Trigésimo Domingo do Tempo Comum - 2024

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Marcos (10,46-52)

Naquele tempo, 10,46quando Jesus ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma considerável multidão, o filho de Timeu, Bartimeu, um cego mendigo, estava sentado à beira do caminho. 47Ao ouvir dizer: «É Jesus, o Nazareno», começou a gritar e a dizer: «Filho de David, Jesus, tem misericórdia de mim». 48Muitos repreendiam-no para que se calasse; mas ele gritava cada vez mais alto: «Filho de David, tem misericórdia de mim». 49Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamam, então, o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te! Ele chama-te». 50Deitando fora o manto, levantou-se de um salto e veio ter com Jesus. 51Jesus, tomando a palavra, disse-lhe: «Que queres que te faça?». O cego disse-lhe: «Rabbuni, que torne a ver». 52Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou». Imediatamente tornou a ver e seguia-o no caminho.

     Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • O texto de hoje descreve a cura do cego Bartimeu. É a última etapa do “caminho” de Jesus para Jerusalém (8,27; 9,33s; 10,17.32), um caminho que, mais do que geográfico, é sobretudo espiritual. Com este episódio encerra-se o ensinamento de Jesus sobre sua paixão e morte de cruz, introduzido pela cura de outro cego (8,22-26). Apesar das palavras e dos gestos de Jesus, os discípulos, presos à sua maneira meramente humana de pensar, continuam cegos, incapazes de compreender quem Ele realmente é e qual é o verdadeiro sentido do Evangelho.
  • v. 46 (vv. 46-52: Mt 20,29-34; 9,27-31; Lc 18,15-43). O texto leva-nos a Jericó (he. “perfumada”), um oásis no vale do Jordão, alimentado por abundantes águas (cf. 2Rs 2,19-22), situado no Wadi Qelt, 8 km a W do rio Jordão e 24 km a NE de Jerusalém. Jericó só é referida aqui. É a mais funda (‑275 m) e mais antiga cidade do mundo (c. 9.000 a.C.). Foi destruída e reconstruída pelo menos 18 vezes. Por isso, no AT é símbolo da humanidade pecadora (cf. Js 6,26; 1Rs 16,34). Na época de Jesus era um lugar relativamente importante. Nessa altura havia duas Jericós: uma, antiga, a bíblica “Cidade das Palmeiras” (Dt 34,3); e outra, nova, romana, a cerca de uma milha (1,6 km) de distância desta, mandada construir por Herodes I, que aí mandara construir o seu palácio de Inverno. Segundo Marcos, Jesus ia “a sair” de Jericó, a antiga, segundo Lucas, “aproximava-se” de Jericó, a nova (Lc 18,35).
  • Entra então em cena um cego chamado “Bartimeu”. Só Marcos indica o seu nome. Não se trata dum nome próprio, mas dum apelido, inexis­tente em aramaico, hebraico e grego. É um nome híbrido, talvez uma alcunha popular, que só aparece aqui. O prefixo, em aramaico, bar, significa “filho”; o nome, em grego, timaios, “honrado”, ou seja: “filho de um honrado”. O seu nome, em franca contradição com a sua situação, sublinha a sua miséria: sem nome próprio, nem nacionalidade, está só, é cego e pobre, vivendo de esmolas. Será talvez uma alusão à Igreja futura, formada por discípulos de Jesus provindos os primeiros, de língua aramaica, de Israel; e os outros depois, de língua grega, dos gentios (cf. Rm 1,16; 2,9s). Três notas caracterizam a sua condição.
  • 1) Está fora da cidade: é um excluído. Entre os judeus as doenças e as deficiências físicas eram consideradas fruto do pecado (Sr 38,15; Shab 55a). Castigando Deus conforme a gravidade da culpa (Sahn 100a Bar), a cegueira dever-se-ia a um pecado bastante grave do próprio cegos ou de seus pais (Jo 9,2), porque impedia estudar a Lei, sendo, pois, considerada uma maldição. Pela sua condição de impureza, os cegos eram excluídos da sociedade, não podiam servir de testemunhas num tribunal, entrar no Templo (Lv 21,18; 2Sm 5,8; Bek 30a), recitar a narração pascal (Haggada: Pes 116b), nem as orações a seguir ao Shemá (Meg 24a) sendo considerados, a par dos pobres, leprosos e dos que não tiveram filhos, “mortos” (Ned 64b). 2) Está “sentado”, porque é incapaz de sair da sua situação; 3) “à beira do caminho”, porque é um marginalizado que, à partida, não podia contar com a salvação. A referência ao “caminho” forma um inclusão com o v. 52.
  • v 47. Sendo cego, guia-se pelo ouvido. Ao ouvir dizer: “É Jesus, o Nazareno” (1,24; 14,67; 16,6), nasce-lhe uma nova esperança e, decidido a não deixar passar a ocasião, põe-se a gritar: “Filho de David, Jesus, tem misericórdia de mim” (cf. Sl 27,7; 86,3). É só aqui que Marcos aplica a Jesus o título messiânico "Filho de David" (v. 48; cf. 11,10; 12,35.37), título que evoca a misericórdia e a fidelidade de Deus à sua aliança (Sl 89,2-6.25.34G) e às promessas que em David fez ao seu povo (2Sm 7,14; Sl 89,27). Bartimeu “vê” em Jesus o Messias prometido que vem para salvar não só Israel (cf. 11,10), mas também os excluídos do Povo de Deus, incluindo os cegos ((cf. Is 29,18; 35,5; 42,7.16.18; Jr 31,8). Certo do poder de Jesus, movido pela fé, numa cena que evoca Is 30,18-22 e o Sl 123, põe-se a gritar, pedindo-lhe, consciente de ser pecador, com as mesmas palavras que David nos salmos dirige a Deus: “tem misericórdia de mim” (Sl 51,3; 6,3; 9,14; 25,16; 41,11). Um pedido que passou para a liturgia da Igreja, no original grego (Kyrie, eleisón) e que compõe, nas Igrejas orientais, a chamada “oração de Jesus”.
  • v. 48. As pessoas repreendem-no e mandam-no calar, porque, sendo cegos e, por isso, grande pecador, não tinha o direito de se dirigir a um rabino. É o que tantas vezes acontece: quando alguém procura Jesus e quer deixar a sua vida passada: não raro depara com a oposição dos outros, inclusive dos familiares e amigos. O cego, porém, não desiste e repete com maior intensidade: “Filho de David, tem misericórdia de mim”. Já não é apenas súplica, passa a ser uma confissão de fé, pública e corajosa, aberta e insistente, em Jesus.
  • v. 49. Só então Jesus pára e o manda chamar. Não o faz diretamente, mas através dos seus seguidores, porque o Evangelho só irá chegar aos que nunca viram Jesus através destes. Alguns animam-no a ir ter com Jesus, sem medo: “Coragem, levanta-te! Ele chama-te” (6,50p; Mt 9,2.22; At 23,11; cf. Tb 7,17; 11,11). O verbo “levantar-se” (gr. egueirô) é o verbo usado para falar da ressurreição (5,41; 9,27; 12,26; 14,28; 16,6).
  • v. 50. Bartimeu escuta a palavra, obedece, deita fora o seu manto, símbolo da sua antiga condição de mendigo (Ex 22,25ss), levanta-se num salto (Tb 7,6) e, sem medo, vai ter com Jesus. Para aderir a Jesus é preciso dar o salto da fé, converter-se, estar disposto a mudar de vida.
  • v. 51. Jesus pergunta-lhe: “Que queres que te faça?”. É a mesma pergunta que fizera a Tiago e a João (v. 36). Mas agora a resposta é diferente, pois se os dois irmãos aspiravam à grandeza e ao poder, o cego mendigo deixa tudo para receber de Jesus a luz de uma vida nova.
  • Bartimeu chama Jesus “Rabbuni”, “meu Mestre” (lit. “meu grande”: Jo 20,16), um tratamento de grande honra e reverência que se podia aplicar aos homens (Targ Onk Gn 45,8), mas que. na época. quase só se aplicava a Deus (pBer 4,7d,43; pYom 8,45c,35; Taan 3a). Bartimeu pede a Jesus em primeiro lugar que o faça seu discípulo; só depois lhe pede que lhe restitua a vista, algo que só Deus podia fazer (Ex 4,11). A sua prece é uma confissão de fé em Jesus (cf. 12,37), não só como Messias (vv. 47s), mas também como Deus. Na prática repete, por outras palavras, o que Marcos afirma logo no início da sua obra: “Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (1,1).
  • v. 52. Jesus atende-o e diz-lhe: “Vai, a tua fé te salvou” (5,34p; Lc 7,50; 8,48; 17,19). Jesus cura-o apenas com o poder da sua palavra. A fé que o salvou não foi só a confiança em Jesus, mas também a fé que confessa sem medo que Ele é o Messias. Bartimeu é exemplo do discípulo cristão que proveio quer do judaísmo, quer da gentilidade, que, e que nunca viu Jesus, mas escuta e adere com fé à Palavra que lhe anunciam (vv. 47.49; cf. Jo 20,29; 1Pd 1,8s), confessando Jesus abertamente e, deixando a sua vida anterior, renasce pelo batismo para, iluminado por Ele (Ef 5,14; Hb 6,4; 10,13; 1Pd 2,9), o seguir numa vida nova, coerente com a fé que professa, no seio da Igreja, passando desde então a acompanhá-lo no seu caminho, disposto a ir até ao fim.

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

     a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?

  • Que coisas me cegam hoje, impedindo-me de ver Jesus?
  • Reconheço algum chamamento do Senhor na minha vida? Há algo que se lhe oponha, alguém que me ajude? Como respondo?
  • Que me impede ainda de seguir Jesus incondicionalmente?

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                Sl 126,1-6 (R. 3)

Refrão:        O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.

 

Quando o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e dos nossos lábios cânticos de júbilo.     R.

Diziam então os gentios:
«O Senhor fez por eles grandes coisas».
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.     R.

Fazei regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.     R.

À ida vão a chorar,
levando as sementes;
à volta vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.     R.

Pai-nosso… 

Oração conclusiva 

Deus todo-poderoso e eterno, aumentai em nós a fé, a esperança e a caridade; e para merecermos alcançar o que prometeis, fazei-nos amar o que mandais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.

Ave-Maria...

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc