De 30 de Novembro de 2014 (1º Domingo de Advento) até 2 de Fevereiro de 2016 (Festa da Apresentação de Jesus no Templo) decorre o Ano da Vida Consagrada. No início desta celebração o Papa Francisco publicou uma Carta Apostólica, datada de 21 Novembro de 2014 (Festa da Apresentação de Maria), dirigida aos Consagrados e, consequentemente, a todo o Povo de Deus. Que se pretende com a proclamação do Ano da Vida Consagrada? O Santo Padre define três objectivos.
O primeiro objectivo é olhar com gratidão o passado. Não se trata de olhar o passado de uma forma nostálgica mas “de repercorrer o caminho das gerações passadas para nele captar a centelha inspiradora, os ideais, os projectos, os valores que as moveram, a começar dos Fundadores, das Fundadoras e das primeiras comunidades”. Olhando o percurso de cada Família Religiosa, individual e comunitariamente, toma-se consciência de como foi feito o caminho desde as origens até hoje e como deve ser percorrido em direcção ao futuro. “Narrar a própria história é louvar a Deus e agradecer-Lhe por todos os seus dons”.
O segundo objectivo aponta para viver com paixão o presente. A paixão dos Fundadores e das Fundadoras das várias Famílias Religiosas foi o seguimento de Jesus e a fidelidade ao Evangelho como norma de vida. Também hoje, “A pergunta que somos chamados a pôr neste Ano é se e como nos deixamos, também nós, interpelar pelo Evangelho” pondo-o em prática, e se Jesus “é verdadeiramente o primeiro e o único amor, como nos propusemos quando professámos os nossos votos?”.
Uma vocação é um dom não só para quem é chamado e o recebe, mas também para todo o Povo de Deus. O que é dado é em vista do bem de todos. Viver com paixão o presente desafia-nos a olhar com olhos novos e questionar-nos acerca da nossa missão, os nossos serviços, as nossas obras e as nossas presenças para, em sintonia com o Espírito, verificarmos se vivemos a fidelidade criativa ao carisma ao serviço do Povo de Deus. O Papa Francisco faz um apelo: “Por isso, sede mulheres e homens de comunhão, marcai presença com coragem onde há disparidades e tensões, e sede sinal credível da presença do Espírito que infunde nos corações a paixão por todos serem um só (cf. Jo 17, 21). Vivei a mística do encontro”.
Abraçar com esperança o futuro é o terceiro objectivo que se pretende alcançar neste Ano da Vida Consagrada. “A esperança de que falamos não se funda sobre números ou sobre as obras, mas sobre Aquele em quem pusemos a nossa confiança (cf. 2 Tm 1, 12) e para quem “nada é impossível” (Lc 1, 37)”. As dificuldades são reais e não podemos escondê-las, podendo levar ao pessimismo e ao conformismo: a diminuição das vocações e o envelhecimento, especialmente no mundo ocidental, os problemas económicos na sequência da grave crise financeira mundial, os desafios da internacionalidade e da globalização, as insídias do relativismo, a marginalização e a irrelevância social... Mas o Senhor da história continua a dizer: “Não terás medo (…), pois Eu estou contigo” (Jr 1, 8).
O Santo Padre espera que neste Ano da Vida Consagrada a alegria reine onde estão os Consagrados: “Que entre nós não se vejam rostos tristes, pessoas desgostosas e insatisfeitas, porque «um seguimento triste é um triste seguimento»”. A vida dos Consagrados deve ser o principal testemunho de que escolheram a “melhor parte” e é desta forma que a sua vida terá uma força interpelante e atractiva: “É a vossa vida que deve falar, uma vida da qual transparece a alegria e a beleza de viver o Evangelho e seguir a Cristo”.
Outra expectativa do Papa Francisco relativamente aos Consagrados é que “despertem o mundo” porque a nota característica da Vida Consagrada é a profecia. “Um religioso não deve jamais renunciar à profecia”. Como sentinela, está no seu posto, vigiando com atenção o horizonte existencial, em sintonia com o Espírito, para ler os sinais dos tempos e propor caminhos novos. “Mas o profeta sabe que nunca está sozinho. Também a nós, como fez a Jeremias, Deus assegura: «Não terás medo (...), pois Eu estou contigo para te livrar» (Jr 1, 8)”.
Os Consagrados são chamados a ser “peritos em comunhão”, não só entre si, mas também com os membros de outros Institutos, presbíteros e leigos, a fim de “fazer crescer a espiritualidade da comunhão”. Esta é outra expectativa do Papa Francisco para o Ano da Vida Consagrada.
Depois de ressuscitar, Jesus ordenou aos Apóstolos: “Ide por todo o mundo” (cf. Mc 16, 15). O mesmo apelo ecoa hoje para os Consagrados: “Ide às periferias existenciais”. “De vós espero gestos concretos de acolhimento dos refugiados, de solidariedade com os pobres, de criatividade na catequese, no anúncio do Evangelho, na iniciação à vida de oração. Consequentemente almejo a racionalização das estruturas, a reutilização das grandes casas em favor de obras que respondam melhor às exigências actuais da evangelização e da caridade, a adaptação das obras às novas necessidades”. Só com esta atenção ao que Deus e a Humanidade de hoje pedem a cada forma de Vida Consagrada e a docilidade aos impulsos do Espírito, é que este Ano da Vida Consagrada se tornará um tempo rico de graças e de transformação.
A terminar a sua Carta o Papa Francisco dirige-se aos cristãos leigos que fazem parte da “família carismática” de determinada Família Religiosa para que vivam este Ano da Vida Consagrada “como uma graça que pode tornar-vos mais conscientes do dom recebido”. Dirige-se também “a todo o povo cristão, para que tome cada vez maior consciência do dom que é a presença de tantas consagradas e consagrados, herdeiros de grandes Santos que fizeram a história do cristianismo” e, finalmente, aos Pastores das Igrejas particulares, para que tenham “uma especial solicitude em promover nas vossas comunidades os diferentes carismas, tanto os históricos como os novos carismas, apoiando, animando, ajudando no discernimento, acompanhando com ternura e amor as situações de sofrimento e fraqueza em que se possam encontrar alguns consagrados, e sobretudo esclarecendo com o vosso ensino o povo de Deus sobre o valor da vida consagrada, de modo a fazer resplandecer a sua beleza e santidade na Igreja”.
Refira-se que a propósito deste Ano da Vida Consagrada a Conferência Episcopal Portuguesa emitiu uma Nota Pastoral intitulada Chamados a levar a todos o abraço de Deus (13 de Novembro de 2014).
Manuel Castro, O. Carm.