Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos  (7,1-8.14-15.21-23)

Naquele tempo, 7,1reúnem-se junto de Jesus os fariseus e alguns dos escribas vindos de Jerusalém. 2Ao verem que alguns dos seus discípulos comiam os pães com as mãos impuras, isto é, sem as lavar – 3de facto, os fariseus e todos os judeus, agarrados à tradição dos antigos, não comem sem primeiro terem lavado as mãos 4e, ao voltar da praça pública, não comem sem se terem lavado; e agarram-se por tradição a muitas outras coisas, como a lavagem de copos, vasos, utensílios de cobre e camas –, 5os fariseus e os escribas interrogaram-no: «Porque não andam os teus discípulos segundo a tradição dos antigos, mas comem o pão com as mãos impuras?». 6Jesus respondeu-lhes: «Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. 7Em vão me prestam o culto, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens”. 8Deixando o mandamento de Deus, andais agarrados à tradição dos homens». 14E, chamando de novo a si a multidão, dizia-lhes: «Escutai-me todos e entendei: 15não há nada fora do homem que, ao entrar nele, o possa tornar impuro; mas as coisas que saem do homem é que tornam o homem impuro. 21Porque é de dentro, do coração dos homens, que saem os maus pensamentos: relações sexuais imorais, roubos, homicídios, 22adultérios, ganância, maldades, falsidade, devassidão, inveja, maledicência, soberba e loucura. 23Todas estas coisas más saem de dentro do homem e tornam-no impuro».

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • Retomamos hoje a leitura do Evangelho de Marcos. O presente texto (do qual não se leem os vv. 9-13.[16].17-20), refere a posição de Jesus sobre os costumes judaicos, que mais tarde foram recolhidos por escrito na Halaká (v. 5).
  • v. 1 (vv. 1-23: Mt 15,1-20). Jesus está com os apóstolos fora do território de Israel, em terra gentílica (6,45-9,2). “Reúne-se” então junto dele um grupo de fariseus (zelosos cumpridores da Lei) e “alguns escribas” (licenciados em direito, exímios conhecedores das leis e das tradições), “vindos de Jerusalém”, a capital religiosa. Os letrados de Jerusalém gozavam de grande prestígio, de modo que, quando desciam à província, lhes ofereciam uma cadeira para que se sentassem e todos pudessem escutar a sua sabedoria (Midr Lm 1,1). Estes escribas vêm, certamente com conhecimento do Sinédrio, para examinar os passos e o ensinamento de Jesus, a fim de poderem instaurar um processo contra Ele, se necessário for.
  • v. 2. Notam, então, que “alguns discípulos de Jesus” (não todos), “comiam os pães”, ou seja, “comiam” (Gn 3,14), “com as mãos impuras” (tal como Jesus: Lc 11,38), ou seja, “sem as lavar”, sem as “purificar”.
  • v. 3. Neste momento, Marcos, que escreve para cristãos provindos da gentilidade, sente necessidade de explicar as normas judaicas (vv. 3-5) relativas à pureza ritual. Os judeus não comem sem primeiro “lavar as mãos” (netilat yadaim) até ao cotovelo (mYad 2,3; um ritual que nada tem a ver com as boas práticas da higiene pessoal, uma vez que só se faz com as mãos já lavadas e as unhas limpas: Schab 14b), v. 4, e, ao voltar “da praça pública”, não comem sem primeiro se terem lavado, tendo também o costume de lavar “copos, vasos, utensílios de cobre e camas” (cf. Mt 23,25; Lv 15,13; mKel 2,1.7; 12,1; 25,3.6-9; 30,1.3; mAZ 5,12; mMiq 10,1; Er 4b; Pesiq 122b; pSchab 1,3d,40; LvR 12,113c; SLv 6,21), imergindo-os numa tina de água (com pelo menos 40 alqueires, ou seja, 486 litros de água: mMiq 5,6). Daí que o verbo “lavar” e o substantivo “lavagem” sejam aqui traduzidos em grego por baptizô e baptismós (he. mikvá; “imersão”). Esta nota é uma ironia de Marcos para mostrar que os fariseus, que não aceitavam “o batismo” de conversão de João como vindo de Deus (gr. báptisma: 11,30s), sentem a necessidade de se “batizar” e de “batizar” os objetos (imergindo-os em água), porque assim manda a sua tradição, meramente humana, sem, por isso, ficarem realmente puros, pois o repetem sempre de novo.
  • v. 5. Ao ver a incúria dos discípulos, os fariseus e os escribas logo inquirem Jesus, generalizando a omissão deles (como é habitual quando se quer acusar alguém), estendendo-a a tudo: “porque não andam os teus discípulos segundo a tradição dos antigos?”. Incriminam os discípulos, porque ainda não se atrevem a atacar diretamente Jesus, embora o procurem atingir através dos discípulos. “Andar” (he. halak: Gn 17,1) é o verbo donde deriva “Halaká” (he. “o caminho” a seguir), então designada “a tradição dos antigos” (v. 3), porque transmitida por via oral. 
  • A Halaká é a fixação por escrito, iniciada após a destruição do Segundo Templo, em 70 d.C., de um enorme conjunto de leis, tradições, costumes, decisões e sentenças dos rabinos, sobre os mais diversos temas da “Lei escrita” (a Torá ou Pentateuco), transmitidos por via oral ao longo dos tempos, que regula todos os atos da vida de um judeu. Assenta nos 613 preceitos da “lei oral” (dos quais, 365 são proibições, tantas como os dias do ano; e 248 prescrições, tantas como os membros do corpo humano). Embora a “lei oral” seja muito posterior a Moisés, os judeus fazem-na remontar a Moisés (Er 4b; cf. Ex 19,7; 18,20), equiparando-a à “Lei escrita” da qual consideram ser um complemento e um serviço à sua prática, bem como um sinal da sua observância, sendo, por isso, imutável e obrigatória.
  • Parte determinante da “lei oral” são as normas relativas à pureza (tahará) e impureza (tumá) cultuais (cf. Jo 3,25), relacionadas com a lavagem das mãos, a alimentação, a bebida, os utensílios, o corpo, o contacto com pessoas não-judaicas, com cadáveres, etc. Estas leis, que o povo tinha dificuldade em conhecer e de pôr em prática (cf. At 15,10), são consideradas indispensáveis para Israel, o Povo santo de Deus, viver em santidade (kedushá) no meio das nações (cf. Lv 11,45). Para os fariseus, a sua observância era fundamental para apressar a vinda do Messias. Mas como viviam e contactavam com pessoas não judaicas, os pessoas judeus viviam sempre com medo de se contaminar sem o saber, repetindo, por isso, as abluções rituais com água (cf. vv. 3s), sobretudo quando vinham da rua.
  • É em volta deste tema que se centra a polémica dos fariseus com Jesus, aqui referida. Era na época de Marcos um tema muito atual, uma vez que muitos cristãos, de origem judaica, achavam necessária a observância destas leis, ao passo que outros diziam que se devia abandonar esses costumes, que separavam os cristãos vindos do judaísmo dos vindos da gentilidade, que as desconheciam por completo (cf. At 15,1; Gl 2,12s).
  • v. 6-7. Jesus responde-lhes, citando Is 29,13 LXX, aqui composto de modo a sublinhar que os “mandamentos” da lei oral eram meras prescrições humanas, 
  • v, 8, E Jesus mostra que, ao darem mais importância aos costumes, normas e rituais de pureza do que à Palavra de Deus, punham a tradição acima desta, acabando mesmo por a anular (vv. 10-13).
  • v. 14. Da denúncia profética, Jesus passa ao anúncio positivo de um novo caminho que permite o homem aproximar-se de Deus. “Chamando a si a multidão”, composta, neste caso, sobretudo por gentios. “Dizia-lhes”: o imperfeito indica um ensinamento sobre o qual Jesus insistia. E convida “todos” (judeus e gentios) a “escutá-lo e a entender” (4,12.3; cf. Is 6,9s), porque é da escuta da Palavra que nasce a fé, que justifica o homem, o une a Deus e assim o leva à salvação.
  • v. 15. E enuncia o princípio fundamental, válido quer para o consumo de animais puros e impuros (cf. Lv 11; Dt 14,3-21), quer para o contacto com os gentios: “Não há nada fora do homem que, ao entrar nele, o possa tornar impuro; mas as coisas que saem do homem é que tornam o homem impuro” ([v. 16: Mt 1,15]).
  • v. 21. Chegando “a casa”, símbolo da Igreja, Jesus explica em particular este princípio aos seus discípulos (vv. 17-20), dizendo que «é de dentro, do coração dos homens, que saem os maus pensamentos». O valor moral do comportamento humano é assim reconduzido por Jesus à sua origem, o coração do homem, ou seja, à sua consciência pessoal. Tudo o que Deus fez é «muito bom» (Gn 1,31) e os patriarcas viveram e agradaram a Deus, apesar de nunca terem conhecido tais normas. Já não é, pois, necessário determinar que alimentos são puros ou impuros. A impureza não nasce da criação, obra bpa e bela de Deus, nem de proibições humanas, mas é “de dentro”, do coração do homem, (vv. 6.21; Mt 23,25), que brotam as más intenções e deliberações que, postas em prática, tornam o homem impuro (cf. Rm 1,28; Ef 2,23), afetando o seu relacionamento com Deus, com o próximo,, consigo mesmo e com a realidade.
  • Jesus enumera então, à luz da doutrina dos dois caminhos, doze obras do “caminho da morte” (Dt 30,15.19; cf. Mt 7,13) que separam o homem de Deus, tornando-o “impuro”: relações sexuais imorais (lit. “fornicação”, “prostituição”), roubos, homicídios, v. 22, adultério, cobiça (ganância, avareza), maldade (perversidade), falsidade (lit. “dolo”, engano que prejudica o outro), devassidão (libertinagem, promiscuidade), inveja (lit. “olho mau”, ciúme, desconfiança), maledicência (lit. “blasfémia”, intriga, calúnia), soberba (orgulho), loucura (insensatez, obstinação, futilidade). Exceto o paralelo de Mt 15,19, os Evangelhos não nos apresentam outras listas de pecados, ao invés das cartas e do Apocalipse, talvez porque também aí os autores se dirijam como Marcos, prevalentemente a cristãos provindos da gentilidade (Rm 1,29-31; 13,13; 1Cor 5,10s; 6,9s; 2Cor 12,20s; Gl 5,19-21; Ef 5,3-5; Cl 3,5.8; 1Tm 1,9s; 2Tm 3,2-5; 1Pd 2,1; 4,3.15; Ap 21,8; 22,15). Os pecados aí referidos aparecem todos nesta passagem de Marcos, exceto a designação comum “maus pensamentos” (ou seja, juízos intencionais e deliberados, que supõem o conhecimento e o consentimento do sujeito moral no mal e o levam à sua prática) e “olho mau” (não ‘mau olhado’, mas inveja, ciúme, animosidade, juízo e intenção malévolos, mencionado noutros contextos: cf. Mt 6,23; 20,15; Lc 11,34).
  • v. 23. São “estas coisas más” (Mt 6,13), estas obras más, que saem do coração do homem, que o contaminam, enraizando o mal nele (cf. Mt 6,23!), e que disseminam o mal neste mundo entre os homens. A verdadeira pureza é a santidade, que é um dom de Deus, que introduz o homem na nova aliança, fazendo-o renascer pelo batismo da água e do Espírito Santo e dando-lhe um coração novo, repleto de fé e amor a Deus e ao próximo (cf. 2,22; Jr 31,33s; Ez 36,23-36; Dt 30,6).  

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Conhece algum costume atual que já não tem muito sentido ou que até se opõe à vontade de Deus, mas que continua a ser difundido?
  • Em nome da tradição, os judeus punham de lado o mandamento de Deus. Isto também acontece hoje, na minha vida? Onde e quando?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                Sl 15,2-5 (R. 1a)

Refrão:        Ensinai-nos, Senhor: quem viverá em vossa casa? 

O que vive sem mancha e pratica a justiça
e diz a verdade que tem no seu coração

e guarda a sua língua da calúnia.      R.

O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante;
o que tem por desprezível o ímpio,

mas estima os que temem o Senhor.      R.

O que não falta ao juramento, mesmo em seu prejuízo,
e não empresta dinheiro com usura,
nem aceita presentes para condenar o inocente.

Quem assim proceder jamais será abalado.      R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Deus todo-poderoso, de quem procede todo o dom perfeito, infundi em nossos corações o amor do vosso nome e, estreitando a nossa união convosco, dai vida ao que em nós é bom e protegei com solicitude esta vida nova. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida.

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc