A obra que Deus quer é esta: que acrediteis naquele que ele enviou (Jo 6, 29).
As pessoas necessitam de Jesus e procuram-no. Há algo nele que as atrai, mas ainda não sabem exactamente por que o procuram nem para quê. Segundo o evangelista, muitos fazem-no porque no dia anterior distribuiu por eles pão para saciar a fome. Jesus começa a conversar com eles. Há coisas que convém esclarecer desde o princípio. O pão material é muito importante. O próprio Jesus ensinou a pedi-lo a Deus «o pão de cada dia» para todos. Mas o ser humano necessita de algo mais. Jesus quer oferecer um alimento que possa saciar para sempre a fome de vida.
As pessoas intuem que Jesus está a abrir-lhes um horizonte novo, porém não sabem o que fazer, nem por onde começar. O evangelista resume as suas interrogações com estas palavras: «e que obras temos que fazer para trabalhar no que Deus quer?». Há neles um desejo sincero de acertar. Querem trabalhar no que Deus quer, no entanto, acostumados a pensar tudo a partir da Lei, perguntam a Jesus que obras, práticas e observâncias novas eles devem levar em conta.
A resposta de Jesus toca o coração do cristianismo: «a obra (no singular!) que Deus quer é esta: que acrediteis naquele que ele enviou». Deus só quer que creiam em Jesus Cristo, pois é o grande dom que Ele enviou ao mundo. Esta é a nova exigência. Nisto devem trabalhar. O restante é secundário.
Depois de vinte séculos de cristianismo, não estamos a precisar de descobrir novamente que toda a força e originalidade da Igreja estão em crer em Jesus Cristo e segui-lo? A fé cristã não consiste primordialmente em ir cumprindo correctamente um código de práticas e observâncias novas, superiores às do Antigo Testamento. Não. A identidade cristã está em aprender a viver um estilo de vida que nasce da relação viva e confiante com Jesus, o Cristo. Vamo-nos fazendo cristãos na medida em que aprendemos a pensar, a sentir, a amar, a trabalhar, a sofrer e a viver como Jesus.
Ser cristão exige hoje uma experiência de Jesus e uma identificação com o seu projecto que não se requeria há anos atrás. Para subsistir no meio da sociedade laica, as comunidades cristãs necessitam de cuidar mais do que nunca da adesão e do contacto vital com Jesus, o Cristo.
Se procuras Deus
Há pessoas que desejam, sinceramente, encontrar Deus, porém não sabem qual o caminho a seguir. Sem dúvida, cada um tem de fazer o seu próprio percurso pessoal e ninguém pode indicar, a partir de fora, os passos concretos que devemos dar, porém há sugestões que podem ajudar a todos. Eis aqui algumas.
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Se procuras Deus, antes de tudo, deixa de ter medo d'Ele. Há pessoas que, quando ouvem nomear Deus, começam a pensar nas suas misérias e pecados. Este tipo de medo relativamente a Deus afasta-te d'Ele. Deus conhece-te e deseja-te. Ele saberá encontrar o caminho para entrar na tua vida, por mais medíocre que ela seja.
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Não tenhas pressa. Age com calma. Há pessoas que, durante uns dias, movem-se muito, rezam, querem livros, buscam métodos para fazer oração; em poucos dias abandonam tudo e voltam à vida de sempre. Tu, caminha devagar! Descobre, humildemente, a tua pobreza e necessidade de Deus. Ele já está junto de ti, e deseja que vivas.
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Desce ao teu coração e chega às raízes mais secretas da tua vida. Tira todas as máscaras. Não tens necessidade de ocultar as tuas feridas nem as tuas desordens. Pergunta-te sinceramente: O que procuro na vida? Por que não há paz no meu coração? O que necessito para viver com mais alegria? A tentativa de resposta a estas perguntas pode abrir-te um caminho para o encontro com Deus.
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Aprende a orar. Pode fazer-te bem, procurares um lugar tranquilo e reservares um tempo apropriado para orar. No começo, não saberás o que fazer, e pode até ser incómodo. Há muito tempo que tu não páras diante de Deus! Procura na Bíblia o Livro dos Salmos e começa a recitar devagar algum deles. Detém-te somente naquelas frases que te dizem algo. Logo descobrirás que os Salmos reflectem os teus sofrimentos e as tuas alegrias, os teus anseios e a tua busca de Deus. Quando tiveres aprendido a saboreá-los, nunca mais os deixarás.
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Toma o Evangelho nas tuas mãos. Não é mais um livro. Aí encontrarás Jesus Cristo: ele é o verdadeiro caminho que te levará a Deus. Reserva tempo para lê-lo e saboreá-lo. Costuma-se dizer que o Evangelho é uma «regra de vida». E está certo. Porém, antes de tudo, ele é uma «Boa Notícia». Medita as palavras de Jesus e os seus gestos. Começarás a sentir que algo começa a mover-se no teu coração. Jesus curar-te-á e ensinar-te-á a viver.
Se fores constante e continuares a alimentar a tua vida neste pequeno livro através do qual te encontras com Cristo, um dia descobrirás como são verdadeiras estas palavras de Jesus: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não mais terá fome e quem crê em mim nunca mais terá sede».
José António Pagola