Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum - 2024


A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (7,31-37) 

7,31Saindo de novo da região de Tiro, Jesus veio pela Sidónia para o mar da Galileia, atravessando os confins da Decápole. 32Trazem-Lhe então um surdo que mal conseguia falar e suplicam-lhe que lhe impusesse a mão. 33Afastando-o da multidão, a sós, Jesus pôs-lhe os dedos nos ouvidos e cuspindo, tocou-lhe a língua. 34Erguendo os olhos ao céu, suspirou e disse-lhe: «Effatá», isto é, “abre-te”. 35De imediato, abriram-se-lhe os ouvidos e soltou-se-lhe a corrente que lhe prendia a língua e começou a falar corretamente. 36Jesus ordenou-lhes que não dissessem nada a ninguém. Mas, quanto mais lhes ordenava, tanto mais o apregoavam. 37Admiravam-se sobremaneira, dizendo: «Fez tudo bem: faz os surdos ouvir e os mudos falar».

Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • v. 31 (vv. 31-37: Mt 15,29-31). No texto de hoje narra-se a cura por Jesus de um surdo que não falava corretamente. Jesus tinha ido à região de Tiro (v. 24), na costa libanesa, e estava de regresso «ao mar da Galileia», a Cafarnaum, mas anda não tinha entrado em Israel, achando-se na Decápole (gr. “dez cidades”: 5,20), uma província a SW da Galileia, que agrupava dez cidades, cuja população era gentílica.
  • v. 32. Umas pessoas levam então a Jesus um surdo que “mal conseguia falar” (gr. mogilálos), uma alusão a Is 35,6, e pedem-lhe que «imponha a mão» (sing., Mt 9,18) sobre ele, um gesto que simboliza a transmissão do poder de Jesus para o enfermo (5,23; 6,5; 8,23.25; 16,18; Lc 4,40; 13,13; At 28,8), através do contacto físico (cf. 1,41; 5,30; 2Rs 13,21), curando-o.
  • v. 33. A resposta de Jesus é surpreendente. Afasta-se da multidão “a sós” (Mc, 7x: 4,34; 6,31s) com o homem, uma imagem do processo de conversão pessoal e de mudança interior (cf. 2Ma 4,46) da iniciação cristã, mete-lhe os dedos nos ouvidos, cospe nos dedos e toca-lhe na língua com a saliva (8,23). Na Antiguidade cria-se que a saliva, sobretudo de personagens famosas, gozava de propriedades terapêuticas (Tácito, Histórias 4,8; Suetónio, Vespasiano 7). O ato de cuspir, em que o sopro (gr. pneuma) se une à água (a saliva: Jo 9,6), evoca a criação (Gn 1,2; 2,7) e simboliza o batismo (cf. 1,8.10; Jo 3,5; At 1,5;11,16).
  • v. 34. Depois Jesus olha para o céu, num gesto de oração confiante (6,41p; Jo 11,41; 17,1; cf. Jb 22,26s!; Dn 13,35 2Ma 7,28), suspira (lit. “geme”: cf. 8,12), simbolizando o dom do Espírito, fautor da nova criação (Rm 8,23; 2Cor 5,2.4), e diz em aramaico, sua língua materna (cf. 5,41; 15,34): “Éffata!”, ou seja, “Abre-te!” (Pv 31,25; Ez 24,27), uma alusão ao louvor profético que irrompe da boca de quem recebe o Espírito Santo (At 2,4; 10,45s) pela imposição das mãos que se segue ao batismo (v. 32; At 8,17s; 19,6). Os gestos de Jesus não só aludem ao batismo, mas evocam também a criação do homem, quando Deus o formou da terra húmida com os seus dedos (cf. Sl 8,4) e nele insuflou o Espírito que dá vida (Gn 2,7). Jesus não se limita a curar, mas leva a cabo uma nova criação, comunicando uma nova vida.
  • v. 35. “De imediato” (gr. euthéôs), “abrem-se” os ouvidos do surdo e “solta-se” a “cadeia” que prendia a sua língua (cf. Lc 13,16; Jb 39,5) e o homem começa a falar corretamente. Os dois primeiros verbos estão na voz passiva, indicando uma ação divina, aqui de cura e libertação (a mudez era então atribuída a ter um espírito mudo: 9,17.25; Mt 9,32s).
  • v. 36. Jesus proíbe ao miraculado e aos que o trouxeram que divulguem a cura. Porquê? Porque os dons carismáticos – entre os quais se contam as curas – é dado por Deus em vista do bem comum (1Cor 12,7.9). Eles são uma manifestação do amor de Deus para com a pessoa beneficiada, mas não são concedidos para a glorificação daquele que os exercita. Se Jesus quisesse que se divulgasse o bem que Ele fazia, era porque não estava a pensar em primeiro lugar no sofrimento e bem dos outros, mas apenas na sua própria fama. No entanto, a recomendação de Jesus de nada adianta, pois quem realmente fez a experiência do amor e da salvação de Jesus, sente a necessidade de o anunciar aos outros, quer se queira, quer não!
  • v. 37. Ao verem a cura, as pessoas admiram-se, estupefactas (1,22), e começaram a “apregoar” (gr. queryssein, “pregar”: 10ª das 14 vezes que o termo ocorre em Mc) o que tinham visto, resumindo a Boa nova numa só frase: «Fez (no pretérito perfeito: “tem feito e faz”) tudo bem». Este louvor repete o que Deus disse ao contemplar a obra da criação que acabara de fazer: “Deus viu tudo o que tinha feito: era tudo muito bom” (Gn 1,31; cf. Mc 7,4.8.10.12.18. 21.25). Com a sua ação, Jesus completa a obra da criação e leva-a à sua plenitude, inaugurando uma nova criação, manifestando o amor do Pai. Isto é confirmado pelo testemunho do povo: «faz os surdos ouvir e os mudos falar» (cf. 9,17). O uso do plural para descrever um caso singular mostra que este surdo-mudo é uma figura que representa toda uma categoria de pessoas, neste caso, o mundo gentio. É uma alusão a Is 35,5s, texto aplicado pelo judaísmo ao Messias onde se anuncia o novo êxodo que Deus através dele vai inaugurar, salvando o seu povo do cativeiro da Babilónia e reconduzindo-o à sua terra. Jesus é o Messias, no qual o próprio Deus age, inaugurando o novo êxodo no qual a sua salvação se estende a todos os homens.
  • Ao longo do Evangelho de Marcos vai havendo uma abertura progressiva do anúncio Evangelho aos outros povos. Os discípulos são levados a abrir-se à realidade do mundo em redor, a superar as barreiras e preconceitos que impedem uma convivência pacífica com os outros, a fim de perceberem que a salvação de Jesus se destina a todas as pessoas de todas nações, a todos aqueles que acolhem com fé o Evangelho e o põem em prática (cf. 16,15s). Jesus não veio só para fazer milagres, curar, expulsar espíritos malignos, resolver problemas... Isto são apenas sinais que anunciam a sua verdadeira obra: inaugurar uma nova criação, que faça dos homens filhos de Deus, que o conhecem e caminham numa vida nova, à luz do Evangelho, animados pelo seu Espírito e apregoando os seus louvores.

Ler o texto outra vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz, no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha… e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Embora exigisse a fé, Jesus teve sempre uma total abertura às pessoas, independentemente da sua etnia, religião ou costumes. Será que, eu e nós, cristãos, temos hoje a mesma abertura?
  • A Boa Nova faz-nos descobrir, pela fé, que “Jesus fez tudo bem!” Serei eu, nas minhas palavras, obras, gestos e atitudes, Boa Nova de Deus para os outros? Como poderei progredir? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que ela inflame o nosso coração)

Salmo responsorial                                                                       Sl 146, 7-10 (R. 1)

Refrão: Ó minha alma, louva o Senhor. 

O Senhor faz justiça aos oprimidos,
dá pão aos que têm fome
e a liberdade aos cativos.      R.

O Senhor ilumina os olhos dos cegos,
o Senhor levanta os abatidos,
o Senhor ama os justos.      R.

O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva
e entrava o caminho aos pecadores.      R.

O Senhor reina eternamente;
o teu Deus, ó Sião,
é rei por todas as gerações.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor nosso Deus, que nos enviastes o Salvador e nos fizestes vossos filhos adotivos, atendei com paternal bondade as nossas súplicas e concedei que, pela nossa fé em Cristo, alcancemos a verdadeira liberdade e a herança eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc