Décimo Domingo do Tempo Comum - 2024

 

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (3,20-35)

Naquele tempo, 3,20Jesus vem para casa [com os seus discípulos] e a multidão acorre de novo, a ponto de eles nem sequer poderem comer pão. 21Tendo ouvido isto, os seus parentes puseram-se a caminho para o deter, pois diziam: «Está fora de si». 22Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Ele tem Beelzebul»; e ainda: «É pelo chefe dos demónios que expulsa os demónios». 23Mas Jesus, chamando-os a si, dizia-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? 24Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode subsistir. 25E se uma casa estiver dividida contra si mesma, tal casa não poderá subsistir. 26E se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir, mas chegou ao fim. 27Ninguém pode entrar na casa de alguém que é forte e roubar os seus bens, sem primeiro amarrar o que é forte; então poderá roubar a sua casa. 28Amen vos digo: tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e as blasfémias que tiverem proferido; 29mas quem blasfemar contra o Espírito Santo jamais terá perdão, é réu de pecado eterno». 30Porque diziam: «Tem um espírito impuro». 31Chegam então a sua Mãe e os seus irmãos que, ficando fora, de pé, o mandaram chamar. 32A multidão estava sentada em volta dele e dizem-lhe: «Eis que a tua Mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora, à tua procura». 33Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem são a minha Mãe e os meus irmãos?». 34E, olhando em redor, para os que estavam sentados, em círculo, à sua volta, diz: «Eis a minha Mãe e os meus irmãos. 35Pois quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, irmã e mãe».

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • O texto hoje apresenta três cenas dispostas em forma de quiasma: a primeira, própria de Marcos (A: vv. 20s), e a última (A’: vv. 31-35), com a família de Jesus; e a do meio (B), Jesus e os escribas de Jerusalém (vv. 22-30).
  • v. 20. Estamos novamente em Cafarnaum e Jesus continua a pregar o Reino de Deus por palavras e obras. Entretanto, vai crescendo a contestação contra ele. Tomando como pretexto alguns casos particulares, os chefes judaicos manifestam a sua oposição a Jesus, multiplicando as controvérsias com Ele. Marcos narra-as, seguindo um esquema fixo: 1) apresentação da questão; 2) discussão; 3) um “dito” final de Jesus, que não é apenas a solução da controvérsia, mas também uma auto revelação de Jesus.
  • A cena passa-se “em casa”. Em Marcos, “a casa” é cifra da comunidade cristã, a Igreja. Aqui, sem especificação, é a casa de Jesus (2,1; 9,33; Mt 4,13); mas também pode ser outra casa onde Ele se reúne com os seus discípulos (1,29; 2,15; 7,24; 10,10; 14,3). A Ele acorre de novo tanta gente (2,2) de toda a parte (vv. 7-10), que nem Ele, nem os apóstolos, têm tempo “para poderem comer um pouco de pão” (6,31).
  • v. 21. Perante tal notícia e opiniões tão contraditórias sobre Jesus, tido por uns como profeta, por outros como um louco que está “fora de si” (Jo 10,20; cf. Mt 11,18; Jb 12,17; 2Cor 5,13), os parentes de Jesus, receando que a má fama recaia sobre a sua terra, até então desconhecida, ou sobre a sua pobre, mas honrada, família (cf. Eusébio, Hist. Eccl. 3,20,1-5), temendo uma deturpação política do caso (cf. Lc 23,5), percorrem os 43 km que separam Nazaré de Cafarnaum para o “deter” (6,17; 12,12; 14,1.44.46), chamar “à razão” e fazer regressar a casa. Para isso, levam consigo Maria, sua Mãe (6,3), esperando que Ele assim lhes dê ouvidos.
  • v. 22 (vv. 22-30: Mt 12,24-29.31 s; Lc 11,15-22). Entretanto, segue-se a controvérsia com os escribas. Os “escribas” eram juristas, formados na Lei, que se dedicavam a estudar as Escrituras, que liam, traduziam e interpretavam nas sinagogas (cf. Ne 8,1-18), criando normas para todas as situações e ensinando o povo a observar a Lei escrita e a oral. Estes vêm de Jerusalém (7,1), certamente a mando dalgum membro do Sinédrio, tendo percorrido 180 km só para vigiar Jesus. Mau sinal (cf. 8,31; 10,33; 11,18.27; 14,1.43.53; 15,1.31). Recorrem em primeiro lugar à arma dos cobardes, a calúnia, declarando que Jesus está “possesso dum espírito impuro” (cf. v. 30; Zc 13,2; Jo 7,20; 8,48; 10,20) e age sob custódia do chefe dos demónios, Beelzebul (2Rs 1,2s, “senhor das moscas”, o nome pejorativo dado a Satanás: v. 23), sendo por isso que expulsa os demónios (Mt 9,34) com uma só palavra.
  • v. 23. À boa maneira dos rabinos, Jesus responde com uma pergunta, seguida de três parábolas, que o povo podia entender. A sua resposta consta de três passos. 
  • v. 24. 1) As parábolas do reino, v. 25, e da “casa” (aqui, “família”: Lc 1,27) divididos, ponde a descoberto o absurdo da calúnia. Só Deus pode expulsar os demónios com uma palavra (cf. 9,38ss; Mt 12,28p). v. 26. Dizer, porém, que Jesus o faz com a ajuda de Satanás é uma blasfémia (v. 29), porque quereria dizer que Satanás tem mais poder que Deus. É também um absurdo, negar a própria evidência, pois significaria que Satanás se tinha posto contra si mesmo e recorrido a um mais fraco do que ele para se destruir a si próprio. Satanás é que é o autor do mal e da divisão, o pai da mentira e da calúnia, ao passo que Jesus é a verdade, fonte da salvação, que cria comunhão (cf. v. 34).
  • v. 27. 2) A parábola do mais forte. Jesus descreve Satanás como “um forte” (Is 27,1), a quem ninguém, a não ser outro mais forte, pode roubar a casa. Jesus é este “forte” (Is 49,24; Ps Sal 5,3; cf. Is 53,12), ou melhor, é “o mais forte” (1,7; título dado a Deus: Is 40,10; Dn 9,4) que chegou e venceu Satanás e agora expulsa demónios, libertando os que estão sob o seu domínio (1,24). Essa seria uma das obras do Messias (cf. Gn 3,15; Is 27,1; Jr 31,11; Sl 91,1-13; Jr 23,6; Sf 3,15-20; Lc 1,71; Test Levi 18: “Beliar será amarrado [pelo Sumo Sacerdote-Messias] e este dará aos seus filhos poder para pisar os espíritos maus”), que Jesus faz (6,7; 16,17): Ele é, pois, o Messias.
  • v. 28 (vv. 28-30: Mt 12,31-33; Lc 12,10). 3) O pecado contra o Espírito Santo. Todos os pecados têm perdão, v. 29, exceto o pecado contra o Espírito Santo. Este consiste em negar a evidência da verdade, v. 30: v. 22, afirmando, por exemplo, como faziam os judeus do seu tempo, que Jesus fazia milagres «por artes mágicas, seduzindo e desencaminhando Israel» (Sahn 107b; Sota 47a; S. Justino, Dial. Tryph. 69). Quem o afirma não é perdoado, não porque Deus não queira perdoar, mas porque rejeita o Espírito Santo, que só Jesus dá e é a remissão dos pecados.
  • v. 31 (vv. 31-35: Mt 12,46-50; Lc 8,19-21). Por último, Jesus apresenta a sua nova família. Os “irmãos” (6,3p) e “irmãs” de Jesus são os seus parentes (v. 21), que trouxeram a sua Mãe e ficam com ela, de pé, “fora” da casa, mandando chamar Jesus e dizer que venha ter com eles.
  • v. 32. Para os judeus os laços de sangue são sagrados. Mas há um laço ainda mais sagrado do que esses: o amor e a obediência a Deus, como ilustra o sacrifício de Isaac por Abraão, que “fez a vontade de Deus” (Gn 22,16.18) e se tornou “pai de muitos povos” (Gn 17,5). Para Jesus, porém, mais importante do que os laços de sangue é a vontade do Pai que nele quer estabelecer novos laços com a humanidade, mais estreitos que os da carne, alargando a sua família a todos os homens. Jesus não deixa que os laços de sangue o afastem da sua missão, nem da sua nova família, a única que permanecerá. Todos podem entrar nela e dela fazer parte: judeus ou gentios (cf. v. 8), homens e, de forma inaudita e revolucionária, também mulheres, que Jesus menciona explicitamente aqui, depois de ter falado apenas em “mãe e irmãos” (10,30p; e crianças: 9,36s).
  • Para se encontrar Jesus, não se pode ficar “fora” da Igreja: há que entrar na sua família, superar os laços de sangue (e culturais: Gl 3,28) e tornar-se seu discípulo, estabelecendo novos laços com Ele, e n’Ele, com os outros discípulos, para nela, vivendo em união com Ele e com aqueles que Ele faz seus “irmãos” e “irmãs” (10,30p; cf. Mt 23,8; 28,10; Jo 20,17), o escutar, guardando a sua Palavra e seguindo-o de todo o coração. Isto vale para todos, também para a sua Mãe e os seus parentes. Tal é a vontade de Deus: quem a faz, não fica estéril, mas dará muito fruto (cf. 4,20), atraindo outros irmãos e irmãs à fé, tornando-se assim, no seio da Igreja, à semelhança de Maria, “mãe” de Jesus.

 Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Já tive problemas na minha família por causa da prática da fé?
  • A calúnia é a arma dos cobardes. Já tive alguma experiência disto?
  • Já neguei conscientemente a evidência dos factos?
  • Eu e a minha comunidade estamos abertos aos outros ou promovemos o individualismo e o sectarismo, que são o oposto da vida eclesial?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

 

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração) 

Salmo responsorial                                        Sl 130, 1-4.6-8 (R. 7)

Refrão:        Junto do Senhor a misericórdia,
junto do Senhor a abundância da redenção.

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.   R.

Se tiverdes em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão
para Vos servirmos com reverência.    R.

Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora.           R.

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há de libertar Israel
de todas as suas faltas.   R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor nosso Deus, fonte de todo o bem, ensinai-nos com a vossa inspiração a pensaro que é reto e ajudai-nos com a vossa providência a pô-lo em prática. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc