Vigésimo Quarto Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (8,27-35) 

8,27Jesus saiu com os seus discípulos para as povoações de Cesareia de Filipe e no caminho perguntava aos seus discípulos: “Quem dizem os homens que Eu sou?” 28Eles disseram-lhe: “João Baptista; outros, Elias; e outros, um dos profetas”. 29E Ele perguntava-lhes: “Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?”. Respondendo, Pedro diz-lhe: “Tu és o Cristo”. 30Repreendeu-os então para que não falassem a ninguém tal coisa acerca dele. 31E começou a ensinar-lhes: “É necessário o Filho do homem sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas; ser morto e, três dias depois, ressuscitar. 32E falava abertamente a palavra. Então Pedro, tomando-o à parte, começou a repreendê-lo. 33Mas Ele, voltando-se e vendo os seus discípulos, repreendeu Pedro e diz: “Vai para trás de mim, Satanás, porque não tens em mente as coisas de Deus, mas só as dos homens”. 34E chamando a si a multidão com os seus discípulos, disse-lhes: “Se alguém quer seguir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35Pois quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á”.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • O texto de hoje é a charneira do Evangelho de S. Marcos. Nele conclui-se, com a profissão de fé de Pedro (v. 29), a primeira parte, iniciada com a figura de João Batista (v. 28); e começa a segunda (v. 31), que leva à profissão de fé do centurião junto à cruz: “Este homem era verdadeiramente Filho de Deus” (15,39). O texto divide-se em três partes: a confissão de fé de Pedro (vv. 27-30); o primeiro anúncio da paixão de Jesus (vv. 31-33); condições para seguir Jesus (vv. 34-38; no presente texto, só até ao v. 35).
  • v. 27 (vv. 27-30: Mt 16,13-20; Lc 9,18-22). Jesus está em território gentio, na região de Cesareia de Filipe (a atual Se’ar Yashuv, em árabe: Banias; cf. Lc 3,1), cidade marcada pelo culto aos deuses e ao Imperador. É lá que, segundo os rabinos, estão “as nascentes do Jordão” (Ber 55a Bar; Fl.Jos. Bell. 2,9,1: Str-B 1,101), o rio onde Jesus foi batizado por João (1,9). “No caminho” forma uma inclusão com 10,52, apontando para o cumprimento da missão de Jesus, que terá o seu desfecho em Jerusalém (v. 31). É neste contexto que Jesus pergunta aos seus discípulos quem dizem as pessoas que Ele é.
  • v. 28. Os discípulos respondem, referindo as vozes que então corriam sobre Ele (6,14-16). A primeira resposta reflete a opinião dominante, um misto de confusão e de superstição: “João Batista”. Ora João tinha sido morto (6,28), pelo que, nesse caso, teria de ter ressuscitado (6,14.16), aparecendo na figura de Jesus, o que era falso (6,29). A segunda opinião continua a confundir Jesus com o Precursor: Ele é Elias, o profeta que deveria preparar a vinda do Messias; mas foi isso o que João Batista fez (9,13; Ml 3,23). A terceira resposta aponta Jesus como mais um profeta. Em suma: ninguém esperava que Jesus fosse o Messias! Todos o vêm apenas à luz do passado, cegos (v. 22) para a novidade que Ele é.
  • v. 29. Jesus pergunta então diretamente aos discípulos: “Vós, porém, quem dizeis que Eu sou?”. Pedro toma a dianteira e, em nome de todos (Jo 6,68s), confessa: “Tu és o Cristo” (1,1; 14,61), ou seja, o Messias (he. “Ungido”) prometido por Deus, de que todos estão à espera (cf. Hen 48,10).
  • v. 30. A reação de Jesus em relação às afirmações das pessoas e de Pedro a seu respeito é o silêncio (cf. 16,8). Mas “repreende” os discípulos e ordena-lhes que não falem “a ninguém (tal coisa) a seu respeito” (Mt 8,4). O verbo “repreender” (gr. epitimaô), retomado nos vv. 32.33, significa também “censurar”, “admoestar severamente”. Porque é que Jesus lho proibiu? Porque todos esperavam um Messias guerreiro e triunfador, ao invés do Messias sofredor que Ele será (cf. v. 31). Apontar Jesus como o Messias só iria provocar mal-entendidos de natureza política (cf. 11,10; 15,2.9.12.26) e induzir as pessoas em erro.
  • v. 31 (vv. 31-33: Mt 16,21-23; Lc 9,22). A segunda parte do Evangelho de Marcos começa com o anúncio da paixão de Jesus. Depois de se ter levantado o véu da identidade de Jesus como Messias, diz-se que tipo de Messias Ele é, qual é a sua missão e como a levará a cabo, concluindo-se o processo com a afirmação que Jesus é o Filho de Deus (1,1; 15,39).
  • Este é o primeiro dos três anúncios da paixão (9,31; 10,32-34), todos eles inseridos no ensino de Jesus aos seus discípulos em ordem a ajudá-los a compreender o sentido e o alcance da sua paixão, morte e ressurreição (8,27-10,45), ensino introduzido pela cura de um cego e encerrada pela cura doutro (8,22-26; 10,46-52), representando ambos a cegueira dos discípulos e do ser humano em relação ao plano de Deus.
  • Jesus intitula-se “o Filho do homem”, apresentando-se veladamente como o Messias de Dn 7,13s, o Messias-Rei do Sl 80,16 (cf Ket Ps. 80,16), Messias este, porém, que assume em si a debilidade, o sofrimento e o destino do seu povo (Dn 7,18) e de cada ser humano (Ez 2,1; Is 9,5 LXX). Messias cuja missão “é necessário” (gr. dei, primeira das 5x que o verbo ocorre em Marcos) que se realize segundo o desígnio de Deus, como o Servo sofredor anunciado por Isaías, que será morto para expiar os pecados “de uma multidão”, isto é, da humanidade (Is 42,1-7; 49,1-9a; 50,4-10; 52,13-53,12). Para isso ele terá de “ser rejeitado” (12,10; Sl 118,22; 1Pd 2,4.7) pelos anciãos (o poder político), os chefes dos sacerdotes (o poder religioso) e os escribas (o poder intelectual), os três grupos que compunham o Sinédrio de Jerusalém. Eles levá-lo-ão à morte para Ele, “três dias depois, ressuscitar” (cf. 1Cor 15,4; Os 6,2). Tal é o desígnio de Deus, que Jesus levará a cabo, obedecendo à vontade do Pai (14,36).
  • v. 32. Este anúncio é o núcleo central do Evangelho, o querigma, “a palavra” (9,10; 16,20; cf. 2,2; 4,14-20.33) que Jesus, ao invés do título de Messias, anuncia abertamente (gr. parresía: Jo 10,24; 11,54; 18,20), de forma clara (Jo 16,29), sem medo (At 4,29.31; Ef 6,19). Mas os discípulos não o entendem. De facto, os rabinos afirmavam que o Messias havia de triunfar sobre todos os seus inimigos e jamais morreria (cf. 2Sm 7,16; Sl 110; Dn 7,14; Is 63,1-6). Incompreensível era também para todos o que era isso de “ressuscitar” (9,10). Então, Pedro, tomando de novo a iniciativa, chama Jesus à parte e “repreende-o” (v. 30), procurando tirar-lhe da cabeça uma perspetiva tão sombria (cf. Mt 16,22) e chamá-lo à razão (cf. 3,21).
  • v. 33. Jesus, “vendo os discípulos”, que presenciam a cena e pensam certamente da mesma forma que Pedro, replica, repreendendo Pedro de forma muito dura. “Repreender” (gr.epitimáô, 3x aqui: vv. 30.32) é o mesmo que Jesus faz antes de expulsar as forças do mal (1,25; 3,12; 4,39). “Vai para trás de mim” é a expressão com que Jesus chamou Pedro ao discipulado, junto ao mar da Galileia (1,16). O caminho do discípulo é ir atrás de Mestre e segui-lo até ao fim, percorrendo o mesmo caminho dele, o que implica estar disposto a passar pela cruz (v. 34). Pedro rejeita este caminho e tem a ousadia de se atravessar no caminho de Jesus, opondo-se ao desígnio de Deus (cf. v. 31). Jesus recorda-lhe qual é o seu lugar e chama-o de volta ao discipulado, agora de forma mais consciente. Não é Jesus que deve seguir Pedro, mas Pedro Jesus (cf. Jo 21,19). “Satanás” em hebraico significa “adversário” (1Rs 11,14), o advogado de acusação (Ap 12,10), o diabo, o Tentador (1,13; Ap 12,9; 20,2) que quer desviar o homem do caminho de Deus, que é a salvação (4,15). Ao querer impedir Jesus de passar pela paixão e morte, Pedro também não quer que Ele chegue à glória da ressurreição, instaurando assim a nova ordem de salvação, querida por Deus. Jesus, porém, não deixa que ninguém o afaste da sua missão. E mostra que, embora Pedro tenha respondido bem, não deu o sentido certo ao que disse. Ao “tentar” desviar Jesus do desígnio do Pai, fez como Satanás, que procura levar o homem a pensar como o mundo, que só quer aparentar a virtude, mas não praticá-la.
  • v. 34 (vv. 34-9,1: Mt 16,24-28; Lc 9,23-27). Jesus tira daqui as consequências da profissão de fé nele e adesão a Ele como Messias e, “chamando a si a multidão com os seus discípulos” (ou seja, todos), apresenta-lhes as quatro condições básicas para ser seu discípulo. 1) “Se alguém quer vir após Mim”. É a opção fundamental, a resposta livre de amor, de ser discípulo de Jesus. Ela implica caminhar com Jesus, escutá-lo e aprender dele. 2) “Negue-se a si mesmo”. Esta opção parte do íntimo da pessoa e implica, antes de mais, esquecer-se de si mesmo, morrer a si mesmo, renunciar à sua própria vontade, depor os seus esquemas, pôr de lado os seus gostos, planos e projetos pessoais. 3) “Tome a sua cruz”. A cruz era o supplicium maximum, a pena de morte mais cruel e infamante, reservada aos malfeitores e escravos, que não eram cidadãos romanos. É a disposição para aceitar a oposição, a rejeição, o sofrimento e a morte. 4) “E siga-me”. “Seguir” (gr. akolouthéô, Mc, 16x) Jesus é ir para onde Ele for (cf. Rt 1,14; 1Sm 25,42; 1Rs 19,20; Jo 12,26) e imitá-lo, estando atento à sua voz e obedecendo à sua Palavra.
  • v. 35: Mt 10,39.32-33; Lc 17,33; Jo 12,25. Todos são chamados a seguir Jesus, pois só nele se encontra a vida. “Quem quiser salvar a sua vida” (gr. psiché), o seu modo de viver e de pensar, os seus hábitos, esquemas, interesse e gostos, acabará por a perder. “Mas quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, salvá-la-á”. Só Marcos acrescenta “por causa do Evangelho” (10,29!). Todos são chamados a comprometer-se com Jesus e o Evangelho, testemunhando-os e anunciando-os, em toda a parte onde forem, a toda a criatura (16,15), sem temer as vozes, a oposição das pessoas e as autoridades que vão querer matá-los. Para quem aceitar perder a vida por Jesus e pelo Evangelho, a cruz será fonte de vida e de salvação. Porque a cruz de Jesus não é fruto de um fatalismo ou uma prepotência divina; ela é sinal do amor de Deus e consequência do pecado do homem, que rejeita esse amor e a Boa Nova de Jesus de que todos devem ser aceites e amados como irmãos. Por causa deste anúncio revolucionário, vivido consequentemente, Jesus foi perseguido e morreu, dando a sua própria vida. Se os discípulos seguirem o seu caminho e viverem a vida nova que Ele dá, também experimentarão a oposição do mundo, mas se perseverarem na fé, alcançarão a vida plena e imperecedoura. 

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Que imagem têm as pessoas hoje de Jesus? Que resposta dariam elas à pergunta de Jesus? E que resposta dou eu?
  • Qual é a cruz que pesa sobre a minha vida? Como a levo?
  • Tenho vergonha do Evangelho ou professo-o publicamente? Como? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                         Sl 116,1-6.8-9 (R. 9)

Refrão:        Caminharei na terra dos vivos na presença do Senhor.

Amo o Senhor,
porque ouviu a voz da minha súplica.
Ele me atendeu,
no dia em que O invoquei.      R.

Apertaram-me os laços da morte,
caíram sobre mim as angústias do além, vi-me na aflição e na dor.
Então invoquei o Senhor:
“Senhor, salvai a minha alma”.      R.

Justo e compassivo é o Senhor,
o nosso Deus é misericordioso.
O Senhor guarda os simples:
estava sem forças e o Senhor salvou-me.      R.

Livrou da morte a minha alma,
das lágrimas os meus olhos, da queda os meus pés.
Andarei na presença do Senhor,
sobre a terra dos vivos.      R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Deus, Criador e Guia de todas as coisas, lançai sobre nós o vosso olhar; e para sentirmos em nós os efeitos do vosso amor, dai-nos a graça de Vos servirmos com todo o coração. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc