas tenha vida eterna.

    No primeiro passo, Jesus revela o sentido da cruz. Ela é “ex-pressão” do amor gratuito e desinteressado de Deus (gr. agápe), que toma sempre a iniciativa e agora o dá a conhecer plenamente, de forma surpreendente e impensável, no supremo ato de amor do seu próprio Filho. Da mesma forma que irá resumir toda a vida e missão de Jesus, no seu amor (13,1), João resume assim toda a história salvífica, desde a criação do mundo, como ato do amor de Deus.

    “De tal modo” (gr. outôs: 1Jo 4,11) sublinha a que extremo chegou a forma como Deus “amou” (gr. egápesen: Dt 23,6; 2Sm 12,24; Sl 47,5; 77,68; Ef 2,4; 1Jo 4,10s.19) o “mundo” (v. 17), a ponto de lhe “dar” (4,10; 13,3; cf. Rm 5,8; 8,32) o seu próprio Filho (1Jo 4,9s).

    “Deus” designa o Pai (15,9). “Deu” (gr. edôken) aparece pela primeira vez no episódio do pecado original: desobedecendo a Deus, a mulher “deu” o fruto proibido ao homem, que o comeu (Gn 3,6.12), introduzindo assim no mundo, através dum falso gesto de amor, o pecado e, com ele, a morte. É também a forma verbal das palavras da instituição da Eucaristia (6,31; Mc 14,22sp). A morte de Jesus é o antídoto do pecado.

    “Unigénito” (gr. “único gerado”) significa “filho/a único/a” (Jz 11,34; Tb 3,15; Sl 22,21 LXX; Lc 7,12; 8,42; 9,38; Hb 11,17). João é o único que aplica a Jesus este título (v. 18; 1,14. 18; 1Jo 4,9). Como a expressão “filho de Deus” no AT não tinha sentido transcendente, podendo designar quer o povo de Deus (Jr 3,19; 31,9; Os 2,1), quer o seu rei (Sl 2,7; 2Sm 7,14), o justo (Sb 2,18) e os juízes (Sl 82,6) – como o próprio Jesus o admite (10,34ss) – João aplica este título a Jesus para evitar equívocos:  Jesus é o Filho único de Deus, por Ele gerado desde toda a eternidade, sendo da mesma natureza do Pai e, por isso, Deus (20,28).

    Esta designação evoca, simultaneamente, outra cena do AT: o sacrifício de Isaac (Hb 11,27; cf. Gn 22,16). Deus faz como Abraão, que foi capaz de se desprender do seu único filho para o oferecer. Mas Deus não deixou que Abraão consumasse o sacrifício, ao passo que Ele será o único a ir até ao extremo, até ao fim, dando o Seu próprio Filho para salvar o mundo.

    “Acreditar em” (gr. pisteuô eis: v. 15) significa: entregar-se confiadamente a Jesus como o Senhor, para o seguir, caminhando, unido a Ele, segundo a Sua Palavra, seguindo-o (Mt 14,28s; Lc 5,5). O que crê nele não perece (6,39; 10,10.28), ou seja, não se perde (17,12Mt 15,24; Lc 13,3.5; Jd 1,5), caindo na condenação eterna (Mt 10,28), mas tem vida eterna (vv. 15.36; 5,24; 6,47; 1Jo 5,13), participa da vida divina que está no Filho (v. 15) e que só Ele pode dar (10,28).

    “Deus amou o mundo” de forma tão grande e inaudita, não apenas 1) enviando-lhe o Seu Filho único, que se fez homem (1,14), 2) mas também – o que era impensável – entregando-o à morte por ele 3) a fim de lhe dar a vida eterna. Este é o terceiro e grande dom do amor de Deus: a vida eterna (cf. v. 15). No AT, Deus tinha prometido habitar no meio do seu povo (Ex 29,45; 1Rs 6,13; Sl 132,14; Ez 43,7; Zc 2,10s; 2Cor 6,16); agora, em Jesus, não só cumpre esta promessa, fazendo-se Ele próprio homem, mas vai mais longe, pondo a sua morada no homem (1,14; 14,23), através do seu Espírito (14,17), para que o homem possa viver em Deus e Deus nele (14,20; 17,3.26), tornando-o participante da sua vida divina.
  • 17. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele.

    No segundo passo, Jesus sublinha a finalidade da Sua vinda ao mundo. O motivo desta vinda do Filho não é negativo (cf. 1Sm 16,4; 1Rs 2,13) – “para julgar o mundo” –, mas positivo. Se Deus enviou “o Filho” (com artigo, em sentido próprio, exclusivo, absoluto, divino) ao mundo (10,36; Gl 4,4), é porque ama os homens e os quer salvar. O que move Deus é o Seu amor e o objetivo do seu amor é a salvação do homem: do homem todo e de todos os homens. O objetivo primordial da vinda de Jesus ao mundo como Messias não é, como se esperava (cf. Is 11,3; 66,16; Jr 25,31; Ml 3,5; 4,3), “para julgar” o homem (12,47; 8,15), condenando-o (8,11; cf. Jn 3,10; 4,2s.11), mas para o salvar (5,34; Lc 19,10), dando a todos, sem exceção, judeus e gentios, justos e pecadores, a salvação plena e verdadeira, a vida eterna. Tal é a vontade de Deus (12,50). Mais: Jesus não veio para salvar apenas o seu povo (11,50ss), mas “o mundo” (gr. kósmos: 1Jo 2,2), ou seja, todos os seres humanos, vivos ou mortos (desde o princípio, da criação do homem, até ao fim do mundo), bem como toda a criação (cf. Gn 2,1; Rm 8,20s; 2Cor 5,19; Cl 1,20).

 

Ler o texto a segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou / vamos pôr em prática?

  • Tenho consciência do amor de Deus na minha vida?
  • Quais são as manifestações de recusa do amor de Deus que observo hoje na minha vida, na vida da minha comunidade e no mundo?
  • A cruz de Jesus é para mim castigo ou o maior sinal do amor de Deus? É derrota ou vitória? Condenação ou libertação? Humilhação ou glorificação? Apenas sofrimento ou salvação?
  • A minha vida e a vida da nossa comunidade cristã são expressão do amor de Deus manifestado por Jesus na cruz? Que posso fazer para ser sinal vivo deste amor no meio dos homens?

 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)

Salmo responsorial                                  Sl 78, 1-2.34-35.36-37.38 (R. cf. 7c)

Refrão: Não esqueçais as obras do Senhor.

Escuta, meu povo, a minha instrução,
presta ouvidos às palavras da minha boca.
Vou falar em forma de provérbio,
vou revelar os mistérios dos tempos antigos.     R.

Quando Deus castigava os antigos, eles O procuravam,
tornavam a voltar-se para Ele
e recordavam-se de que Deus era o seu protetor,
o Altíssimo o seu redentor.     R.

Eles, porém, enganavam-n’O com a boca
e mentiam-Lhe com a língua;
o seu coração não era sincero,
nem eram fiéis à sua aliança.     R.

Mas Deus, compadecido, perdoava o pecado
e não os exterminava.
Muitas vezes reprimia a sua cólera
e não executava toda a sua ira.     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva:

Senhor nosso Deus, que quisestes salvar a humanidade com a cruz do vosso Filho unigénito, concedei que, tendo conhecido na terra este mistério, mereçamos alcançar, no céu, os frutos da redenção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a com a própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc