Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João (6,24-35) 

6,24Quando a multidão que permanecera à beira do lago viu que nem Jesus estava ali, nem os seus discípulos, subiu para os batéis e veio para Cafarnaum, procurando Jesus. 25Ao encontrá-lo na outra margem do mar, disseram-lhe: “Rabbi, quando chegaste aqui?”. 26Respondeu-lhes Jesus e disse: “Amen, amen, vos digo: procurais-me, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. 27Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece para a vida eterna e que o Filho do homem vos dará; pois foi a Ele que Deus, o Pai, marcou com o seu selo”. 28Disseram-Lhe então: “Que havemos de fazer para realizar as obras de Deus?”. 29Respondeu Jesus e disse-lhes: “Esta é a obra de Deus: que acrediteis naquele que Ele enviou”. 30Disseram-lhe: “Que sinal fazes Tu, para que vejamos e creiamos em Ti? Que obra realizas? 31Os nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer pão do céu’”. 32Disse-lhes então Jesus: “Amen, amen, vos digo: não foi Moisés que vos deu o pão do céu; mas o meu Pai é quem vos dá o verdadeiro pão do céu. 33Pois o pão de Deus é o que desce do Céu e dá vida ao mundo”. 34Disseram-lhe então: “Senhor, dá-nos sempre esse pão”. 35Disse-lhes Jesus: “Eu sou o pão da vida: quem vem a Mim nunca mais terá fome e quem acredita em Mim nunca mais terá sede”.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • v. 24. O texto de hoje apresenta-nos a primeira parte do ensinamento de Jesus sobre o Pão da vida (6,22-71). Ao ver o milagre da multiplicação dos pães, o povo vai atrás de Jesus. Tinha comido até à saciedade e queria que fosse sempre assim (v. 34), sem sequer se ter apercebido que ela era um “sinal”, um apelo de Deus a ir além e a descobrir um sentido mais profundo. Ao ver que Jesus e os seus discípulos já não se achavam ali (cf. vv. 15s), as pessoas sobem para os seus “batéis” – pequenas embarcações, de gente pobre –, e vão até Cafarnaum (vv. 17.24.59; 2,12; 4,46), “procurando” Jesus (v. 26).
  • v. 25. 1º diálogo. Ao encontrarem-no “na outra margem do mar” (“da Galileia”: v. 1), Jesus tem com eles um longo colóquio, apresentado em forma de diálogo, a modo da transmissão de um ensinamento de um rabino aos seus discípulos. Por isso começa com o vocativo “rabbi” (lit. “meu grande”). O ensinamento rabínico parte duma pergunta, posta pelo rabino ou, como aqui, por alguém, e evolui em forma de diálogo.
  • Neste ensinamento, Jesus aprofunda, de forma mistagógica, o sentido da Eucaristia (enquanto Palavra e pão eucarístico), apresentando-a em contraste com a páscoa judaica. Jesus é o verdadeiro pão do céu que alimenta o novo Povo de Deus no êxodo definitivo rumo ao Pai.
  • Este ensinamento compõe-se de sete diálogos (o número da plenitude, que evoca as sete colunas da casa onde a sabedoria oferece o seu banquete: Pv 9,1), cada um deles introduzido por uma pergunta, incluindo doze interpelações: sete, das pessoas (vv. 25, 28, 30 [2x], 34 [pedido], 42 [2x], 52, 60); quatro, de Jesus (vv. 61, 62, 67, 70); e uma, de Pedro (v. 68):

1º diálogo (vv. 22-27), com o povo, que procura Jesus e o encontra na sinagoga de Cafarnaum (cf. v. 39). 

2º diálogo (vv. 28-29), com o povo: a fé, obra de Deus. 

3º diálogo (vv. 30-40), com o povo: Jesus é o “sinal” de Deus (cf. Is 55,13.4), o Pão descido do céu para dar a vida ao mundo. 

4º diálogo (vv. 41-51), com os judeus: Jesus é o Pão que desce do céu, transmitindo a Palavra da vida. Murmurações dos judeus. 

5º diálogo (vv. 52-59), com os judeus: Jesus é o Pão do céu, que dá a vida, mediante a comunhão da sua carne e do seu sangue. 

6º diálogo (vv. 60-66), com os discípulos, introduzido por uma pergunta de Jesus: incompreensão e escândalo dos discípulos. 

7ºdiálogo (vv. 67-71), com os Doze, a partir de uma nova pergunta de Jesus: confissão de fé de Pedro e anúncio da traição de Judas.

  • Nestes diálogos Jesus surge como a resposta de Deus à ânsia mais profunda do homem, viver para sempre, da qual a fome e a sede são expressão. Ao mesmo tempo, aponta-se a resposta que Deus espera do homem: a fé em Jesus e na sua Palavra, acolhida à luz do Espírito Santo.
  • v. 26. À primeira vista, a multiplicação dos pães tinha sido um êxito: a multidão, entusiasmada, procura Jesus com afã e segue-o por todo o lado. Mas Jesus não se ilude, porque sabe que as pessoas se detiveram na superfície, vendo nela apenas a promessa da fartura de alimento. Buscavam pão e vida, mas só para o corpo, para esta vida; “procuram” Jesus (gr. zeteo, Jo, 32x: v. 24; Is 55,6; Am 8,12; Ex 33,7; Sl 24,6; 27,8; Pv 8,17; Sb 1,1; 8,2 Mc 1,37), não por causa dele (cf. 20,15: tina zêteis: “a quem procuras?”), o Dador, nem porque acreditem nele em virtude dos sinais que fez (vv. 2.14.30; 2,11.23), mas por causa dos seus dons, do que Ele dá (cf. 1,38: ti zêteite, “que procurais”). Perseguem a felicidade, mas apenas como ideal mundano de ter pão com fartura, sem trabalhar.
  • v. 27. Jesus incita-os a ir mais longe. Evocando Is 55,1ss, recorda-lhes que para ter a verdadeira vida é preciso “trabalhar”, esforçando-se por garantir não tanto o pão para o corpo, mas antes o alimento que “permanece” (cf. 4,32; Mt 6,19s.33; 25,34ss; Is 66,22; Dn 6,27) para a vida eterna, pão este que é obra de Deus, leva a Deus e dá Deus (cf. 4,14; Sr 42,23). Esse é o alimento “que o Filho do Homem vos dará”. “O Filho do homem” é o Messias (1,41.51; Dn 7,13s), através do qual Deus firmará uma aliança eterna com o seu povo, cumprindo as promessas feitas a David (cf. Is 55,3).
  • Jesus é, de facto, o Messias, Aquele a quem o Pai “marcou com o seu selo”. O selo servia para autenticar um documento e para assinalar a propriedade de alguém sobre algo ou sobre alguém (um escravo), pondo nele, de forma indelével, a efígie do autor ou a marca do possuidor. O “selo de Deus” é o Espírito Santo (cf. 2Cor 1,22; Ef 1,13; 4,30). Jesus não só é a verdadeira efígie, imagem do Pai, mas o próprio Deus, que, enquanto homem, foi ungido pelo Espírito Santo, certificando assim Deus, o Pai, que Ele é “seu” (cf. Ct 4,12; 8,6): o seu Filho, a quem conferiu a Sua própria autoridade (cf. Est 3,10); o seu Enviado, que transmite a sua Palavra irrevogável e definitiva (cf. 1 Rs 21,8; Est 8,8; Is 8,16) e através do qual selará a nova aliança (cf. Ne 10,1), cumprindo as Escrituras (cf. Dn 9,24). Só Jesus dá o verdadeiro pão, o divino, que comunica a verdadeira vida, a vida eterna, que Ele é e nele se encontra.
  • v. 28. 2º diálogo. Sendo preciso trabalhar para ter este pão, o povo pergunta a Jesus o que há de fazer “para realizar as obras de Deus”.
  • v. 29. Jesus responde: “Esta é a obra de Deus: que acrediteis naquele que Ele enviou” (1Jo 3,23). “Acreditar em” é entregar-se àquele em quem se crê, apoiando-se nele e na sua palavra, obedecendo-lhe e confiando-lhe a própria vida. Acreditar em Jesus é “a obra de Deus”, na dupla aceção do genitivo: em sentido objetivo, porque a vida cristã, enquanto vida no Espírito (cf. v. 63), é vida na fé, que nasce da fé e à fé conduz (cf. Rm 1,17), levando aquele que acredita em Jesus a fazer as mesmas obras que Ele faz (14,12); em sentido subjetivo, porque a fé é dom de Deus, dado a todos os que acolhem a palavra do seu Filho (cf. 1,12). Jesus é o novo Moisés, Aquele que o Pai “enviou” (gr. apostellô, Jo, 27x: v. 57; Ex 3,10.13ss; 4,28; Dt 34,11; Sl 147,18; Is 48,16; 61,1; Jr 7,25).
  • v. 30. 3º diálogo. Para acreditar em Jesus, o povo exige dele um “sinal” (2,18; 4,48; Mt; 16,1, Mc 8,12p; Lc 11,16; 1Cor 1,22), tentando assim Jesus como seus “pais” tinham tentado a Deus “no deserto” (Ex 17,7; Dt 6,16).
  • v. 31. Se Jesus é o Messias deve mostrar que é maior que Moisés, que “deu” a Israel o maná (v. 49; Sl 105,40; Ex 16,4), como diz o Sl 78,24: “Deu-lhes a comer pão do céu”. A fé dos ouvintes está voltada apenas para o passado. Moisés continua a ser a grande referência em que acreditam. Se Jesus quer que acreditem nele, deve fazer algo maior do que Moisés. No fundo, só querem que o passado se repita e desejam ter um pão que nunca mais acabe e prolongue esta vida.
  • v. 32. Jesus, porém, não deixa margem para dúvidas, declarando que é o seu Pai que “dá o verdadeiro pão do céu” (Ex 16,4.15; Ne 9,15; Is 55,3). O maná foi dado por Deus, não por Moisés, mas só no deserto e, embora descesse do alto (como o orvalho), era apanhado no solo (Ex 16,14.16s.21; Nm 11,9). Ora, “o sinal” que os judeus pedem a Jesus e que o Pai dá não é algo que Jesus faça, mas alguém que lhes é dado por Deus: o próprio Jesus (v. 35). Jesus é “o verdadeiro pão do céu” que “o Pai dá” (no presente do indicativo; cf. v. 31: edôken, aor. ind.: 3,16; 4,10; 13,3). “Verdadeiro” (gr. alêthinós: Jo, 9x: 1,9; 15,1) é o adjetivo que carateriza Deus (7,28; 17,3) e tudo que é dele. Não significa que o maná não tivesse existido, mas que ele é, tal como todo o AT, apenas anúncio, figura e profecia de Jesus Cristo, que é o acontecimento, a realidade, a revelação plena, o cumprimento definitivo de tudo o que Deus é, revelou e prometeu e que durará para sempre.
  • Ao dizer que o pão do céu é dado pelo “Pai”, Jesus indica que a Eucaristia é o alimento próprio dos filhos de Deus (cf. v. 27), daqueles que “receberam” Jesus e “acreditaram” nele (1,12), renascendo do alto pela água e pelo Espírito (3,5). É “o nosso pão sobre-essencial” (gr. epiousiós: Mt 6,11; Lc 11,3) que os filhos de Deus pedem no Pai-nosso e do qual os primeiros cristãos comungavam todos os dias, partindo-o nas suas casas (cf. At 2,46).
  • v. 33. Jesus é “o pão de Deus”: em sentido subjetivo, porque é o pão que Deus dá; em sentido objetivo, porque é o pão que dá Deus. Isso só acontece porque Ele é o “verdadeiro pão” (v. 32), que “desce do céu” (vv. 41s.50s. 58; cf. v. 38; 3,13). O verbo está no presente, porque, ao invés do maná, que deixou de cair ao fim de quarenta anos, mal o povo entrou na Terra Prometida (cf. Ex 16,35; Js 5,12), Jesus é o pão do céu dado pelo Pai, dia após dia. “Pão” é sinónimo de “alimento”, símbolo de tudo o que o homem precisa para viver. Jesus é “o Pão que desce do céu” porque é o enviado do Pai que cumpre a Sua vontade (3,13; Is 55,10): “dar vida”, ou seja, a vida eterna (12,50); “ao mundo”, quer aos judeus, quer aos gentios, que nele acreditarem (cf. 3,16; 5,24).
  • v. 34. O povo não percebe que Jesus está a falar de si mesmo, que Ele é “o sinal” que pediu e interpreta à letra o que Ele lhe disse, numa perspetiva terrena, pedindo‑lhe então que lhe dê “sempre desse pão”: é o mal-entendido, típico de João (cf. 4,15).
  • v. 35. Jesus convida o povo a passar para um plano superior, o da fé, mostrando-lhe que a fome é a expressão carnal dum desejo humano, muito mais profundo, que tem a sua fonte em Deus e a Ele conduz: o de viver para sempre. Desejo que só Jesus pode satisfazer, porque é o “Pão da vida”, que ressuscitou dos mortos para dar a vida eterna aos que nele acreditam, ressuscitando-os no último dia, o da sua Vinda gloriosa. Para lá chegar, Jesus apresenta-se, em contraluz com o AT, como a sabedoria eterna de Deus ou, melhor ainda, como o próprio Deus. “Eu Sou” é o nome divino revelado a Moisés: Jesus é Iahveh, Deus. Aqui o nome divino é usado com um complemento, indicando que Jesus é e faz o que afirma enquanto Deus feito homem: “o Pão da vida” (v. 48), ou seja, “o pão vivo” (v. 51) que, tal como “a árvore da vida” (Gn 3,22!), faz viver para sempre quem dele comer.
  • Só Jesus pode alimentar o coração humano com a sua Palavra, saciá-lo com Ele mesmo, de modo que “quem vem a Ele” (vv. 37.44s.65; 5,40; 7,37; Is 55,3) “nunca mais terá fome” (cf. Is 49,10) e quem acredita nele “nunca mais terá sede” (4,14; Is 49,10; cf. Sr 24,21), ao invés do que aconteceu a Israel durante o Êxodo no deserto (Ex 16,3; 17,3) e no exílio, no cativeiro (Is 55,1). Jesus dessedentá-lo-á ao longo da sua peregrinação sobre esta terra com o seu Espírito e alimentá-lo-á com o pão da sua Palavra e da Eucaristia, até que o sacie para sempre junto dele no Pai (Ap 7,16). A pergunta inicial de Jesus no Quarto Evangelho aos que veem até Ele, “que procurais?” (1,38) e a sua promessa, “vinde e vereis” (1,39; cf. Ex 33,7), encontra aqui, na Eucaristia, a resposta mais plena e verdadeira (cf. vv. 26.35). 

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Que procuro eu na minha vida: só bens materiais, milagres e sinais ou viver com Jesus, apoiado na sua Palavra?
  • Que significa para mim, concretamente, “crer em Jesus”, no seio da minha vida quotidiana?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                             Sl 78,3-4.23-25.54 (R. 24b)

Refrão:        O Senhor deu-lhes o pão do céu. 

Nós ouvimos e aprendemos,
os nossos pais nos contaram
os louvores do Senhor e o seu poder
e as maravilhas que Ele realizou.      R.

Deu suas ordens às nuvens do alto
e abriu as portas do céu;
para alimento fez chover o maná,
deu-lhes o pão do céu.      R.

O homem comeu o pão dos fortes!
Mandou-lhes comida com abundância
e introduziu-os na sua terra santa,
na montanha que a sua direita conquistou.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Mostrai, Senhor, a vossa imensa bondade aos filhos que Vos imploram e dignai-Vos renovar e conservar os dons da vossa graça naqueles que se gloriam de Vos ter por seu criador e sua providência. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc