Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (1,39-45)
1,39Por aqueles dias, Maria levantou-se e dirigiu-se apressadamente para a região montanhosa, a uma cidade de Judá. 40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. 41E aconteceu que ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino saltou-lhe no ventre e Isabel ficou cheia do Espírito Santo 42e, com um grande brado, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. 43De onde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor? 44Pois quando chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino saltou de alegria no meu ventre. 45Bem-aventurada aquela que acreditou que há de cumprir-se o que lhe foi dito da parte do Senhor».
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- O episódio de hoje, a visitação de Maria à sua parente Isabel, é exclusivo de Lucas. Omite-se o cântico de Maria e a conclusão (vv. 46-56).
- Até finais dos anos 70, dizia-se que este texto era um midrash haggádico (“história que conta”), pertencente aos “Evangelhos da infância”, escritos mais tarde para: 1) preencher as lacunas do texto primitivo e satisfazer a curiosidade dos fiéis mais piedosos sobre as origens de Jesus; 2) mostrar como as promessas do AT se cumprem nele; 3) encontrar já nas origens os motivos da confissão de fé cristã pós-pascal (homologuese). Esta teoria, no entanto, foi abandonada, porque: a) as duas únicas narrativas da infância de Jesus são a de Mateus e de Lucas, tão diferentes entre si que não se pode falar dum género literário pois para tal é necessário que seja homogéneo; 2) o género literário “Evangelho” foi criado por Marcos (1,1), aplicando-se apenas aos quatro Evangelhos. É antes um “relato da origem dum personagem” (Mt 1,1; cf. vv. 5-25; Gn 18,9-15; 21,1-21; Ex 2; Jz 13; 1Sm 1; 3), neste caso, de Jesus. Mais importante é perceber o que Lucas com ele quer dizer: quem acolhe o enviado de Deus e adere com fé à Boa Nova que ele lhe traz, recebe Jesus que lhe comunica o Espírito Santo, que nele cumpre a Palavra, fazendo irromper a salvação na sua vida, levando-o a louvar a Deus e a ser discípulo missionário, que se põe ao serviço dos outros, testemunhando-lhes com alegria a Boa-nova da salvação.
- v. 39. A presente cena ocorre poucos “dias” após a anunciação (v. 26), decorrido apenas o tempo necessário para Maria acertar em casa a decisão com os seus, preparar a viagem e partir. Porque o decide ela? Não para comprovar se era verdade o que o anjo lhe anunciara, mas porque, tendo acreditado na palavra do anjo (v. 36) e não tendo este adiantado qualquer pormenor sobre o que acontecera, ela quis escutar “a boa nova” (v. 20) diretamente da boca de Isabel, felicitá-la e alegrar com ela por “o Senhor nela ter engrandecido a sua misericórdia”, com ela (v. 58). E porque, tendo-se apenas declarado “a escrava do Senhor” (he. ‘amah; gr. doulê: vv. 38.48) – tal como Abigail (1Sm 25,3), “a viúva de Nabal” (1Sm 30,5; 2Sm 2,2) o fizera em relação a David – sabia que isso implicava não só estar disponível para fazer a vontade do seu senhor – neste caso Deus –, mas também para atender às necessidades dos servidores dele no que fosse preciso (cf. 1Sm 25,41: “A tua escrava é servidora para lavar os pés dos teus servidores”; cf. Jo 2,3; 13,14).
- Em ambos os casos usa-se o verbo “levantar-se” (gr. anístêmi: 1Sm 25,41), um dos verbos técnicos da ressurreição (9,8.19; 18,33; 24,7.12. 46): a fé faz caminhar numa vida nova (5,25.28; 8,55; 15,18.20; 17,19; 24,33), levando o crente a pôr-se ao serviço do próximo (22,26s) e a partilhar com ele o que tem (At 2,44s). Evoca Rebeca, que deixou tudo para ir ao encontro de Isaac, o filho da promessa (Gn 24,61); e a sogra de Simão que, curada por Jesus, logo se pôs a servi-lo (4,39).
- Tal como Abigail, Maria dirige-se “apressadamente” (gr. spoudê: 1Sm 25,18. 23.42) ao encontro de Isabel, movida por uma sincera caridade (2Cor 8,8), para ficar sempre junto dela e a ajudar no que fosse preciso na última fase de uma gravidez, que era de risco, uma vez que Isabel era de idade avançada (vv. 7.36). Maria sente a urgência do amor, que em caso de necessidade, não se compadece com dilações.
- Maria “dirigiu-se para a região montanhosa” (gr. oreinós: v. 65: Jt 5,19; Jr 33,13; Zc 7,7) próxima de Jerusalém, “em direção a uma cidade de Judá”, identificada pela tradição com Ein-Karem (“fonte dos vinhedos”, 7 km a W de Jerusalém; não Hebron, a cidade dos sacerdotes, 40 km a SSW de Jerusalém: Js 21,13; 1Cr 6,57), fazendo uma viagem difícil e perigosa de 150 km (5 dias a pé). A cena evoca Is 52,7 (o mensageiro que anuncia boas-novas a Sião), e Ct 2,8 (a voz do Amado que vem a correr sobre os montes). Maria, evangelizada pelo anjo e grávida de Deus, é exemplo do discípulo que acredita na Palavra, tornando-se também ele evangelizador: parte, sem hesitar, nem temer, levando Jesus em si, para ir ao encontro do outro e o servir, partilhando com ele a sua vida e a boa-nova da salvação, que a transformou.
- v. 40. Com Maria, entra em cena outra mulher, Isabel (he. Elisabeth: “juramento de Deus”). Ambas conceberam de forma miraculosa: a primeira, estéril, já passada a idade, vai ser mãe (vv. 7.13.24.36); a segunda, virgem, concebeu pelo Espírito Santo (v. 35). Ambas são mulheres de fé, que escutam a Palavra de Deus, aderem ao Seu plano e dele se tornam participantes. E ambas são portadoras dum personagem oculto (João, o Precursor; e Jesus, o Messias) que embora não fale, é o protagonista da cena. A graça precede e supera a natureza. Maria saúda Isabel (he. shalom; gr. kairé: v. 28) mal entra em casa dela (cf. Mt 10,12).
- v. 41. A chegada de Maria, trazendo Jesus em si, e o seu encontro com Isabel, evocam a Arca da Aliança trazida pelos montes de Judá desde Kiriath-Jearim até Jerusalém (“David, com toda a casa de Israel, subiram a Arca do Senhor com júbilo e vozes”: 2Sm 6,15), a sua chegada ao meio do povo (“E aconteceu que, vindo a Arca da Aliança do Senhor ao acampamento, todo o Israel gritou em alta voz”: 1Sm 4,5), e a sua estada de três meses em casa de Obededom (v. 56; 2Sm 6,9-12). Maria é a Arca da nova Aliança que traz em si Deus que vem habitar com o seu povo. O templo de Deus é agora a vida simples do seu povo; e o seu santuário, o coração de quem crê na Boa nova (17,21). Por isso, Zacarias, que não acreditou (v. 20), não aparece na cena.
- O “salto” de João no ventre de Isabel evoca Gn 25,22 (Rm 9,12): “o mais velho (Esaú) servirá o mais novo (Jacob)”, neste caso João, concebido seis meses antes de Jesus, dá a primazia a Jesus. João, o Precursor, mostra Jesus, oculto no seio de Maria, já presente no meio dos homens, sinalizando que Ele é o Messias (vv. 17.76; 7,27), que o ungiu com o Espirito Santo. Realiza-se assim o que o anjo anunciara a Zacarias: “ele será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe” (v. 15). Começa a cumprir-se a promessa da efusão do Espírito sobre toda a carne (Jl 3,1). Onde Jesus está presente, irrompe o Espírito Santo (3,16; At 2,33), que O dá a conhecer (2,25s; 3,22; 10,21s).
- O Espírito Santo manifesta-se desde logo no louvor e na profecia (Nm 11,26ss; 1Sm 10,11s; At 2,4.11; 19,6). É a primeira vez desde Malaquias, após 450 anos de silêncio profético (cf. Mq 5,2; Am 8,11; Sl 74,9), que a profecia irrompe, agora através de duas mulheres. Tendo o pecado entrado no mundo pela incredulidade e desobediência duma mulher (1Tm 2,14), agora a salvação entra nele graças à fé e obediência de duas mulheres. Isabel profetiza primeiro porque é “anciã” (Jb 32,6) e representa o AT, que anuncia o Novo; só depois fala Maria, que é “jovem” e traz em si o NT. Segue-se assim a ordem de Jl 3,1: “Os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens visões”. Entrámos no regime da graça (vv. 13.28.30; Rm 5,15-20) que se manifesta primeiro nos que estão menos preparados (1Cor 1,26-29) e dela se acham menos dignos, como Isabel (v. 43).
- v. 42. A resposta de Isabel é um grito profético, que foi recolhido na Avé Maria. Abre-se com duas bênçãos (2,34): a primeira, “bendita és tu entre as mulheres” (11,27; cf. BarAp 54,10), evoca o cântico de Débora que celebra Jael, a mulher através da qual Deus salvou o seu povo (Jz 5,24); e a bênção de Uzias a Judite, por meio da qual Deus aniquilou o opressor (Jt 13, 18); a segunda, “bendito o fruto do teu ventre” (Dt 28,4), aplica a Jesus o termo “bendito” com o qual o judaísmo menciona Deus, sem o nomear (v. 68; 13,35; 19,38; Mc 14,61).
- v. 43. A pergunta de Isabel, “donde me é dado que venha ter comigo a mãe do meu Senhor?”, é uma palavra (profética) de conhecimento (1Cor 12,8), pela qual o Espírito Santo revela o que está oculto. Evoca David, quando a Arca da Aliança vinha ao seu encontro (2Sm 6,9; 1Cr 24,14). Em Lucas, ocorre aqui pela décima vez o título “Senhor” (gr. Kyriós), que no AT substitui o Nome divino, sendo a primeira vez que ele é aplicado a Jesus numa confissão de fé (cf. Fl 2,11).
- v. 44. Em inclusão com os vv. 40-41, Isabel confirma a fé de Maria (v. 36; cf. Ex 4,19; 1Sm 3,8; At 22,10), indicando-lhe a causa do seu grito: o menino “saltou de alegria” (Sl 114,4.6) no seu ventre por ação do Espírito Santo (cf. 10,21) que lhe foi comunicado por Jesus, o Messias, ali presente em Maria, cumprindo-se assim as promessas feitas por Deus no AT, em particular através de Zacarias (!), de que viria habitar no meio do seu povo (Zc 2,14s; Is 12,6s; Sf 3,16s; Ml 3,20).
- v. 45. A concluir, como chave da cena, Isabel proclama Maria “bem-aventurada” porque acreditou. É a primeira bem-aventurança do NT. A frase tem dois sentidos em grego, complementares: 1) ”Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento do que lhe foi dito da parte do Senhor”. Maria acreditou, sem ver, que Deus cumpre o que diz (Jo 20,29; 1Pd 1,8). Ela é mais feliz por ter acreditado do que por ser Mãe de Jesus (cf. 11,28); 2) “Bem-aventurada a que acreditou: há-de cumprir-se o que lhe foi dito da parte do Senhor”. Porque acreditou, Deus cumprirá em Maria o que lhe prometeu, enquanto Mãe de Jesus membro do Seu povo (vv. 54s). Mais: é graças à fé de Maria que Deus vai cumprir as suas promessas em Jesus em favor do seu povo e toda a humanidade nos que acreditam no Evangelho e aceitam Jesus como seu Senhor, tal como Maria e Isabel.
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Vemos a vida e as pessoas como Jesus? No nosso coração achamos que uma pessoa pobre e faminta é realmente feliz?
- Ao dizer “Bem-aventurados os pobres”, Jesus pretende afirmar que os pobres devem continuar na pobreza?
- Vinte séculos depois de Jesus ter pronunciado estas palavras que é feito da sua proposta? Mudou alguma coisa neste mundo? E em nós?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 1,1-4.6 (R. Sl 39,5a)
Refrão: Feliz o homem que pôs a sua esperança no Senhor.
Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores,
mas antes se compraz na lei do Senhor,
e nela medita dia e noite. R.
É como árvore plantada à beira das águas:
dá fruto a seu tempo
e sua folhagem não murcha.
Tudo quanto fizer será bem sucedido. R.
Bem diferente é a sorte dos ímpios:
são como palha que o vento leva.
O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva
Senhor, que prometestes estar presente nos corações retos e sinceros, ajudai-nos com a vossa graça a viver de tal modo que mereçamos ser vossa morada. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos. T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc