Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:
A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.
A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen.
1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?)
Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (9,28-36)
9,28E aconteceu que cerca de oito dias depois destas palavras, Jesus, tomando consigo Pedro, João e Tiago, subiu ao monte para orar. 29Enquanto orava, alterou-se o aspeto do seu rosto e a sua veste ficou de uma brancura refulgente. 30E eis que dois homens conversavam com Ele: eram eles Moisés e Elias, 31que, tendo aparecido em glória, falavam do êxodo dele que havia de se cumprir em Jerusalém. 32Entretanto, Pedro e os que estavam com ele estavam a cair de sono; mas, despertando, viram a sua glória e os dois homens que estavam com Ele. 33Quando estes começaram a afastar-se dele, Pedro disse a Jesus: «Mestre, que bom é nós estarmos aqui! Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias». Não sabia o que estava a dizer. 34Enquanto ele dizia isto, veio uma nuvem que os cobriu de sombra; e eles, ao entrarem na nuvem, ficaram cheios de medo. 35E da nuvem veio uma voz que disse: «Este é o meu Filho, o Eleito: escutai-o». 36Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho. Eles guardaram silêncio e naqueles dias não contaram a ninguém o que tinham visto.
Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:
- v. 28 (vv. 28-36: Mt 17,1-9; Mc 9,2-8; 2Pd 1,16-18). Estamos no final da secção da Galileia do Evangelho de Lucas. O episódio ocorre “oito dias depois” da confissão de fé de Pedro, seguida do anúncio da paixão, do apelo de Jesus a segui-lo pelo caminho da cruz (vv. 18-26) e da sua promessa que alguns dos seus discípulos não haviam “de provar a morte antes de terem visto o reino de Deus” (v. 27). É o que aqui vai acontecer. O “oitavo dia” (Jo 20,26) evoca o domingo, “o dia do Senhor” (Ap 1,10) em que se celebra a Eucaristia (At 20,7), memorial da morte e ressurreição de Cristo, da qual a Transfiguração é antevisão.
- Jesus sobe ao monte e leva consigo os seus três discípulos mais íntimos: “Pedro, João e Tiago” (8,51). Só Lucas antepõe João a Tiago (cf. Mt 17,1; Mc 9,2) e apenas aqui, pondo-o logo a seguir a Pedro, talvez para ligar a Transfiguração à Páscoa de Jesus, onde Pedro e João aparecem associados (cf. 22,8; Jo 20,2-10; At 3,1.3s.11; 4,13.19; 8,14).
- “O monte”, com artigo, é o Tabor (cf. 2Pd 1,18). Esta nota situa-nos num contexto de revelação. Evoca: 1) o monte onde Abraão se dispôs a sacrificar Isaac, seu filho, e recebeu a promessa de na sua descendência serem abençoados todos os povos (Gn 22,2.18); 2) o Sinai, onde Deus Se revelou e fez aliança com o seu Povo (Ex 24,15-18); 3) o monte Sião, para onde convergiriam todos os povos para receber a Palavra de Deus (Is 2,2s). Só Lucas refere que Jesus foi ali para orar. A oração de Jesus é um tema caro a Lucas (v. 18; 3,21; 5,16; 6,12; 10,21s; 11,1; 22,41; 23,46).
- v. 29. Ocorre então a transfiguração de Jesus. Trata-se de uma teofania (uma “manifestação de Deus” aos homens) como indica a presença dos elementos que a caracterizam: o monte; as vestes brancas; as aparições; a nuvem; a voz do céu; o medo dos discípulos; o silêncio que se impõe. A transfiguração do rosto e da veste de Jesus, ou seja, a mudança da sua aparência exterior, designando a veste a pessoa (7,25; 1Sm 28,16; 2Rs 2,12), evoca: 1) o brilho do rosto de Moisés ao descer do Sinai (Ex 34,29; 2Cor 3,7.13.18); 2) e o resplendor do “Filho do homem” (vv. 22.26.44; Dn 10,6.16). Lucas evita o verbo “metamorfosear” (Mc 9,2; Mt 17,2), por ele poder evocar nos seus leitores gregos os mitos pagãos dos autores clássicos (cf. Ovídio, As metamorfoses, 8 d.C.).
- v. 30. Surgem então Moisés e Elias, os dois maiores profetas do AT. Ambos tiveram uma experiência sublime de Deus no Sinai (Ex 34,5-8; 1Rs 19,12s) e foram por Ele tomados de forma misteriosa (Dt 34,5s; 2Rs 2,11s). Na linha de Ml 3,22-23, Elias estava ligado à chegada do “Dia do Senhor”, devendo apontar então o Messias. Já Moisés não estava associado à vinda do Messias, embora a tenha anunciado (Dt 18,15-18). Ambos representam aqui o AT, a Lei (Torá) e os Profetas (Nebîim) (2Pd 1,19), que se leem no culto sinagogal (16,16; 24,44; At 13,15; 24,14; 28,23).
- v. 31. Eles “aparecem” numa visão (gr. oftêntes: Ex 3,2; Ez 11,1; Is 6,1; Jl 3,1; Dn 7,1), “em glória”, a glória de Jesus (v. 32), conversando em sintonia (gr. synlalô) com Ele. “Falavam do êxodo dele”. “Êxodo”, em grego significa “saída”. Designa a Páscoa, a saída do povo de Israel do Egito (Ex 12; 19,1; Sl 114,1). É também um eufemismo para a morte (2Pd 1,15). O “êxodo de Jesus” é a sua Páscoa, que Ele celebrou com os seus discípulos antes de sofrer (22,15) e que realizou, levando-a à sua plenitude, “passando” pela paixão e morte na cruz à glória da ressurreição (v. 22). Todo o AT é preparação, anúncio e prefiguração do Novo, convergindo todo ele na Páscoa de Jesus que se consuma em Jerusalém, revelando plenamente o desígnio de Deus (9,22.44s; 13,33; 18,31-34) e cumprindo-se nele as Escrituras (24,21.25ss.44-47).
- v. 32: 2Pd 1,16. O sono dos discípulos assinala a presença do sobrenatural (Dn 7,2.13). Evoca a aliança de Deus com Abraão (Gn 15,12). Tem aqui um valor simbólico: os discípulos estão “cheios de sono” (Mt 26,43) porque não entendem que a glória de Jesus tem de passar pela cruz (22,45s).
- v. 33. Pedro diz ao “Mestre” (5,5; he. rabbi: Mc 9,5) que “é bom” (Ct 1,16; cf. Sl 4,6s; 63,3ss; 73,28) estarem ali, dado o caráter único e glorioso desta experiência e quer ficar ali, esperando que não termine (cf. Ex 33,11). As “tendas” são, provavelmente, uma alusão à Festa das Tendas, em que se celebram os quarenta anos em que o Povo de Israel esteve no deserto, vivendo em tendas, após o êxodo do Egito, rumo à Terra Prometida. Segundo os rabinos, os tempos do Messias seriam como que uma Festa das Tendas contínua, em que as nações acorreriam a Jerusalém para adorar a Deus (Zc 14,16) e o povo conviveria com Deus e com os patriarcas e profetas do AT.
- v. 34. A “nuvem” indica a shékhiná, a “habitação” de Deus no meio do seu povo (cf. Ex 24,18; 33,9; Nm 9,18.22; 1Rs 8,10ss). Ao usar o mesmo verbo de 1,35, “cobriu de sombra” (gr. episkiazô), Lucas alude ao Espírito Santo. Jesus é a habitação de Deus entre os homens a quem conduz pelo Espírito Santo à Páscoa definitiva no Reino de Deus (22,18). O “medo” é a reação do homem perante a irrupção do divino (1,29; Gn 15,12; Ex 19,16; 34,30; Dn 10,12). Alude à paixão e morte de Jesus na cruz, caminho ao qual serão mais tarde associados os discípulos (vv. 22-24).
- v. 35: 3,22; 2Pd 1,17s. A “voz” do Pai é a bat kol (a “filha da voz”: Dt 4,12) que, segundo a tradição rabínica, só ressoava em momentos extraordinários ou quando se tinha de tomar decisões muito importantes. Ela ressoa agora, não como no batismo de Jesus, dirigida pelo Pai a Jesus, mas dirigida aos discípulos, apresentando-lhes Jesus como o Messias, o Filho de Deus (cf. 1,32; Sl 2,7; 2Sm 7,13; 1Cr 17,13; 22,10; Sl 89,27), não apenas em sentido figurado (4,3.9.41; 8,28), mas próprio e pessoal, como indica o artigo definido: “o meu Filho” (3,22p; 10,22; 22,70).
- O Pai designa-o ainda “o Eleito”, outro nome dado ao Messias (Sl 89,4. 20). Evoca o Servo de Iavé (Is 42,1). Indica que a missão de Jesus será a de fazer chegar a todos os povos a palavra, aliança e salvação de Deus. Ela, porém, não será levada a cabo triunfalmente, mas deverá passar pelo sofrimento, enfrentando a oposição dos homens. Este título vai ser repetido pelos inimigos de Jesus quando Ele estiver na cruz (23,35). O Pai exorta todos a olhar para Jesus e a “escutá-lo” (Dt 18,15; 6,3s; At 3,22) a fim de alcançarem a verdadeira vida e salvação.
- v. 36. Tendo ressoado a voz, “Jesus ficou sozinho”. O AT chegou ao seu termo, atingiu a sua finalidade, que é Jesus, a Palavra definitiva de Deus, no qual ele se cumpre, mas também é superado, revelando-se plenamente o rosto e o desígnio do Pai. Doravante Jesus deverá percorrer “só” (Dt 32,12) o caminho que dará a salvação. Por isso, os discípulos, desprovidos ainda de palavras e analogias, não são capazes de expressar o seu mistério e “guardam silêncio” (Dn 12,4.9).
- A transfiguração é o momento crucial do caminho de Jesus em que o Pai confirmou que a sua obra e missão deviam passar pela sua paixão e morte na cruz a fim de chegar à glória da ressurreição. Jesus aceitou percorrer sozinho este caminho, obedecendo ao Pai, para que a sua salvação possa chegar a todas as gentes (Hb 5,8s). Os seus discípulos só o entenderão após a ressurreição, depois de terem recebido o Espírito Santo, passando deste então a “anunciá-lo” a todos.
Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo...
2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática?
- Quando me sinto só e me assalta o desânimo, abro-me ao amor do Pai e aceito o seu desígnio ou revolto-me e busco outras compensações?
- A oração, a escuta da Palavra, a vida em Igreja e a comunhão com os irmãos ajudam-me na minha caminhada?
3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?)
4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)
Salmo responsorial Sl 27,1.7-9.13-14 (R. 1a)
Refrão: O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
O Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo? R.
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: «Procurai a sua face».
A vossa face, Senhor, eu procuro. R.
Não escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem me abandoneis,
meu Deus e meu Salvador. R.
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor. R.
Pai-nosso…
Oração conclusiva:
Senhor, nosso Deus, que nos mandais ouvir o vosso amado Filho, fortalecei-nos com o alimento interior da vossa palavra, de modo que, purificado o nosso olhar espiritual, possamos alegrar-nos um dia na visão da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.
T. Amen.
Ave-Maria...
Bênção final. Despedida.
5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)
Fr. Pedro Bravo, oc