Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João  (6,1-15)

Naquele tempo, 6,1Jesus partiu para o outro lado do Mar da Galileia ou de Tiberíades. 2Seguia-o numerosa multidão, porque viam os sinais que Ele fazia sobre os enfermos. 3Jesus subiu ao monte e ali se sentou com os seus discípulos. 4Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. 5Levantando os olhos e vendo que uma numerosa multidão vem ter com Ele, diz a Filipe: “Onde compraremos pão para que eles tenham de comer?” 6Dizia isto para o pôr à prova, pois Ele sabia o que estava para fazer. 7Respondeu-lhe Filipe: “Duzentos denários de pão não chegam para que cada um deles receba um pouco”. 8Diz-lhe um dos seus discípulos, André, o irmão de Simão Pedro: 9”Está aqui um rapazinho que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos. Mas que é isso para tanta gente?”. 10Diz Jesus: “Fazei as pessoas reclinar-se”. Havia muita erva no lugar. Reclinaram-se, pois, os homens em número de cerca de cinco mil. 11Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os aos que estavam reclinados, fazendo o mesmo com os peixinhos, tanto quanto queriam. 12Quando ficaram saciados, diz aos seus discípulos: “Recolhei os bocados que sobraram para que nada se perca”. 13Recolheram-nos, pois, e encheram doze cestos com os bocados dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. 14Ao verem o sinal que fizera, as pessoas diziam: “Este é verdadeiramente o profeta, o que vem ao mundo”. 15Mas Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • Começamos hoje a leitura do cap. 6 do Evangelho de S. João que nos acompanhará durante cinco domingos. Deste capítulo, só leremos a multiplicação dos pães (vv. 1-15) e o diálogo sobre o Pão da vida (vv. 22-71), omitindo a caminhada de Jesus sobre as águas (vv. 16-21).
  • v. 1 (vv. 1-13: Mt 14,13-21; Mc 6,32-44; Lc 9, 10b-17; cf. Mt 15,32-39; Mc 8,1-10). Neste episódio da multiplicação do pães, muito semelhante ao relato da primeira multiplicação dos pães nos Sinóticos, que se inspira, tal como nestes, na multiplicação dos pães por Eliseu (2Rs 4,42ss), João introduz este “sinal” (v. 14) como figura da Eucaristia, que apresenta em contraluz, de forma apenas temática, como a celebração da nova Páscoa, a de Jesus, confrontando-a com os principais temas da páscoa judaica. Naquela, o povo atravessara o Mar Vermelho; aqui, Jesus atravessa o Mar da Galileia ou de Tiberíades (21,1), em direção a um local próximo desta cidade (v. 23). João não diz de onde Jesus partiu (v. 22), achando-se Ele no episódio anterior no Templo de Jerusalém (5,1.14), mas é provável que tenha partido de Cafarnaum (v. 17).
  • v. 2. Tal como uma grande multidão seguira Moisés (cf. Ex 12,37s), uma grande multidão segue Jesus (v. 5; 12,12; Mt 8,1; 12,15; 19,2; 20,29; Mc 6,34; 8,1; Jr 31,8). O povo seguia Moisés, porque fazia grandes sinais; o povo segue Jesus porque via os “sinais” que Ele fazia. Estes são aqui resumidos na cura dos “enfermos” (gr. asthenês: Ez 34,4), termo genérico que designa alguém que está debilitado pela fome, a sede, o sofrimento, a opressão (vg. 1Sm 2,4s), neste caso, pela doença.
  • v. 3. No Êxodo, Moisés subira ao monte Sinai; neste novo êxodo, Jesus, o novo Moisés, sobe também a um monte (v. 15; cf. Mt 5,1).
  • v. 4. João situa este acontecimento perto da Páscoa, a segunda das três páscoas que balizam o ministério de Jesus (2,13; 11,55). João só narra o que o que os Evangelhos sinóticos omitiram (Eusébio, Hist. Eccl. 3,24,7). Por isso, não fala, como os Sinóticos e Paulo, da instituição da Eucaristia na Última Ceia, mas aproveita a multiplicação dos pães para aprofundar o sentido da Eucaristia, a Ceia pascal instituída por Jesus, que alimenta o povo de Deus no seu êxodo rumo à pátria celeste.
  • v. 5. “Levantando os olhos” para avistar toda a multidão (4,35; Gn 13,10; 2Sm 18,2), Jesus apercebe-se do seu estado (cf. 2,3; Mc 6,34p) e confronta os discípulos com a fome dela (cf. Mc 8,2; 2Rs 4,42), perguntando a Filipe (1,43-46.48; 12,21s; 14,8s), onde hão “de comprar pão para lhes dar de comer” (4,8; Is 55,1; cf. Nm 11,13; Ex 16,3.15).
  • v. 6. Jesus fá-lo para “pôr à prova” (8,6) a fé de Filipe (cf. Mt 16,7-11; Mc 6,16-21). A Eucaristia é o grande sacramento (“mistério”) da fé (vv. 34.40.64.69). No primeiro êxodo, o povo tinha recebido o maná; agora Jesus vai fazer algo maior, cumprindo de forma admirável o que anunciara Is 55,1-13, passagem que subjaz a todo este capítulo.
  • v. 7. Filipe reconhece a gravidade da situação, lamenta-o, mas diz que ela não tem solução, pois nem duzentos denários de pão bastariam para alimentar tanta gente (Mc 6,37). Um denário equivalia a um salário mínimo diário. Onde iriam arranjar tanto pão?
  • v. 8. Já André não se lamenta e procura uma solução. Ele foi o primeiro a seguir Jesus (1,39s) e Filipe o primeiro a ser por Ele chamado (1,43). Dos cinco primeiros discípulos, eles foram os únicos a ir ter com outros para lhes anunciar Jesus e os levar até Ele. Ambos aparecerão novamente juntos como ponte entre as pessoas e Jesus na ocasião em que Jesus anuncia chegada a “hora” da sua Páscoa (12,22; 13,1).
  • v. 9. André encontra um rapazinho que tem cinco pães de cevada (cf. 2Rs 4,42s) – pães mais pequenos, baratos e doces do que os de trigo – e dois pequeninos peixes (provavelmente secos e salgados), a merenda que os mais pequenos levavam para comerem no caminho. A soma de ambos dá sete, o número de nações gentias que habitavam Canaã (Dt 7,1; At 13,19). Sete simboliza a plenitude: o rapazinho não faz cálculos, confia em Jesus e dá tudo o que tem (cf. Lc 21,3s) para ajudar a alimentar aqueles 5.000 homens, o que, segundo a maneira de contar de então, em que se mencionavam apenas os varões (Ex 12,37), equivale a umas 20.000 pessoas. Só quem é simples, confia em Jesus e partilha o que tem sintoniza com o pensamento e os desejos de Jesus.
  • v. 10. Jesus manda o povo “reclinar-se” sobre a relva. É uma alusão à ceia pascal judaica, em que os convivas comem reclinados à mesa, apoiados sobre um cotovelo, indicando que são pessoas livres (cf. 13,12.25; 21,20; Lc 22,27). Jesus inaugura uma nova Páscoa. A nota de haver muita erva no local evoca o Sl 23,2 e Ez 34,13s, aludindo a Jesus como o Messias, o Bom Pastor do Povo de Deus (10,7s).
  • v. 11. "Jesus tomou os pães e, tendo dado graças (gr. eucharistô), distribuiu-os aos que estavam reclinados". João descreve a multiplicação dos pães como figura da Eucaristia (gr. “ação de graças”), instituída na Última Ceia (Lc 22,19; 1Cor 11,23s). Depois Jesus faz o mesmo com os peixinhos (cf. 21,9s.13). A partilha do rapazito e o gesto de Jesus levam os presentes a imitá-los, partilhando também eles o que traziam. Comem todos “tanto quanto queriam”: é uma alusão ao maná (Ex 16,17s.21). A Eucaristia é um milagre de partilha (cf. 1Cor 16,2; 9,5-15; At 2,44-47; 4,34s): nasce da partilha e leva à partilha com os outros.
  • v. 12. Por fim, Jesus manda recolher (gr. synágo, “reunir”) “os bocados que sobraram para que nada se perca” (17,12; Ez 34,16; cf. 2Rs 4,43s). No Êxodo, o maná não se devia conservar até ao dia seguinte (Ex 16,19), exceto à sexta-feira, para se guardar o “descanso” sabático (gr. anápausis: Ex 16,22ss; Sl 22,2). É na Eucaristia que Jesus reúne “os filhos de Deus que andavam dispersos” (11,52; Ez 34,13; Dt 30,3s) e os introduz no seu descanso, fazendo-os participar no banquete do Reino dos céus (cf. Ex 24,10ss; Ap 19,9).
  • v. 13. O número “doze” evoca as doze tribos de Israel, o Povo de Deus. Os “cestos” (gr. kófinos) eram de dimensão média, mais largos no fundo do que nas bordas, servindo para transportar alimentos (Jz 6,19; eram bem mais pequenos que o spurís, Mc 8,8.20p; At 9,25). Os primeiros cristãos celebravam a Eucaristia na noite em que começava o primeiro dia da semana (At 20,7; 1Cor 16,2). Para ela levavam o que tinham poupado jejuando (geralmente dois dias na semana: Lc 18,12; Did. 8,1) para ser partilhado com os necessitados (Did. 4,4-8). Na Eucaristia, além do pão maior que se consagrava, partia e do qual todos comungavam (1Cor 10,17), consagravam-se também os pães que cada um trazia e que no final da Eucaristia recolhia e levava para casa, envolto num pano (o corporal), para aí dele comungar cada dia ao longo da semana (cf. At 2,42.46; Mt 7,6). A Eucaristia é o pão diário (gr. sêmeron) sobre-essencial (gr. epioúsios) dos filhos de Deus (Mt 6,11). Por isso, João já não fala dos peixes, pois só lhe interessam os pães “eucaristiados” por Jesus.
  • v. 14. O povo interpreta o gesto de Jesus (“o sinal”: 2,11) erradamente e diz: “Este é verdadeiramente o Profeta que vem ao mundo”. Jesus é “o Profeta” (1,21.25) anunciado por Moisés, ou seja, o Messias prometido (Dt 18,15.18). “O que vem” é uma alusão ao Filho do homem, profetizado por Daniel (cf. 1,15;4,25;11,27; Dn 7,13; Mt 3,11), que vem hoje (cf. 6,14; 12,13.15) e há de vir na sua glória (Ap 1,4.8; 4,8; 22,20). “Ao mundo” (1,9; 3,19; 9,39; 11,27; 12,46s; 16,28; 18,37), porque o novo Povo de Deus, reunido em volta da Eucaristia, será formado por pessoas de todas as nações.
  • v. 15. A mente das pessoas, porém, estava deformada pela ideologia reinante que via no Messias um rei terreno, triunfante e dominador. Por isso, ao ver o sinal de Jesus, logo o querem proclamar Messias e fazer rei (12,13; cf. 1,49; 19,12). Mas Jesus, cujo reino não é deste mundo (18,33-37) e conhece bem a “tentação” (cf. Nm 14,22) do homem querer ter um Deus visível (Ex 32,4.40s) e um rei que possa controlar (Jz 8,23) – rejeitando assim o Deus vivo e não deixando que Ele reine sobre ele –, retira-se sozinho para o monte (v. 3; para orar: Mc 6,44). Esta fuga de Jesus para o monte, depois de se mencionar que o queriam “arrebatar” é provavelmente uma alusão à sua morte (10,12; Sl 22,14; Sb 4,11; Tb 1,20), graças à qual Ele será glorificado e constituído Senhor e Messias (At 2,36) que continua a presente e atuante no meio dos seus (Mt 28,20; Mc 16,20).

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Como reajo perante os problemas e necessidades das pessoas: como Filipe ou como André e o menino?
  • Hoje, como ontem, muitos vão atrás de chefes populistas, que lhes prometem a solução rápida e eficaz de todos os seus problemas. Que diz o Evangelho sobre isto?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o coração)

Salmo responsorial                         Sl 145,10-11.15-18 (R. cf. 16)

Refrão:        Vós abris, Senhor, a vossa mão e saciais a nossa fome. 

Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas
e bendigam-Vos os vossos fiéis.
Proclamem a glória do vosso reino
e anunciem os vossos feitos gloriosos.      R.

Todos têm os olhos postos em Vós,
e a seu tempo lhes dais o alimento.
Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.      R.

O Senhor é justo em todos os seus caminhos
e perfeito em todas as suas obras.
O Senhor está perto de quantos O invocam,
de quantos O invocam em verdade.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, nosso Deus, protetor dos que em Vós esperam, sem Vós nada tem valor, nada é santo. Multiplicai sobre nós a vossa misericórdia, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens temporais que possamos aderir, desde já, aos bens eternos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc