“Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo,
em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa” (Mc 9, 41)
O individualismo é, sem dúvida, um dos traços que melhor caracteriza o homem de hoje. Como recordava o sociólogo americano D. Riesma na sua famosa obra “A multidão solitária” (1950), na época moderna o sagrado já não é o grupo nem a família, mas o indivíduo liberto e “auto-dirigido”.
Desgraçadamente este moderno individualismo nem sempre conduz à auto-afirmação da pessoa. Depois do toque de alarme dado por Ch. Lasch na obra “A cultura do narcisismo” (1979) não são poucos os que estão despertos perante um certo estilo de vida individualista que conduz à perda da identidade humana.
O indivíduo moderno defende “instintivamente” a sua liberdade, mas esta fica reduzida muitas vezes a uma defesa receosa da esfera privada. É uma liberdade sem conteúdo. O que importa é não comprometer-se com nada e com ninguém. Não depender dos outros. Exigir direitos sem assumir obrigações. Ocupar-se e preocupar-se só de si mesmo.
Este individualismo conduz a um perigoso isolamento. A pessoa desliga-se de tudo o que não seja o seu próprio interesse. Recusa o compromisso e inclusivamente o amor. Só se interessa pelo seu próprio eu. Os problemas pessoais são sobrevalorizados. A tranquilidade vai-se convertendo em meta suprema. O importante é evitar tensões e viver sem problemas.
Curiosamente, ao dar-se conta de que está só e sem ligações, o indivíduo perde a segurança. Necessita de estar de acordo com os demais, viver na moda, estar informado, ligar o televisor, ter a sensação de que não está só na vida. Necessita sentir-se vivo mas já não sabe o que é fazer surgir a vida a partir do amor.
Diante desta “cultura do eu”, o Evangelho continua a convidar para uma “cultura do nós”. A humanidade não é uma “multidão de indivíduos isolados. O mundo não termina no meu pé. Todo o ser humano é meu “próximo”. De todos me deverei sentir responsável, ainda que seja unicamente para “dar de beber um copo de água”. O individualismo contemporâneo não será humano enquanto não ouvir a pergunta de Deus: “Homem moderno e progressista, que fizeste do teu irmão?”.
J. A. Pagola