Vigésimo Oitavo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos  (10,17-30) 

10,17Quando Jesus estava a sair para caminho, veio um homem a correr que, caindo de joelhos diante dele, lhe perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?». 18Jesus disse-lhe: «Porque me chamas bom? Ninguém é bom, senão um: Deus. 19Sabes os mandamentos: “Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho”; não cometas fraudes; “honra o teu pai e a tua mãe”». 20Ele disse-lhe: «Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude». 21Jesus, fitando-o, amou-o e disse-lhe: «Falta-te uma coisa: vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-me». 22Anuviou-se-lhe, porém, o rosto com a palavra e foi-se embora entristecido, porque tinha muitos bens. 23Então Jesus, olhando em redor, diz aos seus discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». 24Os discípulos ficaram admirados com as suas palavras. Mas Jesus, respondendo, diz-lhes de novo: «Filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! 25É mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». 26Eles ficaram ainda mais perplexos, dizendo uns aos outros: «Quem pode, então, ser salvo?». 27Fitando-os, Jesus diz: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois a Deus tudo é possível». 28Pedro começou a dizer-lhe: «Eis que nós deixámos tudo e seguimos-te». 29Jesus respondeu: «Amen vos digo: não há ninguém que tenha deixado casa ou irmãos ou irmãs ou mãe ou pai ou filhos ou campos por causa de mim e por causa do Evangelho, 30que não receba já neste tempo cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, juntamente com perseguições e, no mundo vindouro, a vida eterna».

Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações: 

