Décimo Nono Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. João (6,41-51)

Naquele tempo 6,41os judeus murmuravam contra Jesus, porque Ele tinha dito: “Eu sou o Pão que desceu do Céu”. 42E diziam: “Não é este Jesus, o filho de José, de quem nós conhecemos o pai e a mãe? Como é que agora diz: ‘desci do Céu’?”. 43Respondeu Jesus e disse-lhes: “Não murmureis entre vós. 44Ninguém pode vir a Mim se o Pai, que me enviou, o não atrair; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: ‘E todos serão ensinados por Deus’. Todo aquele que escutou do Pai e aprendeu, vem a Mim. 46Não porque alguém tenha visto o Pai, a não ser Aquele que é de Deus: este viu o Pai. 47Amen, amen vos digo: quem acredita tem vida eterna. 48Eu sou o Pão da vida. 49Os vossos pais, no deserto, comeram o maná e morreram. 50Este é o Pão que desce do Céu, para que quem dele comer não morra. 51Eu sou o Pão vivo que desceu do Céu: se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que Eu darei é a minha carne pela vida do mundo”.

      Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • O texto de hoje é o quarto diálogo (vv. 41-51) do ensinamento de Jesus sobre o Pão da vida. Começa com uma mudança de interlocutor: já não é a multidão que interpela Jesus, mas os judeus que interpretam tudo o que Ele diz de forma literal, enquanto Jesus se situa num plano mais profundo, também ele real, mas de natureza espiritual.
  • v. 41Os judeus, presos ao passado, não se abrem à novidade de Deus que Jesus é e não creem que Ele desceu do céu, isto é, que seja de Deus (v. 46). E murmuravam contra Ele (vv. 43.61; 7,32), tal como Israel no deserto tinha murmurado contra Deus e contra Moisés (Ex 16,7s; 17,3; Nm 11,1; 14,27ss). Porque Jesus tinha dito: ‘Eu sou o Pão que desceu do Céu’ (v. 33; cf. vv. 50s.58; Sl 105,40; 78,24; Is 55,10). Jesus é o verdadeiro maná, o Pão-Palavra “que procede da boca de Deus” (Dt 8,3) e dá vida a quem dele se nutre.
  • v. 42. Os judeus ignoram a real identidade de Jesus e não creem nele, porque julgam conhecê-lo segundo a carne (7,27) – o que não basta (cf. Mt 16,17; 2Cor 5,16) – a ponto de saberem o seu nome oficial, Jesus, o filho de José (Ieshuah bar-Iosef: 1,45; Lc 3,23), e de conhecer os seus “pais” (cf. Mt 13,55; Mc 6,3; Lc 4,22). Mas só conhece Jesus e compreende a sua Palavra quem, pela fé (1,12s), nasceu do alto (3,3.6) e recebeu o Espírito Santo (v. 63; 3,11s) que ensina todas as coisas (14,26) e guia os discípulos de Jesus em toda a verdade (16,13).
  • v. 43. Jesus retorque-lhes: Não murmureis entre vós (vv. 41.63) contra Mim, por falta de fé, tal como os vossos pais no deserto murmuraram contra Deus e contra Moisés (v. 41), a fim de não morrerdes como eles (v. 49).
  • v. 44. Jesus incita-os então a passar para o nível da fé. Como “a fé vem pelo ouvido” (Rm 10,17), é preciso “vir a Jesus” (vv. 35.37.45.65; 5,20; cf. Ex 18,16; Is 49,18), para dele aprender e viver como seu discípulo (v. 45). Isto só acontecerá se o Pai, que enviou Jesus, o atrair (gr. élkô) com “o seu amor eterno” (Jr 31,3) e o introduzir, pelo batismo, “nos seus aposentos” (Ct 1,4), ou seja, no Seu Corpo, que é a Igreja (cf. 2,16.21; 14,2), de modo que, morrendo com Ele, também com Ele ressuscite (Rm 6,3ss), e assim, vivendo com Ele, não pereça (como Israel no deserto: Nm 14,29s.32), mas tome parte na Sua vida plena no último dia (4x, aqui: vv. 39s.54), o dia do juízo e da ressurreição finais (11,24; 12,48): E Eu ressuscitá-lo-ei no último dia. A Eucaristia é penhor de ressurreição.
  • v. 45. Está escrito nos Profetas: «E todos serão ensinados por Deus’. Jesus cita Isaías, onde Deus anuncia a nova aliança que se estenderá a todos os povos: “Todos os teus filhos serão ensinados por Deus” (Is 54,13). Neste caso, Jesus suprime “os teus filhos” para salientar ainda mais o caráter da universalidade da salvação. O “conhecimento de Deus”, íntimo e pessoal, é um distintivo da nova aliança, inaugurada nos tempos messiânicos (Jr 24,7; 31,34; Is 11,9; cf. 1Ts 4,9; 1Jo 2,20; 5,20). Os judeus orgulhavam-se de conhecer a Deus e até o chamavam “Pai”, embora muito raramente (Is 63,16; 64,7; cf. 2Sm 7,14; 1Cr 17,13; Sl 89,26); mas, de facto, não o conheciam (8,38; Os 11,1-7). Porque se tivessem escutado do Pai (cf. Pv 4,4-7) e aprendido o seu “ensinamento” (gr. didaquê: 7,16s; 2Jo 1,9; At 5,28; 13,12), que é Jesus (cf. 1,18; 15,15; 17,26), acreditariam em Jesus e viriam a Ele, para dele aprenderem a viver como filhos de Deus. A Eucaristia é o memorial da nova e eterna aliança (“aliança”: Mt 26,28; Mc 14,24; “nova”: Lc 22,20; 1Cor 11,25; “eterna”: Hb 13,20; Jr 32,40; 50,5; Is 61,8; Ez 16,60), dela só podendo participar aqueles que tiverem renascido como filhos de Deus.
  • v. 46. O ensinamento do Pai (v. 45) não é uma palavra que um profeta “viu” junto de Deus (cf. Jr 23,18; Is 1,1; Am 1,1). De facto, jamais alguém viu a Deus, o Pai (1,18), nem sequer Moisés (cf. Ex 3,6; 24,10; 33,6.20) ou Elias (cf. 1Rs 19,13). O único que viu o Pai (1,18) e o dá a conhecer (17,25s) é Jesus, Aquele que é (gr. ho Ôn), o nome divino revelado a Moisés, expressão que, em sentido absoluto, só aparece em Ex 3,14 e João (8,47; Ap 1,4.8; 4,8; 16,5). Jesus é Aquele que é de Deus, ou seja, “da parte (gr. pará) de Deus” (v. 33; 7,29; 9,16; 17,7), Deus de Deus, o Filho unigénito de Deus (1,14.18; 3,16.18; 1Jo 4,9).
  • v. 47. Indicada a sua origem e autoridade, Jesus convida todos a acreditar nele (v. 29). Para os judeus só vive quem cumpre a Lei (Dt 4,1; 30,20; 32,47; Lv 18,5; Ne 9,29; Ez 20,11.13.21; Rm 10,5). Jesus anuncia um novo princípio de vida, a fé que justifica (Rm 1,17; 3,21-26; 10,6; Gl 3,11s) e que dá a quem n’Ele crê a vida eterna (v. 40; 3,15s.36; 5,24; 11,25s).
  • v. 48. Jesus começa o seu ensinamento sobre a Eucaristia retomando a fórmula teofânica Eu sou. À revelação do Nome divino Eu Sou (Ex 3,14s), que indica que Ele é Deus (1,18; 8,24.28.58; 17,6.26) salvificamente presente e atuante no meio do seu povo e assim também da humanidade, Jesus junta a nota do que faz enquanto Verbo encarnado (1,14): o Pão da vida (v. 35). É um semitismo que significa: “o pão que dá a vida e faz viver para sempre” (vv. 33.51; cf. Gn 3,22), sendo a vida um dos atributos de Deus que Jesus tem (1,4; 5,26; 14,6).
  • v. 49. Jesus é mais que Moisés (1,17) e a Eucaristia mais que o maná que Israel (os vossos pais) comeu no deserto durante os quarenta anos que nele peregrinou (v. 31). Mas todos os que saíram do Egito e comeram do maná (exceto Josué e Caleb: Nm 14,38), morreram antes do maná ter deixado de cair, quando Israel entrou na Terra prometida (Ex 16,35; Js 5,12), por não terem acreditado (Nm 14,23.29.35; Dt 1,35; Sl 106,26; 1Cor 10,5), tendo morrido também depois os restantes que dele tinham comido (cf. Jz 2,8ss).
  • 50. Este (Jesus) é o Pão que desce do céu (vv. 41.51.58; Ex 16,15), o verdadeiro maná que nunca cessa de descer. O verbo está no presente (v. 33), indicando que Jesus Eucaristia desce cada dia, sempre de novo, para diariamente ser partido nas casas (At 2,46) e assim alimentar o Povo de Deus na sua peregrinação sobre esta terra rumo à pátria celeste, a fim de que quem dele comer não morra (v. 49).
