30º Domingo do Tempo comum, ano C – 26 de outubro de 2025

Frank Adams Parábola do fariseu e do publicano c1910 janela


Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (18,9-14)

Naquele tempo, 18,9Jesus disse também esta parábola para alguns que estavam convencidos de que eram justos e desprezavam os outros: 10«Dois homens subiram ao Templo para orar: um era fariseu e o outro publicano. 11O fariseu, de pé, orava consigo desta maneira: “Ó Deus, graças Te dou porque não sou como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. 12Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que adquiro”. 13O publicano, porém, mantendo-se, de pé, à distância, nem sequer se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no seu peito, dizendo: “Ó Deus, sê-me propício, a mim, o pecador”. 14Digo‑vos: este desceu para sua casa justificado, ao contrário do outro. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado».

        Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 9. Jesus disse também esta parábola para alguns que estavam convencidos de que eram justos e desprezavam os outros.

    Continuamos na terceira etapa do caminho de Jesus para Jerusalém (17,12-19,27), durante a qual Ele mostra aos seus discípulos como viver no Reino. Lucas introduz aqui outra parábola, exclusiva sua, contada “para alguns que estavam convencidos de que eram justos e desprezavam os outros” (cf. 16,15; Pv 28,26; Ez 33,13; Rm 2,17-20; 10,3). Esta parábola vem na sequência da parábola anterior, à qual está ligada pelo tema da oração e que concluiu com uma pergunta sobre a fé (v. 8). Agora Jesus indica que oração e que tipo de fé Ele, ao vir, quer encontrar.

    O adjetivo “outros” (gr. loipós) significa os demais, sublinhando que estas pessoas se consideravam como sendo as únicas que eram justas, sendo, por isso, todas as demais injustas.

  • v. 10. «Dois homens subiram ao Templo para orar: um era fariseu e o outro publicano.

    Jesus dirige-lhes esta parábola, advertindo-os contra a autoconfiança (cf. mAb 2,4). Nela contrapõe a oração de um fariseu à de um publicano, traçando nelas dois tipos opostos de atitudes perante Deus. Ambos “sobem” (isto é, a Jerusalém: 2,42; 18,31; 19,28; At  13,31; 15,2; cf. Sl 122,4; Esd 1,3; Is 2,3; Zc 14,17), para “orar” (gr. proseúkhomai, Lc, 18x: v. 1; 1,10; 11,1s); “no Templo” (gr. iepóv, Lc, 14x: At 3,1; cf. Jo 7,14), três temas tão queridos a Lucas, aos quais ele vai juntar aqui mais dois: a misericórdia divina e a humildade.

    O fariseu é o modelo do homem irrepreensível que cumpre todas as normas da Lei e tem uma vida íntegra. “Fariseu” (a forma helenizada do aramaico perishayya, “separado”, “segregado”; he. perushi) significa "separado" (cf. 1Ma 2,16), porque os fariseus viviam “separados” dos outros. Consideravam-se “mais religiosos do que os outros, interpretando a Lei com maior precisão” (Fl.Jos. Bell. Iud. 1,5,2; At 26,5), reputando-se ser “os justos” que formavam “o verdadeiro Israel”. Descendiam dos “piedosos” (hassidim: 1Ma 2,42) que tinham apoiado Matatias na luta contra Antíoco IV Epífanes, opondo-se à helenização de Israel (d. 167 a.C.). Eram defensores intransigentes da Lei, não só da “Lei escrita” (a Torá ou Pentateuco, os cinco primeiros livros da Sagrada Escritura), que é Palavra de Deus, mas também da Lei oral (bShab 31a), o conjunto de 613 preceitos que deduziram da Lei e atribuíam a Moisés, considerando que deviam vigorar e ser observados em pé de igualdade com a Torá. Gloriavam-se de terem tornado assim a Lei mais pesada, tendo desta forma mais mérito em praticá-la.

    Os fariseus, no entanto, eram um grupo sério, sinceramente empenhado na santificação do Povo de Deus, que procurava cumprir escrupulosamente no seu dia a dia todos os preceitos da Lei (embora sem o conseguir: 11,46.52; At 7,53; Rm 2,23), esforçando-se por os ensinar ao povo, pois só assim, diziam, Israel poderia ser santo, apressando a vinda do Messias. O seu fundamentalismo, porém, foi criticado por Jesus, porque se erigiam como critério da Palavra de Deus, julgando os outros com desdém (cf. Rm 1,28-31) e desprezando o povo (cf. Jo 7,49), criando nele um sentimento latente de pecado e de indignidade que oprimia as consciências e impedia as pessoas de se aproximarem de Deus. “Um publicano”: cf. v. 13.

  • v. 11. O fariseu, de pé, orava consigo desta maneira: “Ó Deus, graças Te dou porque não sou como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano.

    Geralmente orava-se “de pé” (v. 13; bBer 10b,26-28), embora se aceitassem outras posições (sentado, a andar, deitado: Dt 6,7; mBer 1,3; de joelhos: 22,41; At 7,60; 9,40; 20,36; 21,5; Ef 3,14; prostrado sobre o rosto por terra: Nm 16,22.45; Dt 9,25; Js 5,14; 2Cr 20,18; Sl 95,6).

    “Orava consigo”. O imperfeito indica a postura habitual do fariseu. Jesus ilustra o seu monólogo interior, não as palavras que murmura durante a oração. A sua oração aparece como uma exibição pessoal (cf. 6,5), um culto do próprio eu, que o leva a julgar os outros que não são como ele, reputando-os como sendo os piores pecadores, aqueles que não podiam herdar o Reino de Deus: os ladrões, os injustos e os adúlteros (cf. 1Cor 6,9s).

  • v. 12. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de tudo o que adquiro”.

    O fariseu exalta depois as boas obras que pratica (cf. outros exemplos em jBer 4,2.2; bBer 28b.5; Midr. Ct 7,13), sublinhando que faz mais do que era obrigatório (cf. ‘Er 21b.5): jejua “duas vezes por semana” (às segundas e quintas-feiras: TanchB,  Vayera 16, 47b; cf. Mc 2,8; Mt 9,14; Did. 8,1), quando só eram obrigatórios dois jejuns no ano: no Yom Kippûr (“Dia da expiação”) e no 9º de Av (aniversário da destruição do Templo, em 587 a.C.); paga não só o dízimo do que cultiva e cria, como era prescrito (cf. 11,42; Dt 14,22s), mas também de tudo o que adquire.

  • v. 13. O publicano, porém, mantendo-se, de pé, à distância, nem sequer se atrevia a levantar os olhos para o céu; mas batia no seu peito, dizendo: “Ó Deus, sê-me propício, a mim, o pecador”.

    Já o publicano reconhece-se “o pecador”. Estando ao serviço das forças de ocupação romana, os cobradores de impostos eram odiados pelo povo, tendo a fama de se servir do seu cargo para enriquecer de forma imoral, o que não raro acontecia. Eram considerados a imagem do “pecador”, daquele que mente, explora o pobre, pratica a injustiça e não cumpre a Lei. Segundo os rabinos, estavam permanentemente afetados de impureza, sendo-lhes impossível fazer penitência pelos seus pecados por não poderem saber quantas pessoas tinham defraudado e a quem deviam reparação (cf. 19,8). Se um publicano, antes de aceitar o cargo, fizesse parte duma comunidade farisaica, era imediatamente expulso, só podendo ser reabilitado depois de ter deixado o cargo. Estavam ainda privados de certos direitos cívicos, políticos e religiosos, não podendo ser juízes, nem dar testemunho em tribunal, etc.

    Este publicano, porém, arrependido, reconhece com humildade a sua indignidade.

    Mantém-se “de pé, à distância”, fora do átrio dos homens, provavelmente junto à entrada do “átrio de Israel”, quando os rabinos aconselhavam rezar dentro do espaço de oração (DtRab 7,204a).

    “Nem sequer se atrevia a levantar os olhos” com vergonha (Hen 13,5), pondo de lado toda a altivez (cf. Pv 30,13; Sl 131,1; Is 2,11).

    “Para o céu”, a “habitação de Deus” (cf. 16,23; Sl 123,1; Is 38,14; Dn 4,31; Jo 17,1; cf. Fl.Jos. Ant. 11,5,6).

    “Batia no peito” (23,48), com pesar e dor (cf. Sl 32,3s), de coração contrito e humilhado (cf. Sl 51,19; Is 66,2), reconhecendo a sua culpa e que era daí, do seu coração, que brotava o seu pecado (cf. 16,15; Mt 15,19s; Mc 7,21ss; Midr. Qoh 7,2.5!).

    E pede a Deus, em voz audível, que lhe perdoe os pecados: “Ó Deus, sê-me propício” (gr. ilásthêti: Ex 32,14; 2Rs 5,18; Sl 25,11; 64,4; 78,38; 79,9; Dn 9,19; Hb 2,17!), não se desculpando como o primeiro homem depois de ter pecado, mas considerando-se a imagem típica daquele que comete o pecado: “o pecador” (com artigo; cf. 5,8.30; 7,34; 15,1; Str.-B. 1,377-380).


  • v. 14. Digo‑vos: este desceu para sua casa justificado, ao contrário do outro. Porque todo aquele que se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado».

    Jesus declara que o publicano “desceu justificado para a sua casa”, mas o fariseu não (cf. Mt 21,31). Porquê? Porque o fariseu, confiado na sua justiça, atribuía a si mesmo o mérito das boas obras que praticava, pensando ser por elas justificado, não se apercebendo do pecado que se aninhava no seu coração, do velho Adão que trazia dentro de si (cf. Sl 51,7; Rm 2,1; 3,23; 5,12ss; Ef 2,3). Não reconhecendo o seu pecado (a sua autossuficiência e orgulho: cf. Sl 19,12s), não se converte e permanece no pecado (cf. Jo 9,41).

    O publicano, porém, sabendo que não tem méritos, põe toda a sua confiança em Deus (cf. 7,47). Ao invés do primeiro homem, não se esconde de Deus, nem acusa os outros (cf. Gn 3,10), mas faz o que mais agrada a Deus: arrepende-se (15,7) e vai ter com Ele, reconhecendo com dor a sua culpa, abandonando-se à Sua misericórdia, só d’Ele esperando a propiciação pelos seus pecados (gr. ilastêrion: Rm 3,25; Os 14,3; 1Jo 2,2; 4,10) e não dos sacrifícios (cf. Lv 16,1-19), sabendo que “o sacrifício agradável a Deus é um espírito quebrantado, um coração contrito e humilhado” (Sl 51,18s). Como verdadeiro filho de Abraão, acredita em Deus e na sua Palavra, e “Deus credita-lho como justiça” (cf. Gn 15,6; Rm 4,3), dando-lhe o seu perdão e justificando-o pela fé (cf. Rm 3,23-26).

    Para entrar no Reino de Deus e seguir Jesus no seu caminho de nada serve a “própria” justiça. Quem julga ter a preferência divina por causa do grupo a que pertence, se convence de possuir alguma virtude ou se orgulha das boas obras que praticou, sem se aperceber, acaba por se pôr no lugar de Deus e julgar os outros, apresentando-se a si mesmo como a medida de tudo. A fé e a oração incessante que o Filho do homem ao vir quer encontrar nos seus (vv. 1.8) é a do publicano, que brota de um coração humilde, repleto de confiança em Deus e necessitado de conversão (cf. 5,32), sabendo que por si só nada pode e que só de Deus é que vêm, por Sua misericórdia, a graça de O poder servir e a salvação. O que tanto mais acontece, quanto mais se cresce na fé.

    Assim “todo aquele que se exalta será humilhado, mas quem se humilha será exaltado” (14,11; Mt 23,12; cf. 1Sm 2,7; Sl 75,8; Is 52,13; Sir 7,11; 34,20), uma nota ao v. 9, destinada a ensinar os discípulos a seguir o caminho de Jesus com humildade e confiança (1,48.52; At 20,19; 1Cor 1,28; Fl 2,3.8; Cl 3,12; 1Pd 5,5; cf. Mq 6,8; Zc 3,12; Sr 35,17).

    Ler o texto uma segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo...

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

           a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio…
           d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • O desenvolvimento das ciências e o progresso da técnica convenceram muitas pessoas, sistemas políticos e sociedades que podiam ser felizes por si sós, prescindido de Deus. Será verdade?

  • Como é a minha oração: abertura a Deus e aos irmãos, escuta da Sua vontade, ou busca de mim mesmo, julgando os que não são como eu?


3)
 ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)

Salmo responsorial                                        Sl 34,2-3.17-19.23 (R. 7a)

    Refrão: O pobre clamou, o Senhor o ouviu.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.     R.

A face do Senhor volta-se contra os que fazem o mal,
para apagar da terra a sua memória.
Os justos clamaram e o Senhor os ouviu,
livrou-os de todas as angústias.     R.

O Senhor está perto dos que têm o coração atribulado
e salva os de ânimo abatido.
O Senhor defende a vida dos seus servos,
não serão castigados os que nele confiam.     R.

Pai-nosso…

Oração conclusiva:

Deus todo-poderoso e eterno, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade; e para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que mandais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc