Vigésimo Sétimo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (10,2-16)

Naquele tempo, 10,2aproximando-se uns fariseus de Jesus, perguntaram-lhe, para o pôr à prova: «É lícito a um homem repudiar a sua mulher?». 3Respondendo, Ele disse-lhes: «Que vos mandou Moisés?». 4Eles disseram: «Moisés permitiu escrever um certificado de divórcio e repudiá-la». 5Jesus, porém, disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos escreveu esse mandamento. 6Mas, desde o princípio da criação, “Deus fê-los homem e mulher”. 7”Por isso, o homem deixará o seu pai e mãe e unir-se-á à sua mulher 8e serão os dois uma só carne”. De modo que já não são dois, mas uma só carne. 9Portanto, o que Deus uniu, não o separe o homem». 10Em casa, os discípulos perguntaram-lhe de novo acerca disto. 11E Ele diz-lhes: «Aquele que repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra ela. 12E se ela, repudiando o seu marido, casar com outro, comete adultério». 13E traziam-lhe umas criancinhas para que lhes tocasse, mas os discípulos repreendiam-nos. 14Ao ver isto, Jesus indignou-se e disse-lhes: «Deixai as criancinhas vir a mim, não as impeçais, pois dos que são como elas é o reino de Deus. 15Amen vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criancinha, não entrará nele». 16E, abraçando-as, abençoava-as, impondo as mãos sobre elas.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • O texto de hoje tem duas partes ligadas ao tema da família: a) o ensinamento de Jesus sobre o divórcio e o casamento (vv. 2-12); e b) a sua atitude perante as crianças (vv. 13-16). Despedindo-se definitivamente da Galileia, Jesus prossegue o caminho para Jerusalém, passando “para além do Jordão” (v. 1), a Peréia, governada por Herodes Antipas, que tinha deixado a sua esposa para se casar com a sua cunhada, Herodíades, que, em Roma, roubara a Herodes Filipe, seu irmão (cf. 6,17).
  • v. 2 (vv. 2-9: Mt 19,3-9). O ensinamento de Jesus sobre o divórcio e o casamento aparece como um desafio para os que o querem seguir (cf. 8,34-37; 10,21). Proporcionaram-lhe ocasião os fariseus que “põem à prova” Jesus (8,11) a fim de o apanhar nalguma palavra que o comprometa, perguntando: “É lícito a um homem repudiar a mulher?” A pergunta “é lícito” é usada sobretudo em questões jurídicas (2,24.26; 3,4; 6,18; 12,14; 1Ma 14,44). O divórcio era uma questão debatida entre os rabinos. A Lei de Moisés permitia o divórcio, mas só por iniciativa do homem (v. 3; Mt 19,10; Fl.Jos., Ant. 15.7.10), embora sem especificar os motivos que o justificavam. A escola de Shamai defendia que o marido só podia repudiar a mulher se esta lhe tivesse sido infiel, ao passo que Hilel dizia que bastava a mulher ter um defeito físico ou ter deixado queimar a comida para o fazer (mGit 9,10). É nesta controvérsia que os fariseus querem envolver Jesus, esperando que a sua resposta o faça entrar em conflito com a Lei ou com Herodes, expondo-o assim à morte.
  • v. 3. À boa maneira dos rabinos, Jesus contrapõe-lhes outra pergunta, pois só encontra a verdade quem por ela se deixa interpelar: “Que vos mandou Moisés” na Lei? Jesus muda o verbo “ser lícito”, para o verbo “mandar”, reconduzindo assim a questão à vontade de Deus, expressa na Escritura, pois é nela, e não em opiniões pessoais, que se há de procurar o fundamento e a luz da vida humana, que são a fonte da sua felicidade.
  • v. 4. Os fariseus, bons conhecedores da Lei, respondem: “Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio” (Dt 24,1-4; Mt 5,31s).
  • v. 5. Jesus replica que não foi Moisés que permitiu o divórcio, pois este já existia antes dele, mas apenas o regulamentou, a fim de sanar uma situação injusta, que se arrastava desde tempos imemoriais, prescrevendo aos homens, “duros de coração”, uma norma que protegesse a mulher, mandando que, em caso de divórcio (então era feito em particular, não no tribunal), o marido lhe passasse um certificado de divórcio (o que nem sempre acontecia), para a proteger, para que ela, se voltasse a casar, não pudesse ser acusada de adultério e, então, lapidada.
  • v. 6. Jesus, porém, não se identifica com Moisés. Para Ele, o casamento não se entende a partir de permissões ou restrições legais, mas da vontade de Deus. Fundamentando-se em Gn 1,27; 5,2 (lit. “fê-los macho e fêmea”) v. 7. e em Gn 2,24 (Ef 5,31), v. 8, e tendo presente algumas passagens bíblicas (Gn 24,63-67; Ct 2,16; 6,3; 7,10), Jesus mostra que o matrimónio só se compreende à luz do projeto inicial de Deus que criou o homem à Sua imagem, na polaridade dialógica e complementar de ser masculino e feminino, para que ambos, à Sua semelhança, se unissem, realizassem, completassem e ajudassem um ao outro em íntima e fecunda aliança e comunhão de vida e de amor, querida e abençoada por Deus, dando-se um ao outro, v. 9, a fim de serem “uma só carne” (1Cor 6,16), permanecendo assim unidos um ao outro por um vínculo que só a morte poderia dissolver.
  • v. 9. Por isso, nenhum dos cônjuges, nem outra pessoa (pais, amigos, etc.) deve separar “o que Deus uniu”. O matrimónio é uma vocação, um dom de Deus (um carisma: 1Cor 7,7). O divórcio não traduz o desejo, nem a vontade primordial de Deus sobre o casamento e o amor conjugal, impressos no coração humano (o do casal e o dos filhos), limitando-se a regular o seu fracasso, resultante da fraqueza humana.
  • v. 10. Os discípulos, de forma muito humana, têm dificuldade em entender a posição do Mestre e, já “em casa”, símbolo da Igreja (v. 28; casa esta que já não é a de Cafarnaum: 1,29; 9,33), pedem-lhe que lha explique em particular. Jesus, na linha de Mal 2,14-15 (cf. Pv 5,15-21), afirma que entre os seus discípulos (na Igreja) a aliança matrimonial é sinal e expressão da nova aliança, selada pelo amor de Deus (ou seja, é “um mistério”, um sacramento: Ef 5,32), aliança que brota, não de um coração duro, incapaz de escutar e de se converter (cf. Zc 7,12; Ez 18,31ss), mas de um coração novo, regenerado pelo Espírito Santo (cf. Jr 31,33s Ez 36,26s), capaz de amar, ser fiel, se reconciliar (Mt 5,21-26), de edificar e manter a comunhão mútua, à imagem de Cristo (cf. Ef 5,21-30).
  • v. 11: Mt 5,32; 19,9; Lc 16,18; 1Cor 7,10s. A aliança matrimonial é sagrada e indissolúvel, pelo que quem tomar a iniciativa de a romper, só para casar com outro, comete adultério (o mesmo não se pode dizer do casamento civil que pode ser dissolvido: 1Cor 7,12-16).
  • v. 12: 1Cor 7,13. Este inciso é exclusivo de Marcos. Entre os judeus, a mulher só podia repudiar o marido: 1) quando a profissão ou uma doença deste (como a lepra) implicassem circunstâncias repelentes que tornassem impossível a vida conjugal (mKet 7,9s); 2) quando o marido lhe impusesse obrigações indignas ou impossíveis de cumprir (mKet 5,5); 3) quando uma menor de 12 anos tivesse sido prometida em casamento pela mãe ou os irmãos a alguém após a morte do pai (mYeb 13,4). Já no mundo romano (para quem Marcos escreve), a partir de finais da República (d. 27 a.C.), a mulher podia repudiar o marido (cf. 1Cor 7,13; GnR 18,12e; G I,137a; RE XIV, 1.1392s). Jesus mostra que o que vale para um, vale para o outro: ambos, marido e mulher, são responsáveis pela sua união, equiparando-se um ao outro em matéria de direitos e de deveres.
  • v. 13 (vv. 13-16: Mt 19,13-15; Lc 18,15-17). Só quem renasceu e é nova criatura pode entender esta palavra (cf. Mt 19,11), Por isso, Jesus propõe as “criancinhas” (gr. paidíon, até aos 7 anos), que defende sem hesitação e acolhe na Igreja, sem exclusão, ao invés dos discípulas, v. 14, como exemplo a imitar para entrar no Reino de Deus (Mt 18,3).
  • v. 15. As crianças são simples, sinceras, sem malícia, nem calculismos; não têm prestígio ou privilégios a defender; gostam de conviver, partilhar e ajudar, sem olhar à etnia ou condição social do outro; perdoam logo; livres de preconceitos e preocupações materiais, entregam-se com amor e confiança nos braços dos pais, dos quais tudo esperam e recebem; deixam-se ensinar e aceitam como verdadeiro e melhor o que lhes dizem. O Reino é dos que são como elas.
  • v. 16. Era habitual os filhos, pedirem aos pais, e os discípulos, ao mestre, que os abençoassem, bem como os pais pedissem a rabinos e sacerdotes que abençoassem os seus filhos, impondo as mãos sobre eles (cf. Gn 24,60; 27,38; 48,14; Lc 2,34; 24,51). As crianças precisam do amor, carinho e ajuda dos pais; Jesus dá o exemplo, mostrando como eles e a Igreja as devem acolher: “abraçando-as, abençoava-as, impondo as mãos sobre elas” (cf. 9,36; Lc 2,28; Is 40,11).

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Tento fazer cair alguém, mediante palavras, nalguma armadilha?
  • Que penso do matrimónio cristão? Procuro viver com o meu cônjuge “como uma só carne” no seio do meu matrimónio?
  • Tenho a atitude de dependência e simplicidade, humildade e amor, das crianças para aceitar e viver no Reino dos Céus? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração) 

Salmo responsorial                                           Sl 128,1-6 (R. cf. 5)

Refrão:        O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida. 

Feliz de ti que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.     R.

Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos como ramos de oliveira,
ao redor da tua mesa.     R.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião o Senhor te abençoe:
vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida;
e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Deus todo-poderoso e eterno, que, na abundância do vosso amor, cumulais de bens os que Vos imploram muito além dos seus méritos e desejos, pela vossa misericórdia, libertai a nossa consciência de toda a inquietação e dai-nos o que nem sequer ousamos pedir. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida) 

Fr. Pedro Bravo, oc