  • v. 17 (vv. 17-22: Mt 19,16-22; Lc 18,18-23). O texto de hoje versa sobre a incompatibilidade entre o apego às riquezas e o Reino de Deus. Tem três partes, ligadas entre si: a) o episódio do homem rico (vv. 17‑22); b) uma reflexão sobre as riquezas e o dom Reino (vv. 23‑27); c) a recompensa prometida ao desprendimento (vv. 28-31)
  • Tal como no episódio anterior, a primeira cena passa-se em público (v. 17; cf. v. 2). Jesus dirige-se para Jericó (v. 46), a penúltima etapa do caminho para Jerusalém. No “caminho” vai formando os discípulos sobre as exigências do Reino. Aproxima-se então um homem a correr, do qual nada se diz, nem a idade (Mt 19,20: “um jovem”), nem as posses (v. 22). Cai “de joelhos diante de Jesus”, em sinal de veneração, e pergunta-lhe com sinceridade e consideração: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?”. Fala com acerto: não diz “merecer”, “ganhar”, mas “herdar a vida eterna” (Lc 10,25). Uma herança não é um prémio, nem um salário: é um dom. Qualquer israelita sabe que todos os bens que se tem são dom de Deus, mas pensa que Ele só os dá aos que cumprem os mandamentos (cf. Dt 11,27; 30,16). Que deve ele fazer para alcançar o bem por excelência, “a vida eterna”, ou seja, “o Reino de Deus” (9,43.45.47), Deus? No AT, a noção de “vida eterna” só aparece em Dn 12,2 (cf. Gn 3,22), sendo retomada pelos escritos posteriores do judaísmo, onde se afirma que os justos que forem fiéis a Deus e à Lei não ficarão no sheol (o reino das sombras onde dormem os espíritos dos mortos), mas ressuscitarão para viver com Deus uma vida de alegria sem fim (cf. 2Ma 7,9.14.36).
  • v. 18. Ao jeito dos rabinos, Jesus replica com outra pergunta: “Porque me chamas bom?” Só sabe que Jesus é bom quem o segue, acreditando que Ele é Deus. Depois, Jesus repete a confissão central de fé do Shemá, a oração que todo o judeu piedoso recita três vezes ao dia: “Deus é um”, “o único” (2,7; 12,29; Dt 6,4). Na Bíblia, “bom” (gr. agathós) é só Deus (Sl 117,1-4.29; 134,3; 2Cr 30; Sb 13,3) e tudo o que dele procede (3Jo 11; cf. 2Rs 20,19; Sl 143,10; Rm 12,2; Ex 3,8; 20,12; Rm 2,7; 2Cor 9,8; Ef 2,10; Cl 1,10; 2Tm 3,17), pois só Ele é o Bem, fonte de todos os bens (Tg 1,17), a herança eterna (Hb 11,16).
  • v. 19. Jesus aponta-lhe depois os dez mandamentos (Ex 20,12-16; Dt 5,16-20; 24,14; Rm 13,9), a primeira escola de liberdade do Povo de Deus (Ex 20,2; Dt 5,15), como o caminho, válido para todos, para alcançar a vida eterna. Omite, porém, os três primeiros mandamentos, relativos ao amor a Deus, citando apenas os relativos ao amor ao próximo. “Não cometas fraudes” (Sr 4,1; 1Cor 6,8; 7,5) agrupa o nono e o décimo mandamentos, uma vez consumada a obra que denunciam.
  • v. 20. O homem replica que é isso que tem feito desde a sua juventude, ou seja, desde os 12/13 anos, quando, na bar mitzvá (“filho do mandamento”), assumiu o compromisso de guardar os mandamentos de Deus. Mas nem o cumprimento dos mandamentos, nem as riquezas que possui foram capazes de satisfazer o seu coração. Ele aspira a algo mais, que lhe encha completamente o coração e nunca acabe. Por isso pede a Jesus que lhe dê algum mandamento suplementar que lhe garanta a posse da vida eterna no final . 
  • v. 21. Jesus aprecia o seu desejo e sinceridade e fita-o com amor. O chamamento de alguém ao discipulado é sempre fruto de um amor especial de Jesus. Convida-o então a participar já com Ele na liberdade futura do Reino de Deus. Para isso, apresenta-lhe três condições, aliás já presentes em parte no AT, sobretudo na figura de Elias (e no seu seguidor, João Batista): 1) a libertação de todos os bens, laços e apegos terrenos; 2) a partilha com os pobres; 3) seguir Deus (Jesus) num caminho de amor e de entrega. Não se trata de uma imposição ou de uma lei universal, mas de um convite pessoal a entrar na plenitude do amor de Jesus.
  • Quem o fizer terá “um tesouro no céu” (Lc 12,33p). O judaísmo falava dos “cofres do céu” onde se conservavam os tesouros das boas obras dos justos (Ap Bar 14,12). Jesus usa esta imagem para ilustrar a falácia dos bens terrenos e indicar o modo de os usar segundo Deus, sem “defraudar” o pobre (v. 19: Sr 4,1; Pv 3,27s; Is 58,7ss; Ez 18,7).
  • v. 22. Para os judeus, a riqueza é um sinal das bênçãos divinas (Lv 26,3-10; Dt 28,1-8.11s; Sl 112,3), implicando, porém, a obrigação de dar esmola aos pobres (Tb 4,8-11). Apesar da sua boa vontade, este homem está preso aos seus bens e não quer mudar o rumo da sua vida, tornando-se assim incapaz de acolher a alegria profunda e libertadora do Reino de Deus.
  • v. 23. A segunda cena, tal como no v. 10, decorre em privado. Depois de ele ter partido, Jesus comenta com os seus discípulos a opção dele (4,10-20.34; 9,28s; 10,10-12), mostrando que só é possível percorrer o caminho do Reino na renúncia aos próprios bens, na partilha com os irmãos e na entrega por amor. Quem não renunciar a tudo o que o prende e o impede de seguir Jesus e de se dar aos irmãos (projetos pessoais, vontade própria, etc.: Lc 14,26-33), não pode integrar a comunidade do Reino.
  • v. 24. Sendo a riqueza sinal das bênçãos divinas (v. 22) e permitindo ela fazer uma obra tão meritória como dar esmola aos pobres (Sl 112,3b-9), os discípulos admiram-se. Jesus, porém, insiste no que dissera, afirmando que não se trata duma dificuldade, mas de uma real impossibilidade: para entrar no Reino há que renascer como filho de Deus. Por isso diz: “filhos” (2,5; 7,27).
  • v. 25. Jesus ilustra-o com a figura estilística do adýnaton (“impossível”: v. 27: de um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Não se trata de algo real, mas de algo de impossível (como “a semana dos nove dias” ou “as calendas gregas”) que serve para reforçar a ideia fundamental, neste caso, a fim de realçar a necessidade da ação da graça de Deus.
  • v. 26. Os discípulos percebem-no e perguntam-se, estupefactos: “Quem pode, então, ser salvo?”. Se um rico, fiel a Deus, sincero e irrepreensível cumpridor da Lei, que pode dar esmolas aos pobres, não o consegue, como hão de consegui-lo os Doze, que só deixaram tudo, e muitos outros que não são bons?
  • v. 27. Jesus mostra então que a salvação, que resulta do dom da vida eterna e se traduz na sua vivência prática, não é fruto de um esforço ou mérito pessoal, sendo “impossível” ganhá-la pelas próprias forças (Sl 49,8ss). Nem sequer a renúncia aos bens basta para a garantir (cf. Ct 8,7; 1Cor 13,3); ela é um dom gratuito de Deus (um carisma: Rm 6,23), que ultrapassa tudo o que o homem pode. Mas “a Deus nada é impossível”, expressão que recorda Gn 18,14 (Jb 42,2; Zc 8,6; 2Cr 14,10; Lc 1,37), indicando que só a alcançarão os filhos da promessa (Gl 4,28; 3,22-29; Rm 9,8), ou seja, aqueles que por uma fé semelhante à de Abraão, forem justificados, renascendo como filhos de Deus.
  • v. 28. Pela boca de Pedro, os discípulos lembram a Jesus que deixaram tudo para o seguir (1,18). Nenhum deles teve de vender os bens para ajudar os pobres, prática recomendada por Jesus apenas aos que tinham posses (cf. At 4,34-37; 2Cor 8,11-15) – o que não era o caso dos Doze –, mas que não era obrigatória para ninguém (cf. Mt 19,21; At 5,4). Seja como for, optar por Jesus exige sempre a renúncia a tudo (Lc 14,33); mas aceitar o desafio do discipulado, implica deixar tudo por Ele. Que recompensa terão os que o fizerem?
  • v. 29. Jesus responde, frisando que a opção fundamental da vida cristã é “por Ele” e (só Marcos o acrescenta: 8,35) “pelo Evangelho”; ou seja, seguir a Cristo e anunciar o Evangelho. Isso implica diversas renúncias, diferentes de um caso para outro, como indica o uso da conjunção disjuntiva “ou”, pois nem todos têm pais, campos, irmãos, etc., quando Jesus os chama. Entretanto, Jesus confirma o valor da opção daqueles que, renunciando a tudo, consagraram a sua vida a Ele e ao Evangelho, assegurando-lhes (“Amen”) que tal caminho não é uma perda.
  • v. 30, Jesus promete que esta renúncia, em vez de ser uma perda, é o ganho de uma nova família, de uma inaudita fecundidade e de perene plenitude de vida.
  • Noutra nota peculiar de Marcos, Jesus avisa que tal opção será rejeitada e incompreendida pelo mundo, pelo que irão ter tudo isso “juntamente com perseguições” (4,17; Rm 8,35; 2Cor 12,10; 2Ts 1,4). As perseguições fazem parte da vida cristã no tempo presente (Dn 11,35; Mt 5,11s; Jo 15,20; At 14,22; 2Tm 3,12), sendo elas uma graça que permite que o discípulo se associe à sorte do Mestre, identificando-se mais plenamente com Ele (2Cor 4,11; Fil 1,29; Rm 8,17; 2Tm 3,11s), a fim de também com Ele poder tomar parte na glória da ressurreição (2Cor 4,10ss; Fl 3,8-11), experimentando desde logo algo da sua força salvífica.

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Encontro-me com Jesus em diversos momentos do meu dia para dialogar com Ele, escutar a Sua Palavra e me abrir ao seu amor?
  • Cumpro os mandamentos de Deus? Como reajo quando perco as minhas seguranças ou quando o Senhor me pede algo que não esperava?
  • Estou disposto a deixar tudo – ou conheço alguém que já o fez – para seguir Jesus, consagrando-se inteiramente ao serviço do Evangelho?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                            Sl 90,12-17 (R. 14)

Refrão:     Enchei-nos da vossa misericórdia, será ela a nossa alegria. 

Ensinai-nos a contar os nossos dias,
para chegarmos à sabedoria do coração.
Voltai, Senhor! Até quando?
Tende piedade dos vossos servos.     R.

Saciai-nos, desde a manhã, com a vossa bondade,
para nos alegrarmos e exultarmos todos os dias.
Compensai em alegria os dias de aflição,
os anos em que sentimos a desgraça.     R.

Manifestai a vossa obra aos vossos servos
e aos seus filhos a vossa majestade.
Desça sobre nós a graça do Senhor.
Confirmai em nosso favor a obra das nossas mãos.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva: 

Nós Vos pedimos, Senhor, que a vossa graça preceda e acompanhe sempre as nossas ações e nos torne cada vez mais atentos à prática das boas obras. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc