O ESPÍRITO SANTO E A VIDA CRISTÃ
A partir do Baptismo, o Espírito Santo habita no cristão como no seu templo. O apóstolo Paulo em 1Cor 3, 16 pergunta: “Não sabeis que... o Espírito de Deus habita em vós?”. A acção do Espírito Santo penetra no mais íntimo do homem, no coração dos seus fiéis, e aí derrama a luz e a graça de vida.
O cristão, mediante a inabitação do Espírito Santo, entra numa relação particular com Deus que se alarga a todas as relações interpessoais, tanto no âmbito familiar como no social. Quando o apóstolo recomenda “Não entristeçais o Espírito Santo de Deus” (Ef 4, 30), baseia-se nesta verdade revelada: a presença pessoal de um Hóspede interior, que pode ser entristecido por causa do pecado, visto este ser sempre contrário ao amor. Graças à força do Espírito que habita em nós, o Pai e o Filho vêm também habitar em cada um de nós. O dom do Espírito Santo eleva-nos e assimila-nos a Deus no nosso ser e no nosso agir; faz-nos participantes do seu conhecimento e do seu amor e faz com que nos abramos às pessoas divinas e que permaneçam connosco.
A vida do cristão é uma existência espiritual, uma vida animada e guiada pelo Espírito para a santidade ou perfeição da caridade. Graças ao Espírito e guiados por ele, o cristão tem a força necessária para lutar contra tudo o que se opõe ao Espírito. Nós, cristãos, cremos firmemente que o Espírito Santo está e caminha connosco, acompanha-nos ao longo do nosso caminho de santificação, age e actua no mais íntimo de cada um: é o que chamamos as graças actuais, através das quais a nossa inteligência, vontade, sentimentos, impulsos, etc., estão impregnados da sua presença e da sua força e ajudam-nos a actuar de acordo com o que Espírito nos diz ou inspira.
A vida cristã é seguir Cristo, quer dizer, é seguimento: “Vem e segue-me” (Mt 19, 21), que não é dirigido unicamente a uma classe de cristãos a quem se confia uma missão particular e especial, mas dirige-se a todos os discípulos de Cristo. Seguir Jesus Cristo é o fundamento original e essencial da vida cristã. O Papa João Paulo II disse: “Não se trata somente de escutar um ensinamento e cumprir um mandamento, mas de algo mais radical: aderir à pessoa de Jesus, compartilhar a sua vida e o seu destino, participar da sua livre e amorosa obediência para com o Pai. Seguir Cristo não e um convite exterior, mas afecta o homem na sua interioridade mais profunda. Ser discípulo de Jesus significa tornar-se conforme a Ele, que se fez servo de todos até ao dom de si mesmo na cruz (cf. Fil 2, 5-8). Mediante a fé, Cristo habita no coração dos crentes (cf. Ef 3, 17), o discípulo assemelha-se ao seu Senhor e configura-se com ele, o que é fruto da graça, da presença operante do Espírito Santo em nós”.
Como conclusão, podemos afirmar que a vida segundo o Espírito, cujo fruto é a santificação (cf. Rm 6, 22; Gal 5, 22), suscita e exige de todos e de cada um dos baptizados o seguimento e a imitação de Jesus Cristo, o acolhimento das Bem-aventuranças, a escuta e meditação da Palavra de Deus, a participação consciente e activa na vida litúrgica e sacramental da Igreja, a oração individual, familiar e comunitária, a fome e sede de justiça, levar à prática o mandamento do amor em todas as circunstâncias da vida e o serviço aos irmãos, especialmente se se trata dos mais pequenos, dos pobres e dos que sofrem.
Os dons do Espírito Santo
Para que o cristão possa lutar, o Espírito Santo oferece-lhe os seus sete dons, que são disposições permanentes que tornam o homem dócil para seguir as inspirações do Espírito. Estes dons são sete:
Sabedoria. Dá-nos a capacidade especial para julgar as coisas humanas segundo a medida de Deus. Iluminado por este dom, o cristão sabe ver interiormente as realidades deste mundo; ninguém melhor do que ele é capaz de apreciar os valores autênticos da criação, olhando-os com os mesmos olhos de Deus.
Ciência. O homem iluminado pelo dom da ciência, conhece o verdadeiro valor das criaturas na sua relação com o Criador. E não estima as criaturas mais do que valem e não coloca nelas, mas em Deus, o fim da própria vida.
Conselho. Este dom actua como um sopro novo na consciência, sugerindo o que é lícito, o que corresponde o que convém mais à alma. O cristão ajudado por este dom, penetra no verdadeiro sentido dos valores evangélicos, especialmente os que são manifestados pelo sermão da montanha.
Piedade. Mediante este dom, o Espírito cura o nosso coração de todo o tipo de dureza e abre-o à ternura em relação a Deus e aos irmãos. O dom da piedade orienta e alimenta a necessidade de recorrer a Deus para alcançar graça, ajuda e perdão. Além disto, extingue do coração os focos de tensão e de divisão como a amargura, a cólera, a impaciência e alimenta-o com sentimentos de compreensão, tolerância e perdão.
Temor de Deus. Com este dom, o Espírito infunde na alma sobretudo o temor filial, que é o amor de Deus, o que leva a alma a não desgostar Deus, amado como Pai, e a não a ofender em nada, e permanecer e crescer na caridade.
Entendimento. Mediante este dom o Espírito Santo que “perscruta as profundidades de Deus” (1Cor 2, 10), comunica ao crente essa capacidade penetrante que lhe abre o coração à gozosa percepção do desígnio amoroso de Deus, ao mesmo tempo que torna também mais penetrante e límpido o olhar sobre as coisas humanas. Graças a ela consegue-se ver melhor os numerosos sinais de Deus inscritos na criação.
Fortaleza. O dom da fortaleza é um impulso sobrenatural que dá vigor à alma nas habituais dificuldades: na luta para permanecer coerentes com os próprios princípios, no suportar as ofensas e ataques injustos; na perseverança valorosa, mesmo no meio de incompreensões e hostilidades, no caminho da verdade e da honradez. Temos de invocar o Espírito Santo para que nos conceda este dom para permanecermos firmes e decididos no caminho do bem. Então poderemos dizer com São Paulo: “Comprazo-me nas minhas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por Cristo; pois quando sou débil então é quando sou forte” (2Cor 12, 10).
VINDE, Ó SANTO ESPÍRITO
Vinde, ó Santo Espírito, / vinde, amor ardente, / acendei na terra / vossa luz fulgente. / Vinde, pai dos pobres: / na dor e aflições, / vinde encher de gozo / nossos corações. / Benfeitor supremo / em todo o momento, / habitando em nós / sois o nosso alento. / Descanso na luta / e na paz encanto, / no calor sois brisa, / conforto no pranto. / Luz de santidade, / que no céu ardeis, / abrasai as almas / dos vossos fiéis. / Sem a vossa força / e favor clemente, / nada há no homem / que seja inocente. / Lavai nossas manchas, / a aridez regai, / sarai os enfermos e a todos salvai. / Abrandai durezas / para os caminhantes, / animai os tristes, / guiai os errantes. / Vossos sete dons/ concedei à alma / do que em vós confia: / virtude na vida, / amparo na morte, / no céu alegria. Amen.