Quarto Domingo do Tempo Comum, ano B - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (1,21-28)

Naquele tempo, Jesus com os seus discípulos 1,21 entraram em Cafarnaum e logo no sábado, entrando na sinagoga, ensinava. 22E estavam estupefactos com o seu ensino, porque os ensinava com autoridade e não como os escribas. 23E logo estava na sinagoga deles um homem com um espírito impuro, que gritou, 24dizendo: «O que há entre nós e Ti, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Eu sei quem Tu és: o Santo de Deus». 25Mas Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai dele». 26E o espírito impuro, sacudindo-o e gritando com alta voz, saiu dele. 27Todos se admiraram, a ponto de se perguntarem uns aos outros, dizendo: «Que é isto? Um novo ensino com autoridade. Até dá ordens aos espíritos impuros e eles obedecem-lhe». 28E a sua fama espalhou-se logo por toda a parte, em toda a região da Galileia.    

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • v. 21 (vv. 21-28: Lc 4,31-37). Estamos no início da primeira parte do Evangelho de S. Marcos (1,14-8,30), onde ele nos apresenta Jesus como o Messias prometido que está entre os homens, anunciando-lhes, por palavras e obras, a Boa Nova da salvação.
  • O episódio de hoje é um relato de um milagre. Leva-nos a Cafarnaum (2,1; 9,33; he. “aldeia de Naum”, “consolador”), a “cidade” de Jesus (Mt 9,1), cidade fronteiriça, situada junto à Via maris, a principal rota comercial que ligava a Mesopotâmia ao Egito, e para onde Ele se mudara após a prisão de João Batista (vv. 9.14; Mt 4,13).
  • “Logo” que chega o “sábado”, Jesus, como bom judeu, vai à sinagoga com os seus discípulos e participa no culto. Traça assim aos apóstolos o roteiro que mais tarde eles deverão seguir ao evangelizar no Império romano (At 13,14; 14,1; 17,1s.17; 18,4.19; 19,8; 28,17).
  • A liturgia sinagogal começa com o Shemá (Dt 6,4‑9; Nm 15, 37‑41), seguindo-se orações e cânticos, duas leituras (uma da “Lei”, a outra dos “profetas”), um comentário a elas e as bênçãos finais. O cohen (“sacerdote”) convidou Jesus a falar e Ele “pôs-se a ensinar”.
  • “Ensinar” (gr. didásko; Mc: 17x) significa “estender repetidamente a mão”, de modo a ajudar o outro a receber o “ensino” (gr. didaqué: v. 27) que se lhe quer “transmitir” de forma orgânica e estruturada (1Cor 11,23; 15,3). O imperfeito indica que Jesus “começou a ensinar”, a transmitir às pessoas, algo de “novo” e vital (v. 27): o Evangelho.
  • v. 22: Mt 7,28s. Os presentes ficam admirados, porque Jesus ensina com “autoridade” (gr. exousia: v. 27), não se limitando a comentar o AT “como os escribas” (os juristas versados na Lei, que interpretavam a Escritura a partir da tradição rabínica, citando as opiniões uns dos outros), mas anunciando a Palavra de Deus a partir da vida real e expondo-a à luz da sua própria experiência pessoal e singular união com o Pai, transmitindo-a de forma tão simples e acessível, com tal novidade e poder, confirmada pelos “sinais” que a acompanham (16,20), que todos ficam “estupefactos” (6,2; 7,37; 10,26; 11,18).
  • v. 23. Enquanto Jesus ensina na “sinagoga deles” – um inciso que indica que Marcos não escreve para judeus, mas para gentios –, “um homem possesso dum espírito impuro” começa a gritar. Originalmente, associava-se os “espíritos impuros” à adivinhação e à necromancia, típicas dos cultos idolátricos (5,2.8; Zc 13,1s), e consideradas abomináveis pela Lei (Dt 18,10ss). Depois passaram a designar os “demónios” em geral, identificados com os deuses dos cultos pagãos, onde se praticava a prostituição sagrada (Lv 17,7). Eram hostis à pureza religiosa e moral que o serviço de Deus requer. Agiam sob o comando de Satanás (3,22s. 26.30; At 5,16; 8,7; 19,12) que assim procurava afastar os homens de Deus, o único que tem poder sobre eles e é capaz de libertar o homem do seu domínio (3,27). Este homem tinha-se contaminado com tais cultos, mas é incapaz de o esconder de Jesus, que conhece os corações (2,8; 8,17; 9,35 cf. 1Cor 12,10). Ele simboliza toda a humanidade que jaz sob o domínio de Satanás, não apenas os gentios, através do culto dos ídolos, mas também os judeus (estamos numa sinagoga).
  • 24: Mt 8,29. O “espírito impuro” começa a gritar de medo e desespero (6,49) pela boca desse homem contra Jesus. O mal aliena o homem. Fala no plural, em nome de todos os espíritos malignos (5,9), pedindo a Jesus com o semitismo “que há entre nós e Ti?” (5,7p; Jo 2,4; 1Rs 17,18), que não os atormente. Mostra saber quem é Jesus (v. 34), donde vem (“de Nazaré”: v. 9), qual é a Sua missão (cf. At 16,17) e que tem poder divino: “Vieste para nos perder?” (Tg 4,12; cf. 2Ts 2,10). Segundo os judeus, uma das obras do Messias, enquanto Sumo-sacerdote, seria a de libertar o homem do poder de Satanás (Hen 55,4; Test Levi 18; Test Sebul 9; At 26,18). Perante Jesus, o Messias, os espíritos malignos reagem, inquietos, sabendo que foram descobertos e que o seu império sobre o homem vai acabar (cf. Hb 2,14; 1Jo 3,8; Ap 20,10). É o que o espírito confessa, dizendo em nome próprio: “Eu sei quem tu és: o Santo de Deus” (3,11; cf. 5,7p; Lc 4,41; Tg 2,19). Repete assim o ensinamento judaico, que apresentava o Messias como “o Santo de Deus” (Lc 1,35; 4,34; Jo 6,69; At 2,26s; 3,14; 4,27.30; Ap 3,7; título raro no AT, só: Nm 16,5; Sl 106,16; Jz 16,17LXX; 2Rs 4,9), ou seja, o “consagrado de Deus” por excelência. Jesus é-o graças ao Espírito Santo que sobre Ele desceu no batismo (vv. 8.10).
  • v. 25. Jesus “repreende” (9,25; cf. 8,30.32.33) o espírito impuro e manda-o calar (3,12). Por dois motivos. O primeiro é o “segredo messiânico” (1,44; 5,43; 7,36; 8,26): Jesus não quer que a sua identidade real seja conhecida (v. 34; 3,12; 8,30; 9,9), até à paixão (14,61s), pois a versão guerreira de Messias, que então vigorava em Israel, prestava-se a equívocos de natureza política, alheios à vontade de Deus (8,32s). Depois, porque o espírito impuro, parecendo acertar, de facto, enquanto fala pela boca do homem (ou seja, em nome da humanidade), diz três mentiras, pois: 1) Jesus tem tudo a ver com o homem, porque é o “Filho do homem”; 2) Jesus não veio para perder o homem, mas para o salvar; 3) só conhece realmente Jesus quem acredita nele e a Ele se une pelo Espírito Santo (cf. Jo 16,30; Rm 8,27; 1Cor 2,11s).
  • “Sai dele”: Jesus expulsa o espírito com uma palavra (7,29), algo de inédito entre os judeus e os gentios, que também faziam exorcismos, mas recorrendo a complicados ritos, a longas preces e inúmeras conjurações, nem sempre com bom resultado (cf. At 19,16).
  • v. 26. O espírito obedece à palavra de Jesus e sai, “sacudindo” o homem (9,20p) e “gritando com alta voz” (15,34s), como se estivesse a morrer (9,26!), mas, na realidade, “saindo” daquele homem que, libertado do poder das trevas (cf. Sl 107,10-15), agora recomeça a viver.
  • v. 27. “Todos se admiraram” (10,24.32; cf. 2Sm 22,5; Dn 8,17; Mt 9,33; 12,23; 15,31) e se perguntavam: “Que é isto?”. O ensinamento de Jesus e os sinais que Ele realiza provocam admiração e faz com que todos se perguntem que é este Jesus de Nazaré. É a questão que percorre toda a primeira parte do Evangelho de Marcos (v.34; 2,12; 3,12; 4,41; 5,42; 6,2s.14s; 7,37; 8,27.29) e que, primeiro Pedro, e, após a morte de Jesus, o centurião, vão responder: «Tu és o Cristo» (8,29); «Verdadeiramente este homem era Filho de Deus» (15,39).
  • E surpreendem-se com o ensino de Jesus, que é “novo” (11,18; 12,38; Jo 7,16s; cf. LvR 13,114b; Beth ha-Midr 6,63,13; Midr Qoh 11,8,52a; Targ Is 12,3), e feito “com autoridade” (v. 22), uma autoridade que é própria (pois a dá aos apóstolos: 3,15; 6,7) e que parece ser (e é!) divina (11,28s.33), pois a Ele tudo (aqui, os espíritos impuros, mais adiante, a natureza) “obedece” (4,41).
  • v. 28. E a fama de Jesus difunde-se por toda a parte (cf. v. 45; 6,14), a começar pela Galileia (Mt 9,26).
  • Com esta libertação, Jesus inaugura de forma programática a sua ação terapêutica e salvadora, mostrando que o Reino de Deus está próximo (1,14) e que para o receber é necessário converter-se e ser libertado do poder que escraviza o homem e o aliena, fechando-o a Deus: o domínio de Satanás. Ela é um “sinal” que designa Jesus como o Messias que age em nome de Deus, instaurando de forma irrevogável, através da sua Palavra, com poder, o Reino de Deus, libertando o homem do domínio de Satanás, ou seja, da escravidão do pecado e da morte, da mentira e da violência, que impera sobre toda a humanidade que ainda não aderiu a Cristo, para a restituir à verdadeira vida, em comunhão com Deus. 

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Muitos vivem alienados, deixando-se levar pela ideologia reinante, pelos meios de comunicação social, escravos do medo, do individualismo, de drogas, do sexo ou do prazer, do consumismo, do ateísmo prático ou do poder. Essas pessoas não são donas de si mesmas, nem vivem realmente, mas são vividas. Qual é a minha situação? Como pôr a descoberto e “expulsar” tais “espíritos impuros”? 

 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Tudo apreciar em Deus, à luz da sua Palavra)

Salmo responsorial                                      Sl 95,1-2.6-9 (R. cf. 8)

Refrão:        Hoje se escutardes a voz do Senhor,
não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos a Deus, nosso Salvador.
Vamos à sua presença e dêmos graças,
ao som de cânticos aclamemos o Senhor.     R.

Vinde, prostremo-nos em terra,
adoremos o Senhor que nos criou;
pois Ele é o nosso Deus
e nós o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.     R.

Quem dera ouvísseis hoje a sua voz:
«Não endureçais os vossos corações,
                     como em Meribá, como no dia de Mássá  no deserto,
onde vossos pais Me tentaram e provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras».     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Concedei, Senhor nosso Deus, que Vos adoremos de todo o coração e amemos o próximo com sincera caridade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (encarnar a Palavra na própria vida e testemunhá-la, unidos a e em Cristo)

Fr. Pedro Bravo, oc