Jesus Cristo Nossa Esperança – Catequese do Papa Francisco

 

A Infância de Jesus

Genealogia de Jesus (Mt. 1, 1-17)

A Entrada do Filho de Deus na História

 

Prezados irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje começamos o ciclo de catequeses que decorrerá durante todo o Ano jubilar. O tema é “Jesus Cristo, nossa esperança”: com efeito, Ele é a meta da nossa peregrinação, e Ele mesmo é o caminho, a vereda a percorrer.

A primeira parte tratará da infância de Jesus, que nos é narrada pelos Evangelistas Mateus e Lucas (cf. Mt 1-2; Lc 1-2). Os Evangelhos da infância narram a concepção virginal de Jesus e o seu nascimento do seio de Maria; evocam as profecias messiânicas que n’Ele se cumprem e falam da paternidade legal de José, que enxerta o Filho de Deus no “tronco” da dinastia davídica. É-nos apresentado Jesus recém-nascido, menino e adolescente, submisso aos seus pais e, ao mesmo tempo, consciente de ser totalmente dedicado ao Pai e ao seu Reino. A diferença entre os dois Evangelistas é que, enquanto Lucas narra os acontecimentos com os olhos de Maria,  Mateus fá-lo com os olhos de José, insistindo sobre uma paternidade deveras inédita.

Mateus começa o seu Evangelho e todo o cânone neotestamentário com a «genealogia de Jesus Cristo, filho de David, filho de Abraão» (Mt 1, 1). Trata-se de uma lista de nomes já presente nas Escrituras hebraicas, para mostrar a verdade da história e a verdade da vida humana. Com efeito, «a genealogia do Senhor é constituída a partir da história verdadeira, onde se encontram nomes no mínimo problemáticos e se sublinha o pecado do rei David (cf. Mt 1, 6). Tudo, porém, conclui-se e floresce em Maria e em Cristo (cf. Mt 1, 16)» (Carta sobre a renovação do estudo da história da Igreja, 21 de Novembro de 2024). Depois, manifesta-se a verdade da vida humana que passa de geração em geração, confiando três elementos: um nome que encerra uma identidade e uma missão únicas; a pertença a uma família e a um povo; e, por último, a adesão de fé ao Deus de Israel.

A genealogia é um género literário, ou seja, uma forma adequada para transmitir uma mensagem muito importante: ninguém dá a vida a si mesmo, mas recebe-a como dom de outros; neste caso, trata-se do povo eleito, e quem herda o depósito da fé dos pais, transmitindo a vida aos filhos, confia-lhes também a fé em Deus.

No entanto, contrariamente às genealogias do Antigo Testamento, onde só aparecem nomes masculinos, porque em Israel é o pai que impõe o nome ao filho, na lista de Mateus entre os antepassados de Jesus aparecem também mulheres. Encontramos cinco: Tamar, a nora de Judá que, tendo ficado viúva, se finge prostituta para assegurar uma descendência ao seu marido (cf. Gn 38); Raab, a prostituta de Jericó, que permite aos exploradores judeus entrar na terra prometida e conquistá-la (cf. Js 2); Rute, a moabita que, no livro que tem o mesmo nome, permanece fiel à sogra, cuida dela e tornar-se-á a bisavó do rei David; Betsabé, com quem David comete adultério e, depois de ter mandado matar o marido, gera Salomão (cf. 2 Sm 11); e finalmente Maria de Nazaré, esposa de José, da casa de David: dela nasce o Messias, Jesus.

As primeiras quatro mulheres estão unidas não por serem pecadoras, como às vezes se diz, mas por serem estrangeiras em relação ao povo de Israel. O que Mateus salienta é que, como escreveu Bento XVI, «através delas o mundo dos gentios entra... na genealogia de Jesus - torna-se visível a sua missão a favor de judeus e pagãos» (A Infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 15).

Enquanto as quatro mulheres precedentes são mencionadas ao lado do homem que delas nasceu ou de quem o gerou, Maria, ao contrário, adquire um destaque particular: marca um novo início, ela própria é um novo começo, pois na sua vicissitude já não é a criatura humana protagonista da geração, mas o próprio Deus. Isto vê-se bem no verbo «nasceu»: «Jacob gerou José, esposo de Maria, de quem nasceu Jesus, chamado Cristo» (Mt 1, 16). Jesus é filho de David, enxertado por José naquela dinastia e destinado a ser o Messias de Israel, mas é também filho de Abraão e de mulheres estrangeiras, portanto destinado a ser a «Luz dos gentios» (cf. Lc 2, 32) e o «Salvador do mundo» (Jo 4, 42).

O Filho de Deus, consagrado ao Pai com a missão de revelar o seu rosto (cf. Jo 1, 18; Jo 14, 9), entra no mundo como todos os filhos do homem, a tal ponto que em Nazaré será chamado «filho de José» (Jo 6, 42), ou «filho do carpinteiro» (Mt 13, 55). Verdadeiro Deus e verdadeiro homem!

Irmãos e irmãs, despertemos em nós a memória grata em relação aos nossos antepassados. E, sobretudo, demos graças a Deus que, mediante a mãe Igreja, nos gerou para a vida eterna, a vida de Jesus, nossa esperança.

Papa Francisco, Audiência geral, 18 de Dezembro 2024

Caminhos Carmelitas

  • Perseverar na oração
    Embora Deus não atenda logo a sua necessidade ou pedido, nem por isso, (…) deixará de a socorrer no tempo oportuno, se não desanimar nem de pedir. São João da Cruz  
  • Correção fraterna
    Hoje o Evangelho fala-nos da correção fraterna (cf. Mt 18, 15-20), que é uma das expressões mais elevadas do amor, mas também uma das mais difíceis, porque não é fácil corrigir os outros.  Quando um...
  • O sacerdote
    Sou filha da Igreja. Oh! Quanto alegria me dão as orações do sacerdote! No sacerdote não vejo senão Deus. Não procuro a ciência do sacerdote, mas a virtude de Deus nele. Santa Maria de Jesus...
  • Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles
    Esta presença viva e real de Jesus é a que deve animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos seus seguidores. É Jesus quem há-de alentar a sua oração, as suas celebrações, projectos e...
  • “Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
    «Negar-se a si mesmo» não significa de modo algum mortificar-se, castigar-se a si mesmo e, menos ainda, anular-se ou autodestruir-se. «Negar-se a si mesmo» é não viver pendente de si mesmo,...
  • A cruz de Jesus
    Se queremos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que entender bem em que consiste a cruz para o cristão, porque pode acontecer que a coloquemos onde Jesus nunca a colocou. Chamamos...

Santos Carmelitas