  • v. 51. Jesus apresenta-se como Pão eucarístico, repetindo pela quarta e última vez na sinagoga de Cafarnaum a fórmula teofânica: Eu sou (vv. 35.41.48). O Pão vivo (v. 48) que vive e “permanece para sempre” (v. 27). Nele é Jesus que se dá: a) como Deus, que vive eternamente (cf. Sr 18,1; Tb 13,2; 2Mac 7,33; 15,4); b) e como o Filho do homem que desceu do céu (3,13), “o Vivente” que, pela sua morte e ressurreição (Ap 1,18), dá a vida eterna aos que nele creem (v. 33), dando-se a si mesmo como pão vivo, de modo que quem dele comer viva para sempre (v. 58). Jesus apresenta-se veladamente a si mesmo como a árvore da vida que reconduz o homem ao paraíso da comunhão com Deus, que este tinha perdido pelo pecado, e lhe dá “o fruto” (da sua paixão e morte na árvore da cruz: 12,24) que lhe permitirá viver para sempre (Gn 3,22-24). A Eucaristia é fármaco de imortalidade.
  • E o pão que Eu darei é a minha carne (que Eu darei) pela vida do mundo. Só agora Jesus fala especificamente da Eucaristia. Esta é o memorial da Páscoa de Cristo, muito superior à páscoa judaica. No deserto, Deus tinha dado aos “pais” a comer carne e pão, sob a forma das codornizes e do maná (Ex 16,4.8.12; Sl 78,27; cf. 1Rs 17,6); na ceia pascal, os judeus comem pães ázimos e a carne (gr. kréas) do cordeiro (Ex 12,8); mas na Eucaristia, Jesus dá a comer “o pão” da sua “carne” (gr. sárx). No AT, “carne” designa o homem, por contraposição a Deus, como criatura terrena, fraca e mortal (Gn 2,23; 6,19; Dt 5,26). É também a “carne” que faz os homens irmãos (2Sm 19,13; Gn 27,27; cf. Hb 2,14.11s.17s).
  • O pão que Jesus dá a comer é a sua carne pela vida do mundo, ou seja, é a sua carne, o seu Corpo, imolado de uma vez para sempre na cruz (Rm 6,10; 1Pd 3,18; Hb 7,27; 9,12.26ss; 10,10), oferecendo-se a si mesmo como verdadeiro cordeiro pascal (1Cor 5,7). Carne que Ele deu pela (gr. hyper, “em favor da”) vida do mundo. Ou seja, que deu como vítima sacrificial (cf. Is 53,4-12; Mc 14,24; 1Cor 15,3; 2Cor 5,21) oferecida a Deus em favor de toda a humanidade (o mundo), para a redimir, com o seu Sangue (1Cor 1,13; Gl 2,20; 1Jo 3,16) oferecido em resgate (Mq 6,7; Is 43,3-4; Ez 40,39), do pecado e da morte, vencendo-os no campo do domínio destes sobre o homem, ou seja, na carne (Rm 7,14-25; Ef 2,14; Cl 1,22), e assim dar ao homem não só a vida que pelo pecado ele tinha perdido, mas também a vida que o homem por si mesmo nunca poderia ter alcançado: a vida de Deus, a vida eterna (vv. 10,11.15; 11,52).

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Como vivo a Eucaristia? Como poderei vivê-la melhor?
  • A Eucaristia ajuda-me a viver aqui, sobre a terra, como em êxodo permanente?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                                          Sl 34,2-9 (R. 9a)

Refrão: Saboreai e vede como o Senhor é bom.

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.      R.

Enaltecei comigo o Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade.      R.

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.      R.

O Anjo do Senhor protege os que O temem
e defende-os dos perigos.
Saboreai e vede como o Senhor é bom:
feliz o homem que n’Ele se refugia.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva:

Deus todo-poderoso e eterno, a quem o Espírito Santo nos ensina a chamar confiadamente nosso Pai, fazei crescer o espírito filial em nossos corações para merecermos entrar um dia na posse da herança prometida. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc