Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo - 2024

 

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (14,12-16.22-26) 

14,12No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava a Páscoa, os discípulos de Jesus disseram-lhe: «Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres a Páscoa?». 13Jesus envia então dois dos seus discípulos e diz-lhes: «Ide à cidade e virá ao vosso encontro um homem, carregando uma bilha de água. Segui-o 14e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: “O Mestre diz: ‘Onde está a minha sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?'" 15Ele mostrar-vos-á uma sala grande, no andar superior, mobilada e pronta. Preparai-a ali para nós». 16 Os discípulos saíram, foram à cidade, encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. 22Enquanto eles comiam, Jesus tomou um pão, pronunciou a bênção, partiu-o, deu-lho e disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». 23Tomando, então, um cálice e dando graças, deu-lho; e todos beberam dele. 24E disse-lhes: «Isto é o meu Sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. 25Amen vos digo: não mais beberei do fruto da videira, até àquele dia em que o hei de beber, novo, no reino de Deus». 26E, depois de terem cantado um hino, saíram para o Monte das Oliveiras.

        Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • A passagem de hoje, narra a última Ceia de Jesus com os seus discípulos. Ela insere-se no contexto mais amplo da decisão de matar Jesus (vv. 1s); do pacto de traição de Judas (vv. 10s) e do anúncio desta por parte de Jesus (vv. 17-21), bem como do abandono dos discípulos (vv. 26ss) e das negações de Pedro (vv. 29ss). É nesta hora que Jesus se dá aos seus, instituindo o memorial do seu supremo gesto do amor. O texto une dois momentos: a preparação da ceia pascal (vv. 12-16) e a instituição da Eucaristia durante a mesma (vv. 22-26).
  • v. 12 (vv. 12-16: Mt 26,17-19; Lc 22,7-13). 1) Preparação da ceia pascal. Marcos, seguido pelos Sinóticos, faz coincidir a última Ceia de Jesus, com a ceia pascal judaica, situando a morte de Jesus no próprio dia da Páscoa judaica. O v. 12 evoca as prescrições de Ex 12,6-10.14-21 e Dt 16,2‑13, relativas à Páscoa (he. “passagem”: cf. Ex 12,27). A festa da Páscoa, em que o Povo de Israel comemora a sua libertação da escravidão do Egito e entrada na Terra prometida (Ex 12,1-14; 13,3-10; 23,15), celebra-se na noite de lua cheia, de 14 para 15 de nissan (o primeiro mês do calendário judaico, que começa com a primeira lua nova da Primavera). Isto leva a situar a última ceia de Jesus muito provavelmente em 6 de abril de 30 d.C.
  • “O primeiro dia dos Ázimos” era o dia 14 de Nissan, a véspera da festa da Páscoa (Ex 12,18), também chamada “a festa dos Ázimos” (Ex 23,15; 34,18; Lv 23,6; Dt 16,16), porque nela e ao longo de oito dias se comia só pão sem fermento (gr. ázymos). Nesse dia, o filho primogénito jejua em ação de graças por Deus ter poupado a vida dos primogénitos israelitas na noite de Páscoa, no Egito. Nesse dia também, logo de manhã, até às 10 horas, purifica-se a casa de todo o fermento, pois o fermento é símbolo de morte e corrupção, e a Páscoa é princípio de uma vida nova. Prepara-se tudo para a festa e entre as 15 e as 18 h “imola-se a Páscoa”, o cordeiro pascal (Ex 12,6.21; 1 Cor 5,7), que é assado no espeto, tendo as patas traseiras unidas e as dianteiras abertas em forma de cruz. Foram estes os preparativos que os discípulos fizeram.
  • v. 13. Jesus, que estaria no monte das Oliveiras, fora de Jerusalém (Lc 21,37), no lugar identificado como sendo a “gruta do Pai nosso”, envia então dois discípulos (cf. 6,7) à cidade para irem preparar a Páscoa. Mostrando que sabia tudo o que ia acontecer – sendo, pois, a sua paixão e morte da cruz, não um imprevisto que se abateu sobre Jesus, mas o dom livre da sua própria vida pela redenção da humanidade, em obediência à vontade do Pai (8,319,31; 10,33ss.38s.45; 12,7s) – Jesus dá-lhes diversos sinais que os irão conduzir ao local pretendido (cf. 1Sm 10,1-8): virá ao seu encontro um homem carregando uma bilha de água – coisa invulgar, já que isso era tarefa de mulheres –, o qual devem seguir, v. 14, pois ele os levará à casa onde Jesus irá celebrar a Páscoa com os seus discípulos, na sala cedida pelo dono da casa, que já teria combinado tudo com Jesus.
  • v- 15. Este indicar-lhe-á uma “sala grande, no andar superior”, o cenáculo, onde o Senhor também aparecerá aos seus discípulos depois de ter ressuscitado (cf. 16,14) e onde o Espírito Santo descerá sobre eles no dia de Pentecostes (At 1,13; 2,1s). A sala já está “mobilada e pronta” (com os tapetes, almofadas, móveis, utensílios e lâmpadas), mostrando que Deus, no seu desígnio, já dispôs tudo, fazendo com que tudo o que era necessário esteja pronto de antemão. Os discípulos, porém, devem preparar a Páscoa, pois a Páscoa de Jesus, celebrada na Eucaristia, só o será por aqueles que para ela estiverem preparados.
  • v. 16: Os discípulos foram e “encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito”. Jesus sabia tudo o que se ia passar, sendo a sua paixão e morte na cruz uma iniciativa pessoal, uma entrega livre, por amor, entrega que Jesus antecipa na Eucaristia, memorial perene daquela.
  • v. 22 (vv. 22-26: Mt 26,17ss.26ss; Lc 22,7-13.15-20; 1 Cor 11,23ss). 2) A instituição da Eucaristia. Depois do pôr-do-sol, cada família celebra em casa a ceia, presidida pelo pai, durante a qual se come o cordeiro pascal. É o que Jesus faz, fazendo dos seus discípulos a sua nova família (cf. 3,35).
  • “Tomou um pão”. Este pão, sobre o qual Jesus “pronunciou a bênção” (v.23), é a metade do pão ázimo (he. matzá) do meio, o segundo dos três pães ázimos, chamado pão ázimo pascal. A sua “fração (he. yahatz; gr. kláo: 8,6.19; 1Cor 10,16) assinala o início da ceia pascal propriamente dita. É neste momento que Jesus inaugura a sua Páscoa, instituindo a Eucaristia, memorial da verdadeira libertação, não só do Povo de Deus, mas de toda a humanidade, da escravidão (não do Egito e do Faraó, mas) de Satanás, do pecado e da morte, e da sua introdução na verdadeira Terra Prometida que é o Reino de Deus. “Eucaristia” que, por isso, no NT, se chama “fração do pão”.
  • Entretanto, àquele pão partido, que evoca a escravidão no Egito, Jesus dá um novo significado, dizendo: “Isto é o meu Corpo”. “Isto” é um pronome demonstrativo que designa o que na realidade passa a ser aquele pão ázimo: o seu “Corpo”, concebido pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, imolado na cruz, sepultado e ressuscitado, Corpo que assume em si e une a si todos os membros do novo Povo de Deus (1 Cor 6,17-19; 11,23-27; 12,12). A Eucaristia é o dom que Jesus faz de si mesmo e da sua entrega por amor aos seus, para que eles o recebam e assim se unam a Ele e, nele, ao Pai e aos irmãos, sendo transformados naquele que recebem, formando nele um só corpo.
  • v. 23. No final da ceia, Jesus toma o terceiro cálice de vinho, o “cálice da bênção” (he. beraká, gr. euloguía: v. 22; 1 Cor 10,16s), com o qual se comemora a Aliança de Deus com o seu Povo e a entrada deste na terra prometida. Jesus “dá graças” (gr. eucharisteo: 8,6), termo que nos LXX não aparecem nos livros da Bíblia hebraica, mas só nos gregos (5x) tendo no NT o sentido de “dar graças”. Neste momento Jesus introduz uma segunda novidade: em vez de cada um beber do seu cálice, como é habitual, todos bebem do mesmo cálice, o de Jesus. Trata-se dum gesto esponsal, de aliança: no casamento, após o consentimento, os esposos bebem vinho do mesmo cálice.
  • v. 24. Por sua própria iniciativa, Jesus dá ao vinho um novo significado: na realidade, “isto é o meu Sangue da aliança”, uma expressão que cita Ex 24,8. No AT o sangue é sinónimo de “vida” (cf. Gn 9,4; Dt 12,16.23). “Da aliança”: no AT todas as alianças eram seladas com sangue (Hb 9,18) que era “derramado”. “Derramar-se” significa cair por terra, correr, espalhar-se, ou seja, ser morto ou imolado por alguém (cf. Gn 9,6). Este era o ritual dos sacrifícios expiatórios e pelo pecado (cf. Lv 4; 16), tendo sido com a aspersão deste sangue (sacrificial) que foi concluída a primeira aliança de Deus com o seu povo no Sinai (Ex 24,6ss), e o Sumo Sacerdote foi consagrado (Lv 9). Jesus acrescenta três notas: este sangue é o “seu” (“o meu Sangue”) e “é derramado”. O verbo está no particípio presente passivo, aqui, divino, indicando que a entrega de Jesus até à morte se desenrola de acordo com o plano preestabelecido por Deus, sendo um acontecimento divino, intemporal, que está acima de tudo e abarca todos os tempos e realidades (cf. Rm 16,25; Ef 3,9.11; 2Tm 1,9; 1Pd 1,19s). “Em favor de muitos” é uma alusão ao quarto cântico do Servo de Iavé (Is 53,10ss). Este sangue tem um valor expiatório para toda a humanidade, alcançando-lhe o perdão dos pecados. Unido ao tema da aliança (cf. Lc 22,20; 1Cor 11,25), liga o sangue de Jesus “a nova aliança”, referida por Jeremias, “para a remissão dos pecados” (cf. 1,4; Jr 31,31-34). Jesus inaugura aqui a nova aliança, que selará na cruz com o seu próprio sangue “derramado em favor de muitos”, ou seja, de toda a humanidade, consagrando-se assim como “Sumo Sacerdote” e “Mediador da nova aliança” (Hb 9,11‑15).
  • v. 25. Jesus avisa os seus discípulos que se trata do seu último encontro terreno com eles. Pela sua Páscoa, Ele vai entrar numa vida nova, definitiva, no Reino de Deus. Quem bebe o seu Sangue, forma um só com Ele e participa da sua vida nova, bebendo o “vinho novo” (2,22) do seu Espírito, que Ele dá a quem nele crê e renasce pelo batismo, entrando assim na nova aliança.
  • v. 26. Por isso, Jesus termina a ceia pascal cantando o Salmo 136, o grande Hallel, “o hino” pascal por excelência com que a ceia pascal judaica se conclui, celebrando os grandes feitos do amor de Deus e a entrada do Povo de Israel na Terra prometida, acontecimentos que Jesus leva à sua plenitude e nos lega na Eucaristia, memorial da sua Páscoa. 

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)     

a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Como faço eu da eucaristia vida e da minha vida uma eucaristia? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração) 

Salmo responsorial                          Sl 116,12-13.15-18 (R.13)

Refrão:       Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.

Como agradecerei ao Senhor
tudo quanto Ele me deu?
Elevarei o cálice da salvação,
invocando o nome do Senhor.      R.

É preciosa aos olhos do Senhor
a morte dos seus fiéis.
Senhor, sou vosso servo, filho da vossa serva:
quebrastes as minhas cadeias.      R.

Oferecer-Vos-ei um sacrifício de louvor,
invocando, Senhor, o vosso nome.
Cumprirei as minhas promessas ao Senhor,
na presença de todo o povo.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor Jesus Cristo, que neste admirável sacramento nos deixastes o memorial da vossa paixão, concedei-nos a graça de venerar de tal modo os sagrados mistérios do vosso Corpo e Sangue que sintamos continuamente os frutos da vossa redenção. Vós que sois Deus e viveis e reinais com o Pai na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc