Quarto Domingo da Quaresma - Ano C - 30. Março. 2025

Acolhimento. Sinal da cruz. Oração inicial. Invocação do Espírito Santo:

A. Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis
T. E acendei neles o fogo do vosso amor.
A. Enviai o vosso Espírito e tudo será criado
T. E renovareis a face da terra.

A. Oremos. Senhor, nosso Deus, que iluminastes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, tornai-nos dóceis às suas inspirações, para apreciarmos retamente todas as coisas e gozarmos sempre da sua consolação. Por Cristo, nosso Senhor. T. Amen. 

1) LEITURA (Que diz o texto? Que verdade eterna, que convite/promessa de Deus traz?) 

Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (15,1-3.11-32) 

15,1Aproximavam-se de Jesus todos os publicanos e os pecadores para o escutar. 2E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: «Este acolhe pecadores e come com eles». 3Ele disse-lhes então esta parábola: 11«Um homem tinha dois filhos. 12O mais novo deles disse ao pai: "Pai, dá-me a parte do património que me toca". E ele repartiu os bens entre eles. 13Poucos dias depois, o filho mais novo, juntando tudo, partiu para uma região distante e por lá esbanjou as suas posses, vivendo dissolutamente. 14Tendo gasto tudo, houve uma grande fome naquela região e ele começou a passar privações. 15Foi então pôr-se ao serviço de um dos cidadãos daquela região, que o mandou para os seus campos guardar porcos. 16Bem desejava ele saciar-se com as alfarrobas que os porcos comiam, mas ninguém lhas dava. 17Então, entrando em si, disse: "Quantos assalariados de meu pai têm pão em abundância e eu aqui a morrer de fome! 18Vou levantar-me, vou ter com meu pai e dizer-lhe: 'Pai, pequei contra o céu e contra ti; 19já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como um dos teus assalariados'". 20E, levantando-se, foi ter com o seu pai. Ainda ele estava longe, quando o seu pai o viu: enchendo-se de compaixão, correu, lançou-se-lhe ao pescoço e cobriu-o de beijos. 21Disse-lhe o filho: "Pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho". 22Mas o pai disse aos seus servos: "Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha, ponde-lhe um anel no seu dedo e sandálias nos pés; 23trazei o vitelo gordo e matai-o; comamos e festejemos, 24porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado". E começaram a festejar. 25Ora, o seu filho mais velho estava no campo. Quando voltou, ao aproximar-se de casa, ouviu músicas e danças. 26Chamou um dos criados e procurou saber o que era aquilo. 27Ele disse-lhe: "O teu irmão voltou e o teu pai matou o vitelo gordo, porque o recuperou são e salvo". 28Mas ele ficou irado e não queria entrar. Então o seu pai saiu para lhe suplicar que entrasse. 29Ele, porém, respondendo, disse ao seu pai: "Há tantos anos te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua e nunca me deste um cabrito para eu festejar com os meus amigos. 30Mas quando veio esse teu filho, que devorou os teus bens com prostitutas, mataste-lhe o vitelo gordo". 31Disse-lhe ele: "Filho, tu estás sempre comigo, e tudo o que é meu é teu; 32mas era necessário festejar e alegrarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado"».

      Ler a primeira vez… Em silêncio, deixar a Palavra ecoar no coração… Observações:

  • Inserindo três parábolas sobre a misericórdia divina na secção do “caminho para Jerusalém” (9,51-19,27), Lucas apresenta-a como o espírito que Jesus quer inculcar nos seus discípulos, preparando-os para serem, como Ele, testemunhas do amor misericordioso do Pai junto dos homens, em especial dos pecadores.
  • v. 1. O ponto de partida destas parábolas foi ver como os “publicanos e os pecadores” se aproximavam (cf. 7,29; Mt 21,31s) “todos” de Jesus “para o escutar” (8,21; 10,39; 11,28; cf. Gn 3,10!).
  • v. 2. Ao vê-lo, os fariseus e os escribas – os primeiros, tidos como os mais piedosos dos judeus, os segundos, como os especialistas da Lei – “murmuram” (19,7) classificando com desdém ambas as categorias e igualando-as do ponto de vista religioso: “Este acolhe pecadores e come com eles” (7,34). Um rabino não aceitava como discípulos pessoas de má fama. Se acolher publicanos e pecadores era escandaloso, entrar em casa e comer com eles, reclinados à volta da mesma mesa, estabelecendo assim com eles laços de fraternidade, de amizade e de comunhão, era não só inaudito (cf. 5,29s; 7,14), mas ia contra a tradição oral que proibia comer com os ímpios (Mekh Ex 18,1). A conclusão dos fariseus e escribas é óbvia: Jesus não pode vir de Deus, porque Deus se afasta dos pecadores (Sl 73,27; Pv 15,29).
  • v. 3. Jesus responde-lhes, contando três parábolas, das quais escutamos hoje apenas terceira e última parábola, exclusiva de Lucas.
  • v. 11. A parábola do filho pródigo – ou “do pai misericordioso” (vv. 11-32) –, apresenta-nos três personagens: um pai com dois filhos, o mais novo e o mais velho (cf. Mt 21,28), aqui propositadamente apresentados por ordem inversa. A figura central é “o pai” (12 x).
  • v. 12. Como é típico de Lucas, entra primeiro em cena o anti-herói, neste caso, o filho mais novo. É um filho inconsciente, que tem o atrevimento de pedir ao pai que lhe dê já em vida a parte da herança a que julga ter direito. Sendo dois, o filho mais novo recebia um terço dos bens do pai (Dt 21,15ss), mas só depois da morte deste (Sr 33,20-24). Este pai, porém, por livre iniciativa, acede fazer as partilhas em vida e reparte os bens (lit. “a vida”, referindo-se não ao património, mas aos bens necessários para viver) entre os dois filhos, a título de presente.
  • v. 13. Reunindo todos os seus bens, o filho mais novo deixa a casa e o amor paterno e vai para uma “região distante” (19,12), um país gentio (Dt 20,15; cf. Jr 31,10; Sl 65,6), onde os esbanja numa vida devassa, com prostitutas (v. 30), num cenário de impiedade e total irresponsabilidade.
  • v. 14. Tendo gasto tudo, fica na miséria, que se agrava e sente notavelmente, porque entretanto sobrevém um grande fome à região onde se encontrava, começando “a passar privações”.
  • v. 15. É então obrigado a aceitar um emprego miserável, pondo-se “ao serviço de um dos cidadãos daquela região”, que o obriga a fazer o que qualquer judeu piedoso mais detestaria fazer: guardar porcos, animais tidos por impuros (cf. Lv 11,7; Dt 14,8; Is 65,4; 66,17).
  • v. 16. Bem queria ele comer das alfarrobas que davam aos porcos, mas não lho deixavam. A alfarroba era o alimento dos pobres (cf. Mc 1,6p). É o quadro da miséria, vazio, falta de paz e infelicidade que o pecado acarreta.
  • v. 17. É a miséria em que caiu e não o amor ao pai que o faz “entrar em si”, levando-o à conversão (“volta”). Vê o vazio da sua vida, “perdida”, sem sentido (vv. 22.32; Pv 5,22s), lembra-se da casa paterna, onde até os jornaleiros comem à vontade (cf. Sl 84,10) e constata que se está atolar na “morte”: “e eu aqui a morrer de fome!”
  • v. 18. Resolve então “levantar-se” (v. 20; gr. anístêmi, um dos verbos técnicos da ressurreição: 18,33; 24,7.46; cf. vv. 24.32; 19,8) e ir ter com o seu pai (cf. Jr 3,22), reconhecendo que pecou não só contra ele (Lv 19,3), mas também, ao desprezar a herança paterna (cf. 1Rs 21,3; Jr 3,19ss), contra o céu, contra Deus (Ex 10,16; Sl 51,6; 1Rs 8,47), tornando-se assim réu de morte (Dt 18,21).
  • v. 19. Acha-se, pois, indigno de ser tratado como filho e decide pedir ao pai que o admita como jornaleiro.
  • v. 20. Estava ele ainda “longe” (gr. makrán: At 2,39; 22,21; Ef 2,13.17), quando o pai, que dia após dia perscrutava o horizonte, ansiando pelo seu regresso, o vê (cf. Gn 37,18; 1Rs 9,7; 2Rs 4,25) e, divisando a miséria dele (Jb 2,12!), enche-se de compaixão (gr. splanqunízomai: 7,13; 10,33!; cf. Dt 30,2; Jr 38,20; Os 11,8; Mq 7,19), corre ao seu encontro, abraça-o e cobre-o de beijos (Gn 45,14s; 33,4; 46,29), mesmo antes do filho lhe ter dito algo, manifestando o seu arrependimento. O amor do pai pelo seu filho permanece inalterado, mesmo depois da ausência e infidelidade do filho.
  • v. 21. O filho confessa então o seu pecado (vv. 18-19).
  • v. 22. Mas o pai não o deixa chegar ao fim, mandando, repleto de alegria, “vestir-lhe” (Gn 3,21) a melhor túnica (lit. “a primeira”), símbolo da dignidade do primogénito, que recebe a bênção paterna (Gn 27,15); pôr-lhe o “anel” no dedo (lit. “na mão”), como sinal da aliança refeita e da autoridade recuperada (Gn 41,42; Est 3,10; 8,2) e calçar-lhe sandálias nos pés, símbolo do homem livre (Ex 12,11; Ct 7,2). No AT, Israel é chamado o filho primogénito de Deus (Ex 4,22s; Jr 3,19; Os 11,1; Sb 18,13), ao passo que as outras nações deveriam tornar-se suas filhas (Gn 12,3; 17,4s; 18,18; 22,18; Is 19,23ss; 56,6s; 66,18-23; Os 1,10; Sl 47,9; 87,4). Aqui o pai equipara o segundo filho ao primogénito (cf. Ef 2,14-22), elevando o mais novo à dignidade do mais velho (Rm 9,11ss).
  • v. 23. O pai manda então matar o melhor vitelo (3x aqui: vv. 27.30), preparar um grandioso banquete, festejar e regozijar-se (Is 35,10; 61,10), v. 24, porque o filho estava “morto” (no pecado: Ez 18,4) e “voltou à vida” (cf. Ef 2,1-5), andava “perdido” na má vida (19,10; cf. Is 53,6; 64,4) e “foi encontrado” (v. 32).
  • v. 25. Por fim entra em cena o filho mais velho. É um filho cumpridor, que sempre observou todas as regras e fez tudo o que o pai lhe mandou, sem nunca se afastar dele, trabalhando até ao fim do dia. Quando volta do campo, ao aproximar-se de casa ouve o som de “músicas e danças”. v. 26. Chama um dos criados (gr. pais, um servo criado desde criança em casa) e pergunta “o que era aquilo”.
  • v. 27. O criado diz-lhe o que aconteceu, v. 28. mas ele, irado, recusa-se a entrar em casa. Então o “seu pai” sai de casa e vai ter com ele, suplicando-lhe que entre. 
  • v. 29. Ele responde então ao pai, revelando a sua mentalidade legalista. A sua lógica não é a do pai, a do amor misericordioso: é a da justiça. Sente-se mais servo do que filho (gr. doulein, “servir”: Ml 3,17s; Gl 4,25; cf. 1Sm 7,3s; Is 19,23; 56,6): serviu “há tantos anos” o pai, sem nunca desobedecer às suas ordens e o pai nunca lhe deu nada em troca, nem sequer um cabrito para ele festejar com os amigos. Nunca sai da sua boca o nome “pai”, que aflora na boca do seu irmão cinco vezes e na de Jesus sete vezes.
  • v. 30. Este filho primogénito acha-se na posse de créditos superiores aos do irmão, a quem julga e condena, e não compreende nem aceita que o pai o continue a amar e a usar de misericórdia para com ele. É imagem dos que, tendo-se por justos julgam os outros (18,10ss). Porque aparece ele aqui só agora? A sua introdução em cena só no fim da parábola mostra que a reconciliação com Deus só é total quando vem acompanhada da reconciliação com o outro, no qual se passa a ver um irmão, filho do seu Pai celeste.
  • v. 31. Em suma: nenhum dos dois filhos conhecia o amor gratuito e misericordioso do Pai, mais pronto a perdoar o homem, do que o homem a pedir-lhe perdão. Aos que se convertem, Deus acolhe-os com amor, faz-lhes festa e reintegra-os na sua família. Já ao filho mais velho, que está sempre com Ele, embora não pareça fazer festa com Ele, torna-o participante da plena comunhão consigo: “Tudo o que é meu é teu” (Jo 17,10).
  • v. 32. Mas esta comunhão plena com Ele passa por reconhecer que Ele é o Pai e deixar-se tocar por Ele, tendo os seus mesmos sentimentos, gestos e palavras de amor e de misericórdia em relação aos outros. A parábola é um convite dirigido a todos a converter-se ao amor misericordioso de Deus, vendo no outro um filho de Deus e um irmão seu.

Ler o texto segunda vez... Em silêncio, escutar o que Deus diz no segredo... 

2) MEDITAÇÃO… PARTILHA… (Que me diz Deus nesta Palavra?)

      a) Que frase me toca mais? b) Que diz à minha vida? c) Oração em silêncio… d) Partilha e) Que frase reter? f) Como a vou/vamos pôr em prática? 

  • Julgo os outros? Vejo-os como irmãos? Que critérios uso em relação a eles: os da justiça, da altivez ou do amor misericordioso de Deus?
  • A nossa paróquia, grupo ou comunidade é um espaço onde se manifesta o amor misericordioso de Deus, também em relação aos que não são dela?
  • Na minha vida, quero excluir alguém do meu convívio ou grupo? 

3) ORAÇÃO PESSOAL… (Que me faz esta Palavra dizer a Deus?

4) CONTEMPLAÇÃO… (Saborear a Palavra em Deus, deixando que inflame o coração)

Salmo responsorial                                                                          Sl 34,2-7 (R. 9a)

Refrão: Provai e vede como o Senhor é bom. 

A toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.     R.

Enaltecei comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade.     R.

Voltai-vos para Ele e ficareis radiantes
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.     R. 

Pai-nosso… 

Oração conclusiva

Senhor, nosso Deus, que, pelo vosso Verbo, realizais admiravelmente a reconciliação do género humano, concedei ao povo cristão fé viva e espírito generoso, a fim de caminhar alegremente para as próximas solenidades pascais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco e convosco vive e reina na unidade do Espírito Santo por todos os séculos dos séculos. T. Amen. 

Ave-Maria... 

Bênção final. Despedida. 

5) AÇÃO... (Caminhar à luz da Palavra, encarnando-a e testemunhando-a na própria vida)

Fr. Pedro Bravo, oc