Domingo de Pentecostes - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.

 1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)

 Leitura do Evangelho segundo S. João (20,19-23) 

20,19Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, pôs-se de pé no meio e diz-lhes: «A paz esteja convosco». 20Tendo dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao verem o Senhor. 21Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós». 22Dito isto, soprou e diz-lhes: «Recebei o Espírito Santo: 23àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, serão retidos».

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 19 (vv. 19-23: Mc 14,14-18; Lc 24,36-43). O texto de hoje narra a primeira aparição de Jesus ressuscitado aos apóstolos, em Jerusalém. Já foi lido na oitava de Páscoa, mas repete-se no Pentecostes, termo das festas pascais, para sublinhar que: a) a Páscoa cristã não é uma data, mas um acontecimento, sendo o Tempo pascal um só dia (S. Atanásio, Ep. fest. 1: IGMR, NGALC, 22), “o dia que o Senhor fez” e que jamais terá ocaso (S. Agostinho, Serm. 258,1; 254,8; cf. Sl 118,24), Jesus Cristo, nossa Páscoa (1Cor 5,7); b) o Pentecostes é a meta da Páscoa. Para os judeus, o dia a seguir ao primeiro dia dos Ázimos (16 nisan), é o Dia das Primícias (Yom HaBikkurim: Lv 23,9-12), que neste caso coincidiu com o primeiro dia da semana (1Cor 15,20), o Domingo da Ressurreição do Senhor. Nesse dia começa o ‘omer (Lv 23,10: “feixe”), a contagem decrescente (de 49 a 1) dos dias que faltam até ao Pentecostes, para sublinhar a necessidade de um tempo de maturação e mostrar que o Pentecostes é o objetivo e a realização da Páscoa; 3) é através do dom do Espírito Santo, derramado no dia de Pentecostes, que Cristo ressuscitado se torna efetivamente presente e atuante na sua Igreja.
  • O “primeiro dia da semana” evoca o início da criação (Gn 1,3ss). Jesus ressuscitado é as primícias, o princípio da nova criação. Inseguros e desamparados, os apóstolos tinham-se trancado, com “medo dos judeus” (9,22), no cenáculo, situado a uns 50 m do palácio de Caifás (18,24).
  • Ressuscitado, Jesus “veio” (Ap 5,6s) ter com eles para com eles ficar para sempre (14,18s). Apresenta-se “de pé” (v. 26; 21,4; Lc 24,36; cf. Lc 6,8; Nm 17,13), ressuscitado, vitorioso, como estando já ali, entre os seus. “No meio” (v. 26), não tem determinativo: Jesus é o Mediador entre Deus e os homens (1Tm 2,5), o centro de comunhão, o fator de união, a referência central, o ponto de convergência e a fonte de irradiação dos discípulos.
  • Jesus saúda-os com a fórmula tradicional: “Paz convosco” (he. shalôm alechem, 3x: vv. 21.26; Gn 43,23; Sl 122,8; Tb 12,17; Jr 4,10; Dn 3,31; 1Pd 5,14). De mero augúrio, a saudação converte-se agora no dom efetivo da paz que Jesus tinha anunciado (14,27) e que na sua humanidade glorificada alcançou, a paz messiânica, definitiva, plenitude dos bens prometidos por Deus (Sl 85,9.11; 122,6; Mq 5,5; Is 9,7; 26,12; 32,17; 52,7; 66,12), que só Jesus pode dar, através do Espírito Santo (Is 53,5; 2Ts 3,16; Rm 5,1; Cl 1,20; Gl 5,22; Ef 2,14ss). Jesus repete a saudação no v. 21, confirmando o que diz.
  • v. 20. Só depois de ter falado, é que Jesus se dá a conhecer. De facto, o encontro com o Ressuscitado só é possível na fé, a qual nasce da escuta da Palavra (Rm 10,17; Gl 3,2.5). Por isso, é só depois de terem escutado Jesus e acreditado nele que os discípulos o veem (v. 16; cf. 1,50).
  • Jesus não se deixa ver totalmente (pois é impossível abarcar o Ressuscitado), mas mostra apenas os “sinais” de que é Ele, o Crucificado, que está ali, vivo, com eles: as mãos perfuradas pelos cravos, sinal da sua obra (v. 25; Lc 24,40); e o lado traspassado pela lança, manifestação do seu amor. Só João refere a chaga do lado (19,34). Ao apresentar as chagas como sinal distintivo da sua nova condição de ressuscitado (Ap 5,6), Jesus sublinha a realidade da sua ressurreição corporal e a eficácia perene da sua morte na cruz, fonte de vida eterna para os que nele creem (3,14ss).
  • Os discípulos alegram-se ao “verem o Senhor” (v. 18). É a alegria escatológica, imperecedoura, anunciada pelos profetas (Is 66,10-14; Jr 31, 10‑14; 38,14; Sf 3,14s; Zc 10,7), prometida por Jesus (16,20.22) e agora por Ele conferida, alegria esta que brota da comunhão com Ele ressuscitado e, nele, com o Pai e os irmãos (14,28; 15,11; 17,13; 1Jo 1,4; cf. Gl 5,22). “O Senhor”: as aparições de Jesus ressuscitado são teofanias (“manifestações divinas”: 21,1) em que Ele Se revela, não apenas como ressuscitado na sua humanidade glorificada, mas também como “o Senhor” (gr. Kyriós, he. Adonai, o título divino reservado no AT para evitar pronunciar o nome sagrado Iahveh: v. 18; 1Cor 12, 3; Fl 2,11), ou seja, como Deus (v. 28).
  • v. 21: 17,18. João junta num só dia (o Dia que Jesus ressuscitado é), a comunicação dos dons messiânicos da nova aliança. Por isso, é só após o encontro com Ele ressuscitado e o dom da sua paz que Jesus envia (gr. apostellô) os apóstolos (e, neles, a Igreja) como continuadores da Sua missão, a missão que o Pai lhe deu, para que a levem a cabo do mesmo modo que Ele o fez. Para isso é necessário o Espírito Santo (1,32s; 15,26s).
  • v. 22. João compendia os dons de Cristo ressuscitado num único dom, o dom messiânico por excelência: o Espírito Santo (7,39). João realça assim a unidade das Pessoas divinas e da Sua ação (4,24; 10,30; 17,11.21s), fonte da unidade da Igreja. Como sempre o dom do Espírito Santo é acompanhado pelo símbolo que exprime a sua ação. Neste caso é o sopro. Jesus “sopra” (gr. emfusaô). Este verbo evoca: a) Gn 2,7, a criação do homem por Deus como “ser vivente”; b) Ez 37,9, o dom de uma vida nova, dada por Deus ao seu povo, pelo Espírito; c) Sb 15,11, o dom criador do Espírito vital.
  • O termo “espírito” em hebraico (ruah) e em grego (pneuma) designa também o “sopro” e o “vento”. “O Espírito Santo” (nome que no AT só aparece em em Sl 51,13; Is 63,10.11; Sb 1,6; 9,17; 7,22) é o princípio de vida que Deus infunde no homem (Jb 7,7; Sl 144,4; Sb 15,11), neste caso, princípio de vida nova, através do qual Deus comunica com ele (At 1,2), age no mundo e manifesta o seu poder, levando a cabo a sua obra criadora (Gn 1,2), vivificante (Jb 33,4) e regeneradora (3,5-8). Para o receber, há que esvaziar-se de si mesmo, aceitar Jesus como o Senhor e dele aspirar o dom do Espírito Santo, pela fé, em íntima comunhão de oração.
  • Não se trata, porém, já do dom pleno do Espírito, pois o verbo “soprar” não tem complemento (cf. Sb 15,11; 1Rs 17,21). Jesus ressuscitado (7,30), comunica a vida que alcançou, legando o Espírito Santo como princípio de vida nova à Igreja, por Ele gerada na cruz (cf. 19,30), Igreja aqui representada por estes dez discípulos. De facto, dos “Doze” (6,67.70s), faltam Tomé, que está ausente (v. 24), e Judas Iscariotes, que se matou (Mt 27,5; At 1,15ss). No AT, “dez” simboliza a totalidade, sendo o número mínimo de adultos necessário para que a sinagoga se possa reunir para o culto (o minyan: Gn 18,32; Nm 13,2.26; 14,6.27; bMeg 23b; jMeg 4,4). Jesus comunica o Espírito Santo como fonte de vida nova ao “povo que vai nascer” (Sl 22,31), indicando que a Igreja sucederá à Sinagoga como novo Povo de Deus. Entretanto, o dom da plenitude do Espírito Santo só é concedido no dia de Pentecostes, quando Ele se infunde pessoalmente em cada crente (1,33), regenerando-o (3,5s; Tt 3,5), e fazendo assim nascer (“vir à luz”) a Igreja.
  • v. 23: Mt 18,18. Pelo Espírito Santo, Jesus comunica à Igreja, na pessoa dos Dez: a) a missão b) e o poder que o Pai lhe deu (cf. At 1,8). a) Tal como na pregação de João Batista (1,29-34), a missão de Jesus é resumida no dom messiânico por excelência, o Espírito Santo (Lc 24,47; Jr 31,33s; 33,8s; Ez 36,22-29; At 2,38; 5,31; 10,43; 13,38s; 26,18), que sela o dom da nova Aliança, sintetizada na “remissão dos pecados” (Mt 26,28), remissão dos pecados que é o Espírito Santo, infundido como dom, uma vez que é Ele que restabelece a comunhão do homem com Deus e com os irmãos que o pecado rompeu. b) O poder divino (gr. exousía) de perdoar os pecados é conferido por Cristo à sua Igreja, na pessoa dos apóstolos (cf. Mt 9,6ss; 18,18), para que esta continue a sua missão, levando a Sua salvação a todos os homens, por Ele resgatados com o seu Sangue derramado na sua paixão e morte de cruz (cf. Ef 1,7; Cl 1,14.20; 1Pd 1,18s; 1Jo 1,7; Ap 5,9). 

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Jesus é a fonte e centro da minha vida, o meu modelo e projeto, o meu ponto de referência, aquele com quem me identifico?
  • Sinto necessidade da presença e da ação do Espírito Santo em mim e através de mim? Invoco-o, peço a sua vinda? Escuto a sua voz? Entrego-lhe a direção da minha vida? Confio na sua ajuda?
  • Que testemunho damos aos outros de Jesus: de vida nova, união, paz, reconciliação e cooperação? Somos testemunhas e instrumentos do seu amor e do seu perdão neste mundo? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração) 

Salmo responsorial              Sl 104,1ab.24ac.29bc-31.34 (R. 30)

Refrão:        Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e renovai a terra.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor.
Senhor, meu Deus, como sois grande!
Como são grandes, Senhor, as vossas obras!
A terra está cheia das vossas criaturas.     R.

Se lhes tirais o alento, morrem
e voltam ao pó donde vieram.
Se enviais o vosso Espírito, retomam a vida
e renovais a face da terra.     R.

Glória a Deus para sempre!
Rejubile o Senhor nas suas obras.
Grato Lhe seja o meu canto
e eu terei alegria no Senhor.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, nosso Deus, que no mistério de Pentecostes santificais a Igreja dispersa entre todos os povos e nações, derramai sobre a terra os dons do Espírito Santo, de modo que também hoje se renovem nos corações dos fiéis os prodígios realizados nos primórdios da pregação do Evangelho. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

 Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc