A Imaculada Conceição
- Trechos dos “Angelus” dos Papas Bento XVI e Francisco -
- Hoje celebramos a solenidade da Imaculada Conceição. É um dia de intenso júbilo espiritual, no qual contemplamos a Virgem Maria, "humilde e a mais excelsa das criaturas / ponto fixo de eterno conselho", como canta o sumo poeta Dante (Par., XXXIII, 3). Nela resplandece a eterna bondade do Criador que, no seu desígnio de salvação, a escolheu para ser a mãe do seu Filho unigénito e, em previsão da morte de Cristo, a preservou de toda a mancha de pecado (cf. Oração da Colecta). Desta maneira, na Mãe de Cristo e nossa Mãe realizou-se perfeitamente a vocação de cada ser humano. Todos os homens, recorda o apóstolo Paulo, estão chamados para que sejam santos e sem defeito diante d'Ele, no amor (cf. Ef 1, 4). Ao dirigir o olhar para Nossa Senhora, como não deixar que ela desperte em nós, seus filhos, a aspiração pela beleza, pela bondade, e pela pureza do coração? A sua pureza celestial leva-nos para Deus, ajudando-nos a superar a tentação de uma vida medíocre, feita de compromissos com o mal, para nos orientarmos decididamente para o bem autêntico, que é fonte de alegria (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2005).
- Celebramos hoje uma das festas mais bonitas e populares da Bem-Aventurada Virgem: a Imaculada Conceição. Maria não só não cometeu pecado algum, mas foi preservada até da herança comum do género humano que é o pecado original. E isto devido à missão para a qual Deus a destinou desde o início: ser a Mãe do Redentor. Tudo isto está contido na verdade da fé da "Imaculada Conceição". O fundamento bíblico deste dogma encontra-se nas palavras que o Anjo dirigiu à jovem de Nazaré: "Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo" (Lc 1, 28).
"Cheia de graça" no original grego kecharitoméne é o nome mais bonito de Maria, nome que lhe foi conferido pelo próprio Deus, para indicar que ela é desde sempre e para sempre a amada, a eleita, a predestinada para acolher o dom mais precioso, Jesus, "o amor encarnado de Deus" (Enc. Deus caritas est, 12).
Podemos perguntar: por que, entre todas as mulheres, Deus escolheu precisamente Maria de Nazaré? A resposta está escondida no mistério insondável da vontade divina. Contudo há uma razão que o Evangelho ressalta: a sua humildade (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2006).
- Por isso, a liturgia nos faz celebrar hoje, na proximidade do Natal, a festa solene da Imaculada Conceição de Maria: o mistério da graça de Deus que envolveu desde o primeiro momento da sua existência a criatura destinada a tornar-se a Mãe do Redentor, preservando-a do contágio do pecado original. Olhando para ela, nós reconhecemos a altura e a beleza do projecto de Deus para cada homem: tornar-se santos e imaculados no amor (cf. Ef 1, 4), à imagem do nosso Criador (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2007).
- O mistério da Imaculada Conceição de Maria, que hoje celebramos solenemente, recorda-nos duas verdades fundamentais da nossa fé: antes de tudo, o pecado original e, depois, a vitória da graça de Cristo sobre ele, vitória que resplandece de modo sublime em Maria Santíssima. A existência do que a Igreja chama "pecado original", infelizmente é de uma evidência esmagadora, basta olharmos à nossa volta e, em primeiro lugar, dentro de nós. Com efeito, a experiência do mal é tão consistente que se impõe por si só e suscita em nós a pergunta: de onde provém? Especialmente para o crente a questão é ainda mais profunda: se Deus, que é Bondade absoluta, criou tudo, de onde vem o mal? As primeiras páginas da Bíblia (Gn 1-3) respondem exactamente a esta pergunta fundamental, que interpela todas as gerações humanas, com a narração da criação e da queda dos progenitores: Deus criou tudo para a existência, em particular criou o ser humano à sua imagem; não criou a morte, mas ela entrou no mundo por inveja do demónio (cf. Sb 1, 13-14; 2, 23-24), que ao revoltar-se contra Deus, atraiu para o engano também os homens, induzindo-os à rebelião. É o drama da liberdade, que Deus aceita até ao fim por amor, prometendo contudo que haverá um filho de mulher que esmagará a cabeça da antiga serpente (Gn 3, 15) (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2008).
- No dia 8 de Dezembro celebramos uma das mais bonitas festas da Bem-Aventurada Virgem Maria: a solenidade da sua Imaculada Conceição. Mas o que significa que Maria é "Imaculada"? E o que diz a nós este título? Antes de mais, façamos referência aos textos bíblicos da liturgia hodierna, especialmente ao grande "afresco" do terceiro capítulo do Livro do Génesis e à narração da Anunciação do Evangelho de Lucas. Depois do pecado original, Deus dirige-se à serpente, que representa Satanás, amaldiçoa-a e acrescenta uma promessa: "Farei reinar a inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar" (Gn 3, 15). É o anúncio de uma vitória: Satanás, no início da criação parece estar em vantagem, mas virá um filho de mulher que lhe esmagará a cabeça. Assim, mediante a descendência da mulher, o próprio Deus vencerá. Aquela mulher é a Virgem Maria, da qual nasceu Jesus Cristo que, com o seu sacrifício, derrotou de uma vez para sempre o antigo tentador. Por isso, em muitos quadros ou imagens da Imaculada, Ela é representada no acto de esmagar uma serpente sob os seus pés...
Queridos amigos, que imensa alegria ter por mãe Maria Imaculada! Cada vez que experimentamos a nossa fragilidade e a sugestão do mal, podemos dirigir-nos a Ela, e o nosso coração recebe luz e conforto. Também nas provações da vida, nas tempestades que fazem vacilar a fé e a esperança, pensemos que somos seus filhos e que as raízes da nossa existência afundam na graça infinita de Deus. A própria Igreja, embora exposta às influências negativas do mundo, encontra sempre nela a estrela para se orientar e seguir a rota que lhe foi indicada por Cristo. De facto, Maria é a Mãe da Igreja, como solenemente proclamaram o Papa Paulo VI e o Concílio Vaticano II (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2009).
- Hoje o nosso encontro de oração do Angelus adquire uma luz especial, no contexto da solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Na Liturgia desta festa é proclamado o Evangelho da Anunciação (Lc 1, 26-38), que contém precisamente o diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem. «Alegra-te, ó cheia de graça: o Senhor está contigo» — diz o mensageiro de Deus, e deste modo revela a identidade mais profunda de Maria, o «nome», por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: «cheia de graça». Esta expressão, que nos é tão familiar desde a infância porque a pronunciamos todas as vezes que recitamos a «Ave-Maria», oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. De facto, Maria, desde o momento em que foi concebida pelos seus pais, foi objecto de uma singular predilecção da parte de Deus, o qual, no seu desígnio eterno, a escolheu para ser a mãe do seu Filho feito homem e, por conseguinte, a preservou do pecado original. Por isso o Anjo dirige-se a ela com este nome, que literalmente significa: «desde o início cheia do amor de Deus», da sua graça.
O mistério da Imaculada Conceição é fonte de luz interior, de esperança e de conforto. No meio das provações da vida e sobretudo das contradições que o homem experimenta dentro de si e à sua volta, Maria, Mãe de Cristo, diz-nos que a Graça é maior que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais poderosa que o mal e sabe transformá-lo em bem. Infelizmente todos os dias experimentamos o mal, que se manifesta de muitos modos nas relações e nos acontecimentos, mas que tem a sua raiz no coração do homem, um coração ferido, doente e incapaz de se curar sozinho. A Sagrada Escritura revela-nos que na origem de cada mal está a desobediência à vontade de Deus, e que a morte ganhou domínio porque a liberdade humana cedeu à tentação do Maligno. Mas Deus não falta ao seu desígnio de amor e de vida: através de um caminho de reconciliação longo e paciente preparou a aliança nova e eterna, selada no sangue do seu Filho, que para se oferecer a si mesmo em expiação «nasceu de mulher» (Gl 4, 4). Esta mulher, a Virgem Maria, beneficiou antecipadamente da morte redentora do seu Filho e desde a concepção foi preservada do contágio da culpa. Por isso, com o seu Coração imaculado, Ela diz-nos: confiai-vos a Jesus, Ele salvar-vos-á. (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2010).
- Hoje a Igreja celebra solenemente a concepção imaculada de Maria. Como declarou o Beato Pio IX na Carta Apostólica Ineffabilis Deus, de 1854, Ela «foi preservada, por particular graça e privilégio de Deus Todo-Poderoso, em previsão dos méritos de Jesus Cristo Salvador do género humano, imune de toda a mancha de pecado original». Tal verdade de fé está contida nas palavras da saudação que lhe dirigiu o Arcanjo Gabriel: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo!» (Lc 1, 28). A expressão «cheia de graça» indica a obra maravilhosa do amor de Deus, que quis restituir-nos a vida e a liberdade, perdidas com o pecado, mediante o seu Filho Unigénito encarnado, morto e ressuscitado (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2011).
- A todos vós, feliz festa de Maria Imaculada! Neste Ano da fé gostaria de ressaltar que Maria é a Imaculada por um dom gratuito da graça de Deus que, no entanto, encontrou nela uma disponibilidade e colaboração perfeitas. Neste sentido, Ela é «bem-aventurada» porque «acreditou» (Lc 1, 45), porque teve uma fé firme em Deus. Maria representa aquele «resto de Israel», aquela raiz santa que os profetas anunciaram. Nela encontram acolhimento as promessas da Antiga Aliança. Em Maria a Palavra de Deus encontra escuta, recepção e resposta, encontra aquele «sim» que lhe permite encarnar e vir habitar no meio de nós. Em Maria a humanidade e a história abrem-se realmente a Deus, acolhem a sua graça e estão dispostas a cumprir a sua vontade. Maria é expressão genuína da Graça...
A luz que promana da figura de Maria ajuda-nos a compreender o verdadeiro sentido do pecado original. Com efeito, em Maria está plenamente viva e concreta aquela relação com Deus que o pecado interrompe. Nela não há qualquer oposição entre Deus e o seu ser: há plena comunhão, entendimento integral. Existe um «sim» recíproco, de Deus a Ela e dela a Deus. Maria é livre do pecado porque é toda de Deus, totalmente expropriada para Ele. É cheia da sua Graça, do seu Amor (Bento XVI, Angelus de 8 de Dezembro, 2012).
- O Evangelho de São Lucas apresenta-nos Maria, uma jovem de Nazaré, pequena localidade da Galileia, nos arrabaldes do império romano e também na periferia de Israel. Um pequeno povoado. E no entanto, sobre ela, uma jovem daquela aldeia pequena e longínqua, sobre ela pousou-se o olhar do Senhor, que a escolheu para ser a Mãe do seu Filho. Em vista desta maternidade, Maria foi preservada do pecado original, ou seja, daquela ruptura na comunhão com Deus, com os outros e com a criação que fere cada ser humano em profundidade. Mas esta ruptura foi curada antecipadamente na Mãe daquele que veio para nos libertar da escravidão do pecado. A Imaculada está inscrita no desígnio de Deus; é fruto do amor de Deus que salva o mundo. E Nossa Senhora nunca se afastou daquele amor: a sua vida inteira, todo o seu ser constitui um «sim» àquele amor, é um «sim» a Deus. ...
Então na festa hodierna, contemplando a nossa bela Mãe Imaculada, reconhecemos inclusive o nosso destino mais autêntico, a nossa vocação mais profunda: sermos amados, sermos transformados pelo amor, sermos transformados pela beleza de Deus (Papa Francisco, Angelus de 8 de Dezembro de 2013).
- A mensagem da hodierna festa da Imaculada Conceição da Virgem Maria pode resumir-se com estas palavras: tudo é dom gratuito de Deus, tudo é graça, tudo é dom do seu amor por nós. O Arcanjo Gabriel chama Maria «cheia de graça» (Lc 1, 28): nela não há lugar para o pecado, porque Deus a escolheu desde sempre como mãe de Jesus e preservou-a do pecado original. E Maria corresponde à graça e a ela se abandona dizendo ao Anjo: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (v. 38) (Papa Francisco, Angelus de 8 de Dezembro de 2014).
- Hoje, a solenidade da Imaculada leva-nos a contemplar Nossa Senhora que, graças a um privilégio singular, foi preservada do pecado original desde a sua concepção. Não obstante tenha vivido no mundo marcado pelo pecado, não foi atingida por ele: Maria é nossa irmã no sofrimento, mas não no mal nem no pecado. Aliás, nela o mal foi derrotado antes ainda de a ter tocado, porque Deus a encheu de graça (cf. Lc 1, 28). A Imaculada Conceição significa que Maria foi a primeira a ser salva pela misericórdia infinita do Pai, como primícia da salvação que Deus quer conceder a cada homem e mulher, em Cristo. Por isso, a Imaculada tornou-se ícone sublime da misericórdia divina que venceu o pecado. E nós hoje, no início do Jubileu da Misericórdia, queremos admirar este ícone com amor confiante e contemplá-lo em todo o seu esplendor, imitando a sua fé (Papa Francisco, Angelus de 8 de Dezembro de 2015).
- O segundo trecho crucial, narrado no Evangelho de hoje, é quando Deus vem habitar no meio de nós, fazendo-se homem como nós. E isto tornou-se possível através de um grande sim — o do pecado foi um não; este é o sim, um grande sim — o sim de Maria no momento da Anunciação. Mediante este sim Jesus encetou a sua vereda ao longo dos caminhos da humanidade; começou-o em Maria, transcorrendo os primeiros meses de vida no ventre da sua Mãe: não se manifestou já adulto e forte, mas seguiu todo o percurso de um ser humano. Fez-se igual a nós em tudo, mas não numa coisa, aquele não, excepto no pecado. Para isso escolheu Maria, a única criatura sem pecado, Imaculada. No Evangelho, com uma única palavra Ela é chamada «cheia de graça» (Lc 1, 28), ou seja, repleta de graça. Quer dizer que nela, imediatamente cheia de graça, não há espaço para o pecado. E também nós, quando nos dirigimos a Ela, reconhecemos esta beleza: invocamo-la como «cheia de graça», sem sombra do mal (Papa Francisco, Angelus de 8 de Dezembro de 2016).