Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (9,38-48)

Naquele tempo, 9,38João disse a Jesus: «Mestre, vimos alguém a expulsar demónios em teu nome e procurámos impedi-lo, porque não nos seguia”. 39Mas Jesus disse: “Não o impeçais; porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e logo a seguir possa falar mal de mim. 40Pois quem não é contra nós é por nós. 41Portanto, quem vos der de beber um copo de água em meu nome, porque sois de Cristo, ámen vos digo: não perderá a sua recompensa. 42E se alguém escandalizar um destes pequeninos que acreditam em mim, melhor seria para ele que lhe atassem uma mó de jumento à volta do pescoço e fosse lançado ao mar. 43Se a tua mão te escandalizar, corta-a; é melhor para ti entrares estropiado na vida do que ter as duas mãos e ires para a Geena, para o fogo inextinguível. 45E se o teu pé te escandalizar, corta-o; é melhor para ti entrares coxo na vida do que, tendo os dois pés, seres lançado na Geena. 47E se o teu olho te escandalizar, deita-o fora; é melhor para ti entrares com um só olho no reino de Deus do que teres os dois olhos e seres lançado na Geena, 48onde o verme deles não morre e o fogo não se extingue».

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • Nesta passagem, Marcos reúne cinco “ditos” (gr. logía: Papias15-16: Eus., Hist. Eccl. 3,39,1.15-16) pronunciados por Jesus em diversas ocasiões, juntando-os a propósito das relações dos cristãos com o mundo.
  • v. 38 (vv. 38-41: Lc 9,49s). Os três primeiros “ditos” têm a ver com o uso do nome de Jesus. Desta vez é “João”, filho de Zebedeu (1,19; 3,17; 10,35.41), que, indignado, toma a iniciativa e, em nome dos outros Doze (os verbos estão no plural), se queixa ao “Mestre” (gr. didáskalos: Mc, 12x) de terem encontrado “alguém” – um dos muitos exorcistas que então havia (cf. Mt 12,37) – “a expulsar demónios”, uma das atividades terapêuticas de Jesus (1,39; 16,9), sinónima de “curar doenças” (cf. At 10,38), por Ele comunicada aos Doze (3,15; 6,13). Aquele exorcista, porém, fazia-o usando o “nome” de Jesus (16,17; cf. At 19,13) como fonte do seu poder, embora sem ser discípulo dele. Os apóstolos reputaram-no como abuso e usurpação de poder. “E procurámos impedi-lo”: o verbo, no imperfeito, denota uma ação insistente. “Porque não nos seguia”: a nós (não a Jesus) apresentando-se assim os apóstolos como o critério do seguimento de Jesus. Como nada conseguiram, João pede a Jesus que interdite tal pessoa e lhe retire esse poder (cf. Nm 11,26-29).
  • v. 39. Jesus, porém, diz aos seus discípulos para “não impedir” (cf. Mt 19,14) aquele homem de o fazer. A vontade de Deus é que se ponha em prática a Sua palavra (3,35), fazendo “em seu nome” (v. 37) o bem a quem precisa, mesmo que seja, como aqui, “um milagre” (gr. dynamis: 5,30; 6,5.14; 1Cor 12,10.28; Gl 3,5; 1Ts 1,5; Hb 2,4), pois quem o faz, age movido pelo Espírito Santo, não podendo, por isso, fazê-lo e logo a seguir “falar mal” de Jesus (gr. kadologéô: 7,10; Ex 21,16; 22,27; Pv 20,20), ou seja, maldizê-lo, rejeitando a sua pessoa e mensagem (cf. 1Cor 12,3).
  • v. 40: Mt 12,30. “Pois quem não é contra nós é por nós”. Jesus mostra que todo o bem feito em seu nome, reverte não só em seu bem, mas também no bem da Igreja. Quem se interessa pelo outro, se compadece do seu sofrimento e acode à sua necessidade inspirado em Jesus, na realidade é um aliado de Jesus e da Igreja. A Igreja (um grupo ou um movimento cristão) não pode ser uma comunidade fechada, exclusiva, monopolizadora do Espírito e do Evangelho, mas deve ser aberta, tolerante, acolhedora, capaz de aceitar os sinais da presença e da ação de Deus naqueles que não lhe pertencem, pondo acima de tudo o bem do homem, disposta a acolher, apoiar, estimular e imitar o exemplo de todos os que se comprometem em fazer o bem ao próximo.
  • v. 41: Mt 10,42. “Em (meu) nome, porque sois de Cristo”: o uso do “nome” de Cristo (vv. 38s; cf. 1Cor 1,12) é o elo que une este “dito” com o episódio anterior (v. 37). Jesus diz que neste mundo haverá sempre pessoas que sabendo que alguém a) é seu enviado b) ou seu discípulo, quando o vir passar necessidade, ser difamado ou perseguido, o há de acolher e ajudar, mesmo em coisas pequenas, sem dele nada esperar receber em troca; mas Deus certamente o recompensará.
  • v. 42 (vv. 42-48: Mt 18,6-9; Lc 17,1s). A segunda parte tem mais dois “ditos” de Jesus, neste caso, relativos à gravidade dos escândalos. Neles, Jesus usa imagens fortes, expressivas, bem ao gosto da sabedoria oriental, destinadas a impressionar os ouvintes. Não são para seguir à letra, mas servem apenas para vincar a necessidade de optar de forma coerente pelo Reino.
  • O primeiro “dito” é um aviso aos que escandalizam os “pequeninos”. Para nós, “escandalizar” é “dar mau exemplo”; mas em grego scandalidzô é “fazer cair alguém por terra”, de modo que não se consiga levantar, ou seja, que acabe por desistir de caminhar e seguir Jesus. Os “pequeninos” não são apenas as criancinhas (v. 37), mas também, em sentido figurado, os simples que se aproximam de Cristo com fé sincera, embora ainda incompleta, pouco esclarecida ou até deformada, encontrando-se numa situação de dependência, debilidade ou necessidade, sendo facilmente influenciáveis. Os discípulos devem abster-se de fazer algo, emitir qualquer juízo, pronunciar qualquer palavra ou tomar qualquer atitude que os impeça de chegar a Jesus e abraçar o Evangelho (cf. 1Cor 8,7-13). Fazê-lo seria muito grave: “melhor seria para ele que lhe atassem uma mó de jumento à volta do pescoço”: a “mó de jumento” era a mó de um moinho movido por um jumento. “Atar uma mó de jumento à volta do pescoço” era uma expressão típica do judaísmo (Qid 29b Bar; Sanh 93b).
  • “E fosse lançado ao mar” (cf. Ap 18,21): o mar era o refúgio dos espíritos impuros. Ser lançado nele significava ser equiparado aos espíritos impuros (cf. 5,6-13), tema que une o presente dito ao v. 38; e morrer afogado no mar era uma morte infamante para um judeu, porque tornava impossível dar uma sepultura condigna ao seu cadáver.
  • v. 43: Mt 5,30. O segundo “dito” refere-se à necessidade de arrancar da própria vida tudo o que é incompatível com o Evangelho. Jesus parte do exterior, a obra, para passar ao interior, a atitude, e chegar à raiz, o coração. Quando fala em “cortar a mão” (símbolo da obra, a ação através da qual se leva a cabo a intenção), v. 45, ou de “cortar o pé” (o caminho ou comportamento que leva à ação), v. 47, ou em “arrancar o olho” (o íntimo onde se concebem os pensamentos, nasce o desejo e se forma a intenção que determina a ação: cf. 7,21ss),
  • Jesus não pensa numa mutilação real (considerada pelos rabinos impedimento para entrar no Reino de Deus), mas num processo terapêutico de conversão, removendo aquilo que realmente impede a salvação, ou seja, o pecado grave, que há que deixar a) emendando a obra, b) mudando de atitude e c) transformando o coração. Há que acordar, reconhecer o mal feito e rejeitá-lo, determinada e prontamente, arrancando-o pela raiz; caso contrário, ele acabará por infetar, como uma gangrena, todo o corpo (a pessoa e a comunidade) pondo em risco o seu bem e salvação (cf. 1Cor 5,6).
  • A quem não o fizer, Jesus adverte-o que se encaminha para a “Geena”. A “Geena” (em aramaico Ge ben-Hinnom: “Vale do filho de Hinnom”, termo usado por Marcos apenas aqui: 43.45.47), é o vale a sul de Jerusalém onde os judeus tinham oferecido sacrifícios ao ídolo Moloc, imolando-lhe os seus próprios filhos (cf. 2Cr 28,3; 33,6; Jr 7,31ss; 19,1-6; 32,35), vale que, a partir da reforma do rei Josias (622 a.C.), passou a ser a lixeira de Jerusalém, onde se queimavam os detritos e as entranhas dos animais sacrificados e onde eram enterrados os condenados. Era, pois, um lugar impuro, maldito, onde o fogo ardia sempre (cf. Mt 3,12p), imagem da condenação eterna daqueles que se revoltam contra Deus (cf. Ap 14,10; 20,10.14s; 21,8).
  • v. 48. Jesus descreve a condenação eterna nos termos de Is 66,24 (cf. Jdt 16,17). A fé não é estéril, mas tem consequências práticas, implicando opções e renúncias pessoais, por vezes dolorosas, que afetam a vida e as relações pessoais do crente, de modo a que nelas possam transparecer a luz de Cristo e o Evangelho.

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Afastei alguém da nossa comunidade, grupo, órgão ou movimento sob o pretexto de ele não partilhar a minha maneira de ver a fé?
  • O que preciso, concreta e prioritariamente, de “cortar” na minha vida, para me identificar mais plenamente com Jesus e caminhar de forma mais coerente e expedita para Deus, segundo o Evangelho?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                   Sl 19,8.10.12-14 (R. 9a)

Refrão:        Os preceitos do Senhor alegram o coração. 

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão sabedoria aos simples.     R.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são retos.     R.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.     R.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, nosso Deus, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis, derramai sobre nós a vossa graça, para que, correndo prontamente para os bens prometidos, nos tornemos um dia participantes da felicidade celeste. